terça-feira, dezembro 31, 2002

CONTAGEM REGRESSIVA

E daqui sigo adiante para lá. Revendo e revivendo os amigos, levando comigo a amabilidade e o carinho característico que os cerca.
São os que ao primeiro instante, naquele átimo, quando olhos cruzam outros olhos, algo interno é acionado, como se acendesse uma chama, uma lamparina antiga, talvez, indiana, quem sabe...
Carrego na mochila a tela capturada pela retina, em holofotes de sorrisos, latido de cães e café aromatizado. Um sorvete na chegada, chocolate no jantar, bala de nozes e passeio ao mercado. Tudo criado por ela, que tece letras e tudo o mais através de suas expressões manuais.
Ultrapassarei o portal num porto próximo, distante dos barcos e balsas de fogos de artifício.
Abro a porta e deixo 2003 entrar: tempo de recomeçar.

sábado, dezembro 28, 2002



A última semana do ano promove outros contornos. Sinuosa silhueta recortada por uma mureta ao mar, lá embaixo onde as ondas batem nos rochedos e espumam sua música.
Em perspectiva o farol subdivide o quadro, num pedaço de calmaria, distante da fúria das águas cobrindo a areia. Observa, majestoso, o ir e vir das rotas, dos que nascem num virgem porto e daqueles que dão adeus.
O céu parece compactuar com os raios violeta, amarelo, cinza, rubro e azul, pincelando a atmosfera do momento: é chegado um novo período.
Que 2003 venha com a naturalidade e beleza que cerca cada crepúsculo, interligando o celeste ao mundano, permitindo que a aurora e a noite se toquem mais uma vez...arautos desse novo amanhecer.

quinta-feira, dezembro 26, 2002

NATAL

Nosso amigo Iosif Landau continua dando o recado direitinho, como fez ao participar do especial de Natal do balacobaco:

Natal, Natal, Natal
calçada chora
mar caçoa
anjo fio dental rebola
seios sinos trinam
bunda titila
Natal, Natal, Natal
rei mago tropical
pensa na virgem
que o fez pai
onde diabos
escondeu - se a estrela polar?
Natal, Natal, Natal
querubins roliços
chupam picolés Kibon
Papai Noel penúltimo baseado do ano
nos lábios
fecha os olhos
sonha com a neve de Kilimanjaro
Natal já era!

terça-feira, dezembro 24, 2002

DO DIA DE HOJE

Há datas que perfazem trajeto contrário ao da alegria.
Para todos é dia de sorrir, de trocar afetividade, mas em mim há um enorme vazio,
um sem sentido para euforia, convenção. Lembro dos que não tem nem onde viver,
como o incêndio que destruiu tantas moradias na Terra da Garoa, ou a falta de turistas em Belém, além da impossibilidade de cada um exercer sua fé com liberdade como acabou acontecendo também por lá com a proibição de Arafat retornar à sua terra natal.
Natal, nascimento.
Será que estamos mais envolvidos em comer, desfrutar o banquete,
trocar presentes, fazer uma belíssima decoração, árvore com bolas, e esquecemos o real motivo disso tudo? Será que alguém lembra de agradecer pelas bênçãos? Pelos obstáculos vencidos? Sei não...nunca gostei muito desta data. Sinto saudades dos que já partiram, do meu irmão que vive no Paraná e agora reatou o contato por causa de uma menina de cinco anos maravilhosa, arteira e inteligente. Mandaram fotos, várias, ele continua lindo, aquele sorrisão branco, ela a cara dele, apertadinha num abraço gostoso.
Ganhei um chaveiro com lua e estrela, prateado, muito bonito. Fiz uma cópia colorida da fotografia dos dois sorridentes e coloquei num lugar propício para isso sob a batuta da meia lua. Ganhei um painel para pôr fotografias, com milhões de luas e imãs coloridos. Um CD que agora escuto, Solaris, com música para viajar...
Várias blusas novas me deram. E ainda de quebra um creminho básico que eu havia pedido.
Comprei um filme de 36 para registrar a folia aqui.
Tive a grata surpresa de reencontrar um velho e especial amigo. Fazia oito anos que não nos víamos, ele agora vive em Porto Rico. Continua pintando, lecionando arte numa universidade. Tenho pendurado um quadro no corredor de casa, uma arma medieval, conhecida como ‘massa’. Falamos rapidamente de Camille Claudel e Rodin. Contei da França e ele pôs pilha. Quando adolescentes vivíamos grudados, amigos inseparáveis e ele me ensinou um pouco de técnica utilizada nos quadros e painéis experimentados. E com ele o Parque Lage era minha segunda casa, além dos sarais de poesia. Vários vernissages e num deles conheci um outro pintor, o Átila. Um amigo fotógrafo, melhor fotógrafo que pintor. Já ganhou muitos prêmios, seu talento é reconhecido.
E esse reencontro só aconteceu porque a Renata, prima dele, resolveu seqüestra-lo até aqui sem que a mulher dele soubesse, ou morreria de ciúmes. Num comboio, ela resolveu fazer uma manobra radical e desviar a rota. Fugiu para cá. E o restante do povo foi parar no Palácio de Cristal. Foi tudo muito rápido e muito bom. E ouvi ele dizer: Aninha, você não mudou nada! E eu lógico que adorei.
Então falei com a moça dos olhos d’água, disquei pra ela. Marquei de nos vermos antes do Ano Novo. Liguei pra pisciana mais querida e amiga que conheço. Também telefonei pra outra amiga em Araras, interior de Sampa. E assim foi o dia.
Não por ser Natal. Mas, por ser um momento de alegria, de poder rever gente que eu amo e sinto e sentia saudades.
A palavra que só existe nessa língua. Na tua e na minha, na nossa língua.
É tempo de saudade.


segunda-feira, dezembro 23, 2002

UM PEQUENO PARALELO

Todos sabem que Vênus, por sua proximidade ao Sol, "aparece" quando este se
encontra ao horizonte, durante os crepúsculos, seja esse matutino ou
vespertino. Dai este planeta ser conhecido como a "Estrela da Manhã", e
também com a "Estrela Vespertina".

Lúcifer, palavra latina cuja correspondente em grego é "phosphoros",
significa "O Portador do Archote" ou "O Portador da Luz", sendo ele mesmo,
como indica o seu nome, aquele que traz a luz onde ela se faz necessária.

Durante o amanhecer, a "estrela" Vênus aparece ao horizonte antes do
"nascimento" do Sol. Na observação dos antigos, é como se ela fizesse o
papel de arauto do Sol, "puxando" o astro rei de seu sono nas regiões
abissais. Ela, nas manhãs, anunciava a chegada do Sol, como se o carregasse.
No entardecer, a Estrela "empurrava" o Sol de volta para as regiões
obscuras. Dai se dizer que Ela, Vênus ou Lúcifer, Estrela da Manhã "porta",
ou carrega o archote, o Sol.

Em Apocalipse 22:16 está dito: "Eu, Jesus, ... Eu sou a raiz e o descendente
de Davi, sou a estrela radiosa da manhã."

Ora! e não é que Jesus é a Estrela Radiosa da Manhã, que também é Vênus e
que também é Lúcifer ?? Então Jesus é Lúcifer!! Assim, quando saudamos um, o
outro é também saudado!

Amém e Abraços.

Carlos Raposo

domingo, dezembro 22, 2002

P&B



Quando se aproxima ou reata o laço parece que todos os aparelhos eletrônicos entram em pane. E me pergunto por que diabos essa carga elétrica é tamanha, capaz de detonar minhas conexões.
Nunca compreendo o que está além das ondas vibracionais e energéticas que modulam cada freqüência que efetuamos, em uma fina sintonia digital promovida pelo ‘acaso’.
Quisera parar ao seu lado e grudar meus olhos nos seus e saber das partículas que compõe seus íons e cátions em p&b, ter acesso ao silêncio estrondoso de sua escrita que pede afago.
Recortar imagens que cercam minha alma e colá-las aos seus devaneios. Assim como aos desejos escusos, aqueles que descreve em seus mosaicos e confundem-se com o lado torpe que existe em cada um. Como o bichano em guarda que sorri e põe breu em sua parede letrada.
O leitor desavisado pode apavorar-se diante de sua narrativa, enquanto eu vejo nas entrelinhas o tanto de sol que sangra de tuas orações, às vezes subordinadas, coordenadas à luz e sombra.


sexta-feira, dezembro 20, 2002

SOLSTÍCIO DE VERÃO



A luz do Solstício de Verão é tal mar que mergulho aqui do outro lado
da baía. Dos barcos que atracam e partem, vejo o porto, pedaço de céu, carne vermelha e açucarada que ficou no horizonte bravio de minha alma.
O sol arde tanto, que o cotidiano acaba sendo caloroso, e por isso sei que aí do outro lado é só alumbramento. Que seja platônico, verídico, energético, imerso num banho, numa cachoeira de espuma, num suspiro inebriado de gozo, tanto faz.
Sei que dessa inundação corporal não haverá barragem que consiga impedir
seu fluxo...a vazão é desmedida, tal qual beijo que morde e estraçalha.
O tempo toma-o por inteiro, estendendo o dia ao mais longo do ano.
Continuo sabendo que aí chego como onda, num toque rápido, dúbio - quimérico e real - alimentando você. Nutrindo a noite de vento e provocando os mais explosivos auspícios.

quinta-feira, dezembro 19, 2002

Saturno ficará mais próximo da Terra esta semana

Saturno fará sua maior aproximação da Terra dos últimos 30 anos esta semana, o que é uma garantia de belas imagens do planeta, a olho nu ou com telescópios.O anúncio foi feito pela astrônoma da Nasa, Mitzi Adams.
O planeta dos anéis está agora mais brilhante do que todas as outras estrelas, com exceção de Sirius e Canopus.
E ele está inclinado na direção da Terra, dando aos observadores que usam telescópios comuns uma impressionante visão de seus anéis. Quem não puder assistir à aproximação esta semana ainda terá chances, já que o espetáculo celestial continuará no início de 2003.
A maior aproximação de Saturno em relação à Terra - 1,2 bilhão de quilômetros - aconteceu nesta terça-feira.
A distância máxima entre os dois planetas é de cerca de 1,7 bilhão de quilômetros.


quarta-feira, dezembro 18, 2002

PLENILÚNIO DE SAGITÁRIO



Hoje, a partir das 19 horas e vinte e cinco minutos, celebramos a Lua Cheia em Sagitário. Momento de interação com a orbe universal, meditação e expansão de consciência. Hora de centrar-se nos objetivos desejados, fazer uma prece, invocação, conectar-se a energia primordial enviada pela Grande Senhora da noite. Assim, que cada um que aqui chegue fixe o céu, mire esse fluxo prateado e religue-se aos seus desejos interiores.
Como o centauro, símbolo do signo, lance suas flechas para o futuro.

terça-feira, dezembro 17, 2002

INTERLÚNIO

Há céus que se cobrem de negro e absolutamente nada corta essa ausência de luz.
Dizem que essa chapa celeste jamais acontece no deserto, aonde as constelações são mais cintilantes que qualquer outra parte do planeta. Em parceria, as areias são escaldantes durante o dia e gélidas quando a noite acorda, assim como se levanta o vento abrasador da manhã e o ar torna-se congelante de madrugada. E é nessa hora, quando a visão não alcança além de dois palmos adiante dos pés, que criaturas horripilantes saem da toca para caçar, saciar-se.

E ao contrário do deserto, no interlúnio a negritude parece cobrir toda a terra, quando estamos em perspectivas aquém das tempestades, principalmente as de areia. E nos atrelamos às construções duras e frias de pedra. A civilidade parece arrogante e distante do que é natural, energeticamente virgem. O mundo de concreto é tal qual móbile infantil, clone do projeto arquitetônico ao lado.

Polarizando o movimento, não há fixidez nas caravanas que disputam um pedaço oasiano. E miragens confundem os viajantes sedentos e exaustos por dias consecutivos na corcunda de camelos. Tendas são armadas, construindo um pouco de sombra diante do astro-rei que não dá trégua. Tapetes espalhados sob os grãos ferventes, minimizando o que parece queimar qualquer um que ouse tocar esse mar calcário.

A Lua no minguante surge na grande tela, nas mil e uma noites de Sherazade. Aquela que enganou a morte com palavras, persuadindo e seduzindo seu maior inimigo. Plantou nele a semente insaciável da curiosidade.Ela segue adiante, sob o véu, deixando à mostra os olhos, pequenos, amendoados, rasgados como a cadente que só se vê em luares espetaculares, um pequeno traço a riscar as esquinas do espaço sideral. Delineador branco manchando a escuridão.

segunda-feira, dezembro 16, 2002

UM NACO DO RIO



Há paisagens que de forma irracional tiram-me do sério.
Suscitam emoções que andam sob rédeas curtas e domadas.
Onde não tem havido lugar para exageros e passionalidades.
Vi o que é famigerado, faz parte da porção carioca.
Do nascimento na enseada, naquela ali em Botafogo.
E algo arrepia e inebria diante daquilo lá.
Um Rio horizonte, como pano de fundo para a Ilha.
Governador, Praça do Avião, Hospital da Aeronáutica.
Há uma praia conhecida como Bica, onde, como conta meu irmão,
Namorados vivem em corridas de submarino.
Não, não é amarelo como o dos Beatles. É azul, numa tela noir,
Difusa, pelos tons que se fundiam pelo céu coberto de nuvens.
Um ar de maresia que enche as narinas e nos transporta à Ponte.
A que une a Terra de Araribóia ao Pão tão Doce que é só Açúcar.
O Cristo estava de lado, dessa vez ele abria os braços mas não
Em minha direção.

sexta-feira, dezembro 13, 2002

SEXTA, 13

Muita gente diz que sexta-feira e treze é dia de má sorte.
Gato preto, escada aberta na calçada, a palavra azar.
Falam de bruxas soltas e astrais comprometidos pela escuridão.
Parecem invocar todas as proteções contra as agruras desse dia.
Sinto o contrário. Uma atração irresistível.
Saí de negro, sem pensar muito na data.
Inconscientemente, talvez não quisesse que minha energia se esvaísse ou houvesse uma troca com as pessoas que encontrei em meu trajeto.
Gosto desse quinto dia, de véspera de fim de semana, da energia festeira
e sem vergonha que toma as pessoas após o cerrar de portas.
Por uma estranha atração vejo a noite de forma sedutora, não pela Grande Senhora ou pelas luzes que enfeitam o firmamento. Não, não é a fase da Lua e muito menos as estrelas. Mesmo que a cheia provoque alvoroço, não só na natureza, nas águas do planeta, mas também em nossos líquidos interiores.
O luar parece só um enorme facho a guiar os bêbados e os apaixonados na noite.
Dos seres macabros, as mais belas figuras, muitas tomadas por algo externo que não vêem.
As muitas faces, as formas, os espíritos. Rostos transmutados em máscaras construídas com a ajuda de lápis, rímel e gloss.
A noite. Sempre ela. Nenhuma é igual a outra. Encoberta, como um grande manto negro com capuz
Cada uma traz seu mistério, aura a estreitar o contato, o arrepio, do aroma de perfumes e da própria localidade criando atmosfera bruxuleante e completamente encantadora.
É, Sexta, 13.



quinta-feira, dezembro 12, 2002



Nossa amiga Ana Maria Gonçalves, do Udigrudi e Entrelivros, escreveu comunicando o nascimento do romance “Ao lado e à margem do que sentes por mim”.
Produção independente, o livro reúne várias estórias de amor que se conectam. Como ela mesma avalia: “a minha por ele, a de um homem por uma história impossível, a de uma mulher por um equívoco, e a de outra mulher pelo próprio sentimento. É na pele desta última que me coloco e vou misturando verdades e invenções”.
Os pedidos podem ser feitos através do email: anamariagoncalves@ieg.com.br


quarta-feira, dezembro 11, 2002

BELEZA PARA QUEM TE QUER

Beleza. America, brasileira, chinesa ou paquistanesa. Mas beleza, porque
necessária.

Beleza. Natural, como as Niagara Falls, os Apeninos ou o canion de
Itaimbézinho. Ou feita, como o Taj Mahal, a ópera de Sidney, a catedral
de Rouane.

Torna-se o belo menos belo apenas porque foi feito, foi arranjado, foi
consertado?? Meus, teus olhos querem beleza. Há beleza até em certas
desgraças, até no feio feito, como J30 já provou na Sapucaí.

Não invalido nada bonito, mesmo que forçosamente bonito. Quero mulheres
com seios fartos, naturais ou não. Em geral não morremos mais de malária,
que matava 100 anos atrás. Não precisamos mais de peitos caídos.

Leite da teta da vaca é bom. Mas o da caixinha da Parmalat também. Com
seus conservantes, anti-acidulantes e Ômega 3.

A costelinha de porco da minha avó no fogão a lenha, feita com banha é
boa. Mas a lazanha congelada da Sadia, 15 minutos de micro-ondas, também
é. Suco de mangaba tirada do pé pode ser tão bom como Iced-Tea em lata.

Paulo Sérgio Rodrigues


terça-feira, dezembro 10, 2002

UMA ANTIGA CARTA



Vim até aqui jogar meu lencinho branco nas águas cristalinas e esverdeadas que banham essa margem ribeirinha.
Hoje estou parada em uma ponte de madeira clara, desenhada, em rococó.
Eu posso ser a moça de vestido longo, chapelão com flores na cabeça,
o olhar fixo e extasiado pelo barulho delicado das águas que passam embaixo dessa travessia.
Em toda volta há flores das mais diferentes nuances, mescladas aos tons pasteis de verde,
num conglomerado rubro-róseo-alaranjado com pinceladas de amarelo.

Estou dando meu adeus aos fatos que marcaram o passado...
me preparo consciente e inconscientemente para as novas saliências que a vida vai provocar à frente...
mas não esquecendo de trazer na bagagem um cheiro de mar, sopro de infância e um punhado de doce ilusão.

Atravessando o lúdico escrevo a carta de alforria e saio gritando aos quatro cantos,
aos quatro elementos, aos cardeais da Terra:
surge uma nova era...entenda-se e leia-se aí da maneira que achar conveniente...
ao pé ou não da letra.

Que possamos construir um mundo mais igualitário, repleto de amor,
idealista sim. Que tenhamos a noção exata do pedaço que ocupamos nesse
planeta e também o do próximo. Que saibamos transitar com delicadeza e
respeito por entre águas, rios, cascatas, florestas, oceanos, animais e
ar....sem alterar o equilíbrio do oxigênio...da camada de ozônio...da
crosta...da atmosfera. Porque tudo é energia, que pulsa e vibra em cada
troca que efetuamos todos os dias de vida...da vida.



segunda-feira, dezembro 09, 2002

CINTILAÇÕES II

Balança o lenço, o que parece ser um bom o sinal.
Embute a certeza de que ambos conjuminam na saudade que belisca o coração.
Todos os dias olha para ela, delicia-se com seu discurso e fantasia o imaginário.
Intimamente arde, mas recolhe-se enquanto avoluma a vontade de chegar perto.
Tocá-la, um dia, quem sabe. Provar o gosto de seus lábios, apertá-la contra o peito, sentir seu cheiro, perder o controle e entregar-se ao impulso que sente.
Supõe que não o quer mais, esqueceu-se dele. Pede uma trégua enquanto diz que na espreita, permanece cevando o desejo.
Declara-se, esparrama-se e confessa seu imenso vazio.
Afinal, não há motivos para isso. As palavras são prá você.




sábado, dezembro 07, 2002

Como as coisas nos chegam aos solavancos e eu adoro quando algo inesperado acontece e modifica o panorama previsível e confortável, dei de cara com o endereço do blog O Começo. De uma forma anarquista nos faz pensar. E confesso que não tive tempo suficiente para ler tudo que gostaria por lá. Ainda volto com mais calma, mas prá quem tem tempo vale uma passada lá e ler todos os comentários posteriores ao texto:

"MÍSTICA, CIÊNCIA E ANARQUIA

Em verdade este blog não está: para provar que existe o Espírito, ou que até existe o Espírito Iluminado. Pois sem exceção todas as religiões e seitas são materialistas. E esta é a loucura generalizada, que se propagou desde gerações longínquas. Em verdade este blog está para mostrar esta loucura, esta insanidade em nome do Deus chamado único e de todos os Deuses. Onde o hospício da coisa é que Deus, e todos os Deuses juntos não podem fazer nada. Mas como Deus e os próprios Deuses estão por aí e aqui, Eu BHAY também estou, e VOCÊ que esta lendo também aqui está. Ora! Todos nós aqui estamos. A questão é: Será que todos nós somos daqui? E aqueles que são daqui, poderão não mais ser daqui? Ou, se todos somos daqui, e então?"





quinta-feira, dezembro 05, 2002

Ironia Cósmica

A noite pôs o seu vestido azul
Bordadinho de milhares de missangas,
E penteou suas madeixas negras;
Pegou o broche da Lua
E com ele enfeitou o seu colo fantástico;
Olhou-se no espelho do oceano
- Estava linda!
E esperou languidamente o noivo másculo,
ardente, mais ardente que todos os infernos.

Veio o Sol
Devagarinho,
E contemplou-a,
E acariciou-a,
E beijou-a,
E possuía de maneira tão brutal
Que ela se esvaiu de amor...

Homens,
Já podeis trabalhar:
Nasceu a aurora.

Alziro Zarur

quarta-feira, dezembro 04, 2002

PÓS-ECLIPSE



Tive a oportunidade de acompanhar o nascimento da Rede Nacional de Astrologia, num congresso que reuniu as maiores feras da área. Por uma série de circunstâncias a idéia inicial da RNA de levar o ensino da Astrologia aos mais diferentes estados não vingou, ou melhor, até vingou, mas só foi levada adiante por uma pequena parcela que abraçou o ideal. Esses permaneceram firmes aos seus sonhos e deram prosseguimento à perspectiva expansionista aquariana.
Hoje, após abrir os emails, dei de cara com a criação do Céu Aberto, um site dedicado ao estudo e aplicação da Astrologia, constituído por profissionais atuantes e que já desenvolvem há bastante tempo um sério trabalho de ensino e formação de astrólogos.Para quem não conhece, vale a visita.

terça-feira, dezembro 03, 2002

Grape fruit, vermelho, uva, sangue, coagulações, vampiros e veias salientes.
Boca, lábio, língua, oral, paladar, gosto, céu.
Os muitos céus em mim, em você e em todos nós.
Devaneios como o nada que hoje se instala e quebra a alegria do ontem.
A roda sempre movimentando-se e não deixando que a felicidade estabeleça-se.
Sansara, oásis e inferno. Hoje volto a estaca zero.
Peço forças, rezo um credo, acendo velas, faço uma promessa, recito um feitiço.
Nada parece adiantar.
Melhor dormir, permitir o sonho, um pouco de lonjura para essa realidade que agora aperta.



domingo, dezembro 01, 2002

LETRA DE CORPO

Eu já falei um bocado dela por aqui. E é uma amizade que nasceu imediatamente, ao primeiro olhar trocado, rápido e que terminou em muitas garrafas de vinho tinto numa noite realmente inesquecível na casa dela. Acho que isso já tem uns cinco anos, creio eu, ou mais. Pois então, para abrir Dezembro, mês de calor, gente bronzeada e bonita, corpos à mostra, compartilho a letra Z, onde está o meu Zéfiro.



sábado, novembro 30, 2002

"Eu sou Sagitário, meio homem, meio animal. Minha natureza jupiteriana não entende a sofisticação das mulheres de Touro. Nós gostamos das coisas simples, ao natural, carnes cruas, frutas. Somos no amor uns pobres intuitivos.Sempre temos dificuldades ao confrontar a aristocrática atitude das mulheres de Touro. Estas não gostam de ser forçadas a fazer as coisas, e reagem aos desafios com incrível vigor. Uma mulher desse signo não pode ser mudada. Sua personalidade é forte, ela sempre faz o que bem entende, sem sofrer influências de ninguém. Que loucura minha querer forçá-la a posar para mim!
Nós, de Sagitário, somos irresistivelmente atraídos pela voluptuosidade das mulheres de Touro. Nossa sensualidade instintiva é influenciada pela refinada passionalidade sexual das taurinas. Está acima de nossas forças. Ainda ontem, numa entrevista miraculosamente obtida por um amigo, estive com o misterioso professor Khaiub. Fui levado de olhos vendados. Prometi que nada diria sobre o professor. Apenas isso, a última frase dele: O Sagitário não desiste, ele quer ver. O Touro não cede, ele quer ter. "

Rubem Fonseca em O Casol Morel.


quinta-feira, novembro 28, 2002

CINTILAÇÕES

Um suspiro seguido de espasmo e ela se lembra das palavras dele na última carta:
Palavras dirigidas a mim! Foi assim que pediu.
Folheou o caderno, releu o passado, pensou no presente, ele andava ausente.
E ela também. Algo novo surgia e construía um forte alicerce.
Outros caminhos que se abriam lentamente dia-a-dia.
No entanto, não conseguia ver seriedade nas coisas que ia falando e escrevendo.
No íntimo continua uma menina rebelde e moleca, peralta.
Daquelas que espreitam atrás da porta para ver o circo pegar fogo.
Adorava ver os adultos histéricos discutindo quem era o culpado daquilo.
Ela nunca foi pega. Sempre deu seu jeito de escapar.
Agora, mulher, ainda não havia amadurecido o esperado.
O esperado pelos outros.
Contudo, continua adorando jogar, ver até quando o blefe continuará.
Espírito destemido, aventureiro e livre. Assim é ela.
Como o vento, impossível de ser capturada, presa, domada.

quarta-feira, novembro 27, 2002

DAS IMAGENS



Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Em parte concordo, mas jamais descartaria o poder da palavra, como alguém me disse um dia. Palavras constroem universos, imagens, sensações, dor, alegria e prazer.
Já tive retorno nesse sentido, normalmente não nos comments colocados abaixo dos textos. Os comentários mais profundos chegam por email, em desabafos, concordâncias, anuências, sentimentos na mais inacreditável extensão que as letras possam configurar.
E eu já contei aqui que existem imagens que me arrebatam: faz sentir saudades, faz ter vontade de reativar velhas idéias de páginas só de instantâneos guardados aqui na gaveta, das praias, pores de sol, sombras refletindo a hora do crepúsculo. Belezas capturadas num instante, num lapso, no exato segundo que a sensibilidade se junta à natureza e produz imagens indescritíveis, pois, as palavras parecem poucas ou sem força para dizer o que a imagem constrói e produz.
E pensando nisso, eu roubei da página dele esse arco-íris glorioso, registro singelo das suas muitas andanças por esse nosso imenso Brasil. É capaz de surrupiar a beleza no seu ápice, como essa imagem clicada no Centro-Oeste. Há outra moça, Adriana Paiva, em seu Foco Seletivo ou Périplus a armazenar a silhueta dos grandes mestres. Para eles esse post, para os incansáveis e sensíveis fotógrafos do cotidiano, da vida e da arte.

terça-feira, novembro 26, 2002

CAMILLE CLAUDEL



Entrego-me a estética que arrebata pelas linhas e contornos.
Da arte, sinuosa e borbulhante, nascida de visionários que habitavam o início do século XX.
Perfeição na construção de formas, músculos, veias, tendões e ossos: o corpo humano retratado em sua minuciosa geografia. Estátuas de contornos irretocáveis, esculpidas em pedra bruta, suplantando o desenho, a pintura ou até mesmo a fotografia. Cores e tintas parecem artifícios ínfimos diante da suntuosidade, da majestade das esculturas.
Como Deus, Rodin e Camille Claudel, imortalizou as formas orgânicas, dando calor ao frio do gesso, mármore, barro e até ônix. Por meio de catarse produtiva ela construiu corpos em 3D, do âmago resgatou amor, extraiu prazer e colheu os infortúnios do fim do relacionamento com Rodin. O conjunto de sua obra reflete êxtase e dor.
O talento era tanto que suplantava em genialidade as formas criadas por ele. Rodin, um mestre; Camille, a figuração mortal do Olimpo. Só deuses poderiam criar como ela. Não pelas técnicas, mas pelo arrebatamento percebido em cada peça, pelo frenesi transposto para as esculturas construídas em relevo e sensibilidade.
Tão transbordante em energia que poderiam até falar, remetendo-me ao que Michelangelo fez ao terminar seu Moisés, cuja perfeição salta aos olhos. Ensandecido, diante de tal criação, teria pegado o talhe e o martelo e dado um golpe no joelho da estátua, gritando em seguida: parla!
Na enciclopédia encontrei apenas uma notinha referente a sua existência como discípula de Rodin. Entretanto, o filme Camille Claudel narra sua história, a paixão incentivadora do pai, o amor espiritual e incestuoso do irmão Paul, a vivência do amor tórrido ao lado de Rodin, às peças produzidas desse encontro de almas.
O seu fim foi trágico, como era naquele tempo quando as histórias de amor desafiavam os costumes da época. A degradação física e psicológica comprometeu sua sanidade levando-a a ser internada e morrer depois de trinta anos de tratamento num hospital psiquiátrico.


segunda-feira, novembro 25, 2002

Eu já observei os bonitos FanArtes que ela andou produzindo para os blogs que achou por prazer retratar. Sob o olhar atento fez do meu infinito sua luneta e criou essa imagem aí, embaixo, presenteando-me com delicadeza. Daqui miro o que não precisa de céu e espaço, pois como já dizia Aleister Crowley: 'Todo homem e toda mulher é uma estrela'.



sexta-feira, novembro 22, 2002

JOANA D'ARC

Ontem assistimos a uma das versões da história de Joana D’arc, numa pequena projeção lá no GCE, com comentários posteriores de Karroiz e da própria Joana. Confesso, diante de tal espírito, de brava e iluminada alma, me recolhi à minha insignificância, mas, por outro lado, pensei o quão forte somos e quão diminutos nos colocamos tantas vezes. Escrevendo agora lembrei de uma frase que me foi dita por um espírito, numa determinada fase da minha vida: “Tudo está em nós e depende de nós”. Muitas vezes nos esquecemos de nossas potencialidades, dos dons e habilidades que nos foram outorgados nesta vida. Entretanto, a imagem de Joana está aí a mostrar a todos que tudo é possível desde que sigamos com fé e coragem.
É admirável o que pôde fazer uma camponesa, analfabeta, imbuída de desígnios divinos, enfrentando tantas batalhas, inclusive as interiores, a relutância do próprio pai. Vencendo não só aos bourgões ou aos ingleses, mas vencendo a falta de fé do próprio povo e ao fim conseguindo seu intento: a unificação do país. E o mais importante, ensinando e exemplificando através de atos, o que o rei Carlos VI, deveria se tornar mais à frente como governante da França.
A espada encontrada na pequena igreja de Santa Catarina e com a qual comandou os exércitos franceses, pertenceu a Jean Marcel, um bravo guerreiro francês que morreu lutando e defendendo sua pátria. Joana havia sido instruída por Santa Catarina a buscar dentro daquela gruta a espada e foi assim que a encontrou. Karroiz contou que além de Santa Catarina, Santa Margarida auxiliou Joana espiritualmente. E sublinhou ainda o constante apoio de São Miguel, hoje conhecido na espiritualidade como Astarsheran, em toda a trajetória terrena da moça.
No filme há alusão a existência do profeta Merlim. Karroiz afirmou que o mago existiu e teve a visão da Virgem de Lorena que surgiria para libertar o povo francês do jugo inglês. Karroiz falou muito pouco sobre ele. Confesso que essa figura lendária, os celtas e druidas, é tema que já me fez debruçar horas lendo enciclopédias e livros a procura de mais informação.
A platéia ainda fez mais algumas perguntas a Joana. Ela garantiu que em momento algum derramou uma gota de sangue dos inimigos, não participando dos confrontos como guerreira da espada, mas demonstrando sua força através das palavras que proferia junto ao exército francês. Quanto às torturas, psicológica e física, empreendidas pelos bispos e padres da igreja, Joana afirmou que não foram mostradas em sua totalidade em nenhuma das películas até hoje feitas sobre sua história. Perguntei a ela quantos anos tinha na ocasião e ela respondeu ter dezesseis. Uma menina. Uma menina de alma guerreira. Explicou que como espírito hoje há uma consciência individual, entretanto a vivência como Joana é muito forte e presente dentro dela. Tanto assim o é que os videntes a viram, como normalmente a vêem, vestida com armadura e espada.
Joana D’arc é símbolo de coragem e fé. Pureza não só de corpo mas de alma, veracidade de sentimentos que a conduziu em sua luta por um ideal, através de missão orquestrada pela espiritualidade. É divisória histórica, sem dúvida mito e exemplo a todos os povos, não só aos franceses. Karroiz usou a seguinte frase para definir a trajetória de Joana: “A fé consubstanciou os atos de coragem”.

quinta-feira, novembro 21, 2002

Faça-me grande, dê poderes:
Destemida, Amazona, aprendiz de feiticeira.
Faça-me sua, seu amor:
Observe o tempo certo e adube com delicadeza.
Faça-me jóia, preciosa, única:
Use a ternura quando necessário,
Mas não esqueça do ar de paixão.
Faça-me uivar, sibilar, jorrar:
Fonte, água doce.
Contudo não me torture numa prisão,
Não me cobre o que não posso dar e,
Principalmente, não espere o que não vou ser.
Não macule, não espete, não faça sangrar novamente...

quarta-feira, novembro 20, 2002

PAIXÃO S.A.

É como desembrulhar um presente, a expectativa a cada segunda-feira para saber o que ele vai postar. E eu, religiosamente, leio os textos que ele publica no Perciperias. É quase um sacrilégio roubar um parágrafo, mas, como não resisto, colo aqui, hoje, esse pedaço de Paixão S.A, vale a pena, lógico, ler esse e todos os outros textos na íntegra:

"O restaurante, o filme, os livros, a cicatriz na testa. Até o gel. Tudo isso era pra você se apaixonar e você não percebeu. Se beijo fosse como aquele chocolate, o marketing pessoal de cada um seria cada vez mais competitivo e insuportável. Amor viria embrulhado em alumínio e celofane. Contrataríamos designers para criarem logotipos para as nossas intenções, outdoors das nossas paixões na marginal do Tietê. Pense no nosso sexo. Pense no estado em que deixamos o mundo. Pense no seu andar atrás das coisas que custam uma fortuna. É confusão ou identificação? Um dia esquizofrenia será uma febre. Aguarde, todos vão querer fugir. Será que numa ilha deserta o número atômico do ouro é 79? Chocolate pode ser a quarta causa do caos mundial. A revista Caras, a quinta. Pense em como é fácil pular do vigésimo, mas não pule. E não pare nunca de comer chocolate. Porque paixão também vicia e engorda".
Victor Carbone

terça-feira, novembro 19, 2002

A CASA 8

Muita gente entra aqui e pergunta o que vem a ser Lemniscata. Entre os diversos significados que já encontrei, hoje, lendo a Constelar, me deparei com o artigo sobre a Casa VIII na Astrologia e que fala um pouco do símbolo do infinito, a idéia primeira desse blog: a liberdade, o vento, o ir e vir. A casa VIII representa o signo Escorpião, a morte, a transmutação. Então, colo, abaixo, o excelente texto de Benedito José Paccanaro:

"Dentre os significados atribuídos à Casa 8 exploraremos os ritos e iniciações e suas conotações com a morte e transformação, enfoques determinantes desta casa. A Casa 8 é de certa forma uma casa de ligação, intimidade e principalmente do mais íntimo - o ato sexual. Veja que o próprio algarismo (8) representa um entrelaçamento, uma união que denota a vivência íntima dos desejos e apetites sexuais. Se colocarmos este algarismo na posição horizontal, teremos o símbolo do infinito, da eternidade. A Casa 8 aponta para este além, para outra perspectivas e visões de vida e da própria noção da existência.

Os ritos de iniciação comportam torturas físicas e psicológicas; provas de fogo que, em sua essência, são coroados por um ritual de morte e ressurreição simbólicas.

Nos povos primitivos a passagem ritualística era algo terrível, o neófito era suposto ser engolido por um monstro, enterrado vivo, perdido na floresta noturna que em essência representava a descida aos Infernos. Essa experiência aos olhos do neófito era indispensável ao nascimento de um homem novo, regenerado. Toda iniciação é uma morte e uma ressurreição ritualística, um acesso a um novo modo de ser e de ver a própria razão da existência humana.

As sociedades antigas valorizavam, e muito, as iniciações, principalmente a passagem para a idade da adolescência. Algumas tribos indígenas brasileiras submetem os jovens a rituais de muita coragem, como colocar o braço em uma formigueiro terrível. O próprio casamento pode ser considerado um rito de passagem quando os nubentes deixam seus pais e a vida de solteiro para iniciar a dois uma nova jornada.

Os rituais de iniciação envolvem mistérios, como na passagem de graus de certas ordens esotéricas, configurando atributos inerentes à Casa sobre a qual tecemos considerações.

A colocação dos ritos e rituais, principalmente de passagem, sob a égide da Casa 8 tem estreita e profunda ligação com o sentido de morrer e renascer, talvez purificados, ou para uma nova vida.

Morrer é morrer! Não se tem volta, assim o neófito, quer queira ou não, morre. Agora, o que fará com sua nova vida é outra coisa. O sacerdote investido no seu poder religioso nunca deixa de ser padre - será padre sempre, porém podendo ser limitado ou impedido de suas funções normais.

Cristo no seu ritual cosmológico sofre, é torturado, sob o peso da cruz e ressurreto no terceiro dia. O neófito torturado, atormentado, sofre as dores dessa morte, mas sabe que se elevará em nova vida, pronto para deixar o velho estilo de vida e ingressar noutro mundo, é um verdadeiro nascimento místico. A várias provas pode ser submetido, como jejum prolongado, reclusão etc.

Às vezes se atribuem aos neófitos outros nomes que serão novos nomes, já que é um renascido e regenerado. A iniciação se reveste de mistérios tais como a própria morte em si, mas fundamentada no nascimento espiritual, na regeneração de uma nova forma de vida. Os sofrimentos, tanto físicos como psicológicos, são comparados às torturas, que podem ser outro aspecto da própria iniciação: a doença, como uma grande provação.

A regeneração espiritual, tanto nas iniciações da puberdade como nas associações secretas, forma um círculo fechado no interior do clã ou da associação, como o número 8 representa. O mistério da regeneração espiritual comporta um processo arquetípico, que se realiza a níveis diferentes e em inúmeros contextos. Ocorre sempre que precisamos pôr de lado um modo de ser para adotar outro, de natureza superior, ou, em linguagem mais sutil, uma transmutação do espírito.

A morte iniciática vai além da condição profana e sim rumo aos mistérios, ao místico, à verdadeira cosmologia universal. Sob o mistério da iniciação descobrem-se as verdadeiras dimensões da própria existência física, introduzindo o novo ser a um encontro com o sagrado, o mistério inefável.
As provas iniciáticas nas sociedades secretas comportam o mesmo ritual simbólico da morte e renascimento para uma nova vida em comunhão com os demais irmãos ou integrantes. Também o cabelo raspado tem referência com o desprendimento do próprio ser que nao se prende à vaidade e amor-próprio unicamente.

A tortura, o sofrimento é também uma expressão da morte iniciática, a tradição cristã chama às vezes essa tortura de "tentação".

Em vários rituais o aspirante é separado da familia e colocado em isolamento, na floresta no caso de sociedades mais primitivas. A floresta é um símbolo de morte, de trevas. Em certas regiões na selva há uma cabana iniciática, que representa o ventre materno. A morte iniciática representa uma regressão ao estado embrionário não só em termos fisiológicos, mas em termos cosmológicos, um regresso ao modo virtual, ao passado distante e arquetípico.

Alguns rituais trazem o simbolismo da morte iniciática - os candidatos, em certos povos, são enterrados ou deitados em túmulos cavados, ou são cobertos por ramos e ficam imóveis tal como um verdadeiro morto.

A própria menstruação era considerada uma iniciação, o início de uma nova vida para as meninas. Em certa regiões é na iniciação que se aprende a arte de fiar, as danças, canções e outras práticas.

Os ritos iniciáticos são uma via para abolir a duração temporal, a existência histórica e reintegrar a situaçao primeva que representa uma união ao estado germinal. Assim, a Casa 8 dos ritos e iniciações nao corresponde só e unicamente a morte física - e sim outras dimensões de morrer e renascer redivivo".

segunda-feira, novembro 18, 2002



Na mudez e na quietude minhas passadas ecoam.
Avançam em movimentos lentos, largos, sincopados,
Nada além dos ruídos externos que não atingem o ser.
Cá é espaço vazio para ressonâncias do pensamento.
Uma caixa, um cubo, paredes brancas, pálidas,
Não há entradas e nem mesmo saídas.
Não existe som na boca, os ouvidos foram cimentados:
Colaram as palmas para não desgrudarem,
Calaram o assovio, o estalar de língua e dedos.
Infinito cômodo onde se propagam divagações no silêncio.

sexta-feira, novembro 15, 2002

ENCONTRO DAS ÁGUAS

O velho rio encontra o mar.
Fusão doce e salgado, suavidade e força.
Dualidade, díspar, dois,
Agora um.

quinta-feira, novembro 14, 2002

Ia deixar só o Castelo de Areia, mas vasculhando o site meter, sempre ele, descobri que nossa amiga Ana Maria criou o Entrelivros. Já adicionei o link aos fractais e espero que ela retorne também ao Udigrudi, o primeiro filho que a levou a tantos outros. Grãos de areia construindo outros castelos...

CASTELO DE AREIA

"Um fio sutil
de sonho desperto,
ergue os grãos dispersos
por todos os lados quebrados
pois, sozinhos não suportam o tempo
se desfazem ao vento"

Guilherme Borges



quarta-feira, novembro 13, 2002

MISSIVA

O vi como as fases da Lua. Da cheia à minguante, promovendo variações aquáticas corporal e planetária. Dessa enchente que turbina nosso corpo quando cheia, nos leva ao ápice do movimento, da maré cheia e também do movimento orgânico; para a diluição completa quando minguante. Somos cíclicos, largamos a pele feito cobra para que outra nova ressurja; como muda de passarinho que depois cobre-se de tenra plumagem. Vivemos nos travestindo por meio das camuflagens sociais, interiores, artísticas, não importando quando elas são usadas. Entretanto, essa ação cansa. E nos perguntamos quem somos afinal. De que material consiste essa alma cheia de personagens e aspectos míticos. E o guerreiro chega em casa e despe-se da armadura, deixando-a um canto da sala. Ali ele passa a homem comum, mortal sem escudos, sem o peso de defender a honra, a vida, a sua tribo, o seu pedaço de chão. Nessa hora é como todo mundo, independente do espaço que ocupa na Terra.
E o tempo, esse que medimos com horas, é ilusão. Uma convenção que nos dita regras, estabelece códigos, modula padrões. Sinto-me atemporal, sem nenhum vínculo terreno. No máximo um envolvimento de alma com a mãe e irmão. E, ainda assim, sei que vou encontrá-los num outro lugar, muito melhor do que o aqui e o agora. Sempre me vi como um véu voando ao léu, como em Beleza Americana, quando o saco plástico desliza, se confunde, se atrita e se esfrega nas folhas secas, promovendo um balé lindamente fugaz...tal qual a vida.
Contudo, o amor, esse rompe dimensões, transcende à razão e a qualquer explicação que nossa mente ouse criar. Renascido, nato ou morto, sempre existirá e viverá nesse ou em outro padrão, transmutando seres, aliciando a consciência que vibra nesses milhões de focos espalhados por todo o universo físico e imaginário.


segunda-feira, novembro 11, 2002

CRAVO


Move-se e encontra cravo: flor, metal ou especiaria?
Investiga e descobre que é código usado para ludibriar desconhecidos.
Ruidosamente mastiga a maçã e familiariza-se com suas preferências.
Acompanha mergulhos e golfinhos tatuados. Água salgada, água de Câncer.
Gótico, lúgubre, o inconfessável que existe em cada coração, o oposto dele.
Empresta forma ao diálogo e constrói pores de sol digitais.
Movimenta a infância, lembra de tubarões e confessa o medo.

Descreve a falta de perigo. Propõe cidades e acampamentos, convida.
Ele é geólogo, quer publicar um livro. Ela ensina o caminho das pedras.

Infinidade de números convergem ao contato, aproximação.
Risadas diante do que diz não ser miragem.
Cancela a conexão, fecha as janelas, aperta o botão.


sábado, novembro 09, 2002

"Morrer, dormir,
dormir, talvez sonhar, desejou Hamlet...
O sonho move o homem.
Idealizar o paraíso, criar uma ficção tão real
que nos proponha subverter a vida e,
mesmo depois de mortos,
realizarmos os sonhos que foram sonhados
enquanto estávamos vivos".

Dylza Freitas

sexta-feira, novembro 08, 2002

ESCORPIÃO

Terminei, enfim, Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos, depois de algumas semanas de parada forçada consegui chegar a última folha. E entre as muitas fugas do personagem principal, nesse romance policial, Rubem Fonseca explora a faceta de um dos animais peçonhentos que mais causa pavor nos seres. E, confesso, a analogia entre o signo e o bicho, acabou por produzir reflexões:

O escorpião é um solitário, o mais misantrópico dos animais, só se aproxima do seu semelhante para foder ou para lutar até a morte.
[...]
Eu já vira vários acasalamentos daqueles meus perigosos amigos. O macho, que é mais esbelto e tem uma cauda mais longa, fazia naquele instante sua corte, segurando duas das garras da fêmea e esfregando sua cauda ereta na dela. Então começaram a copular. Eu sabia o que ia acontecer, tão logo a fornicação acabasse. A fêmea mataria o macho, caso ele não conseguisse fugir, o que era muito raro, e depois iria devorá-lo, ou melhor, sugá-lo. Os escorpiões matam sua presa, ferindo-a e inoculando-lhe uma neurotoxina que causa um envenenamento parecido com a estricnina. Em seguida injetam nos ferimentos que causaram umas enzimas digestivas, que fluidificam o tecido interno da presa. Após o que, sugam-na até deixá-la apenas um invólucro seco.
[..]
Os escorpiões podem ter até doze – doze! – olhos, e quem tem tantos olhos assim tem que ser muito perspicaz.”.


Vale dizer que o escorpião é um animal de palpo desenvolvido em forma de pinças, de pós-abdômen afilado numa cauda capaz de curvar-se sobre o dorso e terminada por um ferrão venenoso. Respira unicamente por pulmões. Vive em regiões quentes e áridas, ao abrigo da luz. Alimenta-se de pequenas presas caçadas durante a noite.
Na Astrologia, o signo gráfico de Escorpião lembra o de Virgem: é um M cujas duas primeiras hastes representam as garras do animal, e a terceira, voltada para cima, a cauda. Assim como o M de Virgem está tradicionalmente relacionado à palavra ‘mãe’, o de Escorpião está ligado à letra rúnica Mannaz, que simboliza o arquétipo do homem. Nesse sentido, o significado profundo do signo é o Homem, visto na sua condição de ser mortal e representante do gênero masculino. Em Escorpião, completa-se o caminho da vida, iniciado em Áries, e os signos seguintes correspondem às etapas que todo ser humano ainda tem de percorrer depois da morte, antes de chegar à paz definitiva, em Peixes.







quinta-feira, novembro 07, 2002

FANTOCHE

Na noite onde tudo se transforma, alguém aparentemente adormecido, acorda. Mostra a faceta escura, sombria e se diverte.
Encontra eco no outro: domina, subjuga.
E quanto mais pede, mais tem. Quanto mais dói mais deseja. E parece interminável o estado de controle e êxtase.
Sob a festa pagã ele entregou-se, sucumbiu, abandonou os sentidos. E ela com as longas madeixas negras, a vestimenta reluzente, articulou uma alegoria, fantoche, boneco virtuoso.


quarta-feira, novembro 06, 2002

PORTA-JÓIA

Eu a conheço já alguns anos e nosso contato nem sempre foi amistoso e amigo. Com o tempo, através dessa amiga em comum, conheci uma outra que estava escondida, uma outra que eu não via.Talvez porque eu não tivesse ‘olhos para ver’, apenas mirava socialmente o que se apresentava à minha frente. A sensibilidade não ultrapassava os limites das palavras proferidas no calor dos encontros fortuitos e sem profundidade.
Acontece que a vida é sempre cheia de surpresas. E, ela sempre faz os seus caprichos, nos levando ao encontro daquilo que deve acontecer, verdadeiramente. A minha vida sempre faz das suas. Não é que nos encontramos, não socialmente, mas na casa dela, me levou até seu quarto, me mostrou várias fotos de Paris, bebemos um champanhe também da Cidade Luz, vi fotos, cartões, bilhetes, compartilhei de sua intimidade. Pedi desculpas pelas vezes que eu poderia ter sido mais doce, mais amiga e mais sem armaduras e proteções. Ela aceitou, com seu enorme sorriso e coração. Me acolheu e eu a acolhi também.
Passaram-se anos, eu acho, vi quando ela conheceu seu amor. Ela se interessou, ele se manteve na retaguarda. Mas, a vida sempre costurando finais felizes os uniu mais à frente. Hoje, depois de anos vivendo juntos, casados, ela escreveu sobre o estado ‘porta-jóia’. Imagino, cá com meus botões, que ela será perfeita como mãe, mesmo que o manual não venha junto com o bebê.
E o meu desejo é que esse neném seja como eles: como ela e como o pai, pessoas formidáveis, especiais e muito queridas.
O Estado de Graça dela está aqui.

segunda-feira, novembro 04, 2002


NÃO ME DEIXES

Devemos esquecer
Tudo que pode ser esquecido
Que já tenha passado
Esquecer os tempos
Dos mal-entendidos
E os tempos perdidos
Tentando saber como
Esquecer as horas
Que às vezes mataram
Com sopros de porque
O coração de felicidade
Não me deixes

Eu vou te oferecer
Pérolas de chuva
Que vêm dos países
Onde não chove
Eu vou cavar a terra
Até a minha morte
Para cobrir teu corpo
De ouro e luzes
Eu farei uma terra
Onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde tu serás rainha
Não me deixes

Não me deixes
Eu inventarei
Palavras sem sentido
Que tu compreenderás
Eu te falarei
Sobre os amantes
Que viram duplamente
Seus corações incendiarem-se
Eu te contarei
A história deste rei
Morto por não poder
Te reencontrar
Não me deixes

Nós freqüentemente vemos
Renascer o fogo
Do vulcão antigo
Que pensamos estar velho demais
Nos é mostrado
Em terras que foram queimadas
Nascendo mais trigo
Do que no melhor abril
E quando vem a noite
Com um céu flamejante
O vermelho e o negro
Não se casam
Não me deixes

Eu não vou mais chorar
Eu não vou mais falar
Eu me esconderei lá
Para te contemplar
A dançar e sorrir
E para te ouvir
Cantar e então rir
Deixa que eu me torne
A sombra da tua sombra
A sombra da tua mão
A sombra do teu cachorro
Não me deixes

Ne Me Quitte Pas
(Não me deixes)
Jacques Brel / Maysa




domingo, novembro 03, 2002

NOVEMBRO


Outubro despede-se e reluz Novembro.
Em breve, verão.
Sinônimo de leveza, transparências, pés de fora, corpos morenos tomados pelo astro rei. Momento de reflexo dourado no azul e nada de nuvens no horizonte.
Matizes do crepúsculo: magenta, ouro e rubro.
Encontro das águas: bebemos mais, banhamos mais.
Intercalamos calor e gelo, mistura, saliva quente e sorvete derretendo.
Consagração ao sol.


quinta-feira, outubro 31, 2002



A dia de hoje representa a comemoração celta do samhain (fim do verão). Data que de acordo com as estações do ano, iniciava-se o inverno e era representada pela morte do Deus de Chifres, o Deus Sol, que só viria a nascer novamente no 21 de dezembro, no solstício de inverno, na festa de Yule. Dizia-se que a data da samhain era mágica e nela a barreira entre o material e o imaterial ficava mais tênue e podia-se falar com os entes que já se foram. É a fusão dos mundos, dos mortos e vivos, o grande crepúsculo.
Por ser uma comemoração de certa forma sombria e praticada pelos druidas, e as cerimônias serem dominadas predominantemente por sacerdotisas, tendo em vista que a religião celta prega a força maior da deusa, mãe natureza, a Lua, os cristãos acreditavam ser uma festa de bruxas e, assim, ficou conhecido como o dia das bruxas.
Entretanto, a religião celta era fortemente enraizada no povo europeu e a igreja católica acabou por absorver o feriado como a festa de todos os santos no dia 1 de novembro, dia seguinte do samhain, que veio a ser conhecida mais tarde como o halloween.
No hemisfério sul, obedecendo ao calendário de equinócios e solstícios, as festas se invertem e no samhain se comemora no dia 1 de maio e o beltane (comemoração de fertilidade, onde o Deus e A deusa se unem pela primeira vez no ano) no dia 31 de outubro. A comemoração perdeu seu real sentido para os povos modernos, mas alguns ainda preservam as tradições.
Assim, obedecendo a esse calendário, convido a todos para a bela comemoração de beltane, amanhã, dando graças pelos frutos que a terra nos fornece, bebendo e
dando graças para que nunca tenhamos sede e comendo e dando graças para que nunca tenhamos fome.

"Danço o deleite
na noite de Beltane.
Liberando todos os sentidos,
danço para ser.
A flor e a chama
do rito amoroso florescerão.
O Sol abraça a Terra, brilhando".

Rae Beth



quarta-feira, outubro 30, 2002

DAS LENTES DO VIVER...

Ele têm o dom de dizer muitas vezes o que eu gostaria de ter escrito, tamanha a facilidade com que se expressa e traduz em palavras - pensamentos. Li, agora, sobre os micos que se paga em nome de uma prova de amor. A idéia ficou repetindo-se ininterruptamente na cabeça: prova de amor. O que é afinal uma prova de amor? Uma constatação para o provável sentimento de amor que um nutre pelo outro? Será que só dando uma prova o outro é capaz de crer no amor propalado? Ta certo que ele pegou as coisas mais absurdas e ridículas, mas para cada um o sentido de prova têm valor pessoal, o que se atribui.
Nunca dei provas de amor a ninguém. E nem sei se faria algo parecido. A prova de amor está no cotidiano, nos pequenos detalhes que moldam a relação, no dia-a-dia básico e provável que deixa de ser assim porque nós assim o fazemos, construímos. É depois de alguns anos juntos conseguir surpreender o outro, fazer sorrir, continuar namorando, caminhando de mãos dadas, lembrando da pessoa e levando uma coisa que se viu e achou que ficaria bem nela. É comemorar sem ter motivo. É preparar um jantar romântico, comprar uma lingerie nova, fazer algo durante a semana que quebre a rotina.
Também andei lendo lá que ‘o amor emburrece’. Dependendo do ponto de vista, realmente o amor emburrece, se nos transportarmos para a maneira como ele colore nossos olhos e acabamos mirando a vida por um aspecto solto, leve e cheio de possibilidades. Como eu gosto de dizer: enxergar o mundo através de lentes cor-de-rosa. É interessante observar na crônica o desencanto, o que pra mim tem muito mais a ver com paixão do que propriamente com amor. A paixão é encantamento, arrebatamento, adrenalina, desejo puro, impulso livre, sensações desmedidas. O amor é diferente.
E dentro desse contexto fiquei aqui dando tratos a bola, precisamos sempre classificar os sentimentos: amor, paixão, tesão. É como o ‘fazer amor’ e transar.O que afinal diferencia um do outro? O fato de ter ou não sentimentos? Desses sentimentos serem intensos, profundos e/ou superficiais? Quantos rótulos precisaremos para entender os mecanismos do amor, da paixão, do sexo, da amizade, da vida em sociedade, dos relacionamentos familiares? Um dia uma amiga pisciana, disse pra mim: Aninha, o amor não se mede, se sente. Os piscianos sempre me mostrando o caminho das pedras... Na ocasião, eu que vivo analisando tudo, coisa de libriana, medindo, pondo tudo na balança, acabei me rendendo ao comentário dela: ‘o amor não se mede, se sente’.
É sempre bom dizer que alguém toca a gente, nos faz meditar sobre determinados padrões, muitas vezes viciantes e repetitivos. A vida é interessante, andei refletindo hoje. Fizemos no GCE uma avaliação de todas as palestras realizadas até aqui e dos últimos cinco anos de nossas vidas. Lembro que há cinco anos atrás muitas coisas foram interrompidas e outras começaram em minha vida. E como nada é completamente perfeito, senão eu com certeza não estaria aqui, nesse planeta azul, revivi o quanto já mudei, o que estou reformulando e o que, com certeza, ainda hei de conseguir ultrapassar, vencer e burilar.
Amanhã tem mais.


terça-feira, outubro 29, 2002

MASK



Essa é uma das fixações que tenho: Veneza, Carnaval, Máscaras, o atemporal. A verdade encoberta por outra face. Não no sentido patológico de mudança de personalidade. Vejo pelo visor de Dickens: Veneza o mais lúdico dos lugares para o mais sonhador dos poetas.


segunda-feira, outubro 28, 2002

RELEITURA

Na maioria das vezes a facilidade e o que está à frente não é de fato verdade. É fumaça, um trago expirado, nublando a visão. As ofertas, aparentemente milagrosas, perfeitas, são um tremendo delírio, substrato de realidades, repetindo-se infinitamente. De que vale o fractal se não produz uma seqüência em novo circuito? A maleabilidade a adaptar-se ao que é revelado? Se não é capaz de traçar uma nova trajetória em seu lançamento?

sexta-feira, outubro 25, 2002

TRANSMORFA



Mudou as cores, do dourado para o castanho. E, naturalmente, a face ganhou outro tom. A cigana fica aparente para os que vêem além e a encaram, fitam o olho. Alguém um dia disse que era uma transmorfa facial. Hoje assim: cabelos negros, olhos escuros e sobrancelhas endiabradas. Pôs uma blusa vermelha e foi passear pela noite, o vento é quente, a lua é imensa, e as estrelas não cansam de acompanhar suas passadas. A sexta-feira está só começando...



quinta-feira, outubro 24, 2002

ANTEGOZAR

"O verbo “antegozar” é dicionarizado. Segundo o Dicionário Houaiss, significa “gozar (algo) antes da sua realização” e já aparece na nossa língua desde 1881. Portanto, não se trata de um “neologismo”. Mas mesmo que não fosse dicionarizado, seria um verbo perfeitamente “formável” dentro das regras da nossa língua. Creio que uma das funções do poeta é a de despertar a atenção para as palavras, sejam elas criações suas, gírias, termos em desuso, etc. Assim, a poesia não ter pudor de incorporar qualquer registro lingüístico. O poeta pode e deve utilizar todos os recursos lingüísticos que contribuam para enriquecer seu texto. Não “enriquecer” no sentido parnasiano, tão em voga hoje em dia, mas agregando ao poema “a contribuição milionária de todos os erros”, como já o disse Oswald de Andrade."

Frederico Barbosa em entrevista na mailist do Balacobaco




terça-feira, outubro 22, 2002

ZÉFIRO

Na coxia do teatro, envolve as formas curvilíneas num xale negro. Tira os acessórios que cobrem as extremidades: meias sete oitavos com renda marcando a coxa, luvas escuras na altura do cotovelo. Só a combinação de cetim, cor da pele, acompanha seus relevos. Mira-se no espelho, o olhar amendoado pelo delineador e os enormes cílios acentuados pelo rímel. O xale escorrega e entrega a pele tatuada, nívea. Prende os cachos castanhos num coque desalinhado. Vê-se como as outras. Não há nada de diferente naquele semblante. Lembra do que ele disse ontem num bar enfumaçado do centro da cidade, e continua não encontrando nada de especial no que vê refletido.
Inadvertidamente, o zéfiro sopra com força e move objetos do camarim, provocando o vôo de plumas coloridas pelo ar... chapéus orbitam pelo ambiente, máscaras multicoloridas planando, um jarro de flores desaba. Não se importa, ignora os cacos espalhados pelo chão... Joga a cabeça para trás, gosta daquela sensação, deixa-se tomar por ele que percorre a derme sem pedir licença, invasor. Levanta-se da cadeira, escancara as janelas e permite que entre com mais força...abre os braços e o recebe em estreito contato: fecha os olhos.
Inconsciente, revela o portal, a tênue linha que a faz redescobrir a mágica e permite que o feitiço se estabeleça nesse contato ancestral. Ela é como a noite lá fora, senhora de todas as estrelas; lânguida como a lua, deusa perpetuada pela forma redonda que cobre as cidades com seu arsenal de véus prateados.
Sabe que não pode ser retido nas mãos. É livre, solto, faz parte das correntes secas e movimento de massas oceânicas. A cada súbita visita possui um cheiro diferente...em cada lugar um outro vento se levanta...revolve energias, derruba castelos, destrói fortalezas, desarma certezas, amálgama outra mulher.


segunda-feira, outubro 21, 2002

DAS TEMPESTADES



Iansã mostrou as vestes turbulentas, riscando o céu de raios e trovões, ameaçou com redemoinhos, revirou cabelos e folhas, intimidou pela escuridão que assomou a tarde, mas, partiu, sorrateira, a conduzir suas tempestades para outras bandas...e mais um dia se foi.

domingo, outubro 20, 2002

BLACK HOLE



Quem vem sempre aqui sabe perfeitamente dos aspectos obsessivos que delineiam minha atenção. Estou me referindo a ciência, a astronomia para ser mais exata. Não sou da área, mas há nessa essência investigadora, a necessidade jornalística de aprender, estudar e expandir fronteiras: O espaço, o infinito navegável e gélido, celeste pastel.
O terrestre que busca o encontro com o intangível macro. Aquilo que não é palpável, o que está além das possibilidades matemáticas até aqui conhecidas e amplamente usadas. Convenço-me de que a busca - por buracos negros, os grandes devoradores de estrelas, energia, gases, e até mesmo galáxias inteiras - é capaz de mobilizar não só aos que vivem a observar astros e planetas, mas a mim e a todos que, curiosos, querem entender um pouco mais daquilo que se esparge além da nossa atmosfera. Em nossa via de leite há um enorme orifício escuro, detectado por astrônomos alemães, que contrariando os hábitos até aqui conhecidos, vêm lentamente sugando para o seu interior somente uma pequena parcela do que está ao redor. É como se o buraco negro estivesse já lotado de energia e isso aplacasse sua voracidade desmedida. Os astrônomos acreditam que esse aspecto é decorrente da enorme quantidade de matéria já absorvida, o que acabaria por minimizar o efeito de sucção daquilo que gravita ao redor.
O grande usurpador de corpos celestes- denominado supermassivo, é resultante do colapso de estrelas gigantes - completamente alheio a nossa pequenez, continua, em seu movimento invasor, deglutindo tudo, possuindo ao bel prazer aquilo que passa próximo ao seu raio de ação, tomando para si o que afinal não lhe pertence, mas que lhe dá força e o faz crescer.

sexta-feira, outubro 18, 2002

VOYEUR

Das frestas, entre a sombra e as luz que vaza pelas treliças, seu olhar me acompanha, voyeur, perscrutador, curioso. Eu sinto, sua visão pousa em mim.
Vive incógnito, mas deixa no rastro imagens sobrepostas, cromos seqüenciais, enviados pelo correio. Inúmeros negativos a retratar o ambiente ao redor, estroboscópica atmosfera de retratos.
Em seu anonimato registra meus melhores ângulos em preto e branco, alheias poses: um semblante distante; rosto lavado; cabelo sendo escovado; camisola clara, delineando o perfil; sutiã começando a ser desabotoado nas costas; uma boca entreaberta, capturada pelo espelho do banheiro; meias finas lançadas pelo quarto; o caos e a ordem intercalados num aposento feminino. Revelados possivelmente sob a luz vermelha e fraca do laboratório particular, na penumbra. Explorador à procura de contornos através da íris, cristalino, visor, fotografia.
Por trás da lente esconde-se o homem, rendido e que cobiça com toda força que cabe no ser: arrepia-se, encobre-se, protege-se, mostra-se em homeopáticas doses. Fotografa-se aos pedaços e envia-se para mim, numa montagem surreal de quebra-cabeças. Ao lado de cada registro, uma palavra escrita em pequenos pedaços de papel. Charadas.
Reviro os alfarrábios, folhas soltas, páginas carcomidas, amareladas, surradas pelo tempo, e encontro rabiscado um início de roteiro, o final ainda está distante de ser concluído. Talvez me debruce em dar continuidade a ele, entretanto também há a possibilidade de não ultrapassar o limite da última linha escrita e, voltar mais uma vez, para o fundo do baú...

FRAGMENTO

"[...]Busco tua alvorada onde tudo é noite. Trago comigo a luz dos sonhos soltos, na esperança de afogar-me novamente em seus sorrisos. Vejo-te distante, porém tão perto! Neste espaço infindável, sinto queimar em minhas mãos fechadas a estrela que nos reviverá. Na pele, sinto o calor do perdão resgatado das cavernas movediças do teu coração. Permita-me mais um passo. Deixa-me seguir a tua trilha e sussurrar nossa amplidão de sonhos nos teus ouvidos. [...]"

Fabiana Lopes

quinta-feira, outubro 17, 2002

O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE NOSSAS VIDAS

O dia foi daquele jeito gostoso, com paparico de família, carinho dos dois irmãos, inclusive do que está no Paraná e retomou o contato a pedido da filha. Nada como uma criança para unir os adultos, trazer de volta aquela alegria desmedida e pura. Coração de criança, olho que brilha sem parar, atitudes e gestos espontâneos e sem freio.
Os amigos queridos ligaram, escreveram, deixaram recados por aqui e vieram abraçar pessoalmente.
O primeiro dia do Ano Novo foi divertido, leve, fresco.
Ouvi Karroiz falando da vida pós morte. Como ele diz: irmãos, a vida continua. Eu estou mais vivo do que nunca.
E eu quero mesmo é fazer o meu melhor, quero poder continuar viva do outro lado mas num padrão bacana, energizado, mais fluídico. Como eu escrevi a ela ontem, podendo levitar e quem sabe até voar...




quarta-feira, outubro 16, 2002

REVOLUÇÃO SOLAR



Trago no rastro flores e suavidade de borboletas. Devaneios, volitando em estado ainda letárgico, mas pronta para os próximos trezentos e sessenta e cinco dias do Ano Novo que hoje começa para mim. Revolução Solar dirigida pelos espíritos do vento, imortalizando a delicadeza e a vontade de seguir em frente, cheia de vida.Renasço em mais uma primavera.

terça-feira, outubro 15, 2002

DO PASSADO-PRESENTE

O zerar dívidas, concluir o que vim fazer aqui.
Ando completamente envolvida com o único aspecto realmente importante agora.
Como ouvi outro dia, tire de um espírito rebelde tudo aquilo que ele gosta e ao final acabará rendido. Ainda não entreguei os pontos, apesar dos pesares.
Impressionante como o foco muda, transforma-se, mesmo que seja temporário...
Contudo são reentrâncias que insistem na alma. Aquilo que me acompanha desde que me tomo por gente, ainda que fenômenos tenham sido iniciados ainda na tenra idade. É eu ando meio obcecada com isso.
Hoje parei para observar. Parei para descobrir o porquê da posição no meio do caminho. Não ando pra frente e não retorno. Abraço um pouco, envolvo-me com limites, mas no íntimo não é assim que a coisa toda se processa. A vontade muitas vezes é mergulhar, sem medir nada, simplesmente fazer e pronto. Acontece que isso nem sempre é a melhor saída. Nem sempre a cegueira é positiva, pois a razão sempre pede uma brecha diante de tanta insanidade, feito euforia infantil. Muitas vezes sou assim, menina nos meus gostares, nas antipatias. Não há como frear o ímpeto do coração, só deixa-lo me levar. Talvez ele seja realmente o culpado de tudo...
Ainda bem que ele é assim, ainda bem que sou desse jeito. Ainda que eu passe a vida a buscar algo que não compreendo, mas que sinto em toda a sua plenitude e beleza.

segunda-feira, outubro 14, 2002

O PONTO ZERO



Preciso trabalhar, o computador me fita.
Mas, minha atenção vagueia...volta, retorna, recomeça, pára.
Um suave episódio do acaso, onde palavras são só palavras voando pelos pulsos eletrônicos...
Não traduzem, não explicam, não são sábias. São letras somadas, construindo períodos, orações.
Você ainda está aqui e a madrugada se estendeu até o amanhecer...
Dormi abraçada aos seus sonhos e juntei a eles a minha tristeza.
Comungo das suas dores e sei bem como elas afligem.
Não teimo em esconder a quentura, diferente de você.
Em contrastes, somos parecidos. Negativo-positivo, fundidos em fotolitos que constroem imagens e as tornam reais, impressas.
Antíteses, metades, simbiose em delírios, poesia em estado bruto.
Portas abrindo vida...espelhando finais, nem sempre felizes.
Continuo caminhando feito o louco, o andarilho, uma carta de tarot.
Seguimos direções opostas e ainda assim nos encontramos.
E sei quando pensa. Sinto. Você vem...e por algum motivo que não compreendo se instala outra vez.


domingo, outubro 13, 2002

SENSAÇÕES

O cristalino refletia o dourado solar e a transparência envolvia meu corpo.
No espaço do mergulho ao retornar à superfície, o toque demorado e lânguido do vento estancou o tempo, arrepiando a derme quente, queimada, protegida por um fino tecido, colado, indubitavelmente encharcado.
Num súbito impulso, a brisa imobilizou-me. Lambeu cada reentrância, percorreu toda a extensão, tocou cada recôndito, provocou arrepio seguindo a nuca, a espinha e todos os cabelos existentes.
A pele em erupção, os pelos eriçados, o bico dos seios em pé, prontos a furar o pequeno triângulo, a quentura contrastando com o toque gelado da água. Choque, perturbação, infinitude do instante.


sábado, outubro 12, 2002

DO DIVINO

O dia está glorioso, sol, o céu completamente azul, uma piscina de água natural me esperando...
E você fica olhando aquele monte de verde ao redor, as árvores balançando ao sabor do vento, um ar fresco, apesar do calor que ameaça fazer na serra, e tem absoluta certeza que só alguém muito sublime poderia ter criado algo como o habit que desfrutamos.
Ontem estava comentando sobre a camada de ozônio. Li que ela diminuiu o tamanho, ao invés da previsão alarmista que decretava seu aumento, aconteceu um movimento contrário. Ao invés de um rombo, o tamanho foi reduzido a dois círculos menores. O que acabou por surpreender os cientistas e mostrar que nosso planeta azul ainda têm esperança quanto à sobrevivência de todo ser existente aqui.
E isso é realmente uma coisa que me deixa feliz, saber que apesar de todos os pactos não assinados para a preservação da espécie, algo divino vive acontecendo todos os dias.
Quem tiver olhos que veja.


quinta-feira, outubro 10, 2002

Depois de duas semanas de longo e tenebroso calor de verão, pulando de cerca em cerca, contando com a boa vontade alheia, eis que o bom micro à casa retorna. Talvez agora eu consiga sair dessa aridez sem precedentes, onde o lúdico fugiu e não deixou endereço e a trivialidade instalou-se.
Interessante observar o que toca as pessoas. Receber manifestações no email de que gostam do que lêem aqui, que é bonito e tal. E eu não consigo entender ao certo o que enxergam como belo nesse ar nublado que agrega tudo ao redor.
Ando pequena, oca.
Diferente da grande Analu que esteve por aqui até o fim de setembro. Digo grande não no sentido de proporções e dimensões. Falo de quando se sente elevada e tocada por um belo sentimento, quando a inspiração faz parte das passadas diárias e tudo ganhar proporções especiais...
Talvez só os livros me tragam um pouco desse perfume, essa onda que transporta e eleva...
Fui procurar sobre Bábel. Confesso minha total ignorância diante de determinados temas e assuntos. Para mim Bábel tinha a ver com Torre de Babel o que nada tem a ver com o escritor russo. Coisas do Rubem Fonseca que me levam a pesquisar e aprender.Eu gosto disso. Esse é o sentido. Aprender.
A curiosidade que move meus passos e me faz seguir em frente.
Antes de dormir ontem fiquei um tempão elocubrando, tantas imagens, sensações, nomes e pessoas vagaram por minha tela mental.As palavras mesclavam-se aos sentimentos e tudo demorou a amainar. Uma saraivada de letras conjugadas implodia.
Ricocheteio, ainda não sei que direção tomar...


terça-feira, outubro 08, 2002

O CRIME

Quando estive no site de Ricado Kelmer à procura da frase - "Acredito no fascínio, nas doentias obstinações e nas paixões mais absurdas" - acabei me supreendendo com as idéias que ele vai produzindo. E sublinho o final de "O Crime", pois existe uma imagem que ficou retida na minha mente. Faz parte dos tais desenhos que acabam ficando impressos, como eu falei abaixo, aí no blog. O que uma mulher é capaz de fazer sob o efeito da paixão, ou como ele diz, confusa? Será que todas abririam a blusa porque não se doma o mar?!
Colo o pedaço citado:

"[...]Confesso que mal a conheço mas sei que existem as tentações dos sortilégios. Você tentará se domar, disciplinar, pensará ser mais forte que os ciclos e a força dos mistérios. Tsc, tsc... Não, garota, não se doma o mar. Então nisso é que consistirá o meu crime: você não saberá o que fazer e acabará abrindo a blusa.
Como faria qualquer mulher confusa em seu lugar."


segunda-feira, outubro 07, 2002

ONDAS



Ainda estou sob o embalo da hatha ioga. Quase dormi. O corpo todo serenou. Mas, em determinadas horas imagens apareciam.
Feito fantasma, alma penada, assombração. Quase converso com eles. Os rostos aparecem, sorriem, e eu creio que trocamos impressões.
Alguém me falou sobre a esquizofrenia outro dia. Acontece que não é uma realidade como a que eu vivo. É blue, impreciso, nebuloso.
E essas explicações racionais sempre me fazem rir, justamente porque essas visões, sensações e percepções existem desde menina.
Difícil explicar determinadas coisas para os incrédulos, ateus e os que vêem a vida girar envolta do próprio umbigo, onde o homem é a única razão da existência.
Para toda ação há sempre uma reação. E não é só uma lei instituída. É além.
Feito ondas quando se lança uma pedra num lago sereno. Milhões de círculos se formando, se alargando, produzindo reflexo.
Somos assim. Estamos todos ligados, pela teia, pelo divino, pela física, por essa dimensão, planeta, existência.


domingo, outubro 06, 2002

DAS IMAGENS

Ao lado da cama há vários títulos colocados um encima do outro.
Por semanas consecutivas permaneceram intocáveis, sem que tivesse vontade alguma de abri-los.
Nesses tempos escuros, onde pareço uma agente secreta a perambular por casas e utilizar micros emprestados, estou sempre correndo.
Entro, escrevo, saio. Pergunto se tem alguém em casa. Telefono. Celular, convencional.
Chamam-me viciada. Eu rio, não penso assim. No fundo acaba sendo divertido, justamente porque faz parte das coisas que gosto e de uma forma livre me faz prisioneira e compulsiva.
Não tenho meias-medidas, meias-verdades. Tudo é dessa forma, explosivo, irracional, muitas vezes.
Ontem senti vontade de voltar ao Rubem Fonseca, reabri onde estava marcado e o personagem, um cineasta, anda à voltas com um filme, um assassino de aluguel e várias pedras que valem uma fortuna. No enredo, existe uma mulher, uma não, várias, mas ele estava falando de uma especial ontem. E é curioso a maneira como os homens falam de mulheres ou se referem ao sexo, ao desejo e a própria volúpia. Saem palavras como boceta púrpura. E eu fiquei imaginando uma boceta desta cor. Ele dizia ser irresistível aquela parte do corpo dela.
Indo para Bukowski em seus delírios, ele conta do homem da canoa. E é exatamente essa figura, essa imagem que ele pegou, construiu com tamanha facilidade, que define muito bem os contornos da vagina.
Gosto desses ângulos masculinos. Eu já falei aqui que tenho mais amigos homens que mulheres. E me sinto realmente fascinada por visões, sensações e contextos que fogem ao meu mundo de signos.
E essas imagens ficam retidas. Como outras frases que já citei também por aqui, num texto em alusão à Pessoa e Hilda Hilst.
Não é à toa que ele diz:

"Não pondero sonhos;
Não me sinto inspirado:
Deliro".

Pessoa

sábado, outubro 05, 2002

Em meses e meses desde a sua criação, creio nunca ter ficado tanto tempo sem postar.
Faz parte das tragédias de vírus em micros. É saudável por outro lado. Tenho vivido mais, lido mais, pensado menos em publicações.
Por outro lado sinto falta de acompanhar alguns blogs, os especiais, aqueles que todo dia eu visito, troco e me delicio.
Vamos ver se durante esta semana que entra consigo voltar a dita normalidade virtual.
Do jeito que as coisas vão indo acabo acreditando mesmo que isso é coisa de Inferno Astral.

quinta-feira, outubro 03, 2002

Dia atípico. Ontem foi assim.
Nem consegui dar uma fugida e passar por aqui...
O divertido é que fiz outras promessas...e eu nunca consigo cumpri-las...
Por que não resisto?! Simplesmente, não consigo.
Fazer o que? Viver o agora.
Sim, a vida está lá fora e aqui dentro.
Milhares de santos ontem. Quarto de santo.
Beleza de símbolo representando duas serpentes, novamente Oxumaré.
E a boneca, indicando a criança. Uma sereia. Do mar.
Energia forte, chegou quase a derrubar.
O terceiro olho não aguentou e gemeu. Eu andei pra trás.
Alguém com cara de mau. Adoro isso. Mau.
Exu. Demônios. Vermelho e Preto.
Iemanjá. Oxum. Ouro e jóias.
Sincretismos.

terça-feira, outubro 01, 2002



Aqui chove sem parar. Milhares de pingos na janela.A alma nostálgica, fria.
E parece não ter fim essa sensação. Estórias de amor desfeitas, um amigo me fala da partida durante um café.
Retalhos da existência.




segunda-feira, setembro 30, 2002

Outubro estala nas horas, falta pouco. Particularmente um mês especial, onde sempre as coisas se renovam, dando espaço para mais trezentos e sessenta e cinco dias.
Ainda estou no inferno, mas chegarei ao paraíso, não tenho dúvida.
Vênus com haldo dourado me espiava enquanto eu passeava agora pela noite, andarilha, cigana. O céu completamene possuído por estrelas, Três Marias, Cruzeiro do Sul. Tirando as regiões litorâneas, Petrópolis é uma das cidades onde o céu é realmente azul, anil, iluminado.
A primavera com cara de verão. Fecho setembro.


domingo, setembro 29, 2002

Não teve Panda, AVG e nem Firewall que conseguissem impedir um vírus de detonar meu micro.
E assim, caros amigos e leitores, estarei aqui na medida que o tempo deixar e meu irmão conseguir ficar sossegado em casa.
Impressionante o que essas porcarias são capazes de fazer, não é?!
E sentem um prazer inenarrável em destruir máquinas, mesmo com pitriquilhões de proteções e barreiras...
Se eu fosse um gênio da informática faria algo mais útil do que ficar mandando vírus pras pessoas...
E haja paciência até isso passar.
Deve ser coisa do inferno astral...céus...
E nada como um dia depois do outro.
Saravá.

sexta-feira, setembro 27, 2002

O VELHO, O MENINO E O ESCRITOR

O maldito instiga. O obscuro é aprisionado pela necessidade de luz.
O sinuoso que aos olhos é mais atraente do que a reta.
A oralidade que suspende e faz vício.
O velho brinca e diz: Freud explica.

O menino, por sua vez, viveu demais. Prostituiu-se. Não da maneira como imagina.
Não, não vendeu o corpo na esquina em troca de comida, drogas ou dinheiro.
Ainda não explicou essa parte em detalhes. Talvez não conte.
Revelou o negrume que têm. O vazio que o apoquenta. E a falta de sentido na existência.
Talvez só a chuva no rosto o traga à vida ou a epinefrina diante do suicídio consciente.
Da mesma forma que sobrepõe véus mostra-se límpido.
Sonha, escreve, idealiza, romanceia, aí sim se sente pleno.

A trajetória é editada em palavras.
Um escritor disse certa vez: nem sempre quem faz das palavras ofício é bom amante.
Não deixa de ser um alerta curioso, mesmo que o interesse não seja o sexo.
E sim, palavras. As que seduzem com a força atávica que insiste na alma.
Quando os ideais acabam sendo mais fortes que qualquer encontro físico.
Justamente porque nem sempre o apelo literário corresponde ao que a razão faz diante um do outro.
Na maioria das vezes é melhor não encontrar.
É preferível deixar que as letras agrupem-se em papéis, cartas, que nunca chegaram.
As que o HD salva. Aquelas que confidenciou e não deixou público. As guardadas no baú. As escritas à meia luz, embaixo de um letreiro neon. As digitadas sob o clarão da lua azul, seguindo seu reflexo noir.

É única a sensação de secreto. O fazer ‘arte’. Liberar cavalos selvagens. Tal criança peralta que apronta e se esconde - espreita atrás da porta para ver o circo pegar fogo.
O velho diria novamente: Freud explica.
Eu a vejo nos estados plutonianos, nos códigos e signos que permeiam os sentidos.
No que está nas profundezas e emerge.
Transmigrando os seres, da vida à morte.





POST DELETADO

Entendo tudo, compreendo até as reinações.
Se do feio faço belo, hei de encontrar lirismo até mesmo na escuridão.
Como Hamlet, da tragédia faço alegoria até mesmo para a poesia.

quarta-feira, setembro 25, 2002

DAS ENSEADAS, CLICKS E OBSESSÕES

Aproveito a madrugada para sair por aí explorando outros espaços, é o horário que me sinto melhor.
Como já dizia o poeta, após transformar o pensamento original: “Viver não é necessário, necessário é criar”.
E, é pensando nele que me aventuro por rotas desconhecidas, sendo comandada pela curiosidade ditada pelo clique do mouse. E nessas jornadas paro nas mais diferentes enseadas, e descubro gente interessante, gente informada, gente que fala a minha língua, gente que fala outro idioma e eu bóio. Não, não como um sobrenadante, mas como alguém destituído de familiaridade com o linguajar.
Escarafunchar o Ta na Tela e saber da criação de um novo portal de notícias só sobre blogges, o Tema:Blog.linkado num outro também com o respectivo subject.
Uma espiada no Periplus e me aventurar no 35 mm: só de fotografia, para nós também os amadores, oh yeah! Participar é fácil, é só se cadastrar na page.
Logo que comecei a me familiarizar com esse mundo de blogs conheci o Rogério. E um dos posts que não resisti e capturei lá na porta dele é um pensamento de Ricardo Kelmer, que diz assim:

"acredito no fascínio, nas doentias obstinações e nas paixões mais absurdas".

Eu também.


terça-feira, setembro 24, 2002

DUENDE


Eu vejo um corpo que flui no espaço,
ritmicamente elaborado, sinfonicamente contente.
Livre de correntes perfaz a musica, no passado, no futuro, no presente.
Uma chama, em valsas imperialistas,
Que explode incandescente.
Desliza, serpentina a mão suave pelo rosto,
Tic-tac o negro salto,
É Tocatta & Fuge,
Romeu e Julieta fundidos.
Pés que rodopiam, olhos semicerrados,
Cabelo que brilha na lua banhado.
O violino que geme, marca passo,
A língua que molha o lábio.
Onírica fada que flutua,
Uma fantasia materializada.
Dança, dança no ilimitado!
Peito que arfa num prazer cansado!
Um coração que vibra inflamado!
A sensualidade expelida
Nas pernas, nas costas, nos braços!
Corpo livre, descontrolado,
Expressa ora sofrimento, ora amor desvairado!
Queda livre, no salão revirado,
É você, o rosto suado,
Sorriso iluminado.... duende.

Baum



segunda-feira, setembro 23, 2002

PAPEL CREPOM



São estranhas as partidas, não se sabe onde pôr o pé depois.
Os caminhos se abrem e se fecham num piscar d'olhos.
E o que sempre parece belo, perfeito, se encontra somente nos ideais netunianos.
Coisas de Vênus em Escorpião em trígono com Netuno.
Vai saber o que essa lagoa aquática é capaz de fazer com a razão...
Nem a Astrologia é capaz de dizer e muito menos prever.
E continuo, enredando mais um dia, colhendo as flores de crepom esparramadas pelo chão...
Num cais, num porto, de águas que jorravam desgovernadas pelos céus de São Pedro.
O silêncio é sempre a pior das respostas.

domingo, setembro 22, 2002

PÉGASO

Pégaso abre suas asas sobrevoa meu céu.
Indomável, selvagem, distante da pasmaceira mortal.
Sacode as penas, levanta poeira, rasga o celeste.
Cria estradas no ar, bamboleia nuvens, estabelece rotas.
Pego pela crina, domo, trago-o para mim.
Amazona, em seu rarefeito jato desbravando o firmamento.


Cavalo alado, filho de Poseidon, deus do mar, e da Górgona
Medusa. Pégaso surgiu do interior do pescoço de Medusa quando foi
morta pelo herói Perseu. Pouco depois de seu nascimento, o corcel
mágico bateu os cascos do chão do Monte Helicon e no local brotou uma
fonte, Hipocrene, que mais tarde se tornou sagrada para as Musas e se
acreditou ser uma fonte de inspiração poética.

sexta-feira, setembro 20, 2002

OBJETOS LUMINOSOS

O que parecia ser a janela da noite
São dois olhos
Brilham como dois cristais na escuridão
São faróis

Indo em direção ao vento
E faz o sentimento nos acontecer
Quem é você revelação do prazer

Quem resistiria ver que
Os tais objetos luminosos
São de carne e osso
E vão de encontro ao teu querer conhecer

Se transmite em ondas livres
Sei que qualquer um pode entender
O amor não tem limite

Mas quantas vidas não pode existir
E um homem não possa imaginar
Quantas vezes precisa se perder
Para ver quanto vale encontrar

Beleza a gente sentir
Ondas que estão no ar
Uma pessoa
É a luz que se vê quando quer
Quando quer se capitar

Não importa de onde vem
Esse universo todo é feito pra nós
Quem é você ?
Que chega e traz um bem

Renovados os sinais
Na visão das estrelas supernovas
Como fazem os animais
Na imensidão dos lençóis
Indo à direção do vento
E faz o sentimento nos acontecer
Quem é você ?
Revelação do prazer

Beleza a gente sentir
Ondas que estão no ar
Uma pessoa
É a luz que se vê quando quer
Quando quer se capitar

Não importa de onde vem
Esse universo todo é feito pra nós
Quem é você ?
Que chega e traz um bem

(Beto Guedes, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)

quinta-feira, setembro 19, 2002

O PORTAL



Delícias que tocam a língua e derretem.
Escorrem pelo canto da boca: gulodice de criança.
Piso em algodão, nuvens de cabeça para baixo, sob o céu de asfalto.
Deslizo, suspiro, deliro.
Oral. Da boca, um beijo: abre o portal.


quarta-feira, setembro 18, 2002

BEBENDO ESTRELAS

Reza a lenda que a origem do tim-tim pode estar relacionada ao ato de beber o champanhe. Assim, dizem que houve preocupação em exaltar os cinco sentidos. O primeiro: a visão. Deveria ser belo. E assim caprichou-se na cor, nas bolhas; O segundo: o paladar. Esmerou-se no gosto delicado e ao mesmo tempo original; O terceiro: o tato. Procurou-se um material límpido, o cristal, que não alterasse a temperatura; O olfato: o bouque. Fabricou-se o melhor vinho branco para armazenar o aroma característico da bebida; Contudo faltava a audição. E foi aí que inventaram o brinde, o som estalando de uma taça ao encontrar-se com outra taça. Pronto: o alquímico prazer de beber o champanhe estava completo.
Ainda há uma outra teoria que diz que isso foi instituído na Idade Média quando ao receber um conviva, o dono da casa podia tentar envenená-lo. Para precaver-se da fatalidade, o visitante batia sua pesada caneca contra a outra, respingando a bebida que havia no seu copo no do outro. Se houvesse algo mortal, os dois cairiam duros.

O champanhe teve início no século XVII, através do monge beneditino Dom Pérignon. Este, era responsável pela adega da abadia francesa de Hautvillers, na diocese de Reims, situada em Champagne.
Nessa época viviam rigorosos invernos e com a chegada da primavera, algumas garrafas de vinho da adega começaram a estourar. Dom Pérignon e os vinicultores locais pensaram,como não entendiam o motivo para tal evento, tratar-se de obra do demônio. Contudo, continuaram atentos e observando o fenômeno. Logo descobriram que a mudança de temperatura provocava uma segunda fermentação nos vinhos, formando gás carbônico dentro das garrafas e assim, provocando os estouros. A adega passou a utilizar garrafas mais resistentes e rolhas de cortiça seguras por arame para lacrar o vinho, antes tapados com chapinhas de metal, para permitir que ocorresse a segunda fermentação sem a perda da bebida
Dom Pérignon ao provar a bebida fermentada, teria saído correndo por toda abadia, gritando aos quatro cantos: "Estou bebendo estrelas".


segunda-feira, setembro 16, 2002

AOS BORBOTÕES...

A cabeça flutua, vaga, queda, baila, faz piruetas e malabarismos.
É parte independente do restante dos membros que governam o corpo.
A razão mudou-se e é preciso encontrar seu paradeiro.
A imaginação é salto em queda livre, produzindo epinefrina aos borbotões.

domingo, setembro 15, 2002

A PARTE DOS ANJOS

É curioso o que o site meter do blog consegue registrar durante um curto espaço de tempo.
As buscas mais constantes ainda são as fotos da Débora Secco nua. E eu me pergunto onde é que o google consegue direcionar em meus arquivos alguma coisa relativa a esse assunto. Uma dica para quem procura algo na net: coloque o sinal de soma(+) entre as palavras, conseguirá um resultado mais eficiente.
Essa semana alguém resolveu deixar a pergunta fatídica: o que é lemniscata? Nada a ver com o post do dia, onde eu havia escrito sobre a quarta-feira. O dado inesperado é que a pessoa em questão foi incapaz de se identificar e achou que eu deveria respondê-la. E porque cargas d’água eu deveria respondê-la se ao questionar quem era, não obtive resposta?! Muito estranho alguém chegar até aqui e se travestir de pronome, encobrindo a verdadeira face.
O site meter também assinalou a procura de Casillero del diablo. Pra quem não teve a mesma vontade, é um vinho chileno, encorpado, seco, cujo teor alcoólico é super potente. Embebeda lentamente, sem que se tenha noção do que está havendo, principalmente numa mesa onde a conversa flui espontaneamente.
No primeiro encontro com a bebida, ficamos discutindo o significado da palavra casillero, e surgiram especulações como caseiro, cavaleiro. Nada disso. Procurando no dicionário encontrei a resposta para a dúvida: estante, dividido. Poderia ser interpretado como compartimento, divisão. Como disse uma amiga querida que disponibilizou a alegria ao verter muitas doses da bebida: esse vinho vai pegando, pegando, por isso é infernal.
Pra mim é um elemento a fundir realidades, um apêndice diabólico, e por isso mesmo inebriante.
Ia acabar esse post no parágrafo acima, mas um novo amigo, me mandou um texto que complementa antagonicamente esse elemento de Dioniso: “Já me falaram que os barris, ao mesmo tempo em que emprestam o sabor ao vinho, perdem uma parte dele que atravessa a parede de madeira e evapora no ar. Os franceses chamam isso de 'a parte dos anjos' ".


sábado, setembro 14, 2002

COMPARTILHO A JANELA

Tem algo invisível que envolve e fascina.
Continuo sem saber o que é.
Não diagnostico o que sinto e muito menos as idéias obsessivas.
Por que será que no meio do turbilhão encontro sempre paz nas palavras proferidas, até nas mais secas, que como tinto rascante, desce lanhando a alma?
Rendo-me a um bom sentimento cujo motivo desconheço.
Já cheguei a conclusão que não é racional. Desisti de tentar achar respostas.
Cansei de tentar entender. Relaxo. Respiro mais fundo, deixo que entre e dilua qualquer discernimento.
Não espere de mim sensatez nas coisas que digo, pois partem como raio, tempestuando alicerces. Vaza como sangue, escorrendo das entranhas, pingando pelos quatro cantos, sem que nada consiga estancar.
A janela do monitor compartilha das minhas sandices, os seus olhos aqui me acompanham, navegam nesse céu cibernético: separo nova folha branca, sem pauta, para amanhã.



quinta-feira, setembro 12, 2002

ANIVERSARIANTE



Além das qualidades explícitas, hoje descobri mais uma faceta dele: fotógrafo.
Vejam se essa foto aí encima não é digna de alguém profissional?! Ele comemora agora um ano de blog e mudou completamente visual de seu pedaço: clean, light, convidativo.
Vale a pena verificar como está bonita a casa branca e arejada dele, parece realmente que estamos à beira mar...em uma rede balançando, sem pressa, enquanto o corpo descansa do sol, da água salgada...visualizando o paraíso de Iemanjá. Não resisti e peguei outras fotos lindas que estão .


A CASA DOS SETE ERROS



O dia teve um toque diferente com a ligação inesperada de uma amiga querida que não via há muito tempo. Irmã por empréstimo da vida, amiga de dividir canções, lágrimas e muita viola quando a gente ainda aprendia a ser grande. Quando meninas brincavam ainda de ser mulher.
Pois, então, ela ligou e passou aqui. Fomos tomar um chopp à tarde, Petrópolis estava amena com o tipo de clima que convida a não ter pressa, um vento gostoso que fazia acrobacia com folhas, com os cabelos da gente. Decidimos, apesar do horário ainda cedo, dar um pulo na casa de chá da Casa dos Sete Erros, agora conhecida como Casa de Cultura de Petrópolis. Um espaço centenário que virou local de visitação e que oferece uma série de atividades durante toda a semana, desde exposições itinerantes até show e jantar aos sábados pela madrugada.
A primeira vez que estive lá ainda estava abandonada, pertence à família Rocha Miranda, uma das mais tradicionais da cidade e eu lembro de ter bebido um pouco de vinho e andado de bicicleta pelo jardim quando já passava das duas da manhã. Recordo, perfeitamente, debruçada numa das janelas e o Celso gritando: cuidado, Ana, você vai despencar daí, essa madeira tem mais de cem anos. E na minha incursão pela casa, visitei uma capela repleta de morcegos. Foi uma noite engraçada e divertida. Perambulei por um salão onde havia uma mesa antiga, de madeira pesada, parecia da távola redonda do rei Arthur. Num outro ambiente, menor, havia espelhos de cristal, cortinas velhas, poídas, e eu imaginei um sarau, coisa mesmo antiga, quando mulheres vestiam longos e os cavalheiros as tiravam pra dançar.
Bem, mas voltando ao presente, eu ainda não tinha tido a oportunidade de visitar a casa que abrigava os cavalos e que passou a ser de chá. Está um luxo, toda rústica, aproveitaram a divisão das baias e fizeram mesas maiores, compridas, reunindo maior número de convivas. Bebemos nosso chopp numa mesinha menor, simples, onde podia se ver os raios do sol batendo nas flores e árvores que enfeitam o lugar.
Conversamos, rimos, tiramos fotos. Vamos ver se ela me manda quando revelar e chegar à Brasília. Me convidou para ficar uns tempos por lá. Não sei, quem sabe...
A quarta-feira foi assim, deliciosa.

quarta-feira, setembro 11, 2002

VOMITADO

Ontem fiz um juramento repetido três vezes, como em alguns encantamentos mágicos.. Vamos ver se me mantenho fiel ao que prometi.Se consigo estar menos envolvida em situações que não me deixem à mercê da linha de fogo.
Quero escrever aqui como era no início.
Estava revendo os arquivos antigos e algo mudou mesmo. Os primeiros posts de janeiro - os que eu falei de Cássia Eller, a boca da Angelina Jolie, e já sumiram do arquivo do blog -, quando ninguém praticamente lia o Lemniscata, tinham mais da minha essência, continham a espontaneidade que marca minha ação. Por conta dos próximos leitores que foram chegando, aquilo tudo que eu ia dizendo foi aos poucos sendo polido por uma escrita mais racional e menos impulsiva.
Quero poder soltar meus cabelos longos e sacodi-los ao vento. Pegar a saia de retalhos e seguir como andarilha sem eira e nem beira, comungando com a amplidão da incerteza que rasga os próximos passos. Quero poder escrever da maneira que me der na cabeça. Quero expressar meu descontentamento e minha alegria. Talvez, o aspecto catártico, o que me fez largar as listas e vir para cá, tenha se perdido. Espero me reencontrar no meio disso tudo.