quinta-feira, agosto 29, 2002

NA CALUNGA GRANDE

As águas pesadas sacodem o barco e surge, inesperadamente, uma figura.
Na alma existe a marca indelével, refletida em olhos negros, miudos.
Na matéria aparentemente densa, um escorpião no pé, aranha na nuca e serpente nos quartos: trilogia peçonhenta.
Pontos estratégicos no físico sinuoso tatuam a pele alva, fina. As unhas longas, escuras, destacam-se como enormes garras. O lábio carmim, entreaberto. Cabelos em cachos, floresta castanha escura, caindo sobre o peito nu.
É assombração para marinheiros embriagados pelo rum, em deleite frente à visão.
Alguém grita: cuidado, a maré está cheia. É alerta de que a dona da calunga grande abre seus veios a enterrar navios e pescadores...engolindo todos os que se deixam enredar por essa miragem e abandonam o convés. Hora de tomar o leme, recolher velas, voltar ao local de origem, e aguardar, pacientemente, o amanhecer.

DE GALHO EM GALHO

"A alma humana é uma chama,
um pássaro de fogo, que salta,
de galho em galho, gritando:
Não posso permanecer imóvel,
tenho que arder!"

Nikos Kazantzakis

terça-feira, agosto 27, 2002

PASSANDO SLIDES

Catar estrelas, beijo no céu da boca, poeira que o vento carrega ao passar pelos seres, transportando no ar as estórias de cada um de nós...
Uma área, um campo, um jardim na noite, um sobrado em ruínas. Quantas estalos provocaremos nos céus do outro? E quanto aos sonhos, essas imagens que aparecem feito slides na mente da gente, cujo desejo transborda e transforma-se em romance, alegria?!



segunda-feira, agosto 26, 2002

POR AMOR...

Fiquei matutando o que postar aqui, justamente porque o dia foi corrido. Acordei super cedo, fui a aula de francês, aprendi mais uma meia dúzia de coisas e ri um bocado também.
Olhei o blog quando cheguei e fiquei pensando como ando dramática. Tenho dias assim, realmente, mas não posso ficar todos o tempo lamentando e pranteando minhas desilusões.E, nesse processo, criei um outro blog pra vomitar todas as coisas que me viessem à cabeça.

Os meninos criaram uma lista para os sem sorte no amor ou doentes de amor. Entrei na lista, me puseram lá. Também inventaram um blog, onde eu tenho escrito minhas abóboras e não tenho pensado em nada muito inteligente. Deixo os dedos correrem o teclado e a mente vagar por sandices. Melhor assim. Estou me divertindo com isso.

E imaginar que cada um carrega seu próprio drama, suas dores, um clipping do passado. Vivem a vida de partidas e chegadas, sempre à procura de uma metade que as complete, que as faça feliz. Quanto dinheiro eu amealhei durante um tempo da minha vida e, quanto mais ganhava, mais gastava em futilidades. E o dinheiro nunca preencheu meus vazios, meus buracos, minha solidão...nem a fome interna.

Quando amor estendeu a mão mais uma vez, tudo ao redor ganhou outro sentido. E por amor seria capaz de abandonar tudo de novo. Por amor viveria na choupana. Por amor e poesia seria capaz das mais loucas travessuras, estrepolias, delírios. Pegaria um avião para vê-lo, um minuto que fosse, ouvir sua voz, ver seu sorriso...

E você já pensou no que seria capaz de fazer por amor?!

domingo, agosto 25, 2002

AS ÁGUAS

A comemoração do meu nascimento ainda está muito longe,
mas sinto que o inferno, que acredito ser astral, têm se refletido ao meu redor.
Momentos que intercalo de euforia para em seguida me perder em maremotos capazes de afundar minha ilha.
Acabo cercada por milhares de gotículas, as densas, as profundas, escuras, que de alguma forma acabam em reflexos azuis, transparentes, à beira mar...nas enseadas ainda não exploradas, virgens.
Compreender o sentido disso tudo me falta capacidade.
Muitas vezes não me sinto merecedora de nada e deixo que a tristeza mais intensa afogue meu ser, dê caldo na esperança e engula a alegria.
Fazer o quê?! Deixar mais uma onda quebrar...


sábado, agosto 24, 2002

CANÇÃO DO AMOR IMPOSSÍVEL

Como não te perderia/
se te amei perdidamente/
se em teus lábios sorvia/
néctar quando sorrias/
se quando estavas presente/
era eu que não me achava/
e quando tu não estavas/
eu também ficava ausente/
se eras minha fantasia/
elevada a poesia/
se nascente em meu poente/
como não te perderia.

Antonio Cicero

sexta-feira, agosto 23, 2002

DOS HOMENS SUBLIMES

Tranqüilo é o fundo do meu mar.
Quem adivinharia que oculta monstros divertidos!
A minha profundidade é inabalável, mas radiante de enigmas e
gargalhadas!
Hoje vi um homem sublime, solene, um purificador do espírito. Como a
minha alma se riu da sua fealdade!
Inflando o peito, como quem aspira, estava ali silencioso o homem
sublime, engalanando com feias verdades, sua polaina de caça, e rico com
vestidos rotos também nele havia muitos espinhos, mas não vi nenhuma rosa.
Ainda não conhece o riso nem a beleza.
Com semblante desabrido voltou esse caçador do conhecimento.
Lutou com animais selvagens; mas a sua rígida fisionomia ainda reflete
o animal selvagem: um animal não subjugado.
Ei-lo sempre como um tigre preparando o salto; mas a mim não me
agradam essas almas mesquinhas; não são do meu gosto todos esses retraídos.
E vós, amigos, dizeis-me que questões de gostos não se discutem. Toda
a vida, contudo, é luta pelos gostos.
O gosto é a um tempo o peso, a balança, e o pesador; e ai de toda a
coisa viva que quisesse viver sem luta pelos pesos, as balanças e os
pesadores.
Se este homem sublime se enfastiasse da sua sublimidade, só então
principiaria a sua beleza, e só então quereria eu gostar dele, só então lhe
acharia gosto.
E só quando se apartar de si saltará por cima da sua sombra e
penetrará no seu sol.
Demasiado tempo esteve sentado à sombra; o purificador do espírito viu
empalidecer as faces, e quase o matou de fome a espera.
Ainda, nos seus olhos há desdém, e repugnância oculta nos seus lábios.
É verdade que descansa agora, mas ainda não descansou ao sol.
Deveria fazer como o touro, e a sua felicidade deveria rescender a
terra, e não ao desprezo da terra.
Quereria vê-lo como um touro branco que sopra e muge diante do arado e
o seu mugido deveria cantar o louvor de tudo o que é terrestre.
O seu semblante ainda é sombrio; nele se projeta, a sombra da mão.
Ainda está na sombra o seu olhar.
A sua própria ação nele não é mais do que uma sombra; a mão escurece o
que atua. Ainda não está superior ao seu ato.
Agrada-me ver nele o pescoço de um touro, mas agora também me
agradaria ver-lhe o olhar de anjo.
É preciso igualmente que esqueça a sua vontade de herói: deve ser para
mim um homem elevado, e não só sublime: até o éter deveria elevar esse
homem sem vontade.
Venceu monstros, adivinhou enigmas; mas precisava também salvar os
seus monstros e os seus enigmas; precisava transformá-los em filhos
divinos.
O seu conhecimento ainda não aprendeu a sorrir e a não ter inveja: a
onda da sua paixão ainda se não acalmou na beleza.
Não é de certo na sociedade que se deve calar e submergir o seu
desejo, mas na beleza. A graça forma parte da generosidade dos que pensam
com elevação.
Com o braço sobre a cabeça: eis como deveria repousar o herói; assim
até deveria estar superior ao seu repouso.
Mas, precisamente para o herói, a beleza é a mais difícil de todas as
coisas. A beleza é inexequível para toda a vontade violenta.
Um tanto mais, um tanto menos, esse pouco aqui é muito.
Permanecer com os músculos inativos e a vontade desembaraçada é o que
há de mais difícil para vós, homens sublimes.
Quando o poder se torna clemente e desce ao visível, a essa clemência
chamo eu beleza.
De ninguém exijo tanto a beleza como de ti, que és poderoso; seja a
tua bondade a tua última vitória sobre ti mesmo.
Julgo-te capaz de todas as maldades: mas exijo de ti o bem.
Na verdade tenho-me rido amiúde dos fracos que se julgam bons por
terem as patas tolhidas!
Deveis imitar a virtude da coluna, que vai sendo mais bela e mais
fina, porém mais dura e resistente interiormente à medida que se alteia.
Sim, homem sublime: um dia serás belo e apresentarás ao espelho a tua
própria beleza.
Então estremecerá a tua alma com desejos divinos, e na tua vaidade
haverá adoração!
Porque eis aqui o segredo da tua alma: quando o herói a abandona, é
então que se aproxima em sonhos o super-herói.
Assim falava Zaratustra.

(por Nietzsche - Traducao de José Mendes de Souza)


quinta-feira, agosto 22, 2002

LUNE BLEU AU LION

Datas, calendário, tempo.
Hoje completa dois meses de término do amor.
Vinte e dois marca dois meses de retorno à ioga.
Nessa data tem início meu curso de francês.
Agora começa a lua azul, a segunda cheia em leão este ano...
Véspera de momentos tensos no céu astrológico,
assim me informa a amiga distante, em Sampa.
Ela também avisa da ‘passagem’ do astrólogo e médico Sérgio Mortari,
com lágrimas de saudade para os que ficam por aqui.
Libertação para ele que cumpriu sua missão e cuida agora de
mandalas lá do ‘outro lado’.
Viro uma noite, agrego mais vinte e quatro horas.

quarta-feira, agosto 21, 2002

ESPIRAL V



Sonâmbula e soturna me principio entre abismos...
Os gemidos silenciosos invadem a cova,
onde o luar ousa possuir-me.
E nessa fatal madrugada, translúcida e desolada,
sinto o tardio arrepio entre as seivas e o ardor desse instante:
Repartindo-me, desordenadamente.


terça-feira, agosto 20, 2002

ESPIRAL IV



Ela tem o dom de despertar em mim a delicadeza.
Ângulo que parece maculado, riscado, com inúmeras farpas, o que impede a sua fluidez, no original.
A carapaça é medonha e escura. E protege, me guarda das intempéries, produz uma fortaleza poderosa ao redor, impenetrável, indestrutível.
Aprendo até a arte da guerra, que usa algumas táticas, a mim muito mais teóricas do que práticas. Como todo militar, que se recolhe em seu posto de comando a dispor da balística para decidir sobre equipamentos bélicos e estratégias a serem utilizadas: finco, estanco, não sigo.
Pois naquela floresta, mergulho em riachos e transcendo ao estático cotidiano. Lá sou a parte viva, a reluzir em transparentes composições de agadoisó o que de mais cristalino há em minha essência. À mercê das águas, semi-nua, envolta pelo grande útero, retorno ao começo e o fim de tudo.
Gaia me abraça.

segunda-feira, agosto 19, 2002

ESPIRAL III



Breve, da borboleta, é a vida
Na palma dessa mão distraída...
A borboleta explora as cores,
Mimetiza o seu fim nas flores...
Leve, a vida é um breve espaço:
Amor é sua fonte, Amizade seu laço...

by Jean-Pierre Barakat, 17.08.2002



domingo, agosto 18, 2002

ESPIRAL II



Dia de cobra negra ser salva por mãos sem medo e receio.
Consegui, enquanto dois homens usavam um pauzinho na esperança de empurrar a víbora até o meio do mato.
Estupefatos disseram: nossa, moça, você é corajosa.
O vento lá fora é de forma estranha e mágica. É ar que procura redemoinhos e estórias à beira mar.
Habitantes notívagos de altas horas desse inverno, com jeito quente de verão.
A Lua sorri um pouco mais, agora quase radiante, cheia de si. Prepara-se para a cheia.
Acompanhou minha chegada, nessa madrugada sem estrelas cadentes e promessas de amores inventados no tamborilar de dedos em teclados.

quinta-feira, agosto 15, 2002

ESPIRAL I



Não consigo ver nostalgia, nem melancolia.
Minha alma aparentemente está curada.
Solução em doses homeopáticas da espiritualidade?
Não sei.
A energia pulsa, febril.
O vocalista sua, dança, pipoca.
Guitarristas duelam, brincam, fazem careta.
A vida.
Seremos fruto do pop? Seremos ramificações da arte?
Percepções, sons, letras, grave, agudo, tudo e nada.
Fico. Lembro. Estou.

quarta-feira, agosto 14, 2002

ESPIRAL



Sem adivinhos vamos percorrendo linhas que o cursor vai desenhando na folha branca, deixando impresso sentimentos e percepções daquilo que captamos um no outro. O futuro realmente não importa agora.

terça-feira, agosto 13, 2002



DOS CATADORES DE CONCHAS

Amanheci com um email onde respondia ao meu desabafo sobre o término do amor e o recomeço de vida: Muralha. Nesse encontro com essa indobrável senhora pedregosa, pude conhecer a homepage desse poeta. E lá ele se revela um catador de conchinhas. Eu já escrevi, há um tempo atrás numa lista de discussão, sobre os catadores de conchas. Ponho-me nesse contexto, tendo em vista que ainda menina fiz por longos anos esse trajeto todo fim de tarde, um pouco antes do crepúsculo, quando os pés tocavam a areia e as ondas beijavam o solado, as pernas, às vezes o short, até a camiseta dependendo de sua força...
Sou como ele, também catadora de conchas. Na mente surge o barco que atracava no cais, trazia um volume maior do fundo do mar, e as moia. Do outro lado, em terra firme, uma fábrica vendia esse pó, os restos daqueles cascalhos singulares, criações do oceano...
Ainda guardo algumas delas. Enfeitam um recipiente que está próximo ao altar azul que construí em meu domínio morfeutico: caramujos, uma ‘pata de vaca’, redondinhas, quebradas, inteiras, com furo... mosaico de mares diferentes.
E apesar do tempo estar virando páginas, me lançando em outra direção, pude estar em contato com a praia, me rendi à profusão de calcário, adicionei outros pedaços ao colar da Grande Mãe, de Iemanjá...

segunda-feira, agosto 12, 2002

AMIGA MANDA NOTÍCIAS...



Ela está na terra de São Salvador, mudou-se de Itaparica para o centro da cidade. Pra quem conhece aquele lugar sabe que é difícil ter pressa além daquela que nos toma diante da vida, do que espera e têm urgência. Pois, então, escreveu um livro, está no segundo, e de lá dá notícias para a gente. Sorte nossa em saber que o blog não será encerrado e espera, pacientemente, como nós, a volta dessa moça querida.


sábado, agosto 10, 2002

"Eu não sei quem foi que Deus designou para escrever este nosso roteiro mas, seja lá quem for, com o devido respeito, estamos reivindicando melhores escritores. Todos nós, corações urbanos, que visitamos o humano das cidades, engolimos uma lágrima vez ou outra, e acreditamos nas possibilidades do efêmero, exigimos um melhor texto para o que nos resta de existência".

Miguel Falabella




sexta-feira, agosto 09, 2002

PIRATAS, MTV E FLUMINENSE FM

Fomos ao Rock in Rio Café assistir aos Piratas do Asfalto e um outro grupo de rock Uomini. Bebi alguns gins tônicas e dancei. Foi divertida a epopéia de sair de Petro e me mandar até a Barra. Apesar de parecer distante acabou sendo mais rápido que alguns congestionamentos na hora do rush.
Ao final um grupo de promoções da MTV estava no palco demonstrando um novo gel à base de água para os cabelos, produzido pela L’oreal. Após aquele blá-blá-blá todo, a moça disse: quem gostaria de apresentar o Super Nova com o Edgar? E lá fui eu me candidatando à vaga, subi ao palco. A garota passou o gel, prendeu meu cabelo com uma presilha, e em seguida pediu que eu olhasse pra câmera e falasse o porquê do desejo de apresentar o programa. Ganhei kit com camiseta, bloco e lógico o gel, muito cheiroso por sinal.
Falou pra eu avisar aos amigos. Então, vocês já estão avisados.
O bacana da noite foi a homenagem à volta da Maldita, Fluminense FM!
E pra terminar, depois de falar sobre Bukowski, rabiscação no guardanapo:

Será que volto ao que já foi?
Tempo? Que tempo?
Misto de metal, rock, ska, blues.
A noite e gin.
Tônica e fumaça.
Rock in Rio Café

quarta-feira, agosto 07, 2002

DOS AMIGOS, DOS AFINS...

Sempre encontrei quem trocasse cartas, bilhetes, demonstrasse com palavras o que se passa no íntimo. Aquilo oculto em olhos brilhantes e no toque de língua e maxilar a expressar linguagem.
Há um baú de recortes, clipping de amigos, sentimentos platônicos, reais. Guardado, velando o passado. Fantasmas alegres e poéticos. Linha divisória das manifestações de apreço correndo pelo percurso terreno.
E nesse processo de reeditar a fita, constato que trago para perto os que comungam arte e vivem dela. Marginalmente, profissionalmente. No mapa astral isso é mais que revelado. A herança familiar mira esse mesmo aspecto. Impossível não estar vinculada a esse estado de espírito. O magnetismo agregando semelhantes.
Nada é por acaso. Nem o que sinto. Nem os afins.
E falando neles, hoje ela ligou. Por um convite que fiz e ela não pôde ir. Momento raro. Instante eterno de troca. Para mim sempre será especial, desde o primeiro dia que nossos olhos se cruzaram. Falamos das saudades, acho que faz uns quatro anos que não a vejo, talvez menos...perdi a conta... Fiquei de ligar quando estiver novamente no Rio.
Então, tomaremos o famoso café, que já virou até lenda pelo tempo que sempre marcamos e nunca colabora para o encontro. Farei acontecer.





terça-feira, agosto 06, 2002

Vasculho palavras para dizer o que sinto.
O espírito desarvorado é o que me toma,
incoerência em dizeres que somam desejos.
É contexto volátil e por isso arrebatador.
Impermanência.
Calíope e as outras oito musas da poesia épica.
Hemadríade, nereida, dançarinas na mata subversiva de Pan.
Perséfone a viver no mais profundo mundo escuro.
Escrava de Dioniso, em três dias da mais completa luxúria.
Trago-o para mim ao brindar com tinto, religando-nos ao divino.
Redigimos, inventamos: mimetizando estórias.
Se fosse fácil não teria sentido continuar...

segunda-feira, agosto 05, 2002

.P.O.N.T.U.A.Ç.Ã.O.

Da mesma forma que veio, foi.
Reticências.
Não pôde captar nada além do que deu.
Das faces que compunham aquele corpo,
mais nada ali era humano.
Dois Pontos.
Misto de personagens, extraído de quadrinhos.
Cenários ficcionais. Mocinho cegado pela batalha.
Cryptonita a matar aproximação.
Parágrafo.
Passadas silenciosas na noite, fera à espreita, sem negociação.
Escuridão refletida em olhos negros, alma selvagem sem web cam.
Certezas amparadas na razão. Sentimentos restritos ao quarteirão.
Idade, signos, símbolos, letras: nada conjumina.
Exclamação.
Ele conceituava. Ela escrevia cartas. Nenhuma delas foi enviada.
Ninguém sabe o que foi feito deles.
Ela levou a saia de retalhos. Ele a pena.
Ponto final.

domingo, agosto 04, 2002

Quando as palavras aplacam a fome, apagam a dor, trazem reflexo, injetam sonhos:

"[...}A dele, fome de dentes,
A dela, fome de sentir saudades...
A dele, fome de beijos ardentes,
A dela fome de infantilidades...
A dele, a fome do corpo quente,
A dela, a fome de companhia...
A dele, a fome aguardente...
A dela, fome poesia..."

Luis Tavares



sábado, agosto 03, 2002

Muitas vezes a energia pontua uma troca.
Sim, o que não é visível, o que está além.
Pode ser cisma, um delírio, nuvem de fumaça,
mas no front têm efeito contrário.
É onde a imaginação ganha proporções estranhas,
fugindo da normalidade e gerando um enredo...
Cartas e bilhetes. Chegadas e partidas. Sinais e silêncio.
A antítese conduz dias, esses momentos.
E permito de forma consciente trazer para o material
aquilo que idealizo.
A estória é minha. A compulsão também.

sexta-feira, agosto 02, 2002

A lua sorri pela metade.
O halo é dourado.
Contraste com o negrume celeste.
Primeira madrugada de agosto.