terça-feira, dezembro 30, 2003

2004

Chegamos enfim a mais uma enseada.
Aquela de margens rasas e azuis que diluem o sol a pino.
Um barco e um cais. Uma chegada e quem sabe uma partida breve.
O Natal ficou para trás, como acho que deve sempre ficar.
Não gosto, nunca gostei e acho que sempre será desse jeito.
Nada de exageros e comilanças. Pelo contrário.
Passarinho ciscando aqui e ali, no fundo prova de tudo.
Degustação, prefiro assim.
Pessoas queridas e cuidados, presentes e carinhos.
Bola verde a divertir o 25 passado. Falei dele no comentário do solstício.
Um pouco de vinho, um bocado de chope com os amigos esses dias.
Churrasco, confraternização, rodízio de pizzas, reuniões e comemorações.
Não consegui ficar quieta, não tive tempo para lamentos, só para o riso.
Casa só minha, cão-filhote a fazer travessuras, periquitos e milho alvo.
Jabotis que saem ao calor do astro rei: na boca alface e pão com leite.
O Ano Novo se aproxima, sempre prelúdio, a certeza na esperança.
Desejo de ir além, de construir e solidificar essa trajetória espiritual.
A tarde avança, quente, o verde ainda mais verde.
Não sei se vou com essa cor ou se volto ao tradicional branco.
As cores e seus símbolos. Por baixo, rosa.
Crendices que povoam o imaginário, o meu e o seu.
Alguns nem aí.
Se tudo fosse igual qual seria a graça?
A você que lança redes ao mar um 2004 de muita fartura e felicidade.




quinta-feira, dezembro 25, 2003

SOLSTÍCIO

O solstício de verão no hemisfério sul ocorre entre os dias 21 e 23 de
dezembro, pelo calendário gregoriano. É quando o Pai Sol, a energia solar
que começou sua ascenção no Solstício de Inverno em Junho, está no seu
apogeu e começa gradativamente a se recolher, dando espaço para que a
energia feminina da Mãe Terra cresça.

Embora seja também um evento cósmico, astrológico, as várias culturas
nativas reverenciam estas passagens como momentos sagrados, onde a roda da
vida mostra seus movimentos, lembrando-nos dos ciclos externos e internos do
nascer, crescer, morrer e transformar.

Enquanto celebramos este momento no hemisfério sul, de força do nascer do
feminino, nossos irmãos do hemisfério norte reverenciam a chegada do
masculino, através do Solstício de Inverno, do nascer da energia e força do
Pai Sol. É belo observar esta harmonia entre os hemisférios, manifestando-se
em um mesmo momento nesta dança entre o masculino e o feminino sobre a face
da Terra.

sexta-feira, dezembro 19, 2003

SALADA DE FRUTAS

Uva verde, metade.
Maçã aos quadradinhos.
Morango em rodelas.
Banana também.
Melão em bolinhas.
Manga doce feito mel.
Laranja pêra, o suco.
Laranja lima, gomos.
Bonito aos olhos.
Melhor ainda ao paladar.
A primeira a gente nunca esquece.


terça-feira, dezembro 16, 2003

FILHO PRÓDIGO

Meus pais viajam amanhã.
Já, já, hoje. É só uma questão de minutos.
Vão passar o Natal no Paraná.
Depois de dez anos o reencontro com meu irmão.
O filhão, como sempre disse minha mãe.
O do meio, o mais caseiro, o mais amoroso.
Eu e o caçula sempre fomos os rebeldes,
Os rueiros, as ovelhas negras.
O que acontece são esses episódios estranhos.
Onde o filho mais querido se rebela, rompe.
Passaram-se anos sem notícia alguma.
Por causa da guria o contato retornou.
Queria porque queria conhecer os avós.
E lá vão eles pelo Tom Jobim, cedinho.
É como diz a parábola, o retorno do filho pródigo.
Espero que seja um momento muito bom para todos,
Para retomar de fato o convívio e ele possa se intensificar ao longo de 2004.

sábado, dezembro 13, 2003

PRESENTE

A semana aconteceu em sucessão, ininterruptamente.
Nada pôde ser controlado ou administrado à medida que cada dia avançava.
Fiquei disposta e a postos, acompanhando o frenesi do agora.
O micro foi pro estaleiro mais uma vez. Esses anti-vírus são um grande engodo.
Deve existir uma máfia, uma confraria entre os que consertam as máquinas e os
que criam os destruidores programas. Estou certa disso.
Enquanto isso, aproveitei para ver mais filmes, ler também, derrubar a pilha de livros
que estava ao lado da cama. Foi bom.
Toda parada tem um sentido especial.
A começar pelas promessas que a gente mesmo faz. E eu as fiz.
Não quero mais vasculhar o passado e nem me ater a ele.
Que siga feliz pela nova estrada e viva o amor para sempre.
Ainda que as juras se repitam a outra pessoa.
As pessoas vivem se repetindo.
Eu seguirei pela minha estrada fraterna.
Cheia de possibilidades e perspectivas que se abrem à medida que avanço.
A trajetória agora se faz mais clara.
Dizem que há males que vem para o bem.
Acho que é assim mesmo.
Eu. Presente.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

AOS FILHOS DE LIBRA

Era de libra como a lua vista assim é de cor de sal
era de libra como a luz das sete estrelas
forma algum sinal
era de libra quando dá um passo atrás
pra caminhar legal
era a balança universal
era harmonia como o ritmo da vida e o carnaval
era de libra como a brisa quando passa
e ondula o trigal
mas tinha medo de saber que o jogo da verdade
era fatal
era a balança universal
era de libra e amava a paz e a justiça natural
era de libra pra poder unir a idéia
ao seu material
o simbolismo da figura da mulher
paixão arterial
era a balança universal
era de libra como a valsa, o antigo Egito e afinal
era de libra e tem a crença da beleza
e do encanto geral
a natureza da firmeza e oscilação
a simpatia e tal
era a balança universal

(Oswaldo Montenegro)


quinta-feira, dezembro 04, 2003

RUSSO

Renato está cantando.
Impregnando poesia e desarvorando um pedaço de passado.
Um toque de menina, um canto adolescente, um raro começo de vida.
Quando de repente se abre a janela e Oxumaré risca arco-íris.
Tinge de pastel a existência, põe mais azul na rotina.
Ainda que o vermelho escorra pela face em corações desfeitos.
Partidos só no término de algo que não engrenou.
Lembranças e mais recordações, o tal livro que escrevemos dia a dia.
Volto o olhar para o presente, têm fog no clima.
O verde meio camuflado, escondido atrás da fumaça branca e pálida.
Russo, está assim lá fora.
Um dia dei um livro dele a uma paixão.
Dedicatória, a história dizia que devíamos amar como se não houvesse amanhã.
Renato Russo diz: “sou uma gota d’água, sou um grão de areia”.
Sim, faço parte do todo. Ainda que o estudo tente me levar à razão, à perfeição.
Muitas vezes escrevo, escrevo, escrevo e nada faz muito sentido.
E pra que sentido agora?
Não precisa, não vai adiante.
A vida é tão efêmera, as palavras também.
E pra que tanta pressa? Será que ainda dá tempo?
Tomara que dê.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

DEZEMBRO

Chegamos aos últimos trinta dias do calendário.
O de hoje, gregoriano, não vou somar.
Em breve o ano novo eclode.
É só esperar mais um pouco e no céu riscarão fogos.
Os que criam desenhos artificiais e embebedam os ouvidos.
Estrondos e estrelas competem com o colorido noturno.
Sinto-me leve, especialmente no Réveillon, ainda que seja só uma data.
E o meu, verdadeiro, tenha acontecido em outubro.
Hoje, agora, é mais um período, mais trinta dias de festa.
Que o Natal venha, não como mais um.
Que traga o sentido maior do que comidas e presentes.
Revelando a espiral, do eterno recomeçar, com o fim de ano.

sexta-feira, novembro 28, 2003

CIGANO

Tudo que ele toca é ouro.
Do violão ao sax, o som, a melodia, os acordes.
Das partituras e rimas produz frisson, empatia.
Do jeito natureba e budista, encantamento.
Não olha, não encara, não dá chance.
Nem bilhetes e nem ligações surtiram efeito.
Se o que foi feito fosse ruim até daria para entender.
E não foi. Ou será que foi e não me dei conta afinal?
Só sei que barbudo, com costeletas, ainda assim fica com cara de cigano.
O pequeno brinco na orelha compõe. Se pusesse um lenço vermelho ficaria perfeito.
Gostaria de não olhar e não sentir.
Gostaria que tudo voltasse ao que era antes.
Quem sabe um dia ele me dá a chance de falar?
Quem sabe um dia...



terça-feira, novembro 25, 2003

A CHUVA LÁ FORA...

Depois de uma torrente calorenta e ensolarada, ela chega.
Mansa, sem ruídos, apenas num ensaio encharcando a terra.
Trovão nem pensar, relâmpagos ao longe, nem barulho faz.
Aclara a comunicação interrompida por dois dias consecutivos.
Fibra ótica dando lugar a velha fiação.
A tele que domina é mar.
E eu aqui à mercê da chuva, da que cai e refresca.
Dos homens lutando contra o tempo, embaixo do guarda-chuva.
Fazem promessa e garantem que de hoje não passa.
E não é que deram um jeito?
A água continua descendo do céu e a linha consertou.
Aqui estou.


sábado, novembro 22, 2003

ESQUINA

Quantos adeuses ainda existirão pela frente?
Quantas saudades ainda somarão dentro do peito?
Quantos deuses divisarão os mundos,
tal a pluralidade de estágios e planetas?
O dia cinza, eu também.
Neutralidade e nostalgia se fundem.
Tantas promessas faço para em seguida pô-las a nocaute.
Se pudesse controlar a vida seria muito bom.
Mas por mais que eu lute contra o senhor imponderável, ele
sempre consegue driblar minhas estratégias e derrubar minhas mais potentes milícias.
No espiral da existência, a escada em caracol perfaz um antigo caminho.
Eu sigo por essa calçada nua e caminho por entre as folhas secas e amareladas que lotam o chão.
O vento é meu único companheiro, além das nuvens escuras que telham o céu.
Adiante atravesso um cruzamento, vejo os luminosos e apelos comerciais.
Na próxima esquina não sei que virá.

quarta-feira, novembro 19, 2003

DILATAÇÃO

A eclíptica reproduz o movimento.
As mil mãos se dirigindo de um ponto a outro.
Num portal, uma vez em lua cheia, aconteceu.
Levou testemunhas, dividiu a descoberta.
Perceberam a vibração.
Um aceno a outra dimensão, um cumprimento amigo.
Druidas enfileirados manchavam de branco a floresta escura.
Hoje, a energia se esparge produzindo uma visão além,
nessa tela clara e cinzenta do programa.
Adiante do que os olhos físicos vêem.
Visão terceira que se alarga e se expande,
alastrando a percepção e os dons.

domingo, novembro 16, 2003

GRAVIDEZ

Às vezes retorno a comentários que foram ditos e não assimilados.
Não sei se todo mundo é assim.
A pessoa diz, você escuta, mas lá no íntimo a coisa parece precisar de um empurrão.
Fica flutuando em algum canto da memória e não se desfaz.
Hoje, vendo uma fotografia, a ficha parece que realmente caiu.
Alguém termina o relacionamento com outro alguém.
Um deles vai sofrer na maioria das vezes, se há amor ainda.
O outro, imediatamente, recorre a um novo parceiro.
Dizem que esse estado é de gravidez.
“Normalmente os homens ao terminar um longo relacionamento ficam instantaneamente grávidos.
Tão barrigudos diante da solidão que querem logo casar”.
Foi isso que um amigo me falou ao término do namoro. Na hora compreendi, mas não absorvi.
Ele vai se casar e eu espero que seja feliz.


quarta-feira, novembro 12, 2003

VÔO

Os sons tantas vezes nos arremessam a outra linha.
Aquela que faz parte do horizonte e parece infinita.
A mesma que vejo da beira da praia, quando paro para ver o sol se pôr.
A música me dá asas, tal Ícaro, mas diferente dele, não derretem a cera.
Na amplidão do ar salgado, o que impregna e transporta,
nesse vôo de asas abertas, braços também, e alma liberta, vejo
um sol despencando no horizonte, ainda que os raios aqueçam a fronte
e o vento acaricie com sua delicadeza.
Nesse tênue espaço entre o que miro e o que sacode a alma por dentro,
passo a compor o mosaico, o quadro, da tela mental que vive em meu íntimo, no âmago do ser.
E nesse encontro, me vejo como sou.

sábado, novembro 08, 2003

NOVEMBRO

A semana voou tal como folhas que se desprendem das árvores e
colorem o chão com seus tons.
Hoje, talvez possa equilibrar os hemisférios, a luz e a sombra.
Atingiremos o eclipse total, onde a Lua que estará na cheia será coberta com um manto negro.
Por instantes somente as estrelas divisarão pontos claros no espaço.
O celeste se perpetuará negro pela madrugada.
Quem sabe a aura de Escorpião tenha tatuado seu astral.
Das cinzas que se esvaem para um novo nascer luminoso.
Novembro chega e traz seus fabulosos eventos.
Abro mais trinta trinta dias e a vida continua...



terça-feira, novembro 04, 2003

DOS DESERTOS

Ela sempre aproveita as letras que escorrem por essa página, nem sempre tão inspiradas e muitas vezes insipientes, desprovidas de sentido, caminhante como eu, errante e às vezes marginal. Atualizou o Letra de Corpo com um dos meus muitos desertos, dos tantos que já estiveram figurando por aqui...
Letra D, de destino, derradeiro, descaso, deboche,desritmo, despropósito, depósito, damasco, dedão, dízimo, deidade, dali, de cá e de lá.


sexta-feira, outubro 31, 2003

BELTANE

Hoje, comemora-se Beltane e podemos dizer que o amor está no ar.
É o Sabá da Fertilidade, da união que deu origem a todas as coisas do Universo.
Esse é o momento do ano em que a Terra se aquece no gentil abraço de calor do Sol.
Beltane ocorre no dia 1º de maio no hemisfério Norte e no dia 31 de outubro no hemisfério Sul, ou seja, para nós o ápice da primavera.
O Deus se apaixona pela Deusa - que é representada pela Donzela, também conhecida como "Rainha de Maio"(no hemisfério Norte) - e nessa festa copulam.
Pode ser representado através do átame introduzido no cálice ou caldeirão, símbolo masculino e feminino, respectivamente.
Para celebrar tal rito, deve-se acender duas fogueiras e passar entre elas para se livrar de todas as energias negativas. Nos tempos antigos, costumava-se atravessar os animais pequenos e de grande porte entre as fogueiras com a mesma finalidade. Daí advém o costume de "pular a fogueira" nas festas juninas. Cada família levava brasas desse fogo para sua casa. Carregando as brasas do fogo sagrado e acendendo o fogo doméstico, as pessoas compartilhavam do divino, representando uma bênção de esperança para um verão próspero e fértil, com uma colheita abundante.
Um dos símbolos de Beltane é o Maypole ou Mastro de Fitas. Trata-se de um mastro enfeitado com fitas coloridas. Durante o ritual, cada membro escolhe uma fita e devem girar trançando as fitas, como se estivessem tecendo seu próprio destino, colocando-se sob a proteção dos Deuses.





terça-feira, outubro 28, 2003

DESDOBRAMENTOS

Ontem ganhei mais um presente pelo aniversário.
Nunca é tarde para tal e é sempre mais gostoso ser surpreendida.
Um disco de músicas francesas. Sim, eu continuo estudando a língua.
Chama-se Gilbert D’amour, já tinha ouvido algumas canções na sua voz,
inclusive na Aliança.

Nos últimos dias descobri que a Lemniscata pode ser reproduzida pela
variação solar, numa eclíptica igual ao oito. Um libriano, curioso, tal
como eu, andou fazendo o favor de escarafunchar para mim -
O sol fotografado sempre à mesma hora em diferentes dias ao longo de um ano.
O nome para tal fenômeno é Analemna, Ana-Lemna.
Segundo meu fiel escudeiro, em sua pesquisa acerca da Ana Lemma, a grafia para tal evento pode ser
expressa como: analema, analemma, analemna.
Quando origina-se do grego o m aparece dobrado, Lemma; quando advém
do latim aparece, lemna. (lemniscata do Lat. lemniscata < Gr. lêmmískos, fita).


Um homônimo do meu amigo publicitário, Sandro Lobo, apareceu em minha caixa postal.
Baiano, coleguinha, expliquei sobre a origem do sobrenome Lobo. Absorções acadêmicas.
Situações essas que fazem parte dos dias em que fico calada por aqui, desdobramentos de
palavras, informações, trocas e sentimentos.

sexta-feira, outubro 24, 2003

A NOITE E A LEMNISCATA

A título de curiosidade vale pelo sincronismo entre a noite e a lemniscata.
O que uma percepção é capaz de descobrir ao comparar, de uma forma bem generosa, os significados
das palavras e as possibilidades das mesmas dentro de um contexto.
Não deve ter sido à toa que Ziraldo, além de excelente quadrinista, mandou assim:

"Em todos os idiomas europeus, a palavra NOITE é formada pela letra N + o número 8.
A letra N é o símbolo matemático de infinito e o 8 deitado também simboliza isso
Ou seja, noite significa, em todas as línguas, a união do infinito.

Português: noite = n + oito
Inglês: night = n + eight
Alemão: nacht = n + acht
Espanhol: noche = n + ocho
Francês: nuit = n + huit
Italiano : notte = n + otto".


Será por isso que existem tantos notívagos de plantão, tal como eu?

segunda-feira, outubro 20, 2003

XAMÃ

Fomos a uma festa de índio. Que de índio nada tinha.
Um pouco de cerva, um pouco de música anos oitenta, um resto de balada do agora.
A cidade nebulosa, como só ela sabe ser.
As ruas vazias, um frio estranho para uma primavera com cara de verão.
Narro uma linda estória de amor. Alguém que amou alguém no primeiro encontro, no primeiro beijo trocado.
Noites regadas a Dioniso, uma canga esparramada, enquanto as rendas de Iemanjá quebravam na areia.
Pés desnudos, corações abertos. Num contato, num sorriso, o amor.
Contei a história, história porque faz parte da minha história.
Alguém me disse que não existe mais história sem o 'h'.
Que seja.
A minha, poética, sempre haverá espaços para mais.
Que seja assim, que assim seja.

sexta-feira, outubro 17, 2003

REVOLUÇÃO SOLAR



Acompanho o rastro de perfume e a suavidade de borboletas. Devaneios, volitando em estado ainda letárgico, mas pronta para os próximos trezentos e sessenta e cinco dias do Ano Novo que hoje começa para mim. Revolução Solar dirigida pelos espíritos do vento, imortalizando a delicadeza e a vontade de seguir em frente, cheia de vida.Renasço em mais uma primavera.

segunda-feira, outubro 13, 2003

Ela me disse: ' Aninha, você tem que aprender a pecar sem mim' .
E assim, sua visita trouxe um tanto de vida que me desvirtua de algo que tenho trilhado, mas me faz viva, inteira, um pouco mais humana e próxima daquilo que esperam e crêem de hominal.
Ele disse no carro: ' estar com você é estar com Deus' , como se minha presença os livrasse de todos os males, como se um impulso de bem interrompesse o fluxo do mal, ou das coisas ditas dos homens. Como se houvesse em mim um tanto de celeste. Quem sabe tem e eu nao me dei conta afinal?
Ela continou o discurso: 'você reza mais que nós' . E mal sabe que nem rezo tanto. Por muito tempo me livrei de todo tipo de contato com o divino. O assédio era tal que impedia que eu me lançasse nesse mar de fluidos altos e puros.
Hoje, bebemos umas e outras, traguei e impregnei meu pulmão de cigarro. Coisa que não faço faz tempo.
Mas, a grande graça, o maior sentido disso tudo é isso: brincar com fogo!
Estou viva. Mais do que nunca.
Com anjos, santos e todo tipo de legião que me acompanha.

quinta-feira, outubro 09, 2003

MOSH!

Meu amigo Sandro Lobo, publicitário e fanático por quadrinhos, lança neste domingo, dia 12, às 20 horas na Cobal do Humaitá, a revista MOSH!. Abaixo, o release que ele mesmo preparou para quem quiser saber um pouco mais de sua nova criação:

A revista MOSH! acaba de mergulhar no mundo do rock, cheia de quadrinhos. A MOSH! é uma revista de histórias em quadrinhos, onde todas as histórias se passam no cenário da música independente nacional, tendo como personagens figuras que transitam no meio, muita birita, night, sexo e todo tipo de tosqueira.

No primeiro número, são descabaçados (os ainda não publicados) os desenhistas Vinicios Mitchell e Fábio Monstro (recém-importado da Zona Franca de Manaus). Conta também com a "Menina Infinito", çriação do fanzineiro reformado Fabio Lyra, além do traço sujo de Renato Lima que, junto com S. Lobo, edita a MOSH! Traz também uma entrevista com os AUTORAMAS, que estão lançando seu novo CD "Nada pode parar os Autoramas". E a coluna "Comic Riffs", assinada pelo músico e jornalista especializado em quadrinhos, Heitor Pitombo, comentando outras publicações desenhadas sob os acordes do Rock.

A revista, com distribuição alternativa, vai ser vendida em casas noturnas, shows, festas, estúdios e eventos de tatuagem, lojas de música, etc. E para a MOSH! não virar um elefante branco durante o show, tem formato de bolso. No Rio de Janeiro, já pode ser encontrada nos seguintes pontos: Bunker, Snake Pit, Baratos da Ribeiro, Navena Musik, O Bolacheiro, Point HQ, Cavídeo, Gibimania e Metróplis ou pelo e-mail moshlobo@yahoo.com.br

Durante o lançamento será feito um pocket show das bandas Tibone e Jimi James. O lançamento vai ser na Cavídeo, a MOSH! tem 32 páginas e custa 3 reais, o preço de uma cerveja.

segunda-feira, outubro 06, 2003

LAUTREC



Tenho uma francesa pendurada na parede.
Lá no quarto ela me fita, todas as manhãs ao abrir os olhos.
Fez como eu gostaria que tivesse sido: chapéu, penacho, jabour, olhos penetrantes.
Uma das muitas mulheres retratadas por ele.
Caricato, debochado, um apaixonado.
Da alma inquieta e das cores que figuravam liberdade,
nasceu em Alby, um mestre.
O tracejado rápido aprendeu com Van Gogh e com Degas as luzes e sombras.
Nas aquarelas, litografias, guaches o tanto de arte, boemia e vida.
No espírito que divisa outros planos, a beleza do ser é o que o faz seguir adiante.

sexta-feira, outubro 03, 2003

OUTUBRO



É de Libra.
A balança universal, a busca pelo equilíbrio.
Da mente analítica e do julgamento, a justiça sempre presente.
Zela para que ninguém saia ferido ou maculado.
Das metades que se unem pelo pêndulo,
encontrar o meio termo é sempre um árduo trabalho.
Busca na forma solta e alegre a convivência harmônica.
No rosto as covinhas características, se não estão aí, os joelhos denunciam sempre.
Signo que tem como mito Tirésias. O cego, o sábio. A visão interior.
Conta a lenda que era protegido da Deusa Hera.
Uma vez no Olimpo presenciou um ato divino: a cópula de uma cobra macho e uma cobra fêmea.
Curioso, perguntou a Hera quem sentia mais prazer - o homem ou a mulher.
Hera, sem saber a resposta, levou a questão a Zeus.
Zeus permitiu que Tirésias experimentasse ser mulher por um determinado tempo.
Passado o período, voltou a forma masculina.
Diante de Zeus e de Hera, o Deus do Olimpo perguntou: quem sente mais prazer, o homem ou a mulher?
Tirésias, sem querer deixou escapar que quem sentia mais prazer era a mulher.
Zeus, furioso, cegou-o.
Dessa essência que conhece os dois lados está o signo de Libra, capaz de compreender como poucos, naturezas tão díspares.
Regido por Vênus, deusa da beleza e do prazer.
Nascer sob sua égide é um privilégio.
E que venha Outubro e leve embora o inferno astral de agora...

terça-feira, setembro 30, 2003

A NOITE DE ONTEM

Ultrapassei a barreira das proteções e me lancei no mais profundo do ser.
O que transcende ao sexo, aos padrões e a tudo que conhecemos nessa esfera.
No toque uma energia tamanha, do tamanho do mais puro amor.
Aquele que vive retesado dentro de cada um e que se dirige apenas ao estado físico.
Me refiro ao amor amigo, o fraterno, o descabido de interesses e propostas mundanas.
Tudo por conta de Karroiz que sentenciou: "não tenham vergonha de dizer o quanto gostam de alguém, aproveitem a oportundade e se abracem".
E foi através de um abraço espontâneo e verdadeiro que selei meu carinho.
Ainda que ela não tenha compreendido a extensão da minha dificuldade, tendo em vista as proteções que vamos ao longo da jornada colocando à frente e nos tornando impenetráveis.
Por conta do cuidado com a idolatria e todo tipo de fanatismo.
Naquele abraço, naquele desabafo, no querer confessado,
destravei as comportas. Da alma jorraram lágrimas.
Não de tristeza ou amargura. Choro de alegria, de libertação.
De uma maneira inusitada larguei as algemas que me prendiam a um passado dorido.
Da noite de ontem ficou o registro: flores, rosas e amizade.

sábado, setembro 27, 2003

RECORTE DO BAÚ

A loucura pode ser a própria serenidade,
na magia eterna de nossas essências.
Perdidas entre magos, bruxos, feiticeiras...

Nos essênios, a essência.
No ser, a própria leveza é insustentável.
E insustentável é não podermos encarar o mundo,
a vida, e a própria loucura!

A minha loucura é saber o ser...o teu ser.
Saber que você foi minha louca inspiração,
minha musa oculta, minha louca feiticeira,
na magia eterna de viver.

E viver é amar.
E por amar, viver, sentir,
digo algo que nunca tive coragem de confessar:
te amei um dia, como amante, amiga, confidente.
Hoje, te amo pela tua essência.

José Carlos de Almeida Filho

quarta-feira, setembro 24, 2003

CALMARIA

A brisa da manhã é fresca e suave.
Tal como o trinado da cambaxirra.
Por perto sabiá laranjeira e azulão.
O Sol enfraquecido, diluído pela estação.
O verde tocado pelo amarelo, produzindo outras colorações.
O céu, deserto de nuvens.
O azul é translúcido, quase bebê.
O dia é de calmaria,
um frescor diferente, serenidade nos pensamentos,
afinação com a vida.

domingo, setembro 21, 2003

OSTARA

Hoje comemoramos o primeiro dia de primavera, quando as energias da natureza desabrocham de forma exuberante. É o tempo em que a Deusa envolve a Terra com seu manto fértil e o Deus Cornífero vivencia sua maturidade. No período de Ostara, noites e dias são iguais e tanto o Deus como a Deusa impelem os animais selvagens à reprodução. É o tempo em que vivenciamos o começo enquanto ação que nos leva a novos acontecimentos.

Pela primeira vez no ano o dia e a noite se fazem iguais. É portanto, uma data de equilíbrio e reflexão. Os dias escuros se vão, e a Terra está pronta para ser ceifada. É quando o Deus e Deusa se apaixonam, e deixam de ser mãe e filho. Nessa data, a semente da vida e é semeada no ventre da Deusa, A Donzela revigorada e cheia de alegria. O Deus sai do mundo das trevas para que a luz volte a reinar. Ostara é o Festival em homenagem à Deusa Oster, senhora da Fertilidade, cujo símbolo é o coelho. Foi desse antigo festival que teve origem a Páscoa. Os membros do Coven usam grinaldas, e o altar deve ser enfeitado com flores da época. É um costume muito antigo colocar ovos pintados no altar. Eles simbolizam a fecundidade e a renovação.



sexta-feira, setembro 19, 2003

MISSIVA

No rufar da primavera, a brisa fresca e calmante nos toca e acarinha. Tal como olhos que encontram outros olhos e redescobrem-se de outras existências.
E desse encontro e dessa energia nasceu uma linda flor. Delicada e singela, forte e verdadeira. Assim como a amizade que parece perene por séculos.
Coisa de almas afins, almas irmãs.
Na beleza de mais um dia de existência posso dizer que mais um presente ganhei. Ganhei a oportunidade de novamente reencontrá-la e viver momentos como esse.
Feliz aniversário é pouco. Feliz eternidade talvez seja um começo para dizer e expressar da alegria e da riqueza de poder desfrutar de tão especial presença.
Sua amizade, seu carinho, me fazem melhor, me fazem acreditar que ando pela trilha certa, ainda que às vezes pegue atalhos duvidosos e efêmeros.
Um beijo, um carinho, meus melhores sentimentos e as minhas verdadeiras intenções de felicidade por mais essa primavera compartilhada.

terça-feira, setembro 16, 2003

VENICE



As idéias obsessivas não dão trégua, talvez porque não tenho tido pena de ninguém.
É um estar apático e distante de lágrimas. Um despudoramento em viver.
Uma falta de ótica que leva o ser a um quase desértico estado.
Areias, dunas, o fim que não há.
Veneza reaparece quase derretida pelas tintas do pintor.
A imagem retrata beleza, mas cá dentro imagino a tristeza daqui há 97 anos.
Cientistas decretaram sua morte, hoje, no matutino. E, pelas previsões alarmistas, não há barragem que afugente as águas.
Será uma inundação catastrófica, não chegando aos pés da pequena enchente que tomou a cidade em 1966.
Revivi o carnaval de máscaras em a Liga Extrordinária no domingo, senti uma ponta de saudade.
É algo que a alma clama e o ser entende. Esquece-se o sentido da razão e lança-se no emaranhado de pontos de interrogação.
E para a crítica que desceu o pau, falou muito mal, eu viajei no Dorian Gray talvez pelos pactos e retratos que invalidam o fim.
Allan Quatermain e suas caçadas a esmeraldas ao lado da super Sharon, Stone é pouco.
Nada que um domingo de fog não cure com imaginação, exagero e muita mentira.
A Cidade das Águas na virada do século no telão, na tinta escura do jornal e aí acima em pinceladas a óleo.

sexta-feira, setembro 12, 2003

Para a pergunta que ficou nos comments do post Contadores de Histórias, para o meu querido amigo , aí vai um bom resumo acerca de Magick pelas palavras de Aleister Crowley:


O QUE É MAGICK?
I. DEFINIÇÃO:Magick é a ciência e a arte de causar mudança de conformidade coma vontade.

II. POSTULADO:Qualquer mudança exigida pode ser efetuada pela aplicação do tipo e grau de força adequados do mesmo modo através do medium e objeto apropriados.

III. THEOREMS:
1. Todo ato intencional é um Ato Mágico.
2. Todo ato bem sucedido confirma o postulado.
3. Toda falha prova que um ou mais requisitos do postulado não foram preenchidos.
4. O primeiro requisito para causar qualquer mudança é através do entendimento qualitativo e quantitativo da condição.
5. O segundo requisito para causar qualquer mudança é a habilidade prática para estabelecer o corrento movimento das forças necessárias.
6. "Todo homem e toda mulher é uma estrelar." Isto significa que cada ser humano é intrinseca e independentemente individual com seu próprio caráter e mudança.
7. Todo homem e toda mulher tem uma direção, dependendo parcialmente do Self e parcialmente do meio ambiente que é natural e necessário para cada um. Qualquer um que é forçado na sua própria direção, através do desconhecimento de si mesmo, ou por oposição externa, entra em conflito com a ordem do Universo e sofre de acordo.
8. Um homem cujo desejo consciente está em disputa com a sua Verdadeira Vontade está desperdiçando a sua força. Ele não pode esperar influenciar o seu meio ambiente eficientemente.
9. Um homem que está fazendo sua Verdadeira Vontade tem a inércia do Universo para assisti-lo.
10. A natureza é um fenômeno contínuo, apesar de nós não sabermos em todos os casos como as coisas estão vinculadas.
11. Ciência nos possibilita tomar vantagem da continuidade da natureza pela aplicação empírica de certos princípios cuja interação envolve diferentes ordens de idéia, vinculadas com outras num caminho além da nossa compreensão atual.
12. O homem é ignorante da natureza da sua própria existência e poderes. Mesmo a idéia de suas limitações está baseada na experiência do passado e cada passo no seu progresso aumenta o seu império. Não há, portanto, nenhuma razão para estabelecer limites teóricos para o que ele pode ser ou o que ele pode fazer.
13. Todo homem é mais ou menos ciente de que sua individualidade compreende várias ordens de existência, mesmo quando afirma que seus mais tênues princípios são meramente sintomáticos de mundanças do seu veículo inteiro. Uma ordem similar pode ser aceita para extender através da natureza.
14. O homem é capaz de ser e usar qualquer coisa que ele perceba; para cada coisa que ele perceba está em certo sentido uma parte do seu ser. Ele pode deste modo subjugar o Universo inteiro de que ele é cônscio para a sua Vontade individual.
15. Toda força no Universo é capaz de ser transformada numa outra espécie de força pelo uso dos meios adequados. Há, deste modo, um suprimento inexaurível de qualquer espécie particular de força de que nós possamos necessitar.
16. A aplicação de qualquer força dada afeta todas as ordens de existência que subsista no objeto para o qual é aplicada, qualquer destas ordens é diretamente afetada.
17. Um homem pode aprender a usar qualquer força de modo a servir a qualquer propósito, tomando vantagem dos teoremas acima.
18. Ele pode atrair a si mesmo qualquer força do Universo tornando a si mesmo um receptáculo ajustado para ela, estabelecendo um vínculo com ela.
19. O senso humano de si mesmo como separado do e oposto ao Universo é uma barreira para conduzir seus fluxos. and opposed to, the Universe is a bar to his conducting its currents. Isto o isola.
20. O homem pode somente atrair e empregar as forças para as quais ele está realmente ajustado.
21. Não há nenhum limite para a extensão das relações de qualquer homem com o Universo em essência; assim, tão logo o homem se torne a si mesmo um com qualquer idéia, os meios de medição cessam de existir. Contudo, seu poder para utilizar esta força é limitado pelo seu poder e capacidade mental e pelas circunstâncias da sua ambiência humana.
22. Todo indivíduo é essencialmente suficiente em si. Contudo, ele é insatisfatório em si até que tenha estabelecido sua correta relação com o Universo.
23. Magick é a ciência de entender a si próprio e suas próprias condições. É a arte de aplicar este entendimento à ação.
24. Todo homem tem o indefensável direito de ser o que ele é.
25. Todo homem precisa fazer Magick a cada momento em que ele age ou mesmo pensa, já que o pensamento é um ato interno cuja influência definitivamente afeta a ação, pensamento não pode fazê-lo deste modo no tempo.
26. Todo homem tem um direito, o direito da auto-preservação, para se realizar ao máximo.
27. Todo homem deveria fazer Magick a pedra fundamental da sua vida. Ele deveria aprender suas leis e viver através delas.
28. Todo homem tem o direito de realizar sua própria vontade sem estar receoso que possa interferir com a dos outros; pois, se ele estiver em seu próprio caminho, é um erro dos outros se interferirem com ele.

terça-feira, setembro 09, 2003

DOS CONTADORES DE HISTÓRIAS

Tenho andado muito longe desse mundo virtual, o que de alguma forma me faz bem pela urgência desse momento vivido. Entretanto, algumas coisas me fazem parar e refletir. O texto é ainda maior do que postei abaixo, com adendos de outro autor. Entretanto, achei conveniente colar esse pedaço, essa reprodução acerca daqueles que contam histórias. Os Contadores de Histórias. Vistos por um prisma mágicko, ancestral, pela perspectiva de Léo Artése:

"No xamanismo, o contador de estórias é um caminheiro entre os mundos. Não é
apenas ler para contar uma estória com sucesso. Ela deverá vir do interior.
Isto significa viver a estória interiormente, experimentar do ponto de
vista de cada um dos caracteres, da caminhada e do riso, da tensão, da
reflexão da advertência. Forma e conteúdo.

É visualizar cada volta da história até que você possa fazer funcionar sua
imaginação como um filme; pensar profundamente sobre a mensagem subjacente a
que a própria história está tentando fazer, compreender os fluxos da energia
movimentos, gestos, semblantes, respiração, pausas, dicção,etc.
O contador de estórias, então, é um mediador entre nosso mundo conhecido e o
desconhecido.
Uma comunidade de dragões e fadas, anjos, com as bestas mágicas e míticas.
Com deuses e deusas, os heróis e os demônios.
Expressam-se acima deste mundo, passam livremente de um mundo para o outro,
e ajudam-nos a experimentar outros reinos.
Também são invocadores de poderes elementais, dos poderes da transformação.
Podem mostrar-nos como confrontar nossos medos, como experimentar
êxtase ou nos trazer cara a cara com morte ou terror do espírito - com o
infinito e incompreensível
O contador de estórias vive e comunica o poder, o significado e a realidade
do mito a uma profundidade que não possa ser apreciada até que experimentada.
E a experiência é a palavra crucial aqui. A experiência da palavra nos
conduz quando a história vem do interior".

sexta-feira, setembro 05, 2003

SENSAÇÕES



Andei pela areia, pontapé no mar.
Descabelada, cabelos ao vento, cheiro de sal no ar.
Biquini vermelho, corpo moreno.
Três esculturas humanas, areias unidas em desenhos prontos para sumirem com o ímpeto das ondas.
O Sol em desatino, eu também.
Corrida, roçar na onda, soltura, liberdade.
Amanheceu diferente hoje.
Quero um amor maior, amor maior que eu.
Rogério grita porque já aumentei o som do carro.
O Sol parece compactuar com ele, avermelhado, magenta,
esconde-se atrás da montanha lá no fundo.
O dia termina e a vida continua...
Ainda bem.



terça-feira, setembro 02, 2003

SETEMBRO



Setembro desperta sob o céu enfumaçado, acinzentando um tardio inverno.
As estações se prolongando e desvirtuando o calendário.
Só faltam mais alguns dias e a primavera baterá à porta.
Eclodindo brotos em frutos, cada botão em flor.

sábado, agosto 30, 2003

NO FOG

Bisbilhota, escarafuncha, os olhos seguem as letras, as orações, suas coordenadas.
Nem sempre transitivas, nem sempre diretas. O sábado é frio, gélido, tal a alma que abriga o corpo.
No ser resquícios de uma estória bonita, das tantas que vamos desenhando pela existência.
Tínhamos pureza, um quê de criança, um toque doce, quase algodão doce, multicor, arco-íris.
Pelo coração saltam selvagens criaturas, indomáveis cavalos, sigo o destino.
Sem ter como medir o próximo instante, comandada pela vontade, suspensa pelo ar, em devaneio.
Amanhã é outro dia, ainda bem. E já, já se faz setembro.
Quando a primavera chega e explode flores, rascunha paisagens coloridas, anula o fog ao redor.
O mesmo que nebula os olhos, esses mesmo que aqui estão a seguir a trilha dessas letras,
desse texto sem sentido, quando só o ser fala e a razão vai comprar cigarros na esquina.
Uma baforada e tudo se esvai.


terça-feira, agosto 26, 2003

OLHOS NOS OLHOS

Na quietude da madrugada, onde só os dedos e o teclado agitam-se,
minha alma se compraz na serenidade.
Nada que um dia depois do outro não possa fazer-se novo.
Uma paz tamanha, do tamanho do agora, desse presente.
Sem ansiedade, sem dores, sem tristeza e menos ainda lágrimas.
Estou renascendo, creio eu.
Redescobrindo quem é essa que agora pulsa, em compasso.
Sem nada que agigante o sentimento, sem o amor que desafia a razão.
Daqui vislumbro você que com olhos curiosos acompanha meus passos.
Fique à vontade, a casa é sua também.
Tome um café, quente, fumegando, numa xícara clara e espaçosa.
Estenda os pés no puff e relaxe sentindo o ar puro que entra pela janela.
Na escuridão do céu, uma cadente risca o vazio, prenúncio de um amanhã.
O meu, o seu, o nosso.

sexta-feira, agosto 22, 2003



Ouvia a ladainha:
Nunca te deixarei.
Nunca te desampararei.
Você nunca está só.
Não há espaços vazios.
.
Entretanto, no murmúrio das ondas, o som era outro.
Barco a roçar as gigantes que espumavam no casco.
Infindo e instável, temperamental.
Azul marinho, denso, impenetrável.
Monstros, seres míticos, a escuridão.
Num salto, relâmpago, mergulha.
Silhueta madrepérola, nadadeira protuberante, ser do oceano.
Desligo os motores. Remo, distante da costa.
Longe da areia, da linha branca que acena vida.
Na imensidão do nada, sou tudo que existe.

terça-feira, agosto 19, 2003

Ele criou a série Os Sete Pecados Capitais e como acho esse texto genial o trouxe para cá. Quem quiser conhecer os outros seis pecados é só dar um pulo aqui.

LUXÚRIA

Copular com a minha mãe e ser pai do meu irmão.
Copular com a minha irmã e ser pai do meu sobrinho.

É como fazer sexo com um livro e criar a sua continuação
Substantivos trepam com verbos e fazem uma oração
Transar com ritmo e melodia é fazer uma canção.
Trepar com o como e o porque e gerar razão.

Na natureza não há incesto: pois uma floresta é filha de si mesma e se cruza infinitamente.

O hermafrodita (ideal) não precisa de ninguém.
Mas o ortodoxo precisa do heterodoxo
O homogêneo precisa do heterogêneo
O homossexual precisa do heterossexual (longe)

Fazer sexo com animais e parir deuses e demônios
fazer sexo com leis e parir regras
Fazer sexo com tradição e parir costumes.

Contradição:

A mulher é côncava, o homem é convexo. A porca é côncava. O parafuso é convexo. Encaixando homem e mulher se constrói a humanidade. Encaixando o parafuso e a porca se constrói máquinas.

Penetrar até os ovários. Penetrar vários.

Engravidar a própria filha é ser pai e avô ao mesmo tempo.
Engravidar do próprio pai é ser mãe do seu irmão.
Engravidar a própria sogra é ser pai do seu cunhado.

Mas para a humanidade ir em frente, é preciso que a mulher enfrente: para ir em frente é preciso parir.

O macho e a fêmea geram cria
O sol e a lua geram dia
O positivo e o negativo, a energia
A tristeza e a alegria, harmonia
O conhecer e o desconhecer, a sabedoria

O luxo é coisa para poucos (parceiros), mas a luxúria é coisa para muitos(parceiros).

Gregory Grimaud

sábado, agosto 16, 2003



Pra quem curte Western, a boa pedida hoje é o lançamento do livro 100 Anos de Western, escrito pelo desenhista de quadrinhos, e tio de coração, Primaggio Mantovi, com participação e dedicatória ao velho aqui de casa, José Menezes, também quadrinista. Quem estiver em Sampa pode conferir a festa a partir das 18h30, na Villa Counstry, à Av. Francisco Matarazzo,774/810.

O livro conta toda a história do gênero desde seus primórdios, em 1903, até os dias de hoje, passando por fatos históricos e políticos que marcaram não só o cinema, mas o mundo todo. Desfilam pela obra grandes personagens do velho oeste, como Búfalo Bill, Calamity Jane e Wyatt Earp, escritores, como James Fennimore Cooper e Zane Grey, diretores como John Ford, Raoul Walsh e Sam Peckinpah, além de astros e estrelas como John Wayne, Gary Cooper, Gregory Peck, Randolph Scott, Clint Eastwood, Barbara Stanwick, Marlene Dietrich e Maureen O’Hara.

As 148 páginas do livro não enfocam apenas as grandes produções hollywoodianas, mas também os chamados filmes B, os telefilmes e - não podiam faltar - os famigerados spaghetti westerns, produções italianas que, na década de 60, "ousaram" explorar o gênero cinematográfico definido pelo escritor francês André Bazin como "o cinema americano por excelência". Formato 21 x 28 cm

quinta-feira, agosto 14, 2003

PERSEIDAS, AGOSTO E JACARÉ

Com gosto, gosto de Agosto.
Ainda que muitos se mostrem agostados mediante o azar,
felicidade é o que transborda nesse período.
E aí não há crendice que redima o meu gostar.
Principalmente diante do plenilúnio de Leão, realizado ontem.
Frutas, roupas, bandagens amarelas e brancas. O ouro, a alquímica
busca por transmutar metais pobres no mais valorizado.
Também devo registrar a tempestade de meteoritos que invadiu o hemisfério norte esta semana e eu estava ausente para falar disso aqui. Chama-se Perseidas, tendo em vista que a chuva que riscou o céu teve início na constelação de Perseu. O fenômeno é caracterizado por uma chuva de estrelas cadentes quando passa pela Terra uma nuvem de poeira cósmica deixada para trás por um cometa.
Agostinhas frescas cairiam perfeitamente bem no cenário paradisíaco proposto no céu islâmico, com virgens de sete véus e fontes a jorrar leite com mel.
Desgosto deve ser estar frente a frente com a falta de sonho e perspectivas.
Quem sabe um agostiniano consiga derrubar conceitos tão antigos como esses professados
através da fé cega. Aposto que ele não vai sentir gozo mediante ao inevitável futuro, mantendo-se, insosso, quase morto.
Pego jacaré mais uma vez nas ondas agostinas.




segunda-feira, agosto 11, 2003

A NOITE DE ONTEM

Velas perfumadas, vermelhas e brancas no bar.
Amigos chegam e abraçam, tiram retrato,
imortalizam o sentimento que transcende ao tempo.
Ela e ele me apertam num sanduíche, onde eu sou o recheio, e dizem: Aninha, eu te amo.
E eu respondo a eles: eu também.
Como é sempre benéfica a presença pisciana,
Transbordam emoções e não cansam de dizer e demonstrar.
Tesouro esse, os amigos, os de muito tempo.
No balcão suspiros, olhares, cantadas baratas, cerveja e pinga.
Ondas voláteis como um fugaz encontro na noite.
Pizza com rúcula, novamente ela aí, mas com tomate seco.
Delícia, que não é cremosa e tão pouco margarina.
A madrugada avança, os carros embaçados, um frio de rachar a pele.
A chuva estancou, mas o vento é cortante.
Conto das minhas tarefas espirituais, a conversa sempre acaba aí.
Falamos de anjos da guarda, ciganas e malandro.
Ela me convida a almoçar amanhã, mas o dia vai ser cheio.
Fica mais uns dias por aqui e volta pra Brasília.
Reclama que tem dez anos que está lá e eu não a visito.
A conversa não termina e já estou no portão de casa.
Nos despedimos, entre abraços e uma saudade que nunca finda.
Entro e constato que a fumaça grudou no cabelo e impregnou o resto também.
Largo as roupas no banheiro. Caio na cama, desmaio.

quinta-feira, agosto 07, 2003

MATIZES



Nas cobertas coloridas e difusas um rabo de sereia.
Farfalhar de papel crepom, tal a textura do que a abriga.
A mistura é quente, desfazendo-se, em seguida, em diluídas cores.
Paleta em degradée que acaba atingindo à pele corada pelo sol.
O torço descoberto, o coração em batimentos ritmados.
Um livro nas mãos a chama para uma vida diferente da que ela têm.
Abrem-se idéias inusitadas, algumas que jamais ousou pensar.
Absorta, relê um trecho incessantemente, enquanto a cabeça vaga.
Um vaso de cores magenta é pitada a contrastar com os cabelos castanhos.
Um foco insinua-se no quadro como voyeur a velar seu corpo.

segunda-feira, agosto 04, 2003

OUTROS TEXTOS

Acho que a maioria que anda por essas paragens sabe que faço parte de um blog coletivo, o Collectanea. Um felino negro ilustra o mural de domingo.

E pra quem gosta de crônica, participo, pela primeira vez, do site Crônica do Dia, com o texto "Eles sonhavam com o Happy End".

Enjoy it.




sexta-feira, agosto 01, 2003

AGOSTO



Toc, toc, toc.
Alguém morre de medo de presságios e começa a manhã batendo na madeira.
Tenta isolar qualquer coisa negativa que possa vir em sua direção.
Não quer se dar ao luxo de deixar que nada ruim se aproxime.
Mantem-se à distância do que chamam de agouro.
Hoje, tem início o mês mais mal falado do ano.
Particularmente gosto de agosto, ainda mais começando numa sexta-feira.
Só faltava ser treze para dar mais sorte e provocar sortilégios.
E para abrir mais trinta e um dias, um pouco de escuridão num blog
tão ensolarado como este. Que ela venha e traga sua horda de mistério e
figuras sombrias que se alimentam à noite.
Uma coruja branca, um gato de olhos flamejantes sob o céu coberto de strass.

quarta-feira, julho 30, 2003

A saudade é a sombra escura de um passado cor-de-rosa”. A frase é dita por Marco Nanini no filme Copacabana. Algumas vezes, sou tomada por essas afirmativas que ficam reverberando na mente. Não deve ser à toa que pus como legenda no blog: Pensamentos Compulsivos. Volta e meia sou assaltada por eles, instalam-se e não vão embora.
O mesmo aconteceu quando assisti a ‘De Olhos Bem Fechados “, na hora em que Nicole fuma um baseado e diz ao marido que gostaria de fazer sexo com outro homem e confessa o que sente por ele: “meu amor por você se tornou triste e morno”.São sensações, descritas em palavras, que muitas vezes exprimem o que gostaríamos de ser capaz de dizer em determinado momento da vida. Num capítulo, num diálogo, no roteiro que vamos dia-a-dia escrevendo.
Tenho isso com frases de música. Há uma frase em Expresso do Oriente em que Herbert canta: “eu chorava de amor e não porque eu sofria”. Você chora pelo amor que o deixou, não pela dor que te corrói o íntimo. A dor acaba sendo reflexo da falta daquele amor. A ausência dele provoca a dor, a dor que muitas vezes impede até que se tenha fome. De uma forma inconsciente o organismo acaba rejeitando o alimento, quase que num processo involuntário bulímico.
Miguel Falabella em uma de suas crônicas no jornal O Globo sentenciou: "a gente passa a vida enterrando os mortos. Toda uma existência para se despedir de quem se ama". E é a mais pura verdade. Quantos queridos que partem para o ‘outro lado’ e nós passamos a existência, ainda que de forma inconsciente, esperando o dia derradeiro do adeus.
A poesia também não foge à regra. Pessoa em um poema de Álvaro de Campos mandou assim: “estala coração pintado de vidro”. O que remete a um coração que precisa de fortes emoções ou de algo que o faça ser ‘sacudido’, ainda que a aparência do vidro, fria, muitas vezes proteja-o das intempéries das emoções. É a tal couraça que nos reveste, que impede que mostremos nossas fragilidades.
Alguém me disse certa vez: “quando achar a hora certa tire a armadura”. E assim, o fiz. Mas, o final daquela história não foi feliz, ainda que o primeiro amor a gente nunca esqueça e o perpetue na memória de uma maneira doce e delicada. Os próximos amores nunca mais serão como o primeiro, porque já sabemos que não mais morreremos de amor, sobreviveremos a todas as tempestades.

domingo, julho 27, 2003



O vento balança as cortinas e acolhe com a rajada veraneia.
Ele voltou e deixou muitas conchas. Agora, largou o caramujo, riscadinho, que vai ser colocado na mesa de centro, no meio da sala, perto da rede que fica ali ao lado.
Esqueceu no parapeito o óculos, o que usa para fuçar a areia branca que se avizinha aqui de casa. O ar impregnado de sal enche todos os cômodos da casa.
O céu reflete o azul nas mansas águas, espelho do que está acima. Uma piscina marítima a me esperar. Já, já, dou um pulo ali e vou encontrá-lo, pôr o maio branco e me atirar nas ondas que não quebram, tamanha a paz que reina no mar. Mergulhar juntos e contar cardumes de peixes, ver o brilho acentuado pelos raios calmos do sol.
A essa hora a digestão já se fez. Comemos peixe assado com ervas finas e bebemos água de coco gelada, justo ao meio-dia.
A janela permanecerá aberta para você que aqui aporta venha comigo nadar.

quinta-feira, julho 24, 2003



Em fevereiro a névoa avança sem dó, adornando, inclusive, a Ponte dos Condenados.
O que deve provocar calafrios em quem não está acostumado a isso,
a conviver com as brumas que serpenteiam vielas, gôndolas e máscaras.
E uma sucessão de imagens terrificantes para quem têm vidência.
Quantos milhões de corpos foram atirados contra a maré?
Quantos ainda devem estar arraigados ao cenário?
Provavelmente, muitos.
Diante da caracterização, o que vale é a liberdade para transformar.
Encobrir a fisionomia com uma nova faceta.
Não importando, realmente, se é feia ou bonita.
Se a roupa que acompanha a máscara esconde ou revela.
Se seduz ou assusta, se atrai ou produz repulsa.
Se estivesse nesse lugar, que tipo de máscara usaria?

segunda-feira, julho 21, 2003

PARAGENS

Como os cavalos, acompanho o movimento do vento.
Impulsionada pelas vontades, as do agora.
E daí se você não gosta?
Eu gosto. E a partir delas crio outros horizontes.
Oceanos, agora começando a se completar.
Num outro porto, que não é esse conhecido.
Não faz parte dessa rota que decorou com facilidade.
E também não chega perto das ondas que fervem no meu íntimo.
Lá todos os véus serão arrancados, jogados ao chão.
Sem medo, dúvida, receio ou identidade.
Lá sou ela, a avó, a tia, a insana, a zíngara, a incógnita.
As centenas que centelham no divino do ser.
O nome é só nomenclatura, o paradeiro também não precisa ser sabido.
O que interessa mesmo é que sinto prazer e isso me basta.
Alguém hoje ficou impressionado com o ímpeto.
Acho que não imaginava que de uma hipótese a vida ganhasse corpo, ou melhor, dois.
Metades que riscam o horizonte, aquele, o que divisa a distância, você e eu.
E ao mesmo tempo nos toca, acarinha e seduz.
Da mesma forma que produz vertigem e faz a cabeça rodar, feito peão na mão de criança,
Num jogo inocente, onde não há margem para o freio, só para cavalos, que pastam livres por esse caminho...

sábado, julho 19, 2003

CONSTELAR

A revista eletrônica Constelar chega a sua 61 edição com uma extensa coletânea sobre o Incrível Hulk. E entre as pérolas encontrei a analogia entre o estado verde do super herói e o planeta Marte, no artigo do astrólogo, e amigo, Carlos Hollanda. Ilustrando o texto, o primeiro gibi do personagem, aí, abaixo.
Quem quiser conferir na íntegra vale uma visita no site.

"Hulk, o personagem que atualiza o velho tema da história do médico e do monstro, é uma criação da editora Marvel Comics, a mesma que tornou famosos personagens como o Homem-Aranha, Thor, o deus do trovão, o Homem de Ferro, Demolidor e os mutantes X-Men. A Marvel é responsável pela grande explosão dos quadrinhos na década de 60, mais precisamente a partir de 1961, quando da criação do Quarteto Fantástico, e ao trazer de volta da década de 40 os sucessos Namor (o Príncipe Submarino) e o Capitão América. Stan Lee, o criador da maioria dos personagens do universo Marvel, fortaleceu extraordinariamente o tom mitológico das narrativas, em especial no que tange aos aspectos subliminares envolvendo os mitos greco-romanos e escandinavos. Homem-Aranha, Hulk, Surfista Prateado e X-Men, ao surgirem como super-heróis desajustados e cheios de conflitos, foram verdadeiras revoluções sobre um produto que apresentava apenas heróis bonitinhos, infalíveis e sem uma problemática humana. [...]"



quarta-feira, julho 16, 2003

O corpete disposto sobre o corpo, gentilmente revela o torço longilíneo.
Deixa aparente a pele morena, a mesma que conjumina com os cabelos mate.
Lisos, caem pelos ombros.
A cintura marcada por uma saia comprida, bicolor.
Por cima escuridão, embaixo carmim.
As ancas em inclinação acompanhando a circunferência do tecido.
Ela olha por detrás do ombro, de soslaio para ele.
Gosta da situação e se prepara para a apresentação.
Pega as castanholas e começa um leve som, sincopado.
A tatuagem de henna marca os pés, numa alusão a mendhi indiana.
O guizo produzido pelo movimento do tornozelo hipnotiza o olhar dele.
Movimenta os braços, mostra a sua desenvoltura e força.
Dessa vez, encara-o, sem titubear.
As velas acesas iluminam o cômodo, um enorme círculo a protegê-los.
Nada de ruim pode acontecer, o rito da estrela de cinco pontas os protege.
Ele percebe a doçura do ser, a fragilidade, ainda que ela dance com toda a sua energia.
Austera, segura, flutua, marca o passo, desafia. A boca se abre, ligeiramente.
Os movimentos seguem o ritmo frenético da música, a mesma que o convida também a mexer o corpo e entregar-se ao som que se propaga por todo o cômodo. Prefere permanecer como espectador, guardando para si os desenhos que ela vai riscando no ar, sem pudor.
Ao fim da música, ela dispôs do átame, desfez o círculo, assoprou as chamas coloridas e perfumadas que assolavam o ambiente. E se viram, dessa vez frente a frente, naquele galpão vazio, onde só o clarão do luar ousava entrar pela janela.



domingo, julho 13, 2003

UM DIA DE INVERNO

Atmosfera londrina, enfumaçada.
Branca, tenra, nevoeiro, visão nublada.
Da janela o verde ganha aura clara e confunde-se com o resto da paisagem, opaca.
No vidro milhões de gotículas. A chuva deu trégua, diferente de ontem.
No cotidiano uma conversa sem antecedentes. Vou dançar caipira.
Já comecei a bolar o modelito, a maquiagem e o penteado. Vai ser bom voltar a fazer molecagem e travessura. Perambular por barracas de brincadeiras. Todos adultos.
Isso acontece no fim da semana que entra.
Agora, no almoço, cozimento de proteínas em molho de tomate especial.
Gostosuras em caixinhas, um pouco mais de tempero e carinho.
Salada colorida, folhas e folhas. A hortelã quebra a rotina. Preferia a rúcula.
Dizem que gosto de sabores e alimentos paulistas, apesar da carioquice.
Sinto-me bem em Sampa, na capital, no interior. Tanto faz.
Talvez por aspectos em semelhança com essa cidade serrana que vivo.
A gastronomia, os restaurantes, o que é exótico e intimista.
Ao final reunimos ao redor da mesa aqueles que gostamos ou até os que não.
Pode ser a família, os amigos, o amor, conhecidos, futuros parceiros.
Fechamos negócios, combinamos metas, selamos pactos, vivificamos o amor
e alcoolizamos a amizade por mais anos, talvez pela fragilidade do instante, daquele
em que a gente perde a noção da hora e nem sempre percebe que na sutileza e nos pequenos prazeres está a real felicidade.
E o domingo fecha a cortina e anuncia o inverno que se estenderá pela semana.

quinta-feira, julho 10, 2003



Ela ria enquanto bebericava o tinto, celebrando mais um inverno.
Desencanada e nua, aberta como criança diante da vida, pronta a abraçar a todos.
Os cabelos ruivos caíam em cachos até a cintura, os olhos amarelos brilhavam. Ela sabe, têm a certeza da imortalidade.
Contou das últimas descobertas e confidenciou que está abrindo um novo livro,
ao invés de um Ano Novo, como apregoam os astrólogos. Ela é da Ponte. A perspectiva é a mesma e só as palavras são diferentes. Liberdade, comandando os movimentos de mestres ascensionados. Já estive lá. Dei hortências lilases a quem não vi. Tudo se passou num coliseu repleto de seres, onde uma pira acesa marcava a reunião.
Ela está escrevendo os capítulos que marcarão uma nova fase, uma nova história,
diferente da atual vivida, entre desagruras e revoltas sentimentais.
Alardeou que recobra a segurança. Agora firme, certeira.
A molecagem marca essa mulher, como se a fissura em transgredir não tivesse solução.
Ela não liga. Vai em frente. Conta do agora. Diz que ganhou um presente especial.
Alguém que como ela vive em desalinho, em completa revolta com o previsível.
Mandou-me beijos, disse da saudade e da cumplicidade que estampa nossa amizade.
Foi assim desde o primeiro contato. Foi assim desde a primeira missiva. Foi assim na primeira vez que nos vimos e nos abraçamos. Plexo solar com plexo solar. E é assim até hoje, ainda que estejamos distantes e o tempo seja nosso maior algoz.
Ainda assim nos conectamos, pensamos forte e uma liga para outra, deixa um bilhete no icq, remete um enorme email.
Gargalhamos até a barriga doer e falamos das sombras. Me despedi na certeza que o que traduz com perfeição tudo isso são as almas, as irmãs, as afins.

terça-feira, julho 08, 2003

MOSAICO



Parece que tudo acontece simultaneamente e não consigo dar conta do rojão.
Explodem as faíscas e incendeiam a rotina.
O que aparentemente está fixado no presente, volta ao passado.
E o que aconteceu há um ano atrás, repete-se.
Ele volta à margem do cais e eu ao conto policial.
O agente a perambular furtivamente por casas e micros alheios.
Saltando aqui e acolá, manobras radicais e muito jogo de cintura.
Jogamos capoeira, aplicamos um golpe, eliminamos os problemas.
Agora consigo respirar um pouco mais lentamente e isso já traz um pouco mais de calma.
O que não foi escrito pela caneta tinteiro e nem pela pena que está ao lado do nanquim.
O dia passa rápido e os dedos deslizam com velocidade por aqui.
É um fóton a faiscar aqui e desaparecer no momento seguinte, transmutando as máquinas.
Por enquanto ele ficará no estaleiro, cuidado por mãos habilidosas.
E eu contando os dias para voltar a entrar em seu interior e navegar.
Não espero um peixe gigantesco e nem mesmo dourados.
Quero navegar feito o velho, com a certeza daquilo que busco e sei onde encontrar.


sábado, julho 05, 2003

AMPULHETA

Pode ser que ninguém entenda.
E nessas horas para quê coerência?
Melhor desse jeito, quando não se pensa de fato.
O que se leva são os momentos, como esse.
Permaneceremos assim: no instante que olhos cruzaram com os outros olhos; quando a sua boca tocou a minha; e o seu gosto misturou-se ao meu; quando seu coração colou no meu peito e juntos perpetuamos o mesmo som.
Agora chega o momento de pausa e o investido vai se diluir.
Escorrer, como areia deslizando por entre os dedos, como o tempo que passou.

quarta-feira, julho 02, 2003

PALETA

Toca a boca, passa o dedo para lá e para cá.
Entreaberta, parece compactuar com o estranho invasor,
Redesenhando no movimento cíclico a carne rosada.
Os olhos mergulhados no ontem e borrados de crayon.
Lagos de lágrimas salgadas.
A tez pálida, quase azulada pelo inverno.
Os dedos longos, as unhas redondas.
Pintadas de esmalte vinho, reluzente.
Mão que traduz poder.
Vermelho e preto, fundidos, tinto.
O mesmo que celebra a vida e embriaga o ser.




domingo, junho 29, 2003

DOS DESERTOS



Nau à deriva no oceano.
Desértico e extático.
Frio e límpido, cintilante.
Aridez e secura no infinito da alma.

quarta-feira, junho 25, 2003

DO ETÉREO

Ser transmorfo, das faces que se revelam ininterruptamente.
Anjo, demônio, mago, prostituto, criança e adulto.
Divisória linha, tênue encontro entre o celeste e o profano.
Dualidade que não finda jamais, ao contrário:
É gritante e díspar aos extremos.
Decepar o que pulsa em nome de um esforço,
É tortura a confrontar-se com a vontade.
Encontra-se num reino de orquestra,
Crepúsculo lilás, perfume de lírio
E atmosfera etérea.
Não é de Vênus. É de lá.
Do lugar de paralelepípedos dourados,
Gramado verde oliva, sol que faísca nas construções.
Ao fim da grande passarela dourada, uma catedral gigantesca, de porta pesada,
Rústica, medieval. O ser diminuto diante da suntuosidade, da imponência da construção.
As viagens dessa alma, errante, peregrina, cigana.

segunda-feira, junho 23, 2003

BORBULHAS

Onda, redemoinho, espuma brilhante.
Desperta a fantasia de um mundo submarino.
Cobras, águas-vivas, lulas gigantes, seres marinhos.
Acquaman em desenho, Jubartes em documentários da Paula Saldanha, projeto Tamar.
Pingüim em Arraial do Cabo, peixes-boi em quadro, projeto Golfinho Rotador.
Sereia, mítica criatura, emerge de bolhas, das que faço agora e a figura retrata.
Carregada por cavalos marinhos e adornada por anêmonas roxas.
Estrela, mulher abissal, rainha das águas, as salgadas, as do mar.





sexta-feira, junho 20, 2003

ANDARILHA

Posso continuar assim, andando.
Por entre a mata virgem e a estrada aberta na marra.
Uma picada, uma passagem, um contorno do destino.
A vida germina no inesperado. A minha, sempre.



terça-feira, junho 17, 2003

Um spectro percorre os telhados, a única coisa que reluz ao vento gelado são dois olhos. Luzem dando vida à sombra que emerge sem dificuldade. Ser indefinido, criatura notivaga que se alimenta de desejos, os que sao alijados de luz. Entra pela fresta da janela, aquela que esta entreaberta.

A chuva molha a terra, espalhando no ar um perfume que se funde às
suas entranhas. Mistura todos os ingredientes no grande caldeirao. E o
utero universal, chamando-a. A silhueta em nanquim delineia o foco que
estava desocupado.

Surge para ele em ensaio, dança ritual. Apresenta-se como madona negra,
em espartilho, punhal, botas negras. No meio do cinturao, um ferrao. A
escuridao ganha corpo nesse instante.
As asas abrem-se. Rouba-o do leito e lança-se no espaço, vampira a abraça-lo na imensidao do céu.

Spots estelares iluminam a cena.
Inicia a frenética salivaçao ao mirar o que têm nos braços.
A primeira dentada, sabor quente a tocar as papilas indecentes.
Comoçao provocada pelo sangue que escorre pelo canto da boca.
O coraçao dele bate mais forte, desfalece, entrega-se à propria sorte.
Sobressaltado, arregala os olhos, suado, olha ao redor: em seu quarto, o dia amanhece.



domingo, junho 15, 2003

DO MAGNETISMO

Tudo na natureza possui seu som próprio, os que sao emitidos os que nos circundam. Nosso campo eletromagnético esparge-se em ondas, modulando a freqüência de acordo com nossos pensamentos. Propagam-se vibraçoes como um grande radio, uma antena a captar e a emitir o magnetismo, atraindo os afins e provocando interferências ou ruidos em outros campos magnéticos. Cada um possui sua esfera de gravitaçao.
Todo ser vibra intensamente quando percebe uma eletricidade em maior ou menor escala, dependendo basicamente do que é sentido, assim como, do que é distendido como resposta a essa captaçao. Dessa forma, somos responsaveis por tudo aquilo que pensamos e principalmente que sentimos. Nossos sentimentos sao o grande acelerador a jorrar energia, tanto positiva como negativa, refletindo o que existe no intimo. Somos mata borroes do que é impresso em nossa mente e, conseqüentemente, em nosso espirito, tendo em vista que nosso corpo so funciona e se move por causa deste.

quinta-feira, junho 12, 2003

ABRIR JANELAS



Abrir janelas e expor o que se sente.
Abrir janelas e permitir que passaros, ainda que de louça façam pousada no local.
Abrir janelas e compartilhar vasos, os de flores e os sem elas.
Abrir janelas e deixar que os raios aqueçam.
Abrir janelas e encher os pulmoes de ar.
Abrir janelas e liberar sonhos para que transbordem.
Abrir janelas e ser surpreendido pelo vento que levanta a cortina de renda,
Intruso a perscrutar o que se esta além.
Abrir janelas e arregaçar o peito, lançando ao dia - o coraçao.


terça-feira, junho 10, 2003



Adriana Paiva – Periplus e Foco Seletivo - decidiu por criar o Collectanea. Entre os amigos que aqui visitam esse blog, outros tantos compartilham esse novo espaço.
Para inaugurar a participaçao de posts publicados, como o proprio nome ja diz - coletânea – tirei dos arquivos O Portal. Para quem nao leu é so clicar no link acima.




domingo, junho 08, 2003

DO QUE ERA PRA SER

Tantas vezes antecipa os acontecimentos.
Poe a carroça na frente dos bois.
Quando vê, ja foi.
Na hora nao mede, nao faz esforço para pensar em conseqüências.
Faz o que tem vontade.
Detona os sentimentos com o que é mais facil.
Usa aquilo que é infalivel e futil.
Da as respostas por si mesmo.
Nao quer ouvir o outro.
Acaba se ferindo, maculando o que era puro.
Destruindo a possibilidade de felicidade.
Nada faz muito sentido agora.
Tudo destroçado, feio.
Melhor assim.
Saciou o que construiu na mente.
O ultimo beijo, dos tantos roubados.

quinta-feira, junho 05, 2003

CINTILACOES

Seus olhos cruzaram num atimo, naquele segundo quando nao se espera mais nada.
Ela compactuou o silêncio nas ondas que se propagavam nessa fina sintonia.
Ele, por sua vez, cobriu-se de um campo eletromagnético atingindo seu objetivo.
Transcenderam sem saber. Mesclaram-se em po, ouro a cintilar nos reflexos opacos
do poste artificial. Tocaram-se na noite azul, palida, dividindo o melancolico fim do dia.
Ao fundo, um sax teimoso envolvia a atmosfera em som.
Um gato preto passava correndo. Ninguém dava bola.
Uma tampa da lata de lixo caiu e provocou estrondo.
A quietude transgrediu o rush de carros apressados.
Eles sabiam o porquê disso tudo.
Era a vida que parou e estancou no agora.
Seguiram cada um seu destino, nao olharam para tras.
Ela carregando seu fardo, ele acostumado ao que ja possuia.
Dos olhos nos olhos pintou uma gota de alegria, colirio que provocou ousadia.
Nao estavam mortos: coraçoes bateram mais rapido no despretensioso esbarrao do acaso.



terça-feira, junho 03, 2003

OS QUATRO VENTOS: JUNHO

Sao quatro os que sopram nos quadrantes.
Os que instalam tormentas e vontades.
Controlam e harmonizam os elementos.
Transformam e prenunciam um novo tempo.
Junho, quase término da metade do ano.
E para tal, um encontro com os ventos que chegam
E abrem esses proximos trinta dias:
Boreas, também chamado Setentriao,
Nasce no Norte. E frio e rigoroso.
Zela pela fertilidade da natureza e combate
A poluiçao do campo telurico. E o protetor de Gaia.
Zéfiro, nosso ja conhecido amigo, têm
Como alcunha Favônio, vêm do Oeste.
E o que prenuncia as tempestades, dai sua presença
Nesse espaço e depois no Letra de Corpo.
Comanda as aguas em todas as suas vertentes.
Euro é o vento do Leste. E o que equilibra o Ar.
Tem como sinônimo Vulturno.
Noto ou Astro é o que sopra no Sul, controlando o Fogo.





sábado, maio 31, 2003

MILAGREIRO

Fomos assistir ao show Milagreiro, no Teatro do Quitandinha. O ultimo que vi dele ja se vao alguns anos,
mas a paixao que esse homem canta é algo que me fascina e me arrebata. As letras, principalmente.
E num refrao da musica "Cair em Si", ele repetiu:

"Morrer de amor nao é o fim,
mas me acaba.
Morrer de amor nao é o fim,
mas me acaba".

Isso ficou ressoando na mente, queria uma caneta naquela hora e fiquei doida porque nao sabia qual o nome da musica.
Coisas que batem e tocam, inesperadamente. Mas, nao foi tristeza, nao. Chegou uma sensaçao boa de libertaçao.
Nao consegui parar de cantar e dançar um so minuto. As velhas e boas cançoes que todo mundo repete e brada,
uma energia forte e contagiante tomou toda a galera. Foi lindo. Demais. Djavaniamos.
Paixao é pouco.


quinta-feira, maio 29, 2003



Firmamos um trato e eu vou cumpri-lo.
Ainda que eu nao consiga ser tao constante como gostaria,
Tendo em vista essa via urbana e a selva que me alimenta e
sustém as futilidades mundanas.
Escrever cartas, ainda que elaboradas na tela fria,
branca e atemporal do micro.
Diferente das que produzem calos e exigem mais de dedos e lapis.
Uma sucessao de delirios e promessas em cascatas ortograficas.
Talvez, voem para longe e tragam para perto o que se deseja.
Tal qual as aves que migram e carregam com elas as estaçoes,
Principiam o verao ou a despedida dele.
Criando o constraste do marmore e o calor dos corpos, o toque gélido e a
visao de musculos e pele. A vida recriada.
Frios, aparentemente. Vertidos em paixao para mim.

terça-feira, maio 27, 2003

ESTRELAS

Muitas vezes distante da coerência, sinto e invento.
Historia que converto em estória.
Releio e reintegro, expulso e absorvo.
Em absorta dicotomia entre a vontade de crer e ser.
Na distante aurora onde tudo que se lê sao estrelas.
As pintadas de amarelo no papel azul
As mesmas que seguem por email, às vezes pelo icq.
Me pergunta afinal se amo ou sofro.
Sou embalada pelo All Star de Nando Reis,
O que de forma indireta me faz pensar no mago:
‘Todo homem e toda mulher é uma estrela’.

domingo, maio 25, 2003

A DEVASSIDAO MATA O AMOR

O estranho foi ver naquele encontro fugaz e inesperado,
No apartamento pequeno e simétrico,
O que vertia de seus olhos.
Seria impossivel nao me apaixonar.
Seria pedir demais nao querer estar.
E por mais que a madrugada avisasse,
Meu desejo extravasava poros,
Mesmo que fechasse a porta e partisse.

Saisse e levasse o tanto da paixao que guardei.
Nos papéis amarfanhados e com serrilhas.
Aqueles do caderno em que pus a nossa estoria,
Ainda que ela tenha sido efêmera e instantânea,
Como as grandes paixoes o sao.

O segundo encontro nao vingou.
Você sentenciou: a devassidao mata o amor.
Naquela rua de amendoeiras e lembranças felizes,
O apartamento cerrou suas portas, solitario.
Ali, na Anita Garibaldi, entre o luxo e o lixo de travecos e putas.
No pf da esquina com Nossa Senhora e a Santa Clara.

quinta-feira, maio 22, 2003



Os sonhos infernais retornaram.
Os mesmos que me perseguem há milênios.
Não há divergência entre eternidade e espírito.
Não há tempo e espaço em se tratando de dimensões e planetas.
Minha alma ainda está presa a sua, ainda que o consciente se digladie com o inconsciente.
Obsessivamente imantada, sombra a acompanhar seus passos pelo Cosmos.
E os combates e enfrentamentos acontecem outra vez.
Grito, vomito tudo sufocado.
E você, impassível. Como sempre fez.
Entretanto, sei que palavras ferem tal lanças arremessadas contra sua carne.
Dilacerando e provocando dor.
Sobressalto, terror, sensação de vazio.
Os olhos se abrem, cansaço é o que toma o corpo.
E mais um dia começa...

terça-feira, maio 20, 2003



Os lençóis queimam sob sua pele

O gozo perverso da espera

Você não entende, apenas quer.

O escuro do quarto se enche de minha presença

O bater de asas. O estalar do desejo obscuro

O arrebatamento em meus braços. O amante que você não vê

Sente-se apenas carregada aos céus. Ou seria um sonho?

Sonho molhado pelo transbordar da taça da volúpia.

Suspensa no ar, um balé de sentidos, os olhos fechados

Fechados pelo medo.

Medo de ver meu rosto e quebrar o encanto

Não sabendo se quem te possui é um anjo ou um homem.

Olhos fechados no êxtase da entrega. O penetrar da carne. O rasgar da alma.

O gozo personificado num grito que estremece os pilares do céu

E você se queda, lânguida em meus braços

Sente que se esvai lentamente como as nuvens em um céu de fim de primavera

Não sabe se está novamente em seu leito ou se singra o céu ancorada em meu peito

O bater de asas. O desejo satisfeito.

O ciciar do vento nos ouvidos traz minha voz :

- Eu sou teu deus.

DAA

sábado, maio 17, 2003

DO ECLIPSE

Pode ser que nada faça sentido, se o eclipse atravessa a meia-noite e mostra a nossa pequenez.
O amor pode estar nessas letras tortas, nesse guardanapo improvisado, na caneta bic azul que emprestaram.
Pode estar na ausência de rumo em noites imensas e insanas.
Vontades, ânsia de provar um pouco mais.
O instante pede um sanduba.
Mercedes para quem carece de algo além do ser.
Abraços e súplicas, promessas em cadentes repentinas na escuridão.
O eclipse insiste em comer mais um pedaço de luz.
Da grande roda branca, surge agora uma meia lua, uma alva e tênue linha.
A noite perde Cibele e as constelações faíscam no negrume celeste.
As previsões astrológicas são alarmantes: a pneumonia asiática chegará
Ao Brasil ou um grande surto de gripe vai se abater sobre todos.
A cheia retoma seu lugar, revolve os seres, a madrugada e todas as águas do planeta.

quinta-feira, maio 15, 2003

INCORRIGÍVEL

A saliência, o toque, o relevo que se abstém de figurações comuns.
Tudo é energia a espargir as sensações. A falta de ar continua.
E ainda que a mente diga não, o corpo responde sim.
Ao final pouco importa os conceitos e as crenças.
O meu céu passa a inferno, as labaredas consomem o ar puro.
O oxigênio alimenta a força ígnea de atração.
A mesma que transforma em combustão os sentimentos.
Fusão, concatenam secreções e salivações.
Os olhos dizem a verdade.
E aí não há motivos para não querer estar outra vez.


segunda-feira, maio 12, 2003

A FADA AZUL



Após a tragédia e fatalidade,
A fada azul surgiu para o menino com varinha de condão.
Do onírico cobiçado, um sorriso doce e caloroso.
A perseguição do que aparentemente é impossível, é o que produz o inalcançável palpável.
Do céu estrelado e das cadentes que riscam o luar crescente,
Um menino, Pinóquio, revive um conto infantil, a fábula.
A fada azul tocou a menina e a vida voltou a florescer.

domingo, maio 11, 2003

CANINA

Os dias têm sido corridos e eu não ando dando conta nem de mim.
O social agindo e mostrando o movimento, o que no final é sempre um bem.
Dizendo a mim: a vida está aí para ser vivida, dê uma nova chance a você mesma.
E, dessa forma, vou vivendo um dia de cada vez, feito os viciados durante tratamento.
Das minhas compulsões e obsessões sei o suficiente e sei que não há remédios humanos.
Talvez, um entorpecente literário, uma prosa que traga novos olfatos, e uma poesia que descaracterize o trivial.
Estou canina. Antes cheirando, depois mirando. Pareço um cão farejador diante do primeiro contato. Isso serve para tudo e todos.
Estive vendo novos lançamentos, uma passada rápida nas livrarias. E lá está Rubem Fonseca acenando para mim, na mesma bancada de um livro erótico de mitologia. Serão as próximas aquisições. Falei ao amigo que pode me dar um deles, será bem vindo.
Estou enfronhada em ‘We’, onde leio sobre Tristão e Isolda. O mito a se estender aos nossos dias e a desenrolar um pouco das dúvidas românticas.
Ao lado da cama ainda existem outros empilhados e que aos poucos vou dando conta.
Por agora é só dar um alô e boa noite. Amanhã tem mais.




quarta-feira, maio 07, 2003

DOS SÍMBOLOS



As máscaras surgiram ruidosas, o fog de canais e ruelas, o que está atrás do relevo de gesso. Facetas veladas que se mostram independente de máscaras.
Diante de entrecortado diálogo, a figura de Medusa salta poderosa.

Pausa para signos, símbolos, mitos: Tirésias e Hera.
Libra e a cópula divina entre duas serpentes: um macho e uma fêmea.
O universo que se homologa com a dualidade A capacidade perceptiva acerca dele.
Retorno a Perseu. O grande sol no horizonte, o que corta a cabeça da górgona e produz ali o renascimento a partir das profundezas.
Pégaso, o cavalo alado vem novamente à baila, à baia estelar, fruto do feito heróico.
Apolo surge para dizer que sem ele Dioniso não existiria.
Figuras que já habitaram essas linhas, essas paragens.

Medusa não. É a primeira vez que a mulher de cabelos de serpentes aparece aqui.
Não se aproxime ou vira uma estátua de sal. Antes de monstruosa, uma ninfa.
O que encobre dentro do grotesco a beleza que no pavor transborda?
O que está circunscrito ao jogo que nem mesmo sei do que se trata?
Quantas imagens ainda na mente que dão caldo na razão?
Como figuras tão díspares compactuam os mesmos espaços?
Revigoro-me ao encontrar ressonância na Insustentável Leveza do Ser, em Henry and June e no olho arrancado em Gangues de Nova York.

segunda-feira, maio 05, 2003

MAIO



Adeus a abril e a tudo aquilo que foi sabido.
Avalanche de água fria, dias a revirar fotos e blogs.
Exaustão, leitura, noites de pesadelo.
Notícia, tiro à queima roupa. Melhor assim.
Tempo de curar definitivamente as feridas.
Lamber as chagas e estancar o sangue vivo que ainda escorria.
O destino é caprichoso e acaba sempre mostrando uma nova via,
Quando menos se espera um raio: Maio.


sexta-feira, maio 02, 2003

DO AMOR



"O amor é sempre certo, ele talvez seja o único instante, dado aos homens pelos deuses, para que experimentem
por alguma fração de tempo a sensação da imortalidade".

Márcia Frazão

quarta-feira, abril 30, 2003

DOS ESCRITOS

Das roupagens que vê todas o seduzem.
Persegue outros recônditos,
Percebe o que é mais fácil à claridade.
Ao contrário do que vive na escuridão dos lagos,
Entre a bifurcação que divide a existência.

Borda versos, envolve-a com sedas e salpica
seus cabelos de strass.
Vive num reino antigo, de linguagem coloquial que se digladia com o capítulo anterior.
O livro ainda parece um emaranhado deslinkado.
O que um grupo de jovens exploradores e uma princesa têm em comum?
Apaga tudo e recomeça o envio.

À noite quando relê o ensaio, redescobre-se, as tantas almas agrupadas num só corpo.
Ela dá sustança à personagem, que dessa vez discorre sobre vontades, as verdades nada convencionais que existem em seu íntimo.
Muralha construída com experimentos puros, intensos, livres.
Quais ainda resistem ao tempo?
Quais ainda divide lençóis, tempuras e rouxinóis?





segunda-feira, abril 28, 2003

REFLEXÃO

"Não há nada oculto que não deva ser conhecido e não há nada guardado que não possa ser revelado.

Dizer a verdade para aqueles que não podem entendê-la, é mentir para eles. Desvelar a Verdade para
estas pessoas, é profaná-la."

Eliphas Levi


sexta-feira, abril 25, 2003

DEUSES

Eros acerta-me com suas flechas,
Carregando-me pelo espaço, derramando seu rastro de poesia e sonho.
As sensações se perpetuam pelo caminho sagrado.
Transformam circuitos no céu, Kundaline a percorrer a espinha,
Serpente a desenhar cometas, asteriscos e estrelas.
Curva, lemniscata, constelação, ponto de interrogação.
Pela passarela de magma brilhante,
Afrodite atravessa a ponte de mãos dadas com o deus-menino e,
Recebe Dioniso para o encontro.
A trilogia busca Pã, o deus brincalhão das florestas,
Meio bode,meio homem, com sua flauta mágica.
Juntos com as ninfas, as hemadríades e as dríades,
Bebem tinto e celebram o amor

quarta-feira, abril 23, 2003

WILD WATERS



Cascos e cascalhos, água em metamorfose,
espuma a redesenhar a estrutura.
Transforma o líquido em tecido,
O aquoso meio em densa estrutura.
Entre um volteio e outro, surge o primeiro esboço.
Em seguida a face, as narinas abertas, os olhos grandes e vivos.
No redemoinho seguinte mais um pedaço rompe o mar, o pescoço longo e musculoso.
E aos poucos Iemanjá vai arrancando de suas águas selvagens animais.
Figuras que habitam agora o meu e teu oceano.

segunda-feira, abril 21, 2003

DAS PROFUNDEZAS

A música dá liga, lembrança de ontem.
Feromônios feitos um para o outro.
Escorpião a mostrar sua força, sensibilidade.
Ferrão a marcar território e deixar sua presença.
Eletricidade que produz variações na estática,
Saindo do cento e vinte e passando a duzentos e dez.
Exploração olfativa, água do mar, vento do litoral.
Crepúsculo a envolver espuma e beijos sob céu estrelado.
Lua que acompanha os passos na areia fria, corpos acesos.
Namoro você, ainda que seja só aparição, espectro a abraçar-me.
Cerro os sentidos, inteira sob ti.

domingo, abril 20, 2003

VENTO NORTE

Tempo de vida e de morte.
Estaciona o tempo e a realidade desce feito avalanche,
Demolindo tudo que aparentemente está encerrado.
A vida muitas vezes me parece fútil e desnecessária.
Não quero saber de estórias e frases perfeitas,
Nem livros, nem palestras e muito menos receitas testadas.
Paliativo contra o que é imponderável.
Encarcero-me em divagações e daqui não saio.
No íntimo há um desconforto enorme em se fazer real, presente.
Pergunto aos tais caras invisíveis se algo vai acontecer.
Sempre me senti assim, de lugar nenhum.
Sem lar, sem laços, máquina operante no automático.

sexta-feira, abril 18, 2003

VENTOS

"Por séculos os povos acreditavam que houvesse quatro tipos básicos de ventos, correspondentes às quatro direções ou quartos da Terra. São eles o vento norte, leste, sul e oeste. Cada um possui suas próprias virtudes mágicas, e determinados encantamentos são mais eficazes se praticadas durante certos ventos.Os quatro ventos estão relacionados aos elementos, e isso pode ser levado em consideração, se não esquecermos que cada um deles possui seus próprios poderes peculiares.


Vento Norte

O vento norte é o vento da morte - mas não necessariamente da morte física. Estes são os domínios da eterna lei universal - mudança. "Morte" aqui se refere à eliminação de negatividade. O vento norte é frio (em termos de magia), soprando da direção do inverno e das neves profundas sobre as terras. É "seco", ou infértil, abrindo assim caminho para encantamentos de destruição.
Se por um lado o vento norte é frio, ligado à noite, à morte e às neves profundas, é também o vento do elemento terra, e, portanto compartilha de algumas de suas características. Mas o vento, por ser seco, não favorece a magia de fertilidade e prosperidade, enquanto a magia de cura é bastante favorecida pelo vento norte.
Sua cor é o preto da meia-noite.

Vento Leste

O vento que sopra do leste é o vento do frescor, da vida renovada, da força, do poder e do intelecto. É um vento tépido e revigorante que sopra do ponto de onde surgem o sol, a lua e as estrelas. Portanto, este é o vento que envolve novos reinícios, os novos
fenômenos que surgem a partir do trabalho do vento norte. O calor provém do sol, e da centelha da criação.
Uma vez que o leste é a direção do nascer do sol e da luz, a cor é o branco.

Vento Sul

Quanto mais ao sul se viaja, mais quente é o clima – neste lado do Equador, pelo menos. Por esta razão, o vento sul é quente e fogoso. Simbolicamente, ele rege o meio-dia, quando o sul (ou a lua) está no ponto mais alto do céu, num período de intensa luz e calor. Por ser associado ao elemento do Fogo, a magia do vento sul lida com as mesmas coisas. Esse vento, no entanto, pode ser utilizado para qualquer tipo de magia. É um bom período para lançar encantamentos.
A cor do vento sul? Amarelo, o amarelo do sol ao meio dia.

Vento Oeste

O vento oeste é aquele que sopra frio e úmido. Pode carregar um pouco de chuva ou névoa enquanto sopra sobre a terra. É uma força fértil e amorosa, gentil e persuasiva. Simbolicamente, rege o poente, quando tudo está parado; o dia e a noite se misturam numa paisagem mágica de cores mudas e brisas frescas. O pôr-do-sol, assim como o nascer do sol, é um período excelente para praticar magia - principalmente se o vento correto estiver soprando.
O vento oeste é azul como o céu pouco antes de suas luzes sumirem."

quarta-feira, abril 16, 2003

PLENILÚNIO DE ÁRIES



Lua de Áries, Lua do Carneiro.
Aríete a desbravar o que está emperrado, fechado, lacrado.
Fogo que transforma o sólido em líquido e o líquido em gasoso, é ao mesmo tempo calor e luz.
É energia, vontade, ação criadora.
Símbolo da metamorfose, leia-se transformação.
Princípio divino ativo, ardor original que suscita o mundo dos fenômenos.
Páscoa, início do período, o impulso inicial.
Energia dourada a circundar nossa atmosfera,
Proporcionando iluminação, direção e realização.

segunda-feira, abril 14, 2003

CORREIO

A labareda tocou e chamuscou a pele dele, crepitando o passado, queimando o ontem. Salamandras multicores estalam em seu íntimo, esquentando, incinerando o que não vai bem.
Talvez não saiba se uma presa, um novo domínio, ou a proliferação da própria espécie seja capaz de arrebatar seu interesse. Perdido dele mesmo, numa grande savana, árida. Talvez o sol em excesso tenha detonado o resto de brisa que poderia soprar, impedindo a calmaria e o necessário refresco à sobrevivência.
Entretanto, Brígida despertou o que possui de melhor. A Deusa sempre faz das suas.
Escreveu pra menina na lua. Disse da ausência e ao mesmo tempo trouxe à tona alguém do passado, alguém que vive e pulsa, ainda que de uma maneira mais domesticada agora.
Na ampulheta a areia desce lentamente pelo pequeno orifício, apontando a velocidade de tempo e espaço. E, sinaliza para a urgência do agora, independente de credos, armaduras, batalhas e cenários. Somos personagens da grande engrenagem, num palco imensurável, num planeta distante, nem Kripton e nem kriptonita. Nem super heróis.
Somos heróis, sem o super, às vezes com muitos poderes e nem nos damos conta disso.
O existir já cria tantos episódios e balões de quadrinhos, que o título, a outra publicação fica a cargo daquilo que vamos dia a dia desenhando por aqui...

sexta-feira, abril 11, 2003

BRÍGIDA

Inspiração dos bardos, Brígida como deusa tríplice do fogo - também conhecida como ‘luminosa’- caracteriza-se por unir três polaridades ígneas: o fogo da inspiração, o fogo da poesia, e o fogo da cura e adivinhação.
A lenda diz que Brígida servia de musa inspiradora aos poetas, nasceu como uma chama que saía do alto de sua cabeça, unindo-a ao universo. Ficou conhecida como santa Brígida no ano de 450. Filha de um druída, era uma ferreira e curadora.



"Deixe que eu me aproxime de você
através da bruma
através do fogo
através das plantas
através das fontes profundas e abundantes
com idéias
visões
palavras
música que penetra nos ouvidos
Deixe que eu a comova
anime
estimule
até que suas perspectivas mudem
e sua mente / corpo / espírito exploda
e você seja deixada em pé
no rastro do que foi revelado
e a vida pareça muito doce".

(Inspiração, Brígida)



quarta-feira, abril 09, 2003

DESARVORAR

Driblar o que martela incessantemente é trabalho hercúleo.
O interessante é observar como o pensamento tem poder,
E o que é pra ser, assim acontece.
Muito mais pela vontade do que pela razão.
Como aríete detonando qualquer barreira que se sobreponha à trajetória.
O inesperado acaba produzindo certeza.
Do esbarrar, na conspiração do acaso.
No esquivar olho no olho, encabulamento.
Disfarce, sensação de perigo.
Falta de ar, plexo solar comprimido, fissura.
Deleite é pouco.

segunda-feira, abril 07, 2003



Trote, galope, cavalaria.
Um cão se põe em perseguição.
Late e o som se perde por entre a marcha eqüina.
O estrondo, a força, o impulso sacodem as entranhas.
Certidão do que vai nessa essência selvagem.
Liberdade, crinas ao vento, eriçadas ao toque.
Corrida sob neblina de areia, foco em disparada.

sexta-feira, abril 04, 2003

OS TRÊS OLHOS

Estava terminando o livro Autoconhecimento, de Divaldo Franco, e numa das últimas folhas um parágrafo chamou atenção. Dizia que São Boaventura, também conhecido como o Doutor Seráfico, influenciou místicos medievais ao propor a saída dos interesses objetivos ensejando o infinito campo do mundo subjetivo, transcendente, ao anunciar que são três os olhos pelos quais se observa: o da carne, o da razão e o da contemplação.

“ O primeiro enxerga o mundo material, exterior, as dimensões relativas do tempo e do espaço, os objetos, as coisas, as pessoas, preso às sensações imediatas; o segundo vê a lógica através da arte de filosofar, ampliando as percepções da mente; e o terceiro, que faculta penetrar no mundo oculto, da intuição, das realidades transcendentes, extrafísicas.
Esta proposta se ajusta à realidade do ser tridimensional da Codificação Espírita: a carne entra em contato com o mundo físico, o perispírito registra o mundo mental, extra-sensorial, e o Espírito sintoniza e se alimenta com a estrutura da realidade , onde se originou e para onde retornará”.



quarta-feira, abril 02, 2003

ABRIL



O que vibra agora são dias de outono,
Abril a se espargir com a entrada de Urano em Peixes.
Um período humanitário e onde as forças concretas mimetizam sonhos,
Proféticos ou não, projeções ou idealizações acalentadas.
Ganhamos em profundidade e realização.


segunda-feira, março 31, 2003

MERIDIANOS

Existem dias estranhos. O incenso de sândalo impregna o ambiente.
Eu me sinto assim, vontade de não sei o quê, que não têm pressa, não pede, não quer, não faz. Permaneço à vontade, numa letargia contagiante, daquelas que você lê, sabe o que se passa e ainda assim nada consegue atingi-lo.
Nem os mísseis, nem bombas e muito menos homens-bomba serão capazes de acionar o estopim. Muito menos a pneumonia que mata na China e já era esperada por astrólogos-epidemiologistas. Será que iremos reviver uma Peste Negra em pleno século XXI?
Aqui a paz reina de uma maneira diferente, sem ansiedade e nervosismo. O corpo anda serenado, aquietado, como se esperasse o vulcão ser novamente acionado. Aguarda o impulso telúrico para jorrar lava por todos os cantos.
Não há forças externas que consigam tirar-me desse torpor abençoado. O momento é desse jeito, de averiguar a recuperação de quem se ama. De agradecer a melhora.
Faço o que tenho vontade, seguindo o anjo que assopra na orelha: vai...
Permaneço dentro dos limites do que me é confortável, dentro daquilo que só a alma compactua com a natureza e tudo o que de alguma forma cala fundo, o primitivismo, o atavismo, e quem sabe um pouco do instinto que não dá refresco e pede sempre mais uma dose de fruta, às vezes de água, uns cubos de gelo ou um punhado de doce. Às vezes tudo isso junto e eu dou conta...
Nem assim, a solução consegue saciar. Vou em direção ao que me acompanha os pensamentos, cobiça que leva do santo ao maldito, impossibilitando o tal do caminho do meio. Os orientais são sábios, eu sei. O meio é sempre mais difícil. Interagir entre os dois extremos e não tombar para nenhum dos lados é sempre o mais complicado. Será que alguém consegue não exagerar na dose ou só eu que me empapuço de divino e mundano?