terça-feira, julho 30, 2002

Entre os mil tipos de noite que existem, escondidas no meio das outras, dormem as azuis, as brancas e as desgraçadas. De vez em quando, uma delas acorda para dar plantão. A gente identifica logo.


Nas noites azuis, as crianças sonham com os anjos. As mulheres sonham com beijos. Os homens sonham com feitos. As dores roncam profundamente.As gentilezas saem por aí a passeio, os crimes tiram uma noite de folga e o amor sofre uma terrível insônia.
Os casais acordados sussurram baixinho. (Se alguém despertar, eles não estarão mais sozinhos). No entanto, os sonhos acordados falam mais alto, ansiosos para ser logo promovidos a fatos.
Os namorados namoram, namoram e namoram, pois quem vai fazer a besteira de não aproveitar uma noite azul para esse tipo de coisa? As partes tentam se colar uma na outra. O escuro vira cúmplice. Cada olhar cumpre sua cota.A lua ajuda no que pode. As estrelas se empenham especialmente. Os vaga-lumes executam seu trabalho. A brisa e o calor se alternam no ritmo dos suspiros. As mãos também fazem cada qual sua parte. Nas noites azuis,o preto, o marrom, o roxo, o cinza e todas as outras cores descansam, exceto o dourado.
Os velhos sentem vontade de dar pulos. Os adultos têm ataques súbitos de doidice. Os adolescentes se tornam as vítimas preferidas dos acasos. É como se tudo fosse festa. A bebida desce bem, nas noites azuis. Depois sobe, pra cabeça, e então a gente pode cometer o que quiser, inclusive insanidades. Tomara que não amanheça, tomara que não amanheça, tomara que não amanheça, tomara.
Nas noites brancas, os sonhos de quem dorme sentem falta das idéias melhores e aí vai qualquer uma mesmo: escola, ônibus, engarrafamento, caneta, carteira, trabalho, até documentos serve. A chatice às vezes dá para chatear as dores e elas não dormem direito. Doem acordadas.
O resto todo fica quieto. Até mesmo os namorados. As alegrias cochilam de vez em quando. O escuro não se mete. A lua fica muito preguiçosa. As estrelas discutem entre elas. Os vaga-lumes passam em branco. A brisa não sopra. O calor não esquenta. As mãos permanecem cruzadas. As cores todas se misturam na roleta da noite e então desaparecem.
Os velhos balançam nas cadeiras. Os adultos fazem contas. Os adolescentes se trancam nos quartos porque as festas foram todas devidamente canceladas. São sóbrias, as noites brancas.
Devido à falta de surpresas, o amanhecer não atrapalha.
Nas noites desgraçadas, os pesadelos se intrometem entre um respirar e outro, abreviando os outros espaços. Em compensação, os ponteiros dos relógios tropeçam, empacam, se arrastam, e não aceitam ordens nem pedidos.
Os namorados estao cansados, ou desanimados, ou raivosos, ou sozinhos. Em todos os casos não se beijam. Preferem fazer uso das bocas para pronunciar palavras, uma após a outra, formando frases enormes. Infelizmente não se entendem.
No meio da gritaria, as dores acordam irritadas. O escuro ameaça. A lua não dá as caras. As estrelas fecham os olhos. Os vaga-lumes andam sumidos. A brisa se enfurece em desaforos. O calor sente falta de casaco. As mãos deixam escorrer qualquer oportunidade.
Noites assim quase sempre não têm cores. Nem música. Nem dança.
A bebida não faz bem. Faz mal ao fígado.
Os velhos morrem de saudades de antes.Os adultos se irritam facilmente. Os adolescentes envelhecem anos. Não há o que festejar em noites desgraçadas, a não ser o amanhecer, quando ele chega. Mas é só o sol arrebentar a teimosia das horas e todo mundo comemora: graças!

Adriana Falcão

domingo, julho 28, 2002

Palavras são letras conjugadas,
capazes de expressar o que acontece por dentro.
Muitas vezes essas palavras ferem como navalhas,
machucando o que ainda sangra...
O íntimo não se recupera da dor no compasso dos pensamentos,
e muito menos em orações.
Frases acabam perdidas em diários, feitos de momentos bons e ruins.
Intercalo essas e somo a outras sensações.
Sinto-me cinza, como o tempo lá fora.
Não há sinais de aconchego porque antes que se aproxime,
um balde de água gelada é lançado.
Conto mais um dia, como os drogados em grupos de ajuda,
querendo se libertar do vício.
Fecho mais uma página e a melancolia está aqui ao lado,
sentada na cadeira a me velar enquanto digito.

sexta-feira, julho 26, 2002

SÚCUBUS

Desnudo-me, sem pudores.
Avisa que eu deveria tê-los.
Estou sem proteções, exibindo-me à sua frente: provocação.
Cubro-me com a transparência de um véu rosado...corpo camuflado pela finura
do pano... desenho rubro, curvas rosáceas.
Uso uma das faces que mais te agrada: súcubus a profanar sua alma.
Não resiste e funde línguas sob o céu da minha boca.
Trago-o até a lua que ainda é cheia. Os raios clareiam seus olhos, eles me
fitam.
Incinero tal cordão de estrelas que cintila e cega na escuridão.
Estanco um segundo. Fotografo. Desespera-se com a falta de movimento.
Liberto cavalos selvagens e deixo que me faça sua esse instante.
Tranço sua cintura, miro pêlos do peito, encaixo-me.
Danço tomada pelo ardor secreto que retém....
Rompe caminhos estreitos, acreditando que te pertenço.
Foge, vai embora, transmuta o sentimento.
Vira o rosto e não deixa que o fixe novamente.
Não quer romance, é categórico.
Fala que eu não existo...ficção.
Talvez seja quimera, rajada a revirar suas folhas...
Palavras para noites insones, miragem ao amanhecer...




quarta-feira, julho 24, 2002

Meu irmão telefonou ontem à noite e disse que haviam trocado o modem e que hoje o computador seria entregue. Dormi cedo e acordei com os primeiros raios do dia para esperar o Marco(o outro técnico) com o micro. Ele chegou, ligou aquele monte de fio, e eu ali observando. Na hora de conectar advinha o que aconteceu?! Não ligou, o modem não discava! Olha o telefone, o fio do telefone, mexe nisso, mexe naquilo outro, e nada...
Testa o modem no outro computador, o velhinho, e nada. Vai na vizinha e nada. Volto, ele decide ir embora levando-o novamente. E em seu lugar põe o antigo,mas sem conexão. E como eu não aguento, já falei do vício, estou aqui a contar mais um capítulo da novela...
Estava chegando aqui e Vênus iluminava a noite escura, talvez um bom presságio para a quinta-feira....quem sabe?!
Amanhã espero poder escrever sentadinha na minha poltrona e voltar a visitar os amigos e a postar naturalmente.
É isso. Permaneçam de dedos cruzados, mentalizem um final feliz...

segunda-feira, julho 22, 2002

SEM MODEM

Pois é, ganhei um super monitor, windows novo, um montão de gigas, mais espaço, uma pasta lotada de tudo quanto é tipo de mp3, mas o modem não ligou...quebramos a cabeça até tarde ontem e nada...
Me dá uma certa agonia isso, ficar sem conexão. Acho que sou mesmo dessas viciadas por internet, desde o tempo em que mirc ainda era uma brincadeira de bate-papo com uns poucos usuários.
Não aguentei, eu não resisto. Vim até aqui no meu irmão dar um alô. Depois é rezar pro André, o técnico, não enrolar e aparecer...ainda bem que o modem está na garantia...afe...
Torçam por mim.

sábado, julho 20, 2002

ESTREPULIAS...

Acho que nunca a citei, mesmo constando abaixo parte do trabalho poético que trança com seus dedos ágeis. Ela é Li para mim, Eliane para os desconhecidos. É amiga como a Debora, eu bati os olhos e me identifiquei, reconheci. Talvez, cumplicidade de alma, de outras vidas, quem sabe?! Deve ser coisa de cigana, errante, andarilha. É a própria personificação da boemia agregada ao prazer, ao prazer que move cada um de nós. Danada, ela vive fazendo estrepulias por lá.




sexta-feira, julho 19, 2002

DUAS FRASES...

Deixei para ler o jornal agora de noite, tarde. Peguei o Segundo Caderno e corri para a crônica de Falabella. E entre a falta de assunto que o desesperava, o frio que congelava os dedos, o cobertor sob o colo -imagem idêntica ao que acontece aqui na poltrona gostosa - ficaram duas frases:

"A gente passa a vida enterrando os mortos, eu pensei. Toda uma existência para se despedir de quem se ama".

quinta-feira, julho 18, 2002

"Para uma mulher que é feito a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento;
Tão cheia de pudor que vive nua".



terça-feira, julho 16, 2002

Tenho visitado novos blogs, casas virtuais bastante convidativas. E nessas investidas tenho descoberto lugares realmente aconchegantes, onde sinto-me desnuda, refletida sem armaduras. Vejo minha lista de endereços crescendo e novos amigos chegando. Procuro dar a ela o perfil que molda meu espírito, completando-a de espaços virtuais que falem aquilo que acarinha, ensina e produz ressonância interna, criando milhares de ondas, bolhas a pipocar no céu da gente.E hoje, por algum motivo que o destino escolheu fui dada a um fortuito encontro, no Quase Poesia . Ele, com sua delicadeza calou fundo, dando ares pueris à dor, gentilmente respondendo-me assim:

"A dor é nosso caminho, nossa pintura, nossa música...
Escapar dela pode ser inteligente, perspicaz, prático...
Porém aceita-la como própria e se irmanar com ela é das qualidades a mais nobre...
Aceitar a dor sem se acovardar, sem se deprimir... "
Luis Tavares



segunda-feira, julho 15, 2002

As amigas ligaram, uma dos Eua e outra daqui, do Rio. As duas dizendo: vem pra cá, Aninha. E eu tenho vontade de ir para algum lugar, mas não sei onde. Sei que não adianta fugir, que é preciso encontrar meu centro, quem sou eu afinal depois desses cinco anos...saber que pedaço restou, que aspectos foram conservados, quais foram transmitidos e recebidos. Preciso equilibrar os pratos da balança que andam em desajuste com pesos e medidas...
O dia foi gostoso. Fora as amigas, fiz minha primeira compra virtual. Parece incrível, mas é verdade. Não sou mineira, mas sou desconfiada demais quando o assunto são números de cpf e cartão de crédito. Digo isso porque já vi hackers amiguinhos fazendo o diabo com números alheios...Vem daí a minha desconfiança. O correio tocou a campainha e lá fui eu. Uma caixa quadradinha, ele disse: Ana Lucia? Eu: eu mesma! Assinei e pensei.... Ah! já sei, a compra virtual. Abri o papel correndo, rasguei tudo, não tenho paciência de esperar nada e nem agir feito ser adulto que tira durex, que desembrulha com calma. Quero tudo na hora, de uma vez!
Bem, rasguei o papel, e lá estava ele, confortável, colorido, cheiro de tuti-fruti. Mais bonito do que no site. E gostei tanto que saí com ele. Aliás, é desse jeito com tudo o que gosto e compro. Seguindo os conselhos da poderosa Afrodite, ando me mimando. Dando-me presentinhos, viu, Claudia?! E eu fico feliz com essas pequenas coisas, não preciso de muito para ser feliz...
Cheguei tarde, abri os emails, e lá estava ele....dizendo: estou seguindo.
É especial saber disso, pois deixarei a porta entreaberta para que possa passar...


domingo, julho 14, 2002


"As coisas são inatingíveis?
Ora, não há motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos se não fora a presença distante das estrelas."
Mário Quintana

sexta-feira, julho 12, 2002

Hoje acordei super cedo, com as galinhas, contrariando o que comumente faço. Sinceramente? Odeio acordar cedo. Me peça para passar a madrugada em claro e vou sorrir diante da proposta, mas acordar antes das dez horas já é uma tarefa hercúlea pra mim. Bem, mas como o motivo era mais que justo, levantei junto com os primeiros raios de sol que duelavam com a névoa e o orvalho que cobria o gramado.
Tomei um banho, engoli o café com leite, tomei a vitamina e lá fui eu. Encontrei outras pessoas e fomos trabalhar no jornal lá no GCE. Ficamos o dia inteiro e não consegui acompanhar o ritmo frenético das horas. Chorei, ri, gargalhei tanto que doeu a barriga. Acabei fazendo análise com uma psicóloga amiga, mas sem consulta programada: aconteceu! E foi tão bom e proveitoso, valeu! Me falou de fé, de metas, de ideais e sonhos. Nunca acalentei sonhos como a maioria dos mortais. Não penso em bens materiais como solução para a vida. E também não quero a velhice como a de todo mundo, vendo filme, lendo livro, isso eu faço sempre, independente da idade que eu tenha agora e a que terei daqui há 30 anos.
E ela foi mais longe, disse que está na hora deu olhar pra dentro, esquecer os outros e os projetos de vida alheios. Este é o momento de virar os olhos para mim. E ela está certa. Dirigir melhor a força, a energia, canalizar construtivamente os potenciais...às vezes me esqueço deles...me sinto um grande nada...
Fui acarinhada por Ângela e Karroiz de tabela, e me senti protegida. Os dois me envolveram num abraço gostoso e a luz ao redor aumentou, mostrando a presença amiga dele. O site do GCE agora conta com uma mensagem pessoal diária. A pessoa clica num livro no rodapé da página e imediatamente aparece uma mensagem de Emmanuel. Pra mim saiu a Prece do Amanhecer, que diz da possibilidade do novo dia, dos amanheceres, da oportunidade que nos é dada para recomeçar. E com certeza ela não apareceu pra mim por acaso...ele não existe.
Chego em casa, abro os emails e me deparo com um chamego gostoso, com cheiros e beijos, de alguém que fala de paixão...que bonito! Não sei onde conseguiu encontrar beleza no meu script, principalmente agora quando ando escura. Entretanto, se essas linhas te levam de alguma forma positividade e beleza, está valendo. Um beijo pra você que trouxe luz às minhas sombras....

quinta-feira, julho 11, 2002

OUTROS RETALHOS...

A cidade mergulha em densas trevas, tal como eu.
A névoa encobre a visão, contribuindo para que a fumaça branca contamine tudo,
toda a superfície física e imóvel...
É cortina de vapores impedindo que o lume se faça, escondendo estrelas, apagando a lua nova. Cortei os cabelos e que esse simbolismo seja prelúdio não só de novos tufos na cabeça, mas de um novo período de vida.
Não conheço as respostas dos tormentos. Eles existem, vivos em cada ser...
E meu ser lamenta-se e vive uma tristeza pessoal e intransferível...
A causa pode ser pretérita e felizmente ou infelizmente eu não sei a origem.
Sabe-se que são provas, expiações e tarefas. Não sei qual meu papel, eu nunca
soube o script que me cabe...
E talvez seja esse o sentido dessa angústia, desse vazio enorme que deixa oco aqui dentro... são buracos na alma.





quarta-feira, julho 10, 2002

...RETALHOS...

O quarto crescente rabiscado no espaço dita a nossa pequenez. Já vi esse céu tantas vezes e nunca é o mesmo. Diante dos olhos as estrelas parecem fazer um novo percurso, estabelecendo constelações, conexões de luz e sombra. Sinto-me no todo, parte infinita.
A noite, firmamento de neon, perfumes que se confundem mediante o sopro gelado. Os mascarados e os trajes da estação...
A alma, as vontades compulsivas, os pensamentos repetitivos. A vida brincando de cronologia, desafiando o que chamam de tempo...o que significa afinal?!
Quantas rotas estabelecidas e outras completamente à mercê de ondas? Quantas partidas e chegadas? E sinto que o horizonte, a linha final só existe ali, na paisagem...
Quer batata? Quer chips? Quer Ana Lucia?
Aurê interrompe a conversa trivial diante do que se apresenta à mesa. Toma os ouvidos, o espaço com seu sopro de flauta, um velho conhecido....envolvendo o ar frio que sulca a derme...
O papel é pequeno, bloco de notas.
O desejo é pulsante, uma ressonância de tambor. O som alternativo provoca nostalgia e parece que não há conclusão. Será?! Chegarei aonde?! Reparto-me entre as novas curvas da estrada e, o esperado e confortável...sigo em frente...conto mais um dia.

terça-feira, julho 09, 2002

DOS FETICHES...

Fomos dar uma volta e ela decidiu comprar um espartilho vermelho, meias sete oitavos com renda na coxa e calcinha com zíper na frente. Vestiu, ficou lindo. Ainda vimos algemas de mentirinha com velcro e coleira para dominação. Ela cogitou prender o namorado dessa forma. Botei pilha pra ela levar, mas acabou desistindo da idéia.
Havia máscaras de todos os jeitos: mulher gato, vermelha básica, negra feito a do Zorro. Ainda nos deliciamos com as milhões de fantasias penduradas: Pedrita ou mulher das cavernas, Mulher Maravilha, empregadinha, enfermeira, country, noivinha. Confesso que gosto dos pretos, do vinil, daquilo que vejo como poder. Negro. Um tule, uma renda, uma fenda, uma transparência...os fetiches que povoam o imaginário...
Ela ainda queria levar luvas vermelhas, mas a vendedora fez uma cara triste e disse que não tinha mais no estoque, mas que chegariam ainda esta semana. Ela mostrou ainda outras camisolas, baby-dolls, macaquinhos, vestidos tipo combinação, e um festival de cuecas divertidas: feito elefantinho, com uma tromba apropriada para o dito cujo; básica tipo shortinho de algodão; com tule do lado; e disse que também tinha imitando couro, de vinil, os chamados cuecões de couro. Não teve como não gargalhar.
Entramos e nem nos demos conta do nome da loja. Ao final entregou-nos cartõezinhos e disse que poderíamos acessar o site e conhecer outros modelos. Chama-se Oitavo Pecado. E eu ingenuamente falei: oitavo?! Ela riu e disse: não existem os sete? Pois, então, pensando no que mexe com nosso imaginário e libido, decidi por mais um nessa conta.
Conhecemos o Oitavo Pecado, que não tem nada de capital, é pura provocação ao desejo, é lugar onde não há limites quando o assunto é prazer...

segunda-feira, julho 08, 2002

“[...] O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudades...sei lá de quê!”

Florbela Espanca, Carta no. 147, volume V, Lisboa, junho de 1930

domingo, julho 07, 2002



Estive observando o visual do blog e acho que nunca o vi tão escuro, principalmente as fotos que tenho escolhido, aleatoriamente. Sem dúvida é reflexo do que se passa cá dentro. Como despir-se do véu que atrapalha a alegria e mandar embora o vazio? Ainda não descobri uma mágica capaz de verter lágrimas em sorrisos. Só nos roteiros com final feliz.
Quantas vezes já assisti às Pontes de Madison ou Razão e Sensibilidade? Não sei, já perdi a conta. E por mais que eu conheça o final, quando vejo esses filmes, algo em mim é despertado com doçura. Ao falar de amor com delicadeza, percebemos os amores que deixamos ir, os que chegam, o primeiro que nunca esquecemos e os tantos outros que também não saem da lembrança, mas que vivem hoje transformados, pacificamente em nossa alma.
Não canso de visitar aquela porta, que um dia foi azul, hoje está bicolor. Ele nos fala de quantas mulheres abrigam uma única mulher e, independente de qual delas está à frente, ele esclarece: pertenço a ela! Feliz essa mulher que o têm de forma tão arrebatada. É facho de luz entreabrindo a porta dele e inspirando os mais belos posts de amor...


sexta-feira, julho 05, 2002



O Caminho

Andar pelo caminho de BABALON é buscar, permitir-se
experimentar a existência como pura sensação,
suspendendo a análise dos valores prazer-dor,
bom-mau, atrativo-repulsivo, pelos quais normalmente
limitamos e definimos nossa experiência humana de cada
dia.

Andar pelo caminho de BABALON é buscar, permitir a si
mesmo render-se totalmente à sensação de prazer e
desejo, encontradas em todas as facetas da existência,
sem medo da dissolução do "EU".

Andar pelo caminho de BABALON é permitir-se a
liberdade de iniciar a paixão, dentro de outros,
dentro de Si mesmo.

Dentre as quatro faces da deusa - Donzela, Ninfa,
Guerreira, Velha - Babalon é a Guerreira. Babalon é
aquele indivíduo de poder que Se abre e desperta em
contato com sua sexualidade mágica(K), que sem dúvida
não é definida por outro indivíduo, e sim por sua
própria Vontade de experimentar a existência.

Ele/Ela é aquele indivíduo capaz de suprir as deusas,
canalizando o amor total e incondicional do universo
por todas as coisas da criação - apesar da beleza ou
feiúra percebidas, atração ou repugnância, gênero,
idade, ou reações emocionais pessoais. Seguro em si
mesmo e de seu poder mágico(K), quem anda pelo caminho
de BABALON é livre para render-se totalmente ao desejo
- aos desejos de outros assim como os seus próprios,
conservando sua integridade pessoal, independência e
poder.

Capaz de abrir suas sensibilidades intensificadas a um
despertar da existência como pura sensação, Babalon é
o adepto tântrico, com todos os poderes que isto
implica. Babalon funciona como médium psíquico e voz
oracular, na expresso de suas próprias ensinanças da
realidade, e não a de outros. Como Guerreiro, quem
anda pelo caminho de Babalon trabalha ativamente para
a transformação positiva da cultura e da sociedade,
num papel de direção, mediante a aplicação de coragem,
vontade, criatividade, amor e, sobretudo, da Voz
Feminina.

Aleister Crowley

quinta-feira, julho 04, 2002

UM ENCONTRO COM O DIABO

Ele encontrou-se com o diabo e, eu capturei algumas frases do diálogo que estão aí embaixo. Vale a pena ler na íntegra o que ele andou escrevendo por .

[...]o mal é tão maravilhoso em sua forma que só poderia ser criação do bem.[...]

[...]o mal existe para convencer os homens a retornarem ao criador, por isso surgi como o seu melhor amigo. Se a vida fosse boa e bela, vocês jamais o fariam.[...]

[...]O ponto mais vazio de todo o universo é o coração humano. Os sentimentos humanos podem ser polarizados tanto para o certo quanto para o errado, à partir da função sexual, que se divide em masculino e feminino, e onde há divisão há diabo.
-- Assim, você fornece o falso amor entre o homem e a mulher...
-- E enquanto vocês se esfregam os corpos suados numa cama, todo o universo se atrasa. Os homens não compreendem que devem amar uns aos outros como se os outros fossem vocês...como se não houvesse diferença entre eu e eles . Por que tudo veio do um e a ele retorna.[...]

[...]A expressão do mal como você está imaginando não existe. Raciocine comigo: Deus quer que a humanidade se religue, daís as religiões; quer que vocês se redimam, daí a redenção. Portanto não é do interesse divino que os homens continuem na Terra. Assim Deus inventou a morte. Também não é do interesse de Deus que vocês fiquem confortáveis em seus corpos, senão sempre quererão retornar à experiência material no mundo físico, assim Deus inventou a dor. Também não é desejável para o plano divino que os homens sejam felizes na Terra porque senão por aqui ficarão, assim ele inventou o sofrimento.[...]

[...]o Demônio é à favor da vida e da sobrevivência. Tanto que o planeta tem seis bilhões de seres humanos. Interessa-me que os homens fiquem confortáveis em seus corpos, eu inveitei o prazer e eu sussurrei no ouvido dos homens para que usassem a morfina para anestesiar a sua dor.[...]

[...]Eu quero que os homens continuem na Terra, assim eu sou o arquiteto da felicidade no mundo[...]


quarta-feira, julho 03, 2002



Alguém perguntou por onde andava minha alegria e eu não soube responder...ela deve estar escondida em algum beco, esquivando-se para não encontrar a tristeza que jaz aqui.
Guardei as fotografias do mural, arrumei as malas, peguei os livros, juntei cds, dobrei as roupas. São duas, ainda estão sobre a cama, me olhando...preenchi as gavetas vazias com outras mudas e ainda assim o cheiro impregnava minhas mãos....uma lágrima desceu....ainda escorre pelo canto do olho...
Pensei nos objetos que estão lá e a estória de cada um deles. Lembrei do primeiro encontro, da primeira vez que mirei seus olhos plácidos, azuis. Do primeiro ramo de rosas vermelhas. Da poesia que embalava nosso cotidiano, da felicidade em gestos simples e sem sofisticação. Das noites embebidas pelo tinto de Dioniso no mar de areia lambido pelas ondas...
Parece que a saudade não tem fim e tento convencer-me do contrário. Sinto-me só e não vejo perspectivas imediatas de paz. Hoje, particularmente, a ferida sangra e dói, e não tenho idéia de quando conseguirei fazer casca.



terça-feira, julho 02, 2002

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Quero deixar aqui o registro de admiração e carinho pela maior bandeira viva de amor que habitou nossos céus até a chegada das cinco estrelas: Chico Xavier. Como ele dizia em sua simplicidade e sabedoria: Sim ame, ame muito, dê amor, mas sem esperar nada em troca. Parece difícil mas foi exatamente isso que ele tentou incutir em cada coração: o amor, o amar ao próximo como a ti mesmo.
Legou a continuidade da existência através de obras psicografadas e deu prosseguimento à mensagem deixada por Cristo através do Espiritismo. O maior precursor da doutrina kardecista mudou de casa, agora junto com Emmanuel e a espiritualidade amiga trabalha ‘do outro lado’ para a continuidade da evolução, espiritual e humana.
Pego emprestado as palavras de Falabella para sublinhar esse momento:
“[...]vão ser, com toda a certeza, lembranças de amor, sem ponto sem vírgula, amor que corre por debaixo dos cílios abaixados, amor de todo dia, de toda hora, amor que nos confere a qualidade de eternos, num único instante. [....]”.


segunda-feira, julho 01, 2002

NA FESTA DO COLONO ALEMÃO: O PENTA!

Comemoramos há dois dias a Chegada dos Colonos Alemães à Petrópolis. Confesso que havia no ar a apreensão quanto ao resultado final da Copa. Imagina se por algum capricho infeliz do destino nós perdêssemos o penta e a Alemanha ganhasse o tetra? A festa, que dura duas semanas, teria um gosto tão amargo quanto o chopp vendido e tudo perderia o sentido alegre para dar lugar ao vazio, à dor de cotovelo.
Um grupo de jovens da faculdade de medicina já havia vaticinado: se o Brasil perder o jogo vamos incendiar tudo, todas as barracas de comida típica, o palco, tudo que estiver dentro e fora dos arredores do Palácio de Cristal. Nas rodas de cabelos brancos, que se reúnem no centro da cidade, espalhavam o boato de que a festa não abriria seus portões no domingo, que o bierwagem – carro que circula nos principais pontos do centro histórico distribuindo chopp – seria impedido de fazer o trajeto. As especulações pipocam em todos os lugares e eu ouvindo os rumores que se formavam em cada canto, criando mais disse-me-disse.
Não que isso de fato fosse importante, isso é insignificante diante da vitória conquistada ontem.
Para não quebrar a escrita não vi o jogo todo da final. Acordei no intervalo do primeiro tempo, tomei café e saí. Tinha que entregar um cd para instalação de um programa e só eu tinha como resolver a questão. Passei antes na casa do meu irmão e o primeiro gol já tinha saído, eu sabia pela gritaria que ouvia saindo da vizinhança. Minha cunhada, de cara amassada, estava eufórica. Em seguida, outro gol e esse eu vi. Gritei também.
Entreguei o disco e fui almoçar com a família na festa do alemão. O céu estupidamente azul, o sol forte que não tinha por que brigar com ninguém por um lugar no firmamento, aquecia a comemoração pelo penta campeonato. Passamos o dia nos deliciando com as iguarias alemães, sem pressa, atentos aos modelitos verde-amarelo que desfilavam à nossa volta. Dá gosto esse patriotismo, a explosão e o orgulho que toma nosso povo. E esse sentimento estava estampado em cada grupo de brasileiros espalhados pelo planeta. E como num carnaval mundial agregamos outros povos, outras raças, aceitamos de bom grado a chegada de estranhos em meio à alegria embalada pelo barulho de cornetas, pelo samba no pé e na demonstração de amor explícito à camisa canarinho.
Não dá pra esquecer a tenacidade de Ronaldo, em sua luta incansável pela recuperação. Ele é exemplo para todos: o menino-guerreiro com sua chuteira prateada. Ele deve ter pêgo emprestado no Olimpo esse apetrecho mágico. Pelo impulso faiscante a bola voou, impulsionada pelo brilho da seleção e cegou o mortal que ousou desafiar nossos atacantes, nosso trio de erres. Depois da batalha vencida, erguemos a taça pela quinta vez, exibindo ao mundo nossa arte, nossa graça, a criatividade de ser do país do futebol, da pátria que caminha abraçada à sua bandeira e têm a certeza de que Deus é de fato brasileiro.