sábado, agosto 30, 2003

NO FOG

Bisbilhota, escarafuncha, os olhos seguem as letras, as orações, suas coordenadas.
Nem sempre transitivas, nem sempre diretas. O sábado é frio, gélido, tal a alma que abriga o corpo.
No ser resquícios de uma estória bonita, das tantas que vamos desenhando pela existência.
Tínhamos pureza, um quê de criança, um toque doce, quase algodão doce, multicor, arco-íris.
Pelo coração saltam selvagens criaturas, indomáveis cavalos, sigo o destino.
Sem ter como medir o próximo instante, comandada pela vontade, suspensa pelo ar, em devaneio.
Amanhã é outro dia, ainda bem. E já, já se faz setembro.
Quando a primavera chega e explode flores, rascunha paisagens coloridas, anula o fog ao redor.
O mesmo que nebula os olhos, esses mesmo que aqui estão a seguir a trilha dessas letras,
desse texto sem sentido, quando só o ser fala e a razão vai comprar cigarros na esquina.
Uma baforada e tudo se esvai.


terça-feira, agosto 26, 2003

OLHOS NOS OLHOS

Na quietude da madrugada, onde só os dedos e o teclado agitam-se,
minha alma se compraz na serenidade.
Nada que um dia depois do outro não possa fazer-se novo.
Uma paz tamanha, do tamanho do agora, desse presente.
Sem ansiedade, sem dores, sem tristeza e menos ainda lágrimas.
Estou renascendo, creio eu.
Redescobrindo quem é essa que agora pulsa, em compasso.
Sem nada que agigante o sentimento, sem o amor que desafia a razão.
Daqui vislumbro você que com olhos curiosos acompanha meus passos.
Fique à vontade, a casa é sua também.
Tome um café, quente, fumegando, numa xícara clara e espaçosa.
Estenda os pés no puff e relaxe sentindo o ar puro que entra pela janela.
Na escuridão do céu, uma cadente risca o vazio, prenúncio de um amanhã.
O meu, o seu, o nosso.

sexta-feira, agosto 22, 2003



Ouvia a ladainha:
Nunca te deixarei.
Nunca te desampararei.
Você nunca está só.
Não há espaços vazios.
.
Entretanto, no murmúrio das ondas, o som era outro.
Barco a roçar as gigantes que espumavam no casco.
Infindo e instável, temperamental.
Azul marinho, denso, impenetrável.
Monstros, seres míticos, a escuridão.
Num salto, relâmpago, mergulha.
Silhueta madrepérola, nadadeira protuberante, ser do oceano.
Desligo os motores. Remo, distante da costa.
Longe da areia, da linha branca que acena vida.
Na imensidão do nada, sou tudo que existe.

terça-feira, agosto 19, 2003

Ele criou a série Os Sete Pecados Capitais e como acho esse texto genial o trouxe para cá. Quem quiser conhecer os outros seis pecados é só dar um pulo aqui.

LUXÚRIA

Copular com a minha mãe e ser pai do meu irmão.
Copular com a minha irmã e ser pai do meu sobrinho.

É como fazer sexo com um livro e criar a sua continuação
Substantivos trepam com verbos e fazem uma oração
Transar com ritmo e melodia é fazer uma canção.
Trepar com o como e o porque e gerar razão.

Na natureza não há incesto: pois uma floresta é filha de si mesma e se cruza infinitamente.

O hermafrodita (ideal) não precisa de ninguém.
Mas o ortodoxo precisa do heterodoxo
O homogêneo precisa do heterogêneo
O homossexual precisa do heterossexual (longe)

Fazer sexo com animais e parir deuses e demônios
fazer sexo com leis e parir regras
Fazer sexo com tradição e parir costumes.

Contradição:

A mulher é côncava, o homem é convexo. A porca é côncava. O parafuso é convexo. Encaixando homem e mulher se constrói a humanidade. Encaixando o parafuso e a porca se constrói máquinas.

Penetrar até os ovários. Penetrar vários.

Engravidar a própria filha é ser pai e avô ao mesmo tempo.
Engravidar do próprio pai é ser mãe do seu irmão.
Engravidar a própria sogra é ser pai do seu cunhado.

Mas para a humanidade ir em frente, é preciso que a mulher enfrente: para ir em frente é preciso parir.

O macho e a fêmea geram cria
O sol e a lua geram dia
O positivo e o negativo, a energia
A tristeza e a alegria, harmonia
O conhecer e o desconhecer, a sabedoria

O luxo é coisa para poucos (parceiros), mas a luxúria é coisa para muitos(parceiros).

Gregory Grimaud

sábado, agosto 16, 2003



Pra quem curte Western, a boa pedida hoje é o lançamento do livro 100 Anos de Western, escrito pelo desenhista de quadrinhos, e tio de coração, Primaggio Mantovi, com participação e dedicatória ao velho aqui de casa, José Menezes, também quadrinista. Quem estiver em Sampa pode conferir a festa a partir das 18h30, na Villa Counstry, à Av. Francisco Matarazzo,774/810.

O livro conta toda a história do gênero desde seus primórdios, em 1903, até os dias de hoje, passando por fatos históricos e políticos que marcaram não só o cinema, mas o mundo todo. Desfilam pela obra grandes personagens do velho oeste, como Búfalo Bill, Calamity Jane e Wyatt Earp, escritores, como James Fennimore Cooper e Zane Grey, diretores como John Ford, Raoul Walsh e Sam Peckinpah, além de astros e estrelas como John Wayne, Gary Cooper, Gregory Peck, Randolph Scott, Clint Eastwood, Barbara Stanwick, Marlene Dietrich e Maureen O’Hara.

As 148 páginas do livro não enfocam apenas as grandes produções hollywoodianas, mas também os chamados filmes B, os telefilmes e - não podiam faltar - os famigerados spaghetti westerns, produções italianas que, na década de 60, "ousaram" explorar o gênero cinematográfico definido pelo escritor francês André Bazin como "o cinema americano por excelência". Formato 21 x 28 cm

quinta-feira, agosto 14, 2003

PERSEIDAS, AGOSTO E JACARÉ

Com gosto, gosto de Agosto.
Ainda que muitos se mostrem agostados mediante o azar,
felicidade é o que transborda nesse período.
E aí não há crendice que redima o meu gostar.
Principalmente diante do plenilúnio de Leão, realizado ontem.
Frutas, roupas, bandagens amarelas e brancas. O ouro, a alquímica
busca por transmutar metais pobres no mais valorizado.
Também devo registrar a tempestade de meteoritos que invadiu o hemisfério norte esta semana e eu estava ausente para falar disso aqui. Chama-se Perseidas, tendo em vista que a chuva que riscou o céu teve início na constelação de Perseu. O fenômeno é caracterizado por uma chuva de estrelas cadentes quando passa pela Terra uma nuvem de poeira cósmica deixada para trás por um cometa.
Agostinhas frescas cairiam perfeitamente bem no cenário paradisíaco proposto no céu islâmico, com virgens de sete véus e fontes a jorrar leite com mel.
Desgosto deve ser estar frente a frente com a falta de sonho e perspectivas.
Quem sabe um agostiniano consiga derrubar conceitos tão antigos como esses professados
através da fé cega. Aposto que ele não vai sentir gozo mediante ao inevitável futuro, mantendo-se, insosso, quase morto.
Pego jacaré mais uma vez nas ondas agostinas.




segunda-feira, agosto 11, 2003

A NOITE DE ONTEM

Velas perfumadas, vermelhas e brancas no bar.
Amigos chegam e abraçam, tiram retrato,
imortalizam o sentimento que transcende ao tempo.
Ela e ele me apertam num sanduíche, onde eu sou o recheio, e dizem: Aninha, eu te amo.
E eu respondo a eles: eu também.
Como é sempre benéfica a presença pisciana,
Transbordam emoções e não cansam de dizer e demonstrar.
Tesouro esse, os amigos, os de muito tempo.
No balcão suspiros, olhares, cantadas baratas, cerveja e pinga.
Ondas voláteis como um fugaz encontro na noite.
Pizza com rúcula, novamente ela aí, mas com tomate seco.
Delícia, que não é cremosa e tão pouco margarina.
A madrugada avança, os carros embaçados, um frio de rachar a pele.
A chuva estancou, mas o vento é cortante.
Conto das minhas tarefas espirituais, a conversa sempre acaba aí.
Falamos de anjos da guarda, ciganas e malandro.
Ela me convida a almoçar amanhã, mas o dia vai ser cheio.
Fica mais uns dias por aqui e volta pra Brasília.
Reclama que tem dez anos que está lá e eu não a visito.
A conversa não termina e já estou no portão de casa.
Nos despedimos, entre abraços e uma saudade que nunca finda.
Entro e constato que a fumaça grudou no cabelo e impregnou o resto também.
Largo as roupas no banheiro. Caio na cama, desmaio.

quinta-feira, agosto 07, 2003

MATIZES



Nas cobertas coloridas e difusas um rabo de sereia.
Farfalhar de papel crepom, tal a textura do que a abriga.
A mistura é quente, desfazendo-se, em seguida, em diluídas cores.
Paleta em degradée que acaba atingindo à pele corada pelo sol.
O torço descoberto, o coração em batimentos ritmados.
Um livro nas mãos a chama para uma vida diferente da que ela têm.
Abrem-se idéias inusitadas, algumas que jamais ousou pensar.
Absorta, relê um trecho incessantemente, enquanto a cabeça vaga.
Um vaso de cores magenta é pitada a contrastar com os cabelos castanhos.
Um foco insinua-se no quadro como voyeur a velar seu corpo.

segunda-feira, agosto 04, 2003

OUTROS TEXTOS

Acho que a maioria que anda por essas paragens sabe que faço parte de um blog coletivo, o Collectanea. Um felino negro ilustra o mural de domingo.

E pra quem gosta de crônica, participo, pela primeira vez, do site Crônica do Dia, com o texto "Eles sonhavam com o Happy End".

Enjoy it.




sexta-feira, agosto 01, 2003

AGOSTO



Toc, toc, toc.
Alguém morre de medo de presságios e começa a manhã batendo na madeira.
Tenta isolar qualquer coisa negativa que possa vir em sua direção.
Não quer se dar ao luxo de deixar que nada ruim se aproxime.
Mantem-se à distância do que chamam de agouro.
Hoje, tem início o mês mais mal falado do ano.
Particularmente gosto de agosto, ainda mais começando numa sexta-feira.
Só faltava ser treze para dar mais sorte e provocar sortilégios.
E para abrir mais trinta e um dias, um pouco de escuridão num blog
tão ensolarado como este. Que ela venha e traga sua horda de mistério e
figuras sombrias que se alimentam à noite.
Uma coruja branca, um gato de olhos flamejantes sob o céu coberto de strass.