domingo, janeiro 30, 2005

RASTRO

A água translúcida refletia a lua no crescente.
O céu límpido de constelação nua
Arrepio com pressão, umidade atmosférica.
Ela parou no centro do lago, as roupas finas, claras.
Os cabelos negros caíam na fronte.
As unhas negras enormes seguravam o átame.
Desenhou o pentagrama e se protegeu.
Ainda que estivesse só, sabia do que a acompanhava.
Logo uma serpente se aproximou, enroscou-se e lá ficou imóvel.
Só os olhos brilhavam, refletiam a ancestralidade.
Uma maçã mergulhada em líquido tinto esperava por ela.
Uma mordida, degustação, anseio e vida.
Longe das criaturas noturnas e humanas, ela resplandecia.
Uma coruja clara pousou perto e lá ficou.
O fogo ardia pelas chamas da fogueira.
Alguns ciganos começaram a aparecer.
O som dos violinos tomou o ambiente.
E ela sabia o motivo. Conhecia aquela tribo, aquela gente.
Desfez o círculo. Pôs a saia longa, pegou as castanholas.
Dançou com ele, ganhou vida.
Deixou fluir o que sabia mais do que os outros.
Viva, ela estava assim.
Bebericou o vinho, engoliu com sofreguidão.
Lambeu a boca, deixou escaparar o sorriso.
Os olhos matreiros, brilhavam.
Queimavam como a fogueira.
A madrugada avançada, já não tinha mais certeza de quem era.
O que fazia e o que esperava.
Pegou o chale verde, pôs nos ombros.
Foi embora, levando a serpente e a coruja.
Ao som dos guizos sumiu pela floresta.