terça-feira, junho 17, 2003

Um spectro percorre os telhados, a única coisa que reluz ao vento gelado são dois olhos. Luzem dando vida à sombra que emerge sem dificuldade. Ser indefinido, criatura notivaga que se alimenta de desejos, os que sao alijados de luz. Entra pela fresta da janela, aquela que esta entreaberta.

A chuva molha a terra, espalhando no ar um perfume que se funde às
suas entranhas. Mistura todos os ingredientes no grande caldeirao. E o
utero universal, chamando-a. A silhueta em nanquim delineia o foco que
estava desocupado.

Surge para ele em ensaio, dança ritual. Apresenta-se como madona negra,
em espartilho, punhal, botas negras. No meio do cinturao, um ferrao. A
escuridao ganha corpo nesse instante.
As asas abrem-se. Rouba-o do leito e lança-se no espaço, vampira a abraça-lo na imensidao do céu.

Spots estelares iluminam a cena.
Inicia a frenética salivaçao ao mirar o que têm nos braços.
A primeira dentada, sabor quente a tocar as papilas indecentes.
Comoçao provocada pelo sangue que escorre pelo canto da boca.
O coraçao dele bate mais forte, desfalece, entrega-se à propria sorte.
Sobressaltado, arregala os olhos, suado, olha ao redor: em seu quarto, o dia amanhece.