domingo, abril 11, 2004

MÁSCARAS POR ALEXEY

"Num dia esquecido, muito tempo atrás, mais tempo do que seria confortável recordar ou saudável admitir, dez rostos desabaram do Céu, cada rosto contendo a essência de um espírito, cada máscara sendo a porta para uma dimensão da realidade.

Os deuses, ansiosos pela vida na carne, esperavam por quem vestisse suas faces, liberando-os do jugo entediante da abstrata vida espiritual.

Nenhum homem ou mulher mortal, todavia, ousava vestir a máscara. Temiam tornar-se os deuses que tanto veneravam. Preferiam a segurança de terem a quem adorar. Alguns homens sábios espalharam as dez máscaras por cantos ocultos do planeta, rogando para que ninguém as vestisse. Tinham medo da própria grandeza.

"Queremos carne", gritavam os espíritos furiosos, "desejamos sorver da vida até a sua última gota". Mas tinham que se contentar com as pequenas oferendas que os mortais lhes faziam. Incenso, em alguns momentos. Mantras, em outros. Às vezes até mesmo sangue e assassinato, ou mesmo sêmen e orgasmos. De morte e vida se alimentavam os espíritos atormentados. Livros eram escritos sobre eles e nomes eram criados para definí-los. Mas nada parecia fazê-los descansar.

Durante muito tempo estes rostos permaneceram esquecidos. E os deuses, invejosos da carne humana, se contentavam em dividir pequenos pedaços dos incontáveis corpos mortais de que dispunham. Dançavam dentro dos homens, às vezes brigavam entre si, entravam então em acordo. Se amavam para logo então tentarem se aniquilar. E durante um longo, longo tempo, houve inocência na Terra, homens e mulheres em suas vidas comuns e deuses se satisfazendo com os pequenos momentos em que podiam se sentir vivos através dos corpos mortais. Mas nenhum deus, absolutamente nenhum espírito, tinha a permissão de tomar inteiramente um corpo só para si.

Até que um dia um lamento despertou o Sol. E por um pequeno átimo de segundo, tudo o que é Sol no Universo concentrou-se naquele pequeno rosto perdido, naquela face dourada.

Era chegada a hora de despertar, e o Sol entoou seu cântico e abriu seus olhos. Quem o atenderia?

E a voz disse [com fogo jorrando para dentro e para fora]:

- Vista-me!".

Alexey Dodsworth

Astrológo, amigo, um querido.