sábado, março 27, 2004

DAS INTEMPÉRIES

O outono desce seu manto sutil e almiscarado.
Do céu em violeta, a tempestade se anuncia.
Do imponderável um cão ferido, pêlo destruído,
a carne, rosa, exposta. Um beiço pendurado.
Veterinário, anestesia, pontos e medicação.
O vizinho e seus cachorros.
O irmão em desalinho e furor.
A irmã tentando acalmar, amansar a ira.
Pecados e temores, sensações e energia.
A chave é perdida e a oração em contínua vertente.
Ele sai e a chuva desce. Os raios contaminam a escuridão.
Pulsões diante das intempéries.


terça-feira, março 16, 2004

LA TOMBE DE LA NUIT

O ar envolve os sentidos.
As árvores balançam com a força do vento.
Não se quebram diante de sua força, deixando-se levar pelo movimento.
Ciente do que refaz a natureza, impregnando de sentido e cores a existência,
embalamos acordes e melodias.
No nada que aparentemente flui, um monte de vida desperta.
Na raiz que insiste na terra, que faz gerar um novo broto, um ramo, um fruto.
Na busca que se faz iminente, nas conjecturas humanas e imperfeitas,
uma nova oportunidade, uma chance de reedificar a estrutura.
Num ser angélico e distante, na cerveja que desce na goela, no prazer imperfeito e na força que direciona os passos: um novo entardecer.
Que caia feito flecha, desmorone e dissolva o mais belo dos azuis, na aura branca e perfumada que clareia nossos passos, um novo entardecer, trazendo à vida a escuridão, a luz que embala enamorados, seresteiros e poetas.

terça-feira, março 09, 2004

MARÇO

Na noite azul, a lua ainda está na cheia.
O céu de strass, salpica Três Marias, Cruzeiro do Sul,
as constelações que configuram o espaço.
Início do ano astrológico.
Trinta e um dias de força ariana.
Adeus aos peixes duplos do presente.
Águas que banham e encharcam a alma,
as mesmas que norteiam as estações,
as minhas, as suas, as nossas.
Determinação com o Velo de Ouro, o fogo de Prometeu.
O impulso, a força motriz, a paixão marciana.






sexta-feira, março 05, 2004

Os pensamentos são compulsivos.
Fincam alicerces subversivos e se instalam ao menor sinal do aceno.
Longe de ser um blog de arte, aqui se fala de paixão.
Daquilo que faz pulsar e nos leva a outras enseadas.
Na máscara que emoldura o Carnaval, numa pintura de cores fortes e marcantes.
Não existe uma tônica, um único assunto, um objetivo marcado.
Falo do que sinto, do que emociona, do que caracteriza meu encantamento.
Sempre foi assim. Aqui deságua tempestades, de raios e trovões.
Aquelas que clareiam a noite e desenham néon na constelação.
Aqui se faz sincronismo com o que a pupila absorve.
Aqui jaz e nasce sempre uma nova espiral.
Aqui os cavalos selvagens pastam por verdes colinas,
abrem sulcos ao menor sinal do casco que toca a areia,
levantam poeira, remexem o solo, acendem a força telúrica.
A mesma que se mescla à infinidade de fluidos que nos circundam.
Do que exalamos com nossos pensamentos, do que emitimos pela aura.
Plexos, chakras, centros energéticos, perispírito, corpo físico e duplo etérico.
Nos conectamos ao cósmico universal e de lá nos abastecemos.
Vivemos, plantamos e vamos dia a dia construindo mais um retrato.
Mais uma imagem é absorvida e se desfaz, no mesmo instante que uma
outra é despertada.