ZÍNGARA
Esmeralda era seu nome.
Os cabelos negros como a graúna.
Os olhos de um castanho tão profundo que hipnotizava.
Um ar de majestade e ao mesmo tempo mistério.
Ela nunca dizia o que ia acontecer.
Preferia sempre ler a mão dos outros e largar no ar as interrogações.
Talvez dessa forma, conseguisse deixar o destino correr livre.
Livre como ela sempre se sentiu. De lugar nenhum.
Alma desprovida de grilhões, certa de que o futuro estava em cada passada,
em cada lugar desconhecido que punha os pés.
Em situações cerimoniais colocava um lenço nos cabelos, como sinal de respeito.
Sempre foi invejada e ao mesmo tempo cobiçada.
Mas, acima de tudo, fazia somente o que o seu coração ditava.
Por isso mesmo, sentia-se plena e feliz.
Mas, diante de um cortejo, de violinos e pessoas de sua tribo,
colocava sua roupa coberta de vermelho.
O fogo e a saia se confundiam. Rubra também a face.
No enleio desenvolvido pela dança, espetáculo de rara beleza.
Nas ondulações de seus passos, a lemniscata.