sexta-feira, dezembro 31, 2004

2005

No doce paladar de colorido frutose,
na mexida e mistura, colabora com sabores.
Mel que encharca os pedaços,
enzima que coaduna vertigens.
No dezembro recheado de iguarias,
as mãos criam o futuro,
transformam o que é estático em vida.
Aqui me preparo para as festas,
para os dias regados de alegria,
congraçamento e família.
Nos dias subsequentes, folia.
Aquela que diz adeus ao passado e
lança flechas, as de esperança em 2005.
A Lua, regente dos próximos dias, do ano que se anuncia,
cria o clima amoroso, aquático, uterino e romântico.
É esperar e viver, intensamente, o que se aproxima...

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Faz uns dois meses que eu ando com esse pensamento na caixa de entrada do Outlook. Aliás, eu comumente faço isso com aquilo que me toca e precisa de resposta. Muitas vezes a resposta sai de supetão, no afã, sem revisão, como agora que escrevo movida pela vontade. O ímpeto comanda os dedos, a sensação, uma estranha força que impulsiona o que aparentemente parece adormecido.
A chuva cai torrencialmente, saímos na primeira página de jornal, inundação, alagação, a cidade submersa pelo dilúvio divino em bicas de Natal. Eu não gosto dessa data, nunca gostei. Uma sensação de vazio sempre se apodera e a vontade é de fazer algo que preencha uma estranha tristeza que toma conta. Já pensei em sair por aí e distribuir comida, dar o muito que tenho a quem nada possui. Ainda vou fazer isso, talvez minha alma se compraza e encontre um significado real para a comemoração do dia 25. Para mim, apenas uma data, uma data como muitas forjada por um papa louco que transformou o calendário. Nada além.

Mas não era nada disso que eu ia postar aqui, hoje. Esse pensamento que a Angel Blue publicou no Multiply está aqui desde outubro e por muitas vezes parei para relê-lo, vou deixar para quem aqui parar e chegar até essas minhas mal traçadas linhas:

"Nenhum homem deve passar pela vida sem
experimentar uma vez a saudável, ainda que
entediante, solidão no ermo, dependendo
exclusivamente de si mesmo e, assim,
descobrindo a sua força oculta e verdadeira".

Jack Kerouac

terça-feira, dezembro 21, 2004

AS COXAS DO CRISTO

Hoje comemora-se o solstício de verão, a entrada propriamente dita da estação. Eu ia postar alguma coisa sobre o tema, mas vou deixar para amanhã. Diante desse texto da Márcia Frazão, foi impossível não sucumbir à luxúria e trazê-lo para cá.

"Quando veio de Portugal, Virgínia trouxe um estranho missal: um caderno com receitas de pães, biscoitos e massas. O marcador era um cristo nú, pendido na sensualidade das coxas cruzadas. Embora crucificado, não demonstrava dor. Cheirava a pão e farinhas. Às vezes, era salgado, outras, doce, e algumas vezes, apimentado. Virgínia beijava-o antes de iniciar qualquer receita do velho missal. Fechava os olhos, suspirava um pouco, dava-lhe um demorado beijo e, depois, com os dedos roliços, acariciava-o. Jesus aprovava... Quando fiz 15 anos, Virgínia chamou-me para fazer um pão. Ofereceu as coxas de Cristo para que eu as tocasse. E foi nesse dia que aprendi que luxúria não é pecado!"


Receita do Pão da Luxúria

Ingredientes:
1 tablete de fermento de pão
1/2 xícara de água morna
1 xícara de batata amassada (cozida)
1/2 xícara de mel
1 colher de chá de sal
1 xícara de leite morno
1 xícara de água de batata
farinha de trigo para deixar a massa elástica

Modo de Fazer:
Dissolva o fermento na água morna e, depois de devidamente dissolvido, junte todos os outros ingredientes. Trabalhe a massa e coloque-a para descansar e crescer. Depois de crescida, transfira-a para uma forma de pão e asse por 45 minutos, em forno bem quente.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

UMA LENDA...

Há muitos anos, nas margens do Rio Amazonas, Naiá, uma jovem e bela índia, ficava a admirar e contemplar por longas horas a beleza da Lua branca e o mistério das estrelas. Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a Lua deitava uma luz intensa nas águas, fazendo Naiá subir numa árvore alta para tentar tocar o astro. como não conseguia obter êxtio, ela decidiu subir as montanhas distantes para sentir em suas mãos a maciez aveludada do rosto da Lua, mas novamente falhou. Naiá acreditava que a Lua era um bonito guerreiro - Jaci - , e sonhava em ser noiva dele.
Numa noite, a moça deixou a aldeia, na esperança de realizar seu desejo. Ela tomou o caminho do rio para encontrar a Lua. Refletida no espelho das águas, lá estava ela, imensa, resplandescente. Naiá, em sua inocência, pensou que o astro tivesse vindo se banhar no rio para permitir que fosse tocado. Ela mergulhou nas profundezas das águas, desaparecendo para sempre.
A Lua, sentindo pena daquela jovem vida perdida, transformou Naiá em uma flor gigante - a vitória-régia - com um inebriante perfume e pétalas que se abrem nas águas para receber, em toda sua superfície, a luz da Lua.

sexta-feira, novembro 26, 2004

EM PRETO E BRANCO

O barulho que não se conhece o destino.
A venda negra sucumbe a visão.
O cheiro não identificável.
Boca vermelha e aproximação.
Pronta a sorver e deglutir, descobrir.
Fetiche, preto e branco.
Sensações: as invisíveis, as que estremecem...




quinta-feira, outubro 28, 2004



O espiral e sua eterna volta.
Nunca finda, ao mesmo tempo envolve.
Transborda o movimento, serpenteando o olhar.
Fixação como tudo que em mim se instala e tem sempre lugar.

domingo, outubro 17, 2004

ANO NOVO

Hoje é um novo tempo, um novo início.
Renascimento e transbordamento de ideais.
Suposições,quimeras, delírios e vontades.
Ontem, alguém a mim desejou e eu transcrevo, aqui:



"A ti desejo

Que tenha saúde, vigor, energia, amor.
Que se apaixone, diariamente, pela vida, pelas pessoas, por você mesmo.
Que receba sorrisos, que ganhes muitos abraços
Que tenha sonhos, que tenha desejos
Que faça da vida uma busca e receba a graça do encontro!"

Agora eu: Que assim seja!

quinta-feira, outubro 14, 2004

Ron Davis inspirou com essa profusão de cores.
Quentes, é verdade.
Frescas e itinerantes.
Esparramadas como o ser.




Recebi um designer astrológico. A estrela cabalística e os dias da semana. Acho que tudo envolve o mesmo sentido existencial. Aí vai:

Os dias da semana obedecem a uma seqüência estabelecida pela Estrela Cabalística de 7 Pontas.

No topo da Estrela se localiza o Sol.
Na segunda linha fica o princípio masculino e feminino: Marte e Vênus.
Na terceira linha o Eixo do conhecimento superior ou social-cósmico ( júpiter ) e o inferior ou mundano ( Mercúrio ).

Na última linha o estruturador da vida Saturno, e a geradora da vida: a Lua.

Os dias da semana se obtêm desenhando a Estrela de 7 pontas, a partir do Sol e começando a direita, no sentido horário:

Sol > Lua > Marte > Mercúrio > Júpiter > Vênus > Saturno

. Sol (Domingo - Sunday - Dominus Dei, o Dia do Sol)

. Lua (Segunda feira, lunes, Monday, Dia da Lua)

. Marte (Terça feira, Martes,Thursday)

. Mercúrio (Quarta feira, Miercoles, Wensday)

. Júpiter (Quinta feira, Jueves, Tuesday)

. Vênus (Sexta feira, Viernes, Fraiday)

. Saturno (Sábado, Saturday).


O Regente da Hora. Horas planetárias
As horas planetárias são definidas a partir dos dias da semana. A primeira hora de cada dia é definida pelo planeta do dia. Assim a primeira hora do domingo é regida pelo Sol, a primeira hora da segunda-feira é regida pela Lua e assim para todos os dias da semana.

A partir da primeira hora a seqüência segue da seguinte forma: Sol - Vênus - Mercúrio - Lua - Saturno - Júpiter - Marte - Sol, que se obtém seguindo as pontas da Estrela Cabalista em sentido horário.

Muitos alquimistas e astrólogos calculam a duração da hora de uma forma diferente. Eles dividem o dia em parte diurna (desde o nascer ao por do sol) e o restante como parte noturna. Ai definem a duração da hora planetária diurna define-se como a duodécima parte do tempo que o Sol leva de seu nascimento ao seu ocaso. Os dados do nascimento e do acaso do Sol podem ser encontrados em tabelas elaboradas pelos Centros Astronômicos publicadas as vezes nos almanaques (Ex. Almanaque do Pensamento).

A hora planetária noturna encontra-se dividindo o intervalo de tempo entre o ocaso e o nascimento.

Para calcular as horas do dia : parte-se da hora do nascimento do Sol e soma-se a duração da hora planetária para o dia, obtendo-se assim a primeira hora diurna.



Construção da tabela das horas planetárias dos dias da semana

. A primeira hora do Domingo é definida como do Sol.

. A partir de definido isto segue-se sempre a seguinte seqüência para as seguintes horas:

Sol - Vênus - Mercúrio - Lua - Saturno - Júpiter - Marte - Sol

. Quando chegar a duodécima hora noturna, a primeira hora diurna do próximo dia é regida pelo planeta que rege o próximo dia.

. As questões relativas aos planetas Plutão, Netuno e Urano devem ser encaminhadas nas horas dos planetas Marte, Vênus e Mercúrio respectivamente.

Regente do ano e o ciclo maior de 36 anos
No topo da Estrela se localiza o Sol.

Na segunda linha fica o princípio masculino e feminino: Marte e Vênus.

Na terceira linha o Eixo do conhecimento superior ou social-cósmico (júpiter) e o inferior ou mundano (Mercúrio).

Na última linha o estruturador da vida Saturno, e a geradora da vida: a Lua.

Existe na tradição astrológica ciclos de 36 anos governados cada um por um planeta seguindo a seguinte seqüencial:

Saturno > Vênus > Júpiter > Mercúrio > Marte > Lua > Sol

Observe na figura que tal seqüencia pode ser criada seguindo as linhas interiores da estrela, no sentido contrário do quando vão se determinar os dias da semana.

Este ciclo de 36 anos se compõe por 5 ciclos de 7 anos, que iniciam com o mesmo planeta que o ciclo maior, mas que é formado pelos planetas, segundo a ordem do círculo no sentido anti-horário (observe figura): Assim se o ciclo maior começa com Saturno a seqüência seria:

Regência dos anos dentro de um ciclo de 7 anos:

Saturno > Júpiter > Marte > Sol > Vênus > Mercúrio > Lua

A influência do planeta que inicia o ciclo maior (36 anos), estende-se através de todo o seu ciclo (Ex: o Sol desde 1981 a 2016); enquanto o planeta regente anual tem sua influência em apenas 1 ano.

O primeiro ciclo iniciou-se no ano 1 da nossa era e foi governado por Saturno (ano 1 a 36); o segundo então correspondeu a Vênus (ano 37 a 72); e assim sucessivamente: o terceiro a Júpiter (ano 73 a 108); o quarto a Mercúrio (109 a 144); o quinto a Marte (145 a 180); o sexto a Lua (181 a 216); o sétimo ao Sol (217 a 252). O oitavo ciclo correspondeu novamente a Saturno depois do qual tornaram a se repetir as mesmas regências a cada ciclo de 36 anos, tal qual a ordem anterior citada.

Assim, no século vinte, o ciclo de 1909 até 1944 foi regido por Marte; o ciclo da Lua começou com a entrada do sol no signo de Áries em março de 1945 e se estendeu até março de 1980, para em seguida vir o ciclo do Sol (1981 a 2016) onde nos encontramos atualmente.


O Planeta Regente do Ano: 2005 (Lua)

Como foi explicado anteriormente a cada 36 anos inicia-se um ciclo de regência maior. Sabemos que em 1981 inicio-se o Grande Ciclo do Sol, sendo também o ano do Sol (Já que o primeiro ano de cada ciclo maior de 36 anos é governado pelo regente do mesmo).

O regente do ano é definido a partir da Estrela Cabalística de 7 Pontas, seguindo a seqüência dos planetas no sentido anti-horário.

Saturno > Júpiter > Marte > Sol > Vênus > Mercúrio > Lua

Em 1981, iniciou-se o ciclo maior regido pelo Sol, portanto tem como regente do ano o próprio Sol. O ano de 1982 foi regido por Vênus; 1983 por Mercúrio, 1984 pela Lua e assim sucessivamente:

Sol (81, 88, 95, 02, 09) > Vênus (82, 89, 96, 03, 10) > Mercúrio (83, 90, 97, 04, 11) > Lua (84, 91, 98, 05, 12) > Saturno (85, 92, 99, 06, 13) > Júpiter (86, 93, 00, 07, 14) > Marte (87, 94, 01, 08, 15)

Assim o Sol é regente dos anos: 1981, 1988, 1995, 2002 e de 2009 e do ciclo completo que foi iniciado em 1981 e a Lua é regente dos anos 1984, 1991, 1998, 2005 e 2012 no ciclo maior do Sol.


terça-feira, outubro 12, 2004

Netuno em Aquário,

é o mAR que habita a atmosfera

é a rede invisível que está unindo todos os corações,

é o indecifrável que transforma cada coisa em fonte de emoções,

é a impossibilidade de segredos,

é a alma que manifesta sua presença como aquilo que palpita trás a personalidade

é a orgia do amor inelutável de encarnados, desencarnados, animais, plantas, cada ser

é o Amor que se respira a pesar dos medos, dos muros, das impossibilidades...

é a ante-sala do reino do Amor

Héctor Othón

quarta-feira, setembro 22, 2004

DOS AMANTES



Chegou o equinócio e eu não tive tempo de celebrá-lo.
Soube hoje que comemora-se nessa mesma data o Dia dos Amantes.
Lendo no Multiply um texto sobre a paixão, Angel Blue citava "A Insustentável Leveza do Ser" e uma frase do livro. Vou recorrer a ela, justamente porque ficou reverberando na mente e eu compreendi seu sentido, que diz assim:

"... deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."

quinta-feira, setembro 16, 2004

INFERNO ASTRAL

E não é que hoje começa?
Pus até no Multiply o calendário dos dias.
Aliás, tenho encontrado tantos brinquedinhos novos que ando meio perdida.
Administrar tantos espaços é trabalhoso, mas isso tudo me diverte.
Eu adoro uma novidade, a possibilidade de arriscar no que não se sabe, no que não domino, no que é improvável e eu não sei se dará certo.
O que é certo é o amor que tenho por este espaço, por essa Lemniscata onde tantas letras, palavras e sonhos já se espargiram.
Quero é mais. Que venha o inferno e o astral permaneça o mesmo.

quinta-feira, setembro 02, 2004

SETEMBRO



Reacendo, fosforeio, incandeço.
Num negrume mesclado de carmim.
Nas constelações que brindam euforia e se comovem diante do deserto interior.
Na boca, vermelho espalhado. Rascante.
Desce pela traquéia, aquece o estômago, inebria o ser.
Paladar que atiça e dá fome.
A mesma que tange pelas artérias doces e rubras.
O mesmo sangue quente que te faz vivo.
Do ar que respira e espalha álcool ao redor.
Vulcão que convida novamente a aqui estar.

domingo, agosto 08, 2004

FENDA

No caminho azul é calor dentro e fora.
Transbordam essências, umidade e licores.
Cheiros de flor, ocre e açúcar.
Mel que se espalha e cria a atmosfera aconchegante.
Agasalha o que precisa de chão, casa e colo.
Oferece o que há de sublime.
Intermeio de palavras e divagação.
Sonhos distantes de costelações e mudez.
Nave que se esvai e volta ao porto.
Vida que se refaz em cada enseada.


terça-feira, agosto 03, 2004

No ser, deserto e poeira.
Restos e memórias, pesadelos e cobranças.
A noite passada foi assim.
Brigas e profética frase.
O amanhecer estranho e cinzento.
Alma revirada, íntimo em desalinho.

quarta-feira, julho 28, 2004

DOS AMIGOS

Ganhou uma rosa azul e trouxe junto um mar colorido.
Pérolas a criar uma nova atmosfera lúdica e lúcida.
Verde como os tons que cercam as matas, intercalado com prata.
Coisas da moça de olhos d?água.
Tatoos três. Átame, espada, flor de Iansã.
De tempestades nada têm. Tem lógica e bom humor.
Sentou num dos bares tradicionais daqui.
Onde os quitutes e caldos são famosos.
Sucumbiu ao chope preto e bolinhos de bacalhau.
Não resistiu e se fartou de waffle com presunto.
Pequenos pedaços deglutidos ao compasso de troca.
Amizade, alegria e claridade.
Ela é assim. Sua vinda aqui, também.
Na cidade nevoada, fria e úmida,
Um céu de Manaus desceu, irradiando sol nessa paisagem cinza.
Estar com ela é sempre motivo de aprendizagem.
Amiga é teu nome.
Ainda ia às cartas, as de baralho comum.
Gosta das previsões e dos achados do Candomblé.
Falamos de entidades, santos e achados espirituais.
Pus ela no ônibus, lá se foi com seus cabelos dourados,
olhar sincero e dignidade.
Um abraço apertado marcou a despedida.
Foi um dia raro, como poucos...

terça-feira, julho 20, 2004

JULHO

Pus os pés para fora do barco.

Armazenei forças com os raios solares.

Namorei as ondas que batiam incessantes.

Galopei e domei golfinhos e tubarões.

Errei ao acreditar num mundo feito de pedaços.

Imaginei errado.

Agora sei, tudo era um único bloco, compacto e fixo.   
  
    
 



segunda-feira, junho 28, 2004

DIA BRANCO
 
A folha, o dia e você.
Isso remete a uma música de Geraldinho.
Talvez nós estejamos mesmo percorrendo essas linhas imaginárias e escuras.
As que atormentam sua mente e mexem com o diálogo.
A fumaça invade, cheiro de folha queimada, lixo sendo destruído.
Castelo também fica assim nessa época. Uma bruma com pitada de sol.
Um ar nem quente e nem frio, imagens sobrepostas e claras só à frente,
quando a vista consegue captar.
A letra diz assim:

"Se você vier pro que der e vier comigo
Eu te prometo o sol...se hoje o sol sair
Ou a chuva...se a chuva cair.
Se você vier até onde a gente chegar,
Numa praça na beira do mar.
Um pedaço de qualquer lugar.
E neste dia branco se branco ele for,
esse tanto, esse canto de amor.
Se você quiser e vier pro que der e vier comigo
Se branco ele for,
esse canto, esse tanto, esse tão grande amor, grande amor,
Se você quiser e vier pro que der e vier comigo. "





sábado, junho 12, 2004

JUNHO

Dia de dar beijo na boca.
Andar de mãos dadas, chamegar e dar um cheiro.
Respirar um pouco do que é.
Sentir seu calor mais próximo, deixar que o atrito se faça.
Colar meu corpo no seu.
Te falar baixinho no ouvido.
Pôr o arranjo na jarra, perfumar a casa de flores.
Perpetuar o que começou. Despejar o que se sente.
Regar o que há de melhor.
Viver o que a vida dá.


quarta-feira, maio 26, 2004

HORIZONTE

Deste lado a visão fixa-se numa linha imaginária.
Aquela que divisa a água e a terra.
A que implica com nossa exatidão consciencial.
A que desmorona a perspectiva ocular.
O movimento é repetitivo, como música que não dá trégua aos mesmos acordes.
Embala as flâmulas e os navegantes, os que desfilam em embarcações medievais.
O tempo colabora e o calor aquece.
O sal flutua na atmosfera festiva.

sexta-feira, maio 21, 2004

TUNICK



Pelos pubianos, auréolas rosadas, morenas.
Pênis pequenos, grandes, coloridos.
Nádegas enormes, disformes, perfeitas.
Cinturas quadradas, redondas, curvilíneas.
Pernas musculosas, gordas, flácidas.
Abdômen definido, caído, gordurento.
Cabelos que emolduram peles pálidas, coradas.
Numa centena de pessoas, um mar de ninguém.
Mulheres, homens, crianças, todos iguais.
À mostra, revelados, sem identidade.
Processo catártico, igualitário e despojado.
Na nudez proclamada e liberta: fraternidade.
No rasgar de panos e indumentária, o mesmo ser.
Diante da natureza a simplicidade das criações.
Padrões que se perdem em revistas e conceitos urbanóides.
Beleza que se distende e funde-se à paisagem.
Gaia acolhedora que abraça seus filhos como vieram ao mundo.


terça-feira, maio 11, 2004

INTERROGAÇÕES

qual causa nos reúne
na mesa deste boteco?

creio que a poesia é
quando muito
um pretexto

não é a bebida
já que há tantos abstêmios

quais moinhos combateremos
com as lanças ritmadas
umas toscas como a minha
outras finamente elaboradas?

é uma tribo o que somos?
uma gangue etária
mente eclética?
um grupo social
mente dessemelhante?

neste instante o meu windows média player
está tocando bye bye blackbird
com myles davis & john coltrane

deve haver quem ouça um samba
um fado
o silêncio
uma orquestra sinfônica

deve haver que ouça o barulho da cidade
as ondas do mar
o canto de pássaros
a narração vibrante de um jogo de futebol

e estamos
entretanto
todos no mesmo bar
todos no mesmo barco

para onde
afinal
navegamos
se para cada há um rumo próprio
um porto onde deseja chegar?

a solidão?

não
a solidão não agrega

o narcisismo?
a vaidade?
o exibicionismo?

creio que não
preciso crer que não
para não correr o risco
de envergar a carapuça.

que terras adubaremos?
quando semearemos os grãos?
quando será a colheita?
que frutos perdurarão?

quantos de nós pereceremos
sem um aperto de mão
apesar de agrupados
neste imenso salão?

além de uma língua comum
deve haver algo que nos una

não são os sonhos
não são as fantasias
não são ideologias
não são memórias

estamos todos aliados
sem que possamos
porém
nos olhar
nos sorrir
nos abraçar

qual pode ser a alquimia
que nos permite a intimidade
de partilhar angústias e alegrias
se não nos conhecemos
aquém e além das palavras?

qual estranha força me permite
trazer à baila tantas tais questões
transgredir as boas normas de conduta?

é preciso
agora
porém
que o dragão recolha as asas
há pratos para lavar
e uma vassoura no canto da sala.

Fred Matos

domingo, maio 02, 2004

MAIO



Saturno o grande senhor. O tempo.
Queria despejar um pouco do que anda retido aqui,
mas minhas míseras insipiências andam adormecidas,
como que envenadas por Eros, numa flecha, numa maçã.

quarta-feira, abril 21, 2004

A LUA

Após encontrar Marte e dele receber a primeira das sete lições, me foi ensinado que a vida é luta, conflito e conquista. "É preciso tornar-se grande e conquistar espaço", ele me disse.

Mas eu não estava satisfeito, alguma coisa estava faltando, e eu precisava descobrir o que a vida era, se havia algum sentido. Eu sabia que uma porta havia sido aberta e que os espíritos estavam tomando corpos na Terra, e a possibilidade de falar com cada um deles me fascinava - e assustava, admito.

Não foi preciso procurar muito para encontrar a Lua. Ouvi falar de uma mulher que era a porta para todas as marés do mundo, e cujo rosto não tinha consistência sólida, assemelhando-se mais a um espelho líquido que horas era sombrio como uma velha pedra negra,
em alguns momentos refletia pequenos raios de luz, mas jamais a luz inteira. Ela era jovem, mas se eu olhasse com o canto dos olhos poderia ver que se tratava de uma velha. Tudo era noite ao seu redor, e eu me senti tranquilo e confortável. Estava um pouco cansado do calor avermelhado e tórrido do meu encontro com Marte.

A Lua abriu suas asas sobre mim, me oferecendo conforto, como que adivinhando meu cansaço. Eu olhava para seu rosto, mas não conseguia ver nada definido, e tive um pouco de medo. Me parecia um espelho, mas ao mesmo tempo não era. Vi a mim mesmo como eu fui e como
poderia ter sido em diversas circunstâncias. Ocasiões e fatos passados foram transbordando, coisas que eu sequer recordava, numa intensa e assustadora onda que varria meus pensamentos concretos. Como seria possível não se encantar por aquela mulher? O Sol era sem dúvida adorado, mas ninguém conseguia chegar perto dele, de tão quente e brilhante que era. E as pessoas não queriam claridade total, preferiam os semitons da luz refletida.

Quando a encontrei, ela estava cheia: cheia de luz, de sangue e marés. E eu lhe perguntei o que ela tinha a me oferecer.

- "Eu ofereço conforto e sonho" - disse ela - "para que todo seu cansaço se torne passado e todas as dores apenas memória".

- Eu gostaria apenas de saber o que a vida é - disse, por minha vez.

Com um gesto de sua mão esquerda, toda a realidade em torno se desfez, tornando-se um caleidoscópio em que o que aparentava ser uma pedra se revelava uma planta, que repentinamente explodia na forma de um bicho qualquer, e então eu percebia que estava olhando para minha própria imagem refletida. Fiquei muito tonto. Não sabia mais o que era real ou mera ilusão. Meus pensamentos eram transparentes neste contexto, e a Lua disse:

- "Não existe real e ilusão, existe apenas o sonho e sua capacidade de sonhar. A única coisa real são as memórias que você tem das coisas. Nada além da sua lembrança das coisas, que é o que torna tudo verdade."

- Mas aprendi com Marte que devo me esforçar para conquistar meus desejos...

- "Ele mente para ser alimentado. Um desejo dá lugar a outro desejo, e assim sua busca nunca termina. Eu ofereço o acalento do sono: vem e dorme. O que mais você poderia desejar?"

Olhei ao redor e pude ver uma montanha humana que dormia, e um sorriso marcava seus rostos.

- "Veja como estão todos felizes" - disse-me a Lua Cheia - "Não há o que conquistar, há o que recordar. Todas as coisas já foram conquistadas, tudo já foi criado, não há nada de novo no mundo. Tudo que existe de real é apenas memória."

- Mas por que você me oferece esta luz pálida? Não consigo ver as coisas claramente com a sua luz. Dê-me a luz do Sol!

- "E quem precisa do Sol, do Sol causticante, que ofende os seres com os detalhes minuciosos de suas rugas e com a revelação explícita de suas falhas e imperfeições? Sob minha luz, que é um pouco do que roubei dele, todas as coisas são belas. Vem, tenho um lugar só pra você."

Assim falando, sua luz esmaeceu e ela tornou-se Minguante. Se nada antes era tão claro, tornou-se então impossível ver algo com nitidez. À minha frente, vi o que parecia ser meu quarto de criança. Me pareceu agradável a perspectiva de não precisar me preocupar mais
com nada. Então lembrei-me de Marte, do desagradável Marte, que me ensinou a subir montanhas escarpadas e a nadar em lagos escuros. Eu não queria dormir e sonhar, eu queria a verdade, e não era em minha infância que eu a iria encontrar.

Disse não.

E a Lua, tornando-se Nova e escura, nada mais me disse".

Alexey Dodsworth

domingo, abril 18, 2004

TIGRE

Compara-se ao tigre, me informa de leões distantes, tubarões e estabelece
geograficamente onde mora.
Diz da riqueza e da pobreza, da beleza e da feiúra, da mediocridade e da
filosofia. A dualidade, a antítese.
Não cansa de ser narciso, sem precisar de espelho, se compara aos Baldwin.
Ele, não. As outras pessoas.
Deseja ser como Tolkien e outros que desconheço o nome porque ainda não
contou.
Quer imortalizar a escrita, morrer e deixar viva a obra, como os grandes
gênios, os mestres.
Alerta para ter cuidado, para eu não esperar nada.
Diz que sou diferente, mas não inexplorada. Acha-me cópia de algo que
viveu.
Eu rio disso tudo, não sei onde vamos parar. Quero me lançar nesse universo
sem peso, sem estabilidade e que não exibe saída.
Perambulo por esse trajeto com uma lamparina antiga, mas os meus pés ainda
estão sem apoio, não enxergo-os. Sigo o fio da meada, sem medo de encontrar
um monstro que tenta me pegar e destruir o que parece existir de grande, bonito
e forte.
Vamos ver. E esse jogo de palavras, dá sabor, refresca, dá vontade de
continuar seguindo em sua direção, desafiando sua arredoma invisível,
penetrando seu ego inflado e sua pseudo-segurança.
Não há nada que me empeça de chegar ate aí, até você. A menos que interrompa
esse elo formidável e distante.
Retiro disfarces, você larga mais máscaras pelo caminho.
E se me dá prazer, por que parar?!
Venha, como a esfinge, devore-me!

domingo, abril 11, 2004

MÁSCARAS POR ALEXEY

"Num dia esquecido, muito tempo atrás, mais tempo do que seria confortável recordar ou saudável admitir, dez rostos desabaram do Céu, cada rosto contendo a essência de um espírito, cada máscara sendo a porta para uma dimensão da realidade.

Os deuses, ansiosos pela vida na carne, esperavam por quem vestisse suas faces, liberando-os do jugo entediante da abstrata vida espiritual.

Nenhum homem ou mulher mortal, todavia, ousava vestir a máscara. Temiam tornar-se os deuses que tanto veneravam. Preferiam a segurança de terem a quem adorar. Alguns homens sábios espalharam as dez máscaras por cantos ocultos do planeta, rogando para que ninguém as vestisse. Tinham medo da própria grandeza.

"Queremos carne", gritavam os espíritos furiosos, "desejamos sorver da vida até a sua última gota". Mas tinham que se contentar com as pequenas oferendas que os mortais lhes faziam. Incenso, em alguns momentos. Mantras, em outros. Às vezes até mesmo sangue e assassinato, ou mesmo sêmen e orgasmos. De morte e vida se alimentavam os espíritos atormentados. Livros eram escritos sobre eles e nomes eram criados para definí-los. Mas nada parecia fazê-los descansar.

Durante muito tempo estes rostos permaneceram esquecidos. E os deuses, invejosos da carne humana, se contentavam em dividir pequenos pedaços dos incontáveis corpos mortais de que dispunham. Dançavam dentro dos homens, às vezes brigavam entre si, entravam então em acordo. Se amavam para logo então tentarem se aniquilar. E durante um longo, longo tempo, houve inocência na Terra, homens e mulheres em suas vidas comuns e deuses se satisfazendo com os pequenos momentos em que podiam se sentir vivos através dos corpos mortais. Mas nenhum deus, absolutamente nenhum espírito, tinha a permissão de tomar inteiramente um corpo só para si.

Até que um dia um lamento despertou o Sol. E por um pequeno átimo de segundo, tudo o que é Sol no Universo concentrou-se naquele pequeno rosto perdido, naquela face dourada.

Era chegada a hora de despertar, e o Sol entoou seu cântico e abriu seus olhos. Quem o atenderia?

E a voz disse [com fogo jorrando para dentro e para fora]:

- Vista-me!".

Alexey Dodsworth

Astrológo, amigo, um querido.

segunda-feira, abril 05, 2004

Depois de dias de confinamento, longe das ondas cibernéticas
E eis que volto à tona, emergindo de um torpor providencial.
A vida e suas instâncias necessárias e professoras, as que nos acenam e
Dizem da importância das mudanças, perspectivas e caminhos.
Abro o Word, abro a conexão, minha janela está aberta a você,
Aos que aqui vem e se debruçam na sacada, a espreitar letras,
Sentimentos e paixões.
Volto: abro mais dias em Abril.

sábado, março 27, 2004

DAS INTEMPÉRIES

O outono desce seu manto sutil e almiscarado.
Do céu em violeta, a tempestade se anuncia.
Do imponderável um cão ferido, pêlo destruído,
a carne, rosa, exposta. Um beiço pendurado.
Veterinário, anestesia, pontos e medicação.
O vizinho e seus cachorros.
O irmão em desalinho e furor.
A irmã tentando acalmar, amansar a ira.
Pecados e temores, sensações e energia.
A chave é perdida e a oração em contínua vertente.
Ele sai e a chuva desce. Os raios contaminam a escuridão.
Pulsões diante das intempéries.


terça-feira, março 16, 2004

LA TOMBE DE LA NUIT

O ar envolve os sentidos.
As árvores balançam com a força do vento.
Não se quebram diante de sua força, deixando-se levar pelo movimento.
Ciente do que refaz a natureza, impregnando de sentido e cores a existência,
embalamos acordes e melodias.
No nada que aparentemente flui, um monte de vida desperta.
Na raiz que insiste na terra, que faz gerar um novo broto, um ramo, um fruto.
Na busca que se faz iminente, nas conjecturas humanas e imperfeitas,
uma nova oportunidade, uma chance de reedificar a estrutura.
Num ser angélico e distante, na cerveja que desce na goela, no prazer imperfeito e na força que direciona os passos: um novo entardecer.
Que caia feito flecha, desmorone e dissolva o mais belo dos azuis, na aura branca e perfumada que clareia nossos passos, um novo entardecer, trazendo à vida a escuridão, a luz que embala enamorados, seresteiros e poetas.

terça-feira, março 09, 2004

MARÇO

Na noite azul, a lua ainda está na cheia.
O céu de strass, salpica Três Marias, Cruzeiro do Sul,
as constelações que configuram o espaço.
Início do ano astrológico.
Trinta e um dias de força ariana.
Adeus aos peixes duplos do presente.
Águas que banham e encharcam a alma,
as mesmas que norteiam as estações,
as minhas, as suas, as nossas.
Determinação com o Velo de Ouro, o fogo de Prometeu.
O impulso, a força motriz, a paixão marciana.






sexta-feira, março 05, 2004

Os pensamentos são compulsivos.
Fincam alicerces subversivos e se instalam ao menor sinal do aceno.
Longe de ser um blog de arte, aqui se fala de paixão.
Daquilo que faz pulsar e nos leva a outras enseadas.
Na máscara que emoldura o Carnaval, numa pintura de cores fortes e marcantes.
Não existe uma tônica, um único assunto, um objetivo marcado.
Falo do que sinto, do que emociona, do que caracteriza meu encantamento.
Sempre foi assim. Aqui deságua tempestades, de raios e trovões.
Aquelas que clareiam a noite e desenham néon na constelação.
Aqui se faz sincronismo com o que a pupila absorve.
Aqui jaz e nasce sempre uma nova espiral.
Aqui os cavalos selvagens pastam por verdes colinas,
abrem sulcos ao menor sinal do casco que toca a areia,
levantam poeira, remexem o solo, acendem a força telúrica.
A mesma que se mescla à infinidade de fluidos que nos circundam.
Do que exalamos com nossos pensamentos, do que emitimos pela aura.
Plexos, chakras, centros energéticos, perispírito, corpo físico e duplo etérico.
Nos conectamos ao cósmico universal e de lá nos abastecemos.
Vivemos, plantamos e vamos dia a dia construindo mais um retrato.
Mais uma imagem é absorvida e se desfaz, no mesmo instante que uma
outra é despertada.


sexta-feira, fevereiro 27, 2004

RUBENS

Nas formas arredondadas e renascentistas o movimento.
A geometria se fundindo à pintura.
Emprega, sistematicamente, a técnica do contraposto: uma figura clara de frente e uma figura escura de costas.
Homem alemão e sua vista que captava além do século XVII.
A maior figura das artes flamengas.Veneza é o seu ponto de partida.
Dali assimilou a secreta magia do colorido veneziano e partiu para a exploração na Itália.
Criou uma oficina e dela surgiram outros grandes nomes e uma obra colossal.
Um erudito e mundano, traduz o ápice da cor e a exuberância do movimento.
Conservava, entretanto, uma grande diferença em relação aos pintores
do passado, pois suas composições eram dinâmicas, em concordância
com o gosto barroco.
Estabelece o movimento, fazendo com que as formas extravasem os limites
da tela e os personagens dancem no espaço, sempre em sinuoso S.
Círculos concêntricos, inscrevendo-se as curvas e as contracurvas.
Composições dinâmicas, unindo os elementos iconográficos ou alegóricos
selecionados.




terça-feira, fevereiro 17, 2004

CARNAVAL

Há mil e setecentos anos já se usavam as ditas cujas.
Saíam incólumes à noite à procura de diversão.
Nas ruelas e becos, nas pontes dos canais.
Sombras fugidias, obscuros passos na constelação.
Com certeza o fog emoldurava a ocasião,
dando asas ao mistério que se esconde atrás de cada escolha.
Casanova vivia lá, na Veneza de séculos atrás.
Na época medieval fincamos bases e até hoje é assim.
Máscaras, muitas delas no Carnaval.


quarta-feira, fevereiro 11, 2004

ZAGROS

Na madrugada o vislumbre são areias de sal.
Irã religioso, de asfáltico ouro e mulheres de véus.
Misteriosas faces em olhos marcados pelo cajal.
Mistura de cores apressadas, burcas negras.
Oceanos que se esgotam e criam desertos.
Nasa a fotografar o que parecia impossível da terra.
No céu do telescópio espacial, veios de lama,
detritos a escorrer pelo tempo e caiar formações rochosas.
Sódio em sua forma bruta, cascalhos salmão, línguas negras,
geografia paleolítica, erosão a pinçar montanhas de sal.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

OXUMARÉ



Luz, luze, reluz e duplica.
Na curvatura multicor, o primeiro.
De ponta a ponta, concha açambarcando a catedral.
Entre a primeira curva e a terra, o segundo.
Dois. Duplo arco-íris rabiscando a cidade.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

SANSARA

Um tempo atrás alguém deixou um comentário sarcástico num post que escrevi, julgando a maneira como vivo a existência. Sim, eu vivo numa espiral, onde caminhos se renovam, outros se repetem e alguns se mostram eficientemente límpidos, sem nada que lembre algo vivido.
E pensando sobre a espiral, os tais vírus mortais estão novamente aí. O que impressiona são os fabricantes dessas porcarias digitais que espalham essa onda de boataria pelo planeta. A tal da globalização, eu até entendo, mas acho isso muito idiota diante de tantas outras premissas existenciais. Tenho recebido mensagens na caixa postal dizendo que estou com isso e aquilo outro. Como pode ser se não tenho enviado email para ninguém? E acho incrível como tem gente perdendo tempo e energia criando essa atmosfera nebulosa diante da febre virótica. Será que os caras não tem nada mais inteligente para criar? Já falei e repito: isso deve ser uma máfia constituída pelos técnicos de computador. Só pode ser.
Sei que outra vez a paranóia cibernética tomou conta de tudo, das mídias, todas elas. Destaques e manchetinhas com a mesma ladainha. As listas de discussão foram infectadas com esse assunto e a semana inteira ouvi dicas e conselhos de como evitar a contaminação. Tal como a gripe asiática, novamente aí para detonar um bocado da população. Como disse uma amiga astróloga, os ciclos se repetem e segundo ela uma doença similar a Peste Negra surgiria para destruir um pouco da raça humana. A roda de Sansara a se espargir, mostrando que nada é imutável, tudo está sempre em movimento, numa eterna espiral. Gostem ou não, queiram não, assim o é. Uma digital infinita, modulando o que tange os fluidos existenciais, freqüências, o que está fora, o que está dentro, o que nos envolve, o que transmitimos. Não somos uma ilha isolada. Fazemos parte do todo.


quinta-feira, janeiro 22, 2004

POETAR

Bilac, Alves e Dias.
Pitorescas histórias, Dante Milano, também.
No sarau onde cada um cantava um pouco de poesia,
a moça de cabelos curtos, desenhava serpentinas no ar.
Na dança árabe, tal o tipo moreno, poderia ter vindo do oriente.
Os guizos que possuem outro nome, os véus caindo pelos quadris,
o som de castanholas agudas, o mexer da pélvis, fixou todos os olhares.
Painel com os patronos escolhidos e fotos. Tirei uma e saí na outra.
Fiquei como espectadora, somente. Prefiro assim, devagar, observando.
Figuras ilustres dessa cidade estavam lá.
Gente que entrevistei e que já fizeram parte de linhas no matutino.
Escolhi de olhos fechados um laço. Branco.
Cor que gosto, sobremaneira. Irei usar uma peça dessa cor, alva.
A minha foi fácil, pior quem tirou lilás.
Aconteceu com o professor e ele decidiu trocar por outro tom.
Cadu tem como patrono Renato Russo. Declamei com ele o faroeste, caboclo.
A história de um tal de João de Santo Cristo. Terceira geração venerando o poeta.
O mesmo menino leu a história do presépio de Natal e ficou no ar uma incumbência para dezembro desse ano. Escolher uma figura e trazê-la à vida pelas letras.
Não sei quem eu seria no presépio. Tão distante do meu universo mundano e terreno. Vamos ver...
Um soneto de Bilac quebrou minha boba cisma. Tórrido é apelido, caldeirão em ebulição.
Diante dele, as minhas paixões são fichinha.
Naquele tempo o ardor consumia a decência e os pudores.
Conquistar o objeto de desejo ou como eles diziam, a mulher amada, era trabalho árduo.
Hoje, parece que esse encanto se desfez e tudo ficou banal, fácil demais.
Tempo bom aquele onde pecar realmente tinha um gosto especial.


sábado, janeiro 17, 2004

ALQUIMIA

A Alquimia, segundo G. O. Mebes, é uma ciência Hermética por excelencia. É também uma ciência Solar, que tem no sol, assim como Hermes Tot, uma grande força e uma grande fonte de atração.
Ainda de acordo com Mebes, o Sol, representado no Taro pelo Arcano 19 e pela letra hebraica Cuph, indica três processos fundamentais:
. Alcançar as verdades frutíferas, que corresponde a Obra Magna no campo das idéias. Adquirir as virtudes herméticas, a Obra Magna do Hermetismo Ético
. Realizar a Pedra Filosofal, a Obra Magna da Alquimia.
De acordo com o Hermetismo Ético, cada ser humano é composto de uma substância cuja disposição e fixação numa determinada ordem, fazem com que a pessoa se torne virtuosa. O "pai" desta virtude é a atividade - o Sol, sua mãe é a passividade - a Lua. Durante o período de gestacão, a virtude é carregada pelo Vento, ou seja no ambiente astral; nutrida pela mãe Terra deverá se manifestar no mundo do sacrifício, ambiente zodiacal; entretanto,
somente o Telesma, que é o invólucro da Vontade, pode causar os processos de gestação, do nascimento e da adaptação. Em outras palavras, é o próprio Pentagrama que cria sua virtude.
Para formar suas convicções no campo da Filosofia Hermética, é preciso primeiro separar a fé do conhecimento, para depois sintetizá-los numa totalidade harmoniosa. Assim, no Hermetismo Ético, é necessário saber quais impulsos provem do Triângulo Superior e quais os que provem do Triângulo Inferior, na Estrela de Salomão. É preciso desenvolver uma receptividade consciente para os princípios vindos do Alto assim como uma capacidade de avaliação das manifestações densas do Baixo. Do Alto vem o preceito "ama o teu próximo". Mas como e o que amar nele ? O que fazer para ele ? A resposta é: "amar como a sí mesmo", e isto só pode ser aprendido no plano da involução do Triângulo Inferior. Assim, temos que conhecer os ideais elevados e a aspiração à Reintegração e, paralelamente, observar e estudar o nosso próprio egoismo rasteiro, para poder interligá-los pelas grandes leis da Ética.
É absolutamente necessário saber elevar-se da Terra para o Céu e voltar de novo... buscando os princípios em suas fontes no Alto e a suas manifestações no Baixo. Então nossa Virtude adquirirá força plena, e quaisquer trevas
desaparecerão do coração.
Quando estivermos prontos para assimilar o que é sutil, então seremos mais virtuosos; e por meio das correntes que formaremos e através delas, essa Virtude penetrará tudo que é denso, vencerá a inércia egoísta das massas e,
mesmo contra sua vontade, incutir-lhes-á os princípios éticos.
No plano puramente mental do Hermetismo, o intelecto oscila entre o Céu (princípios) e a Terra (fatos), isto é, pratica a dedução e a indução; o mesmo deve ser feito pelo coração...
Em ambos os campos, encontramos os três princípios Alquímicos ligados ao Hermetismo Ético: ENXOFRE ativo (aspiração as alturas) MERCÚRIO passivo (conhecimento das planícies) SAL neutro (produto da harmonização entre os dois primeiros).
Nos dois campos, existe o Quaternário expresso pelo Tetragramaton da Cabala ou pela Cruz Hermética:

IOD 1 - Busca da Verdade 1 - Atividade Evolutiva (Triângulo Superior)
HE 2 - Aspiração em assimilá-la 3 - Emotividade Passiva
VAU 3 - Aspiração em transmití-la 2 - Atividade Involutiva (Triângulo Inferior)
2 HE 4 - Desejo de sintetizá-la num 4 - Emoções Positivas sistema harmonioso
Tanto no campo do coração como no da mente existe o quinto elemento que é o próprio operador, no centro do quaternário. Em metafísica o quinto elemento é o Adão decaído que adquire a experiencia do bem e do mal na grande balança que mantém o equilíbrio do mundo.
No Hermetismo o quinto elemento é a quintessência, a Vontade que Rege a Cruz Hermética.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

VERSOS ESMERALDINOS

A Alquimia, precursora da Química moderna e da Medicina, foi a ciência principal durante a Idade Média. A busca da Pedra Filosofal e da capacidade de transmutação dos metais, incluia não só as experiências químicas, mas também uma série de rituais. A filosofia Hermética era um de seus alicerces, assim também como partes da Cabala e da Magia.
Ao longo do tempo, diversos alquimistas descobriram que a verdadeira transmutação ocorria no próprio homem, numa espécie de Alquimia da Alma; diversos outros permaneceram na busca sem sucesso do processo de transformação de metais menos nobres em ouro; afirma-se que alguns mestres atingiram este objetivo...
A Alquimia também preocupava-se com a Cosmogonia do Universo, com a Astrologia e a Matemática. Os escritos alquímicos, constituiam-se muitas vezes de grandes pantáculos e de esquemas e figuras complexas, onde procuravam sintetizar a sua mensagem simbólicamente de modo gráfico e, na maioria das vezes, de modo codificado ou dissimulado, daí, talvez a conontação dada ao termo hermético = fechado, assessível apenas para os iniciados.
Da ligação com o Hermetismo, a lei da analogia e o domínio dos três planos podem ser expressos nos dizeres abaixo, atribuidos a Tábua de Esmeralda de Hermes, conhecidos também como Versos Esmeraldinos:

"É verdade, correto e sem falsidade, que o que está em baixo, é como é em cima, para cumprir-se a Grande Obra. Como todas as coisas derivam-se da Coisa Única, pela vontade e pela palavra daquele Único que as mentalizou, assim também tudo deve a sua existência a esta Unidade, pela ordem Natural, e tudo pode ser aperfeiçoado por adaptação àquela Mente.
Seu pai é o Sol; sua mãe a Lua, o Vento a transporta em seu ventre, sua nutriz é a Terra. Este ente é o pai de todas as coisas do Mundo. Seu poder é imenso e perfeito, quando novamente separada da Terra. Separas pois o Fogo da Terra, o sutil do denso, mas com cuidado, com grande habilidade e critério.
Ela sobe da Terra ao Céu e novamente desce à Terra, renascendo e assim tomando para sí o poder de Cima e o poder de Baixo. Desta forma o explendor do mundo será todo teu, possuirás todas as glórias do universo e quaisquer trevas afastar-se-ão de tí. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder; capaz de vencer todo o sutil e penetrar tudo o que é sólido. Do mesmo modo o universo é criado. De lá vem as realizações maravilhosas, e seu mecanismo é o mesmo.
É por isso que sou chamado Hermes Trismegistus, possuindo poder sobre os três aspectos da filosofia universal. O que eu disse da obra-mestra da Arte Alquímica, a Obra Solar, aqui está dito e encerra tudo."

A Tábua de Esmeralda - Hermes Trismegistus

segunda-feira, janeiro 05, 2004

DOIS ANOS

Completamos dois anos de existência.
Esse blog fez aniversário dia primeiro.
O calendablog avisou da data.
Eu mesma já havia esquecido.
Registro o endereço em tantos outros que depois acabo me perdendo.
Eles me acham, avisam e o sitemeter acusa.
É verdade que ando meio relapsa e só apareço de dois em dois, às vezes de três em três dias. Mas faz parte do momento, desse estado de espírito.
Aqui soltei e liberei monstros, cavalos, serpentes, os selvagens que habitam esse corpo.
Há um pouco mais de comedimento, é verdade.
Ontem confessei a ele no icq mais algumas bobagens que insistem.
Ele nunca me leva muito a sério.
Ajudou-me a achar programas e me chamou de safada.
No fundo é um amigo querido, uma fonte incessante e inspiradora.
Ele me faz bem e nem sabe o quanto.
Não sei porque teimo em achar que nos parecemos.
Só não sou dada como ele a exercícios repetitivos.
Gosto da dança, do mexer o corpo, do prazer em fazer coreografias e passos.
Já pensei que esse ano vou mudar de ramo. Quero lutar e dançar também.
Capoeira, o som, o berimbau, tudo junto. Exercício perfeito: prazer e malhação.
Ele contou que andou soltando os demônios, mas fez segredo deles.
Alma pisciana, volátil e misteriosa, flutuante em suas tantas facetas.
Metamorfose ambulante como Raul já sentenciava.
Só sei que foi bom reencontra-lo, receber novas fotos e fazer um carinho nele.
A noite foi boa, risada, malabaris e muita provocação.