sábado, dezembro 18, 2010

cintilações

Crio mais uma vez, talvez porque isso faça parte do impulso,
do primitivismo que nasce nas reentrâncias, nos recônditos do ser.
Deixo que a imaginação teça uma história romântica, ainda que você não a queira para si.
Ás vezes assopra, larga interrogações, procura quando estou longe ou me afasto.
Diz que pode magoar, ferir, deixar uma marca estranha e da qual muita gente não gosta.
Não creio assim, o vejo tão doce, puro, límpido como um amanhecer azul.
Seus olhos já cintilaram e não puderam esconder o que sentia.
Enquanto isso, os meus, vidrados, refletiam a energia que conjuminava o instante.
E, assim, movida por sonhos pueris, deixo-me guiar pelas batidas céleres e loucas que desarticulam o racional. Não controlo o que gostaria.
Fixo pensamentos, crio formas, libero sonhos, me entrego ao que sinto, mesmo que isso faça parte das cintilações.
Liberta, solta, voa...mergulha no ar e chega até você.

terça-feira, julho 06, 2010

NAMORO

O namoro tem vida intensa e breve. E é por isso que é tão belo e a sua memória - saudade - mora e dói em nossos corpos. Fica como nostalgia de um amor que deveria durar para sempre. Romeu e Julieta tinham de morrer, para que sua estória dissesse a nossa verdade e quiséssemos sempre ouvi-la de novo. Ah! Como seria bom se fôssemos sempre jovens, puros e ardentes! Então o mundo inteiro seria luminoso e viveríamos a cada dia a promessa suprema da religião: a ressurreição do corpo. Corpos enamorados são corpos ressucitados.Há a estória da menina e do pássaro encantado. "Preciso ir", dizia o pássaro. "Não vá". respondia a menina, ingênua. E ele respondia: "Vou para que o amor retorne. Você não entende que só sou encantado por causa da saudade?". O Namoro acontece somente na dor da distância, quando os dedos se tocam de leve.

(Rubem Alves - do livro: do universo à jabuticaba)

quinta-feira, março 25, 2010

SILÊNCIO

"Eu comecei a ouvir Fernando Pessoa conhecia a experiência...E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras...No lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos e do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...Que de tão linda nos faz chorar..."
Rubem Alves