terça-feira, dezembro 09, 2014

Na madrugada de ontem:
um gato de olhos
esmeralda
espreguiçava sob
o guache vermelho. 
Em cima, o céu
bordado de strass.
Selene, encoberta
por uma tênue névoa,
era abraçada pelo
vento fresco que soprava.



sábado, outubro 18, 2014

A rosa do tempo
deixou-se perpetuar
entre a palma e os dedos
tocando a pele...
A rosa negra
que faz parte de decor escuro,
direciona o olhar obtuso.
Entre a meia arrastão
entremeia lascidão,
vontade extrema de cortar,
desfiar, rasurar, desmanchar
a trama perfeita...
Negro e cálido pb,
plenitude e poder.
Foto: google imagens
Texto: Analu Menezes

sábado, setembro 27, 2014

O
bem
te
vi.
Vi
o
bem
em
ti.
A dança do acasalamento
do bem-te-vi.


segunda-feira, setembro 22, 2014

Ela surpreendeu-se ao mirar o espelho.
Faltava um complemento:
a meia sete oitavos.
Colocou-a, a renda oculta embaixo do vestido.
Somente seria revelada para ele,
na hora em que o casaco fosse aberto.
No momento em que todos os desejos fossem confessados.
Na sua mente inquieta, a noite era só o começo
da madrugada  que se estenderia  aos seus pés,
dentro dos saltos negros e reluzentes de verniz.

Texto: Analu Menezes
Foto: Artur Politov



A Lua está em leão.
O brilho, o calor, a alegria,
a energia, tempo audaz.

Ardente, 
coração valente,
alma caliente,
sujeita a tempestades,
a pura ventania,
a reviravoltas,
a mansidão da calmaria.

Tempo de bravura,
quentura,
alvura.

O ouro,
o amarelo,
o que reluz,
e nem sempre é ouro.
Mas, brilha,
porque fomos feitos pra brilhar.


Texto e Foto: Analu Menezes 


quarta-feira, setembro 10, 2014

Menino-Deus do corpo diáfano....
leva-me além da esquina do passado, 
traga-me o encantamento pueril dos dias descalços, 
quando a vida mansa brincava de esconde-esconde 
e o máximo que se tinha era a hora de voltar para casa. 
Imundo, 
pés, às vezes, descalços,
sujos,
mas de alma lavada,
limpa,
inteira,
completa
e feliz.


Texto e Foto: Analu Menezes 


domingo, agosto 24, 2014

Algumas vezes é preciso
só um rastro cadente
a desenhar o V deitado
e uma estrela amarela
a nos apontar o caminho.

Foto e texto: Analu Menezes 



sexta-feira, agosto 22, 2014

Eu e você.
Você e eu.
Perna pra cá.
rosto pra lá.
Cheiro daqui.
Você cheira de lá.
Vida minha,
minha vida,
cadente,
nova,
velha,
andaluz na escuridão.
Na amplidão cósmica
é ballet,
é têti à têti,
é dança de almas,
corpos,
afins,
celestes,
estrelas.

texto: Analu Menezes
(foto telescópio hubble)



domingo, agosto 10, 2014

Ele dança,
olha de banda,
tamborila no pandeiro,
é um menino no centro da roda.
É mágico,
ágil,
mescla cores e carmim,
ai de mim,
cigano.

Texto: Analu Menezes
Foto: Iram Rubem Brandão 



segunda-feira, agosto 04, 2014

No seu corpo molhado -

Banhado em suor,
impregnado do cheiro de amor,
do que bagunçou a cama,
marcou a parede,
incendiou a pia,
foi apoio na beira do sofá,
sentiu o peso dos corpos no tapete -

A água lava e perfuma de sabão.

Esse frenesi sem palavras,
desde a hora que nos encontramos
e nossos olhos se cruzaram.
Desde o instante em que tocou
de leve minha pele e roçou sua boca em meus cabelos...
Naquele segundo sabíamos o que aconteceria.

Algumas horas depois, sem verbo,
somente a respiração ditava o compasso do coração,
aceleradamente,
uma falta de ar súbita,
boca seca, a sua e a minha,
boca que quer boca.
Os feromônios animados,
os que se encontram e se reconhecem
numa dupla que não diz, só sente e inala o odor,  
cheiro ancestral,
animal, que nos envolve,
seduz e dilacera as entranhas.

Assim, no atrito,
o contato é cio,
é vida, cheiro.
Os líquidos, 
as secreções,
as sensações,
os estalos e ais, 
milhares de suspiros e ais.
Os meus, os teus,
os nossos sons unidos,
nossos seres penetrados,
fundidos, fodidos,
fincados, grudados,
um no outro.

Um só corpo,
em gozo, delícia
e prazer.

Texto: Analu Menezes
Foto: google imagens





sexta-feira, agosto 01, 2014

Vestiu uma roupa habitual,
o short e a camiseta básica,
penteou os cabelos, calçou os chinelos. 
Pegou a chave, o celular que estava em cima da mesa e já ia abrindo a porta quando lembrou:
o fiel escudeiro, um livro que estava sobre a cama. 
Apanhou-o e desceu o elevador.
O tempo não estava bom, levemente
nublado, o mar de ressaca e as palmeiras
ao vento.
Caminhou um pouco pelo calçadão,
deixou que a maresia penetrasse as narinas
e ao mesmo tempo tocasse seus cabelos
e corpo.
Pensou na vida. No que mais ansiava agora.
Releu o passado próximo, não quis lembrar o
motivo de ausência.
Caminhou mais um pouco. O vento aquietou-se.
Sentou num banco, de costas para a mureta e o mar, pegou o livro e abriu na página marcada.
Naquele instante, a vida ganhava outra dinâmica, outros personagens, uma paisagem diferente, transportando-a a outro lugar...bem longe dali.
Absorta, não viu o moço de máquina na mão.
O que imortalizou o instante.

Texto: Analu Menezes 

Foto: Marcos Mojica

 

segunda-feira, julho 21, 2014

Coagula nas folhas,
espargindo sangue
e calor pela terra.
O vermelho pincela
a areia, colore a copa das árvores,
tinge a vida,
o ser...
É o que escorre todo mês,
fertilizando o ventre,
permitindo um novo ciclo,
abrindo as portas a um novo ser,
a possibilidade de criar,
de dar a vida,
de parir.
E ser amor enche  o coração feminino,
da deusa que habita em mim em
força, energia e calor,
dando lugar a todas que aqui vivem:
a anciã, a virgem e a mulher.

Foto e texto: Analu Menezes 

segunda-feira, julho 14, 2014

Ao caminhar pela rua, um encontro.
Um homem e um felino. 
Ele vê harmonia e registra as imagens belas e cinzas das estátuas,
dos pássaros que pousam e sobrevoam, dos terços pendurados nas lápides, 
coloridas pelas flores deixadas por alguém com saudade de quem partiu.
A atmosfera é de paz no cemitério. Ele sente assim.
Talvez, porque seu lado mais sereno encontre
familiaridade na languidez do gato.
E, nessa troca, o gato continuou sua marcha,
era jogo do Brasil, e o fotógrafo registrou o momento.

Foto: Marcos Antonio Valério
Texto: Analu Menezes



quinta-feira, julho 03, 2014

O pulo do gato. 
Gato de sete vidas.
O das vidas vestidas e revestidas de possibilidades.
Reconstruindo, reinventando-se.
Percebendo a possibilidade de ir além,
de se reprogramar, criar, ludicamente amar.
Loucamente amar a vida, a criação, a Deus, a Deusa, a si e a todos.
Meu beijo, meu boa noite, cigano dos arrebóis,
que a carroça atinja novos horizontes
e o teatro agrade a todos que chegarem até a ti.
Uma rosa, uma flor, um símbolo de amor.
Que o trajeto seja doce e belo. 


Texto: Analu Menezes 

Foto: google imagens 

terça-feira, julho 01, 2014

A cigana dos arrebóis estaciona a carroça de estrelas, 
repleta de luz e calor do dia.
Abre as janelas e deixa que o vento penetre 
e com ele o som de violinos.
A lua nova a convida a ler o futuro. 
Abre o lenço de moedas, pega o baralho. 
Na fogueira crepitam salamandras,
as que dançam e refletem desejos,
os seus, os meus, os nossos.
A sorte se abre à medida que a noite avança
e é chegado um novo tempo.
Metade do ano se foi.
E julho chega lançando sortilégios
e desejos de prosperidade, amor e paz.

Foto e texto: Analu Menezes



sábado, maio 24, 2014

A mulher abissal

Tece o mundo,
pare vida, 
jorra água, azul e sal,
fecunda mulher. 

A mulher fora do ideal,
a abissal,
a que abriga oceanos,
mares turbulentos,
noites escuras,
luminosas criaturas.

A mulher ondina, sereia, rainha,
encontra referencial nos seres que habitam sua alma,
nos peixes em cardumes,
na dança e movimento na água
quando juntos bailam e se protegem dos predadores.
A mulher de ventre líquido,
abre as entranhas ao dar vida à criação psíquica, fluida e intangível.
E aí tudo é possível...



terça-feira, abril 29, 2014

hiperbreves

Vou sempre me surpreender com as pessoas.
Sempre.
Uma caixa de novidades.

Uma metralhadora giratória quando não concordam com a sua opinião.
Milhares de pré-julgamentos bobos...
Todos tão despidos de preconceitos...pra apontar o seu como se você fosse um et...
Até parece.

A futilidade reinante:
ser famoso no Facebook é como ser rico no Banco Imobiliário,
uma das melhores frases que li na semana passada.

Enfim...
e a vida se encarrega de mostrar quem é quem.
O pior é quando pessoas da família que nos viram crescer,
pelo fato de sermos da mesma família
acreditam ser íntimos, amigos.
Na verdade nunca fomos e nunca seremos.
Você não me conhece e eu também não te conheço.

O mal da humanidade é a falta de noção.
A falta de educação.
A falta de sensibilidade.
A falta de tato.
E a vida segue...
hiperbreve.


sábado, março 15, 2014

"Atores ciganos para caminhos ciganos e tão cheios de luas e sóis, 
tantos arrebóis e nascentes! 
Repito: Que o amor furiosamente calmo encha de êxitos nossas almas e 
que a nossa carroça colorida ganhe todas as estradas que tiver que ir!" 
Marcelo Tosta


sábado, março 08, 2014

É dado como hoje, dia 08 de Março, o centenário de criação dos heterônimos Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos por Fernando Pessoa. É conhecido como O Dia Triunfal.
Sendo assim, nada mais justo que um poema dele venha ilustrar essa página. O poeta que a mim encanta por sua multiplicidade, por sua visão larga e alastrada sobre a vida, a existência e os sentimentos.
Pessoa mais que um amante da língua portuguesa e um poeta, sem dúvida nenhuma, um gênio.

quinta-feira, março 06, 2014

Amei com todas as letras da palavra,
a dita, a escrita, a não verbalizada, a que soa só na mente...
Amei de uma maneira tão pueril que se estendia à risadas comuns
a nós dois.
Amei tão de verdade, que o mundo parou, no instante em que
rodava suspensa em seus braços, numa loja de eletrodomésticos,
na madrugada...
Amei na primeira vez que seus olhos de mar miraram os meus...
Amei o primeiro lual com vinho e Deusa.
Amei todos os detalhes que a lembrança guardou
e que hoje se perpetuam na memória dessa vida...


terça-feira, fevereiro 18, 2014

Cozinha é oral.
Cozinha sem avental.
Cozinha tem sempre algo surreal.
Cozinha sensual.
Cozinha é atemporal.
Cozinha é o canal.
Cozinha cria temporal.
Cozinha e o aval.
Cozinha anal.
Cozinha e a vestal.
Cozinha com sal.
Cozinha...

Foto: Letizia Iman

segunda-feira, fevereiro 03, 2014


Zéfiro

Na coxia do teatro, envolve as formas curvilíneas num xale negro. Tira os acessórios que cobrem as extremidades: meias sete oitavos com renda marcando a coxa, luvas escuras na altura do cotovelo. Só a combinação de cetim, cor da pele, acompanha seus relevos. Mira-se no espelho, o olhar amendoado pelo delineador e os enormes cílios acentuados pelo rímel. O xale escorrega e entrega a pele tatuada, nívea. Prende os cachos castanhos num coque desalinhado. Vê-se como as outras. Não há nada de diferente naquele semblante. Lembra do que ele disse ontem num bar enfumaçado do centro da cidade, e continua não encontrando nada de especial no que vê refletido.

Inadvertidamente, o zéfiro sopra com força e move objetos do camarim, provocando o voo de plumas coloridas pelo ar... chapéus orbitam pelo ambiente, máscaras multicoloridas planando, um jarro de flores desaba. Não se importa, ignora os cacos espalhados pelo chão... Joga a cabeça para trás, gosta daquela sensação, deixa-se tomar por ele que percorre a derme sem pedir licença, invasor. Levanta-se da cadeira, escancara as janelas e permite que entre com mais força...abre os braços e o recebe em estreito contato: fecha os olhos.Inconsciente, revela o portal, a tênue linha que a faz redescobrir a mágica e permite que o feitiço se estabeleça nesse contato ancestral. Ela é como a noite lá fora, senhora de todas as estrelas; lânguida como a lua, deusa perpetuada pela forma redonda que cobre as cidades com seu arsenal de véus prateados.
Sabe que não pode ser retido nas mãos. É livre, solto, faz parte das correntes secas e movimento de massas oceânicas. A cada súbita visita possui um cheiro diferente...em cada lugar um outro vento se levanta...revolve energias, derruba castelos, destrói fortalezas, desarma certezas, amálgama outra mulher.

Foto: MrTom Fotodesign



domingo, janeiro 12, 2014

A felicidade é como vento...
beija a pele, sofregamente,
como poesia.
Produz sal na boca
quando próximo à maresia.
É perfume quando inala
chuva e terra molhada...
É música: melodia suave,
mansa ventania
e poderosa tempestade...
Mas uma coisa é certa:
sempre arrepia!