sexta-feira, dezembro 31, 2004

2005

No doce paladar de colorido frutose,
na mexida e mistura, colabora com sabores.
Mel que encharca os pedaços,
enzima que coaduna vertigens.
No dezembro recheado de iguarias,
as mãos criam o futuro,
transformam o que é estático em vida.
Aqui me preparo para as festas,
para os dias regados de alegria,
congraçamento e família.
Nos dias subsequentes, folia.
Aquela que diz adeus ao passado e
lança flechas, as de esperança em 2005.
A Lua, regente dos próximos dias, do ano que se anuncia,
cria o clima amoroso, aquático, uterino e romântico.
É esperar e viver, intensamente, o que se aproxima...

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Faz uns dois meses que eu ando com esse pensamento na caixa de entrada do Outlook. Aliás, eu comumente faço isso com aquilo que me toca e precisa de resposta. Muitas vezes a resposta sai de supetão, no afã, sem revisão, como agora que escrevo movida pela vontade. O ímpeto comanda os dedos, a sensação, uma estranha força que impulsiona o que aparentemente parece adormecido.
A chuva cai torrencialmente, saímos na primeira página de jornal, inundação, alagação, a cidade submersa pelo dilúvio divino em bicas de Natal. Eu não gosto dessa data, nunca gostei. Uma sensação de vazio sempre se apodera e a vontade é de fazer algo que preencha uma estranha tristeza que toma conta. Já pensei em sair por aí e distribuir comida, dar o muito que tenho a quem nada possui. Ainda vou fazer isso, talvez minha alma se compraza e encontre um significado real para a comemoração do dia 25. Para mim, apenas uma data, uma data como muitas forjada por um papa louco que transformou o calendário. Nada além.

Mas não era nada disso que eu ia postar aqui, hoje. Esse pensamento que a Angel Blue publicou no Multiply está aqui desde outubro e por muitas vezes parei para relê-lo, vou deixar para quem aqui parar e chegar até essas minhas mal traçadas linhas:

"Nenhum homem deve passar pela vida sem
experimentar uma vez a saudável, ainda que
entediante, solidão no ermo, dependendo
exclusivamente de si mesmo e, assim,
descobrindo a sua força oculta e verdadeira".

Jack Kerouac

terça-feira, dezembro 21, 2004

AS COXAS DO CRISTO

Hoje comemora-se o solstício de verão, a entrada propriamente dita da estação. Eu ia postar alguma coisa sobre o tema, mas vou deixar para amanhã. Diante desse texto da Márcia Frazão, foi impossível não sucumbir à luxúria e trazê-lo para cá.

"Quando veio de Portugal, Virgínia trouxe um estranho missal: um caderno com receitas de pães, biscoitos e massas. O marcador era um cristo nú, pendido na sensualidade das coxas cruzadas. Embora crucificado, não demonstrava dor. Cheirava a pão e farinhas. Às vezes, era salgado, outras, doce, e algumas vezes, apimentado. Virgínia beijava-o antes de iniciar qualquer receita do velho missal. Fechava os olhos, suspirava um pouco, dava-lhe um demorado beijo e, depois, com os dedos roliços, acariciava-o. Jesus aprovava... Quando fiz 15 anos, Virgínia chamou-me para fazer um pão. Ofereceu as coxas de Cristo para que eu as tocasse. E foi nesse dia que aprendi que luxúria não é pecado!"


Receita do Pão da Luxúria

Ingredientes:
1 tablete de fermento de pão
1/2 xícara de água morna
1 xícara de batata amassada (cozida)
1/2 xícara de mel
1 colher de chá de sal
1 xícara de leite morno
1 xícara de água de batata
farinha de trigo para deixar a massa elástica

Modo de Fazer:
Dissolva o fermento na água morna e, depois de devidamente dissolvido, junte todos os outros ingredientes. Trabalhe a massa e coloque-a para descansar e crescer. Depois de crescida, transfira-a para uma forma de pão e asse por 45 minutos, em forno bem quente.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

UMA LENDA...

Há muitos anos, nas margens do Rio Amazonas, Naiá, uma jovem e bela índia, ficava a admirar e contemplar por longas horas a beleza da Lua branca e o mistério das estrelas. Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a Lua deitava uma luz intensa nas águas, fazendo Naiá subir numa árvore alta para tentar tocar o astro. como não conseguia obter êxtio, ela decidiu subir as montanhas distantes para sentir em suas mãos a maciez aveludada do rosto da Lua, mas novamente falhou. Naiá acreditava que a Lua era um bonito guerreiro - Jaci - , e sonhava em ser noiva dele.
Numa noite, a moça deixou a aldeia, na esperança de realizar seu desejo. Ela tomou o caminho do rio para encontrar a Lua. Refletida no espelho das águas, lá estava ela, imensa, resplandescente. Naiá, em sua inocência, pensou que o astro tivesse vindo se banhar no rio para permitir que fosse tocado. Ela mergulhou nas profundezas das águas, desaparecendo para sempre.
A Lua, sentindo pena daquela jovem vida perdida, transformou Naiá em uma flor gigante - a vitória-régia - com um inebriante perfume e pétalas que se abrem nas águas para receber, em toda sua superfície, a luz da Lua.