domingo, junho 29, 2003

DOS DESERTOS



Nau à deriva no oceano.
Desértico e extático.
Frio e límpido, cintilante.
Aridez e secura no infinito da alma.

quarta-feira, junho 25, 2003

DO ETÉREO

Ser transmorfo, das faces que se revelam ininterruptamente.
Anjo, demônio, mago, prostituto, criança e adulto.
Divisória linha, tênue encontro entre o celeste e o profano.
Dualidade que não finda jamais, ao contrário:
É gritante e díspar aos extremos.
Decepar o que pulsa em nome de um esforço,
É tortura a confrontar-se com a vontade.
Encontra-se num reino de orquestra,
Crepúsculo lilás, perfume de lírio
E atmosfera etérea.
Não é de Vênus. É de lá.
Do lugar de paralelepípedos dourados,
Gramado verde oliva, sol que faísca nas construções.
Ao fim da grande passarela dourada, uma catedral gigantesca, de porta pesada,
Rústica, medieval. O ser diminuto diante da suntuosidade, da imponência da construção.
As viagens dessa alma, errante, peregrina, cigana.

segunda-feira, junho 23, 2003

BORBULHAS

Onda, redemoinho, espuma brilhante.
Desperta a fantasia de um mundo submarino.
Cobras, águas-vivas, lulas gigantes, seres marinhos.
Acquaman em desenho, Jubartes em documentários da Paula Saldanha, projeto Tamar.
Pingüim em Arraial do Cabo, peixes-boi em quadro, projeto Golfinho Rotador.
Sereia, mítica criatura, emerge de bolhas, das que faço agora e a figura retrata.
Carregada por cavalos marinhos e adornada por anêmonas roxas.
Estrela, mulher abissal, rainha das águas, as salgadas, as do mar.





sexta-feira, junho 20, 2003

ANDARILHA

Posso continuar assim, andando.
Por entre a mata virgem e a estrada aberta na marra.
Uma picada, uma passagem, um contorno do destino.
A vida germina no inesperado. A minha, sempre.



terça-feira, junho 17, 2003

Um spectro percorre os telhados, a única coisa que reluz ao vento gelado são dois olhos. Luzem dando vida à sombra que emerge sem dificuldade. Ser indefinido, criatura notivaga que se alimenta de desejos, os que sao alijados de luz. Entra pela fresta da janela, aquela que esta entreaberta.

A chuva molha a terra, espalhando no ar um perfume que se funde às
suas entranhas. Mistura todos os ingredientes no grande caldeirao. E o
utero universal, chamando-a. A silhueta em nanquim delineia o foco que
estava desocupado.

Surge para ele em ensaio, dança ritual. Apresenta-se como madona negra,
em espartilho, punhal, botas negras. No meio do cinturao, um ferrao. A
escuridao ganha corpo nesse instante.
As asas abrem-se. Rouba-o do leito e lança-se no espaço, vampira a abraça-lo na imensidao do céu.

Spots estelares iluminam a cena.
Inicia a frenética salivaçao ao mirar o que têm nos braços.
A primeira dentada, sabor quente a tocar as papilas indecentes.
Comoçao provocada pelo sangue que escorre pelo canto da boca.
O coraçao dele bate mais forte, desfalece, entrega-se à propria sorte.
Sobressaltado, arregala os olhos, suado, olha ao redor: em seu quarto, o dia amanhece.



domingo, junho 15, 2003

DO MAGNETISMO

Tudo na natureza possui seu som próprio, os que sao emitidos os que nos circundam. Nosso campo eletromagnético esparge-se em ondas, modulando a freqüência de acordo com nossos pensamentos. Propagam-se vibraçoes como um grande radio, uma antena a captar e a emitir o magnetismo, atraindo os afins e provocando interferências ou ruidos em outros campos magnéticos. Cada um possui sua esfera de gravitaçao.
Todo ser vibra intensamente quando percebe uma eletricidade em maior ou menor escala, dependendo basicamente do que é sentido, assim como, do que é distendido como resposta a essa captaçao. Dessa forma, somos responsaveis por tudo aquilo que pensamos e principalmente que sentimos. Nossos sentimentos sao o grande acelerador a jorrar energia, tanto positiva como negativa, refletindo o que existe no intimo. Somos mata borroes do que é impresso em nossa mente e, conseqüentemente, em nosso espirito, tendo em vista que nosso corpo so funciona e se move por causa deste.

quinta-feira, junho 12, 2003

ABRIR JANELAS



Abrir janelas e expor o que se sente.
Abrir janelas e permitir que passaros, ainda que de louça façam pousada no local.
Abrir janelas e compartilhar vasos, os de flores e os sem elas.
Abrir janelas e deixar que os raios aqueçam.
Abrir janelas e encher os pulmoes de ar.
Abrir janelas e liberar sonhos para que transbordem.
Abrir janelas e ser surpreendido pelo vento que levanta a cortina de renda,
Intruso a perscrutar o que se esta além.
Abrir janelas e arregaçar o peito, lançando ao dia - o coraçao.


terça-feira, junho 10, 2003



Adriana Paiva – Periplus e Foco Seletivo - decidiu por criar o Collectanea. Entre os amigos que aqui visitam esse blog, outros tantos compartilham esse novo espaço.
Para inaugurar a participaçao de posts publicados, como o proprio nome ja diz - coletânea – tirei dos arquivos O Portal. Para quem nao leu é so clicar no link acima.




domingo, junho 08, 2003

DO QUE ERA PRA SER

Tantas vezes antecipa os acontecimentos.
Poe a carroça na frente dos bois.
Quando vê, ja foi.
Na hora nao mede, nao faz esforço para pensar em conseqüências.
Faz o que tem vontade.
Detona os sentimentos com o que é mais facil.
Usa aquilo que é infalivel e futil.
Da as respostas por si mesmo.
Nao quer ouvir o outro.
Acaba se ferindo, maculando o que era puro.
Destruindo a possibilidade de felicidade.
Nada faz muito sentido agora.
Tudo destroçado, feio.
Melhor assim.
Saciou o que construiu na mente.
O ultimo beijo, dos tantos roubados.

quinta-feira, junho 05, 2003

CINTILACOES

Seus olhos cruzaram num atimo, naquele segundo quando nao se espera mais nada.
Ela compactuou o silêncio nas ondas que se propagavam nessa fina sintonia.
Ele, por sua vez, cobriu-se de um campo eletromagnético atingindo seu objetivo.
Transcenderam sem saber. Mesclaram-se em po, ouro a cintilar nos reflexos opacos
do poste artificial. Tocaram-se na noite azul, palida, dividindo o melancolico fim do dia.
Ao fundo, um sax teimoso envolvia a atmosfera em som.
Um gato preto passava correndo. Ninguém dava bola.
Uma tampa da lata de lixo caiu e provocou estrondo.
A quietude transgrediu o rush de carros apressados.
Eles sabiam o porquê disso tudo.
Era a vida que parou e estancou no agora.
Seguiram cada um seu destino, nao olharam para tras.
Ela carregando seu fardo, ele acostumado ao que ja possuia.
Dos olhos nos olhos pintou uma gota de alegria, colirio que provocou ousadia.
Nao estavam mortos: coraçoes bateram mais rapido no despretensioso esbarrao do acaso.



terça-feira, junho 03, 2003

OS QUATRO VENTOS: JUNHO

Sao quatro os que sopram nos quadrantes.
Os que instalam tormentas e vontades.
Controlam e harmonizam os elementos.
Transformam e prenunciam um novo tempo.
Junho, quase término da metade do ano.
E para tal, um encontro com os ventos que chegam
E abrem esses proximos trinta dias:
Boreas, também chamado Setentriao,
Nasce no Norte. E frio e rigoroso.
Zela pela fertilidade da natureza e combate
A poluiçao do campo telurico. E o protetor de Gaia.
Zéfiro, nosso ja conhecido amigo, têm
Como alcunha Favônio, vêm do Oeste.
E o que prenuncia as tempestades, dai sua presença
Nesse espaço e depois no Letra de Corpo.
Comanda as aguas em todas as suas vertentes.
Euro é o vento do Leste. E o que equilibra o Ar.
Tem como sinônimo Vulturno.
Noto ou Astro é o que sopra no Sul, controlando o Fogo.