sexta-feira, fevereiro 28, 2003

INSTANTÂNEOS

Por entre centenas de quadradinhos espia a tela azul sobre a ponte marítima.
O Sol lambe o mar e deixa um rastro brilhante na superfície.
Um cais, um porto, um enorme navio, pequenas embarcações.
O calor se esvai sugado por um vento que sopra à beira-mar,
revolvendo fios de cabelos, saias e vestidos de amplo tecido.
Alguém aparece e quebra a monotonia local.
Usa blusa com decote, a pele é dourada e a capri estampada.
Uma sandália branca nos pés morenos, as unhas sem esmalte.
Caminha, ginga, malemolência que desafia os apressados.
Todos os olhos voltam-se para ela, mas não percebe as setas em sua direção.
Ternos para quem os precisa, clássico para o que é ditado.
Um francês loiro cumprimenta a moça hippie, despede-se ao sair, elegante.
Ela sorri para o espelho do cubículo, gostaria de estar sempre ali.
Olhou o relógio por entre a pulseira de três luas e o elástico de cabelo,
a hora se faz, é preciso voltar para casa.

quarta-feira, fevereiro 26, 2003

SOBREPOSIÇÕES

O quadro desfigurava o ambiente ao redor.
Piteira longa encostada no cinzeiro.
A meia rasgada contrastava com o salto negro brilhante.
A boca vermelha parceira da rosa que estava no cabelo.
O vestido transparente deixava à mostra a silhueta,
deslizava e colava-se aos seios, recortando a circunferência.
As luvas faziam parte da vestimenta, cobrindo o antebraço por completo.
Os olhos borrados de lápis preto, a pele clara ao fundo.
Ninguém sabia quem era e nem como tinha chegado ali.
O nome nunca foi descoberto.
Preto e branco era o retrato.





segunda-feira, fevereiro 24, 2003

Quantos enterros serão necessários para transformar os sentimentos?
Quantas luzes bruxuleantes estarão ciceroneando os pensamentos?
Quantas partidas ainda existirão pela proa?
Quantas vezes é preciso se perder para ver quanto vale encontrar?
Quantas gotas deverão ser vertidas até que o lago mantenha-se no nível exato?
Quantos imponderáveis estarão na pauta da existência?
Quantas despedidas deverão ser partilhadas daqui para frente?
Quantos analgésicos ainda estarão à disposição na solução das dores?
Quanto tempo ainda falta? Quanto?
Será que o final é um ponto ao término da linha ou um paliativo imaginário como o horizonte?

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&

"E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta
E nada que se pareça com isto deveria ser o sentido da vida".
Fernando Pessoa






sexta-feira, fevereiro 21, 2003



Numa estação a chuva desce aos borbotões, não dando trégua aos céus.
Parece que sorri diante da miséria alheia, inundando de saudade alguns aflitos corações.
Na despedida um beijo enorme, como aqueles de cinema e final feliz de novelas.
Um abraço apertado, olhos que cintilam outros olhos. Janelas impedidas ao reflexo.
Garante o intransponível, trancafia as sensações, exila os sentimentos.
Uma púrpura flor, símbolo do encontro em cascata que não chegou a descer o leito do rio.
Tudo não passou de projeção delirante, quem sabe uma quimera a devorar a idealização.
Cristalização daquilo que no íntimo acreditamos e na realidade não passa de ilusão.


quarta-feira, fevereiro 19, 2003

EVOCAÇÃO

Ele escreveu para a moça que é feita de luar.
Contou a ela sobre as dores, os dissabores e o pretérito.
Rasgou a alma e mostrou suas feridas, as que viraram cicatriz, as que ainda sangram.
Discorreu sobre as sombras, mas ainda não deu o braço a torcer.
Talvez, a aura de majestade acabe por impedir que enxergue o que a membrana leitosa embarrera. O rugido do animal aquieta o homem, trazendo-o a razão.
Mortificado pela ausência imposta, sentiu-se próximo dela quando mirou a escuridão:
A Senhora da Noite dividia seu leito com as estrelas, num céu tão claro quanto à chuva torrente que inundou a cidade, a vila e as ruas, lavando a alma.
Num dando instante, diante de um enorme penhasco, só divisava no horizonte nuvens espaças. Abriu os braços e cogitou um mergulho no precipício.
Bradou aos Quatro Elementos da Terra e pôde ouvir o eco a propagar seu pedido.





segunda-feira, fevereiro 17, 2003

AO REDOR

Um sapo me encara enquanto estica a perna e se alonga.
Na hora que pus os olhos no embrulho sabia que seria meu,
percepção dos rompantes e da vontade impressa, desejo.
A parede branca espera a próxima tecla, acreditando nas palavras que estão por vir.
O gnomo sorri com seu pé quebrado,
enquanto a bruxa de roxo sobrevoa minha máquina em sua vassoura de palha.

sábado, fevereiro 15, 2003

RETALHOS DO CÉU



Nossas almas são rasas e pequenas

poças que espelham o céu.

Estes reflexos, desde os acúmulos

de água nos recôncavos da terra até os

dos buracos no asfalto é que fazem

a Astrologia inesgotável, pois só

o que é infinito pode conceder espaço

para liberdade e transformação.


Antonio Carlos Harres (Bola)


sexta-feira, fevereiro 14, 2003

DOS SONS

Tudo na natureza possui seu som próprio. Nosso campo eletromagnético esparge-se em ondas, modulando a freqüência de acordo com nossos pensamentos. Propagam-se vibrações como um grande rádio, uma antena a captar e a emitir o magnetismo, atraindo os afins e provocando interferências ou ruídos em outros campos magnéticos. Cada um possui sua esfera de gravitação. Todo ser vibra intensamente quando percebe uma eletricidade em maior ou menor escala, dependendo basicamente do que é sentido, assim como, do que é distendido como resposta a essa captação. Dessa forma, somos responsáveis por tudo aquilo que pensamos e principalmente que sentimos. Nossos sentimentos são o grande acelerador a jorrar energia, tanto positiva como negativa, refletindo o que existe no íntimo. Somos mata borrões do que é impresso em nossa mente e, conseqüentemente, em nosso espírito, tendo em vista que nosso corpo só funciona e se move por causa deste.

terça-feira, fevereiro 11, 2003

HÉCATE



Senhora das encruzilhadas.
Hécate é uma deusa que possui inúmeros atributos e provavelmente seja a
menos compreendida da mitologia grega. Ela não reina apenas sobre
a bruxaria, a morte, mas também sobre o nascimento, o renascimento e a
renovação.
Ela era invocada pelos gregos para protegê-los dos perigos e das
maldições.
Para uns era filha de Perseu e Asteria e mãe de Scylla, para outros
era filha de Nyx, a noite. Alguns historiadores dizem que era
apenas um das Fúrias e que ganhou proeminência com o tempo.
Historicamente, Hécate é uma deusa que se originou nos mitos dos
antigos karianos, no sudoeste da Asia menor, e foi assimilada na
religião grega a partir do seculo 6 A.C..
Hekat, uma antiga palavra agípcia significa "Todo o poder", pode
ser a origem do nome Hécate. Entre os romanos era chamada de Trívia,
em virtude de sua conexão com as encruzilhadas triplices. Outras
possibilidades para o significado de seu nome são: "Ela que trabalha
seu desejo" e o mais comum seria"Aquela que é distante' ou "A mais
brilhante'.
Hécate foi adotada pela mitologia olimpica após os Titãs serem
derrotados, e seu culto perdurou entre os gregos até tempos
tardios. Era considerada tão importante que os gregos acreditavam que
o próprio Zeus lhe rendia culto e oferendas e teria lhe concedido o
direito de compartilhar com ele o poder de conceder ou reter os
desejos dos humanos e os domínios da Terra, céus e mares.
Existiram pouquissimos templos dedicados a Hécate e os poucos que
foram encontrados não estão totalmente documentados. Muitos
dos santuários devotados a ela eram pequenos e não tinham grandes ou
preciosos materiais.Existem estátuas que a representam, mas são quase
todas cópias romanas e é difícil saber o quão fiéis elas sejam das
originais.
Considerada uma Deusa Triplice, classicamente fazia uma trindade com
Perséfone e Deméter. Ao contrario da visão moderna pagã,Hécate era
considerada a donzela, enquanto Perséfone era a mãe e Deméter a anciã.
Hécate era invocada nas encruzilhadas durante a noite. Suas
representações mostram-na carregando tochas e muitas vezes é uma
Deusa Tríplice com três faces. Oferendas eram deixadas deixadas a ela
nas margens das estradas e nos cruzamentos. Era a padroeira das bruxas
e em alguns lugares da Tessália, cultuada por grupos exclusivos de
mulheres sob a luz da Lua.
A Deusa possui inúmeros títulos: como Propylaia, que significa:"Aquela que fica na frente do portão".
Hécate oferecia proteção contra o mal, especificamente contra
espíritos malignos e maldições. Neste aspecto, seu culto era
realizado nos portões de entrada, onde estátuas eram colocadas em
sua homenagem.

Todas as Deusas do Mundo



segunda-feira, fevereiro 10, 2003

Retorno agora munida de idéias e trilhas virgens.
Algumas que precisavam ser aprendidas, apreendidas, redescobertas.
Jogo novamente a certeza para o alto.
Caminho mirando o que está por vir.
Dessa vez sou eu quem vai abrir a picada,
desvendar a mata, compartilhar o espaço com a natureza.
O acaso não existe.

sábado, fevereiro 08, 2003

RAIOS

Passamos a quinta-feira estudando a energia: do pensamento, daquilo tudo que nos rodeia.
O que passa por um simples desejo interior a uma coluna de pedra, fixa, construída por nós.
Nessa variação energética, nossos pensamentos fundem-se aos raios, fazem parte do todo,
compartilham com o meio, com o que a natureza fez crescer, com o que criamos.
Muitas vezes ele consegue chegar ao seu destino e fazer a 'ponte'. Mas, na maioria das vezes,
dependendo da força emitida ele se perde no mar vibracional que toma tudo ao redor.
Daí a necessidade de desejar com todas as forças, ou pensar de maneira persistente em relação
ao objetivo ou desejo.
No padrão que nos rodeia encontram-se várias ondas, como aquelas do sol ao bater
na água da piscina refletindo inúmeros riscos prateados, tal circuitos elétricos sem trajetória traçada.
E o que aparentemente não é perceptível a nossa visão humana é compartilhado por outro
padrão vibracional mais sutil.
À noite as mentes se aquietam e consequentemente a vibração do pensamento também e é
nessa hora que o equilíbrio planetário atinge seu clímax.
O que aparentemente é explicado em se tratando de energia, do equilíbrio da Terra, está cem anos
atrasado em relação ao que é lecionado na espiritualidade.
E vamos em frente esperando a comprovação científica e o que a espiritualidade nos ensina.
Li outro dia que enfim comprovaram a Teoria da Relatividade proposta por Einstein. E não era sem tempo!

quinta-feira, fevereiro 06, 2003

DOS DETALHES



Na feitura de uma bebida os detalhes fazem a diferença.
Hoje, trocando figurinhas com minha professora de francês eu estava falando sobre o 'beber estrelas', e ela explicou o porquê da taça comprida ao invés de larga para beber champanhe. O sentido da visão nos aponta a um cordão de bolhas, sequencial em linha reta, que não é visto num copo bojudo e largo. Este tipo de copo além de não ser apropriado visualmente, ainda traz outro defeito: a bebida esquenta com mais rapidez.
Da mesma forma a utilização de uvas vermelhas no preparo da bebida é feito de forma rápida, objetivando manter a limpidez do líquido sem que ele tenha contato com a casca, o que daria o tom avermelhado à bebida. Esse processo de utilização da polpa e da dispensa da casca é uma especial técnica
Mãos rudes e calejadas todos os dias, dentro das caves, são responsáveis por um toque sutil e rápido em todas as garrafas que se encontram no processo de fermentação. Essas mesmas mãos são capazes de segurar uma taça com rara delicadeza, sem dúvida um dom pertinente àqueles privilegiados que todos os dias preparam o melhor champanhe do mundo.







terça-feira, fevereiro 04, 2003

IMPONDERÁVEL

Muitas vezes lutar parece impossível e por mais que tentemos algo vem e desmonta o castelo.
Estar à margem, às vezes no redemoinho, no atemporal e no distante.
Tome caldo, não de galinha.
Aquele que a onda dá e nos enche de sal, por dentro e por fora.
Arrancando o resto de pano que tentamos cobrir as partes pubianas.
Arremessados contra os grãos de calcário permanecemos inertes, displicentemente abertos,
estranhamente à mercê das vontades involuntárias do mar...


domingo, fevereiro 02, 2003

DOS BARULHOS

"Sempre me interessou o reflexo involuntário da leitura, gerado pela mera presença de um texto no nosso campo de visão. Um texto gera, primordialmente, o som de suas letras na cabeça do leitor, mesmo que o mesmo não conheça a língua que o originou. Portanto, acho interessante sublinhar esse caráter quase automático presente no ato de se escrever um texto, que é a criação de sons na mente de outrem, um futuro leitor".

Matias Mariani, mailist balacobaco