quinta-feira, outubro 31, 2002



A dia de hoje representa a comemoração celta do samhain (fim do verão). Data que de acordo com as estações do ano, iniciava-se o inverno e era representada pela morte do Deus de Chifres, o Deus Sol, que só viria a nascer novamente no 21 de dezembro, no solstício de inverno, na festa de Yule. Dizia-se que a data da samhain era mágica e nela a barreira entre o material e o imaterial ficava mais tênue e podia-se falar com os entes que já se foram. É a fusão dos mundos, dos mortos e vivos, o grande crepúsculo.
Por ser uma comemoração de certa forma sombria e praticada pelos druidas, e as cerimônias serem dominadas predominantemente por sacerdotisas, tendo em vista que a religião celta prega a força maior da deusa, mãe natureza, a Lua, os cristãos acreditavam ser uma festa de bruxas e, assim, ficou conhecido como o dia das bruxas.
Entretanto, a religião celta era fortemente enraizada no povo europeu e a igreja católica acabou por absorver o feriado como a festa de todos os santos no dia 1 de novembro, dia seguinte do samhain, que veio a ser conhecida mais tarde como o halloween.
No hemisfério sul, obedecendo ao calendário de equinócios e solstícios, as festas se invertem e no samhain se comemora no dia 1 de maio e o beltane (comemoração de fertilidade, onde o Deus e A deusa se unem pela primeira vez no ano) no dia 31 de outubro. A comemoração perdeu seu real sentido para os povos modernos, mas alguns ainda preservam as tradições.
Assim, obedecendo a esse calendário, convido a todos para a bela comemoração de beltane, amanhã, dando graças pelos frutos que a terra nos fornece, bebendo e
dando graças para que nunca tenhamos sede e comendo e dando graças para que nunca tenhamos fome.

"Danço o deleite
na noite de Beltane.
Liberando todos os sentidos,
danço para ser.
A flor e a chama
do rito amoroso florescerão.
O Sol abraça a Terra, brilhando".

Rae Beth



quarta-feira, outubro 30, 2002

DAS LENTES DO VIVER...

Ele têm o dom de dizer muitas vezes o que eu gostaria de ter escrito, tamanha a facilidade com que se expressa e traduz em palavras - pensamentos. Li, agora, sobre os micos que se paga em nome de uma prova de amor. A idéia ficou repetindo-se ininterruptamente na cabeça: prova de amor. O que é afinal uma prova de amor? Uma constatação para o provável sentimento de amor que um nutre pelo outro? Será que só dando uma prova o outro é capaz de crer no amor propalado? Ta certo que ele pegou as coisas mais absurdas e ridículas, mas para cada um o sentido de prova têm valor pessoal, o que se atribui.
Nunca dei provas de amor a ninguém. E nem sei se faria algo parecido. A prova de amor está no cotidiano, nos pequenos detalhes que moldam a relação, no dia-a-dia básico e provável que deixa de ser assim porque nós assim o fazemos, construímos. É depois de alguns anos juntos conseguir surpreender o outro, fazer sorrir, continuar namorando, caminhando de mãos dadas, lembrando da pessoa e levando uma coisa que se viu e achou que ficaria bem nela. É comemorar sem ter motivo. É preparar um jantar romântico, comprar uma lingerie nova, fazer algo durante a semana que quebre a rotina.
Também andei lendo lá que ‘o amor emburrece’. Dependendo do ponto de vista, realmente o amor emburrece, se nos transportarmos para a maneira como ele colore nossos olhos e acabamos mirando a vida por um aspecto solto, leve e cheio de possibilidades. Como eu gosto de dizer: enxergar o mundo através de lentes cor-de-rosa. É interessante observar na crônica o desencanto, o que pra mim tem muito mais a ver com paixão do que propriamente com amor. A paixão é encantamento, arrebatamento, adrenalina, desejo puro, impulso livre, sensações desmedidas. O amor é diferente.
E dentro desse contexto fiquei aqui dando tratos a bola, precisamos sempre classificar os sentimentos: amor, paixão, tesão. É como o ‘fazer amor’ e transar.O que afinal diferencia um do outro? O fato de ter ou não sentimentos? Desses sentimentos serem intensos, profundos e/ou superficiais? Quantos rótulos precisaremos para entender os mecanismos do amor, da paixão, do sexo, da amizade, da vida em sociedade, dos relacionamentos familiares? Um dia uma amiga pisciana, disse pra mim: Aninha, o amor não se mede, se sente. Os piscianos sempre me mostrando o caminho das pedras... Na ocasião, eu que vivo analisando tudo, coisa de libriana, medindo, pondo tudo na balança, acabei me rendendo ao comentário dela: ‘o amor não se mede, se sente’.
É sempre bom dizer que alguém toca a gente, nos faz meditar sobre determinados padrões, muitas vezes viciantes e repetitivos. A vida é interessante, andei refletindo hoje. Fizemos no GCE uma avaliação de todas as palestras realizadas até aqui e dos últimos cinco anos de nossas vidas. Lembro que há cinco anos atrás muitas coisas foram interrompidas e outras começaram em minha vida. E como nada é completamente perfeito, senão eu com certeza não estaria aqui, nesse planeta azul, revivi o quanto já mudei, o que estou reformulando e o que, com certeza, ainda hei de conseguir ultrapassar, vencer e burilar.
Amanhã tem mais.


terça-feira, outubro 29, 2002

MASK



Essa é uma das fixações que tenho: Veneza, Carnaval, Máscaras, o atemporal. A verdade encoberta por outra face. Não no sentido patológico de mudança de personalidade. Vejo pelo visor de Dickens: Veneza o mais lúdico dos lugares para o mais sonhador dos poetas.


segunda-feira, outubro 28, 2002

RELEITURA

Na maioria das vezes a facilidade e o que está à frente não é de fato verdade. É fumaça, um trago expirado, nublando a visão. As ofertas, aparentemente milagrosas, perfeitas, são um tremendo delírio, substrato de realidades, repetindo-se infinitamente. De que vale o fractal se não produz uma seqüência em novo circuito? A maleabilidade a adaptar-se ao que é revelado? Se não é capaz de traçar uma nova trajetória em seu lançamento?

sexta-feira, outubro 25, 2002

TRANSMORFA



Mudou as cores, do dourado para o castanho. E, naturalmente, a face ganhou outro tom. A cigana fica aparente para os que vêem além e a encaram, fitam o olho. Alguém um dia disse que era uma transmorfa facial. Hoje assim: cabelos negros, olhos escuros e sobrancelhas endiabradas. Pôs uma blusa vermelha e foi passear pela noite, o vento é quente, a lua é imensa, e as estrelas não cansam de acompanhar suas passadas. A sexta-feira está só começando...



quinta-feira, outubro 24, 2002

ANTEGOZAR

"O verbo “antegozar” é dicionarizado. Segundo o Dicionário Houaiss, significa “gozar (algo) antes da sua realização” e já aparece na nossa língua desde 1881. Portanto, não se trata de um “neologismo”. Mas mesmo que não fosse dicionarizado, seria um verbo perfeitamente “formável” dentro das regras da nossa língua. Creio que uma das funções do poeta é a de despertar a atenção para as palavras, sejam elas criações suas, gírias, termos em desuso, etc. Assim, a poesia não ter pudor de incorporar qualquer registro lingüístico. O poeta pode e deve utilizar todos os recursos lingüísticos que contribuam para enriquecer seu texto. Não “enriquecer” no sentido parnasiano, tão em voga hoje em dia, mas agregando ao poema “a contribuição milionária de todos os erros”, como já o disse Oswald de Andrade."

Frederico Barbosa em entrevista na mailist do Balacobaco




terça-feira, outubro 22, 2002

ZÉFIRO

Na coxia do teatro, envolve as formas curvilíneas num xale negro. Tira os acessórios que cobrem as extremidades: meias sete oitavos com renda marcando a coxa, luvas escuras na altura do cotovelo. Só a combinação de cetim, cor da pele, acompanha seus relevos. Mira-se no espelho, o olhar amendoado pelo delineador e os enormes cílios acentuados pelo rímel. O xale escorrega e entrega a pele tatuada, nívea. Prende os cachos castanhos num coque desalinhado. Vê-se como as outras. Não há nada de diferente naquele semblante. Lembra do que ele disse ontem num bar enfumaçado do centro da cidade, e continua não encontrando nada de especial no que vê refletido.
Inadvertidamente, o zéfiro sopra com força e move objetos do camarim, provocando o vôo de plumas coloridas pelo ar... chapéus orbitam pelo ambiente, máscaras multicoloridas planando, um jarro de flores desaba. Não se importa, ignora os cacos espalhados pelo chão... Joga a cabeça para trás, gosta daquela sensação, deixa-se tomar por ele que percorre a derme sem pedir licença, invasor. Levanta-se da cadeira, escancara as janelas e permite que entre com mais força...abre os braços e o recebe em estreito contato: fecha os olhos.
Inconsciente, revela o portal, a tênue linha que a faz redescobrir a mágica e permite que o feitiço se estabeleça nesse contato ancestral. Ela é como a noite lá fora, senhora de todas as estrelas; lânguida como a lua, deusa perpetuada pela forma redonda que cobre as cidades com seu arsenal de véus prateados.
Sabe que não pode ser retido nas mãos. É livre, solto, faz parte das correntes secas e movimento de massas oceânicas. A cada súbita visita possui um cheiro diferente...em cada lugar um outro vento se levanta...revolve energias, derruba castelos, destrói fortalezas, desarma certezas, amálgama outra mulher.


segunda-feira, outubro 21, 2002

DAS TEMPESTADES



Iansã mostrou as vestes turbulentas, riscando o céu de raios e trovões, ameaçou com redemoinhos, revirou cabelos e folhas, intimidou pela escuridão que assomou a tarde, mas, partiu, sorrateira, a conduzir suas tempestades para outras bandas...e mais um dia se foi.

domingo, outubro 20, 2002

BLACK HOLE



Quem vem sempre aqui sabe perfeitamente dos aspectos obsessivos que delineiam minha atenção. Estou me referindo a ciência, a astronomia para ser mais exata. Não sou da área, mas há nessa essência investigadora, a necessidade jornalística de aprender, estudar e expandir fronteiras: O espaço, o infinito navegável e gélido, celeste pastel.
O terrestre que busca o encontro com o intangível macro. Aquilo que não é palpável, o que está além das possibilidades matemáticas até aqui conhecidas e amplamente usadas. Convenço-me de que a busca - por buracos negros, os grandes devoradores de estrelas, energia, gases, e até mesmo galáxias inteiras - é capaz de mobilizar não só aos que vivem a observar astros e planetas, mas a mim e a todos que, curiosos, querem entender um pouco mais daquilo que se esparge além da nossa atmosfera. Em nossa via de leite há um enorme orifício escuro, detectado por astrônomos alemães, que contrariando os hábitos até aqui conhecidos, vêm lentamente sugando para o seu interior somente uma pequena parcela do que está ao redor. É como se o buraco negro estivesse já lotado de energia e isso aplacasse sua voracidade desmedida. Os astrônomos acreditam que esse aspecto é decorrente da enorme quantidade de matéria já absorvida, o que acabaria por minimizar o efeito de sucção daquilo que gravita ao redor.
O grande usurpador de corpos celestes- denominado supermassivo, é resultante do colapso de estrelas gigantes - completamente alheio a nossa pequenez, continua, em seu movimento invasor, deglutindo tudo, possuindo ao bel prazer aquilo que passa próximo ao seu raio de ação, tomando para si o que afinal não lhe pertence, mas que lhe dá força e o faz crescer.

sexta-feira, outubro 18, 2002

VOYEUR

Das frestas, entre a sombra e as luz que vaza pelas treliças, seu olhar me acompanha, voyeur, perscrutador, curioso. Eu sinto, sua visão pousa em mim.
Vive incógnito, mas deixa no rastro imagens sobrepostas, cromos seqüenciais, enviados pelo correio. Inúmeros negativos a retratar o ambiente ao redor, estroboscópica atmosfera de retratos.
Em seu anonimato registra meus melhores ângulos em preto e branco, alheias poses: um semblante distante; rosto lavado; cabelo sendo escovado; camisola clara, delineando o perfil; sutiã começando a ser desabotoado nas costas; uma boca entreaberta, capturada pelo espelho do banheiro; meias finas lançadas pelo quarto; o caos e a ordem intercalados num aposento feminino. Revelados possivelmente sob a luz vermelha e fraca do laboratório particular, na penumbra. Explorador à procura de contornos através da íris, cristalino, visor, fotografia.
Por trás da lente esconde-se o homem, rendido e que cobiça com toda força que cabe no ser: arrepia-se, encobre-se, protege-se, mostra-se em homeopáticas doses. Fotografa-se aos pedaços e envia-se para mim, numa montagem surreal de quebra-cabeças. Ao lado de cada registro, uma palavra escrita em pequenos pedaços de papel. Charadas.
Reviro os alfarrábios, folhas soltas, páginas carcomidas, amareladas, surradas pelo tempo, e encontro rabiscado um início de roteiro, o final ainda está distante de ser concluído. Talvez me debruce em dar continuidade a ele, entretanto também há a possibilidade de não ultrapassar o limite da última linha escrita e, voltar mais uma vez, para o fundo do baú...

FRAGMENTO

"[...]Busco tua alvorada onde tudo é noite. Trago comigo a luz dos sonhos soltos, na esperança de afogar-me novamente em seus sorrisos. Vejo-te distante, porém tão perto! Neste espaço infindável, sinto queimar em minhas mãos fechadas a estrela que nos reviverá. Na pele, sinto o calor do perdão resgatado das cavernas movediças do teu coração. Permita-me mais um passo. Deixa-me seguir a tua trilha e sussurrar nossa amplidão de sonhos nos teus ouvidos. [...]"

Fabiana Lopes

quinta-feira, outubro 17, 2002

O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE NOSSAS VIDAS

O dia foi daquele jeito gostoso, com paparico de família, carinho dos dois irmãos, inclusive do que está no Paraná e retomou o contato a pedido da filha. Nada como uma criança para unir os adultos, trazer de volta aquela alegria desmedida e pura. Coração de criança, olho que brilha sem parar, atitudes e gestos espontâneos e sem freio.
Os amigos queridos ligaram, escreveram, deixaram recados por aqui e vieram abraçar pessoalmente.
O primeiro dia do Ano Novo foi divertido, leve, fresco.
Ouvi Karroiz falando da vida pós morte. Como ele diz: irmãos, a vida continua. Eu estou mais vivo do que nunca.
E eu quero mesmo é fazer o meu melhor, quero poder continuar viva do outro lado mas num padrão bacana, energizado, mais fluídico. Como eu escrevi a ela ontem, podendo levitar e quem sabe até voar...




quarta-feira, outubro 16, 2002

REVOLUÇÃO SOLAR



Trago no rastro flores e suavidade de borboletas. Devaneios, volitando em estado ainda letárgico, mas pronta para os próximos trezentos e sessenta e cinco dias do Ano Novo que hoje começa para mim. Revolução Solar dirigida pelos espíritos do vento, imortalizando a delicadeza e a vontade de seguir em frente, cheia de vida.Renasço em mais uma primavera.

terça-feira, outubro 15, 2002

DO PASSADO-PRESENTE

O zerar dívidas, concluir o que vim fazer aqui.
Ando completamente envolvida com o único aspecto realmente importante agora.
Como ouvi outro dia, tire de um espírito rebelde tudo aquilo que ele gosta e ao final acabará rendido. Ainda não entreguei os pontos, apesar dos pesares.
Impressionante como o foco muda, transforma-se, mesmo que seja temporário...
Contudo são reentrâncias que insistem na alma. Aquilo que me acompanha desde que me tomo por gente, ainda que fenômenos tenham sido iniciados ainda na tenra idade. É eu ando meio obcecada com isso.
Hoje parei para observar. Parei para descobrir o porquê da posição no meio do caminho. Não ando pra frente e não retorno. Abraço um pouco, envolvo-me com limites, mas no íntimo não é assim que a coisa toda se processa. A vontade muitas vezes é mergulhar, sem medir nada, simplesmente fazer e pronto. Acontece que isso nem sempre é a melhor saída. Nem sempre a cegueira é positiva, pois a razão sempre pede uma brecha diante de tanta insanidade, feito euforia infantil. Muitas vezes sou assim, menina nos meus gostares, nas antipatias. Não há como frear o ímpeto do coração, só deixa-lo me levar. Talvez ele seja realmente o culpado de tudo...
Ainda bem que ele é assim, ainda bem que sou desse jeito. Ainda que eu passe a vida a buscar algo que não compreendo, mas que sinto em toda a sua plenitude e beleza.

segunda-feira, outubro 14, 2002

O PONTO ZERO



Preciso trabalhar, o computador me fita.
Mas, minha atenção vagueia...volta, retorna, recomeça, pára.
Um suave episódio do acaso, onde palavras são só palavras voando pelos pulsos eletrônicos...
Não traduzem, não explicam, não são sábias. São letras somadas, construindo períodos, orações.
Você ainda está aqui e a madrugada se estendeu até o amanhecer...
Dormi abraçada aos seus sonhos e juntei a eles a minha tristeza.
Comungo das suas dores e sei bem como elas afligem.
Não teimo em esconder a quentura, diferente de você.
Em contrastes, somos parecidos. Negativo-positivo, fundidos em fotolitos que constroem imagens e as tornam reais, impressas.
Antíteses, metades, simbiose em delírios, poesia em estado bruto.
Portas abrindo vida...espelhando finais, nem sempre felizes.
Continuo caminhando feito o louco, o andarilho, uma carta de tarot.
Seguimos direções opostas e ainda assim nos encontramos.
E sei quando pensa. Sinto. Você vem...e por algum motivo que não compreendo se instala outra vez.


domingo, outubro 13, 2002

SENSAÇÕES

O cristalino refletia o dourado solar e a transparência envolvia meu corpo.
No espaço do mergulho ao retornar à superfície, o toque demorado e lânguido do vento estancou o tempo, arrepiando a derme quente, queimada, protegida por um fino tecido, colado, indubitavelmente encharcado.
Num súbito impulso, a brisa imobilizou-me. Lambeu cada reentrância, percorreu toda a extensão, tocou cada recôndito, provocou arrepio seguindo a nuca, a espinha e todos os cabelos existentes.
A pele em erupção, os pelos eriçados, o bico dos seios em pé, prontos a furar o pequeno triângulo, a quentura contrastando com o toque gelado da água. Choque, perturbação, infinitude do instante.


sábado, outubro 12, 2002

DO DIVINO

O dia está glorioso, sol, o céu completamente azul, uma piscina de água natural me esperando...
E você fica olhando aquele monte de verde ao redor, as árvores balançando ao sabor do vento, um ar fresco, apesar do calor que ameaça fazer na serra, e tem absoluta certeza que só alguém muito sublime poderia ter criado algo como o habit que desfrutamos.
Ontem estava comentando sobre a camada de ozônio. Li que ela diminuiu o tamanho, ao invés da previsão alarmista que decretava seu aumento, aconteceu um movimento contrário. Ao invés de um rombo, o tamanho foi reduzido a dois círculos menores. O que acabou por surpreender os cientistas e mostrar que nosso planeta azul ainda têm esperança quanto à sobrevivência de todo ser existente aqui.
E isso é realmente uma coisa que me deixa feliz, saber que apesar de todos os pactos não assinados para a preservação da espécie, algo divino vive acontecendo todos os dias.
Quem tiver olhos que veja.


quinta-feira, outubro 10, 2002

Depois de duas semanas de longo e tenebroso calor de verão, pulando de cerca em cerca, contando com a boa vontade alheia, eis que o bom micro à casa retorna. Talvez agora eu consiga sair dessa aridez sem precedentes, onde o lúdico fugiu e não deixou endereço e a trivialidade instalou-se.
Interessante observar o que toca as pessoas. Receber manifestações no email de que gostam do que lêem aqui, que é bonito e tal. E eu não consigo entender ao certo o que enxergam como belo nesse ar nublado que agrega tudo ao redor.
Ando pequena, oca.
Diferente da grande Analu que esteve por aqui até o fim de setembro. Digo grande não no sentido de proporções e dimensões. Falo de quando se sente elevada e tocada por um belo sentimento, quando a inspiração faz parte das passadas diárias e tudo ganhar proporções especiais...
Talvez só os livros me tragam um pouco desse perfume, essa onda que transporta e eleva...
Fui procurar sobre Bábel. Confesso minha total ignorância diante de determinados temas e assuntos. Para mim Bábel tinha a ver com Torre de Babel o que nada tem a ver com o escritor russo. Coisas do Rubem Fonseca que me levam a pesquisar e aprender.Eu gosto disso. Esse é o sentido. Aprender.
A curiosidade que move meus passos e me faz seguir em frente.
Antes de dormir ontem fiquei um tempão elocubrando, tantas imagens, sensações, nomes e pessoas vagaram por minha tela mental.As palavras mesclavam-se aos sentimentos e tudo demorou a amainar. Uma saraivada de letras conjugadas implodia.
Ricocheteio, ainda não sei que direção tomar...


terça-feira, outubro 08, 2002

O CRIME

Quando estive no site de Ricado Kelmer à procura da frase - "Acredito no fascínio, nas doentias obstinações e nas paixões mais absurdas" - acabei me supreendendo com as idéias que ele vai produzindo. E sublinho o final de "O Crime", pois existe uma imagem que ficou retida na minha mente. Faz parte dos tais desenhos que acabam ficando impressos, como eu falei abaixo, aí no blog. O que uma mulher é capaz de fazer sob o efeito da paixão, ou como ele diz, confusa? Será que todas abririam a blusa porque não se doma o mar?!
Colo o pedaço citado:

"[...]Confesso que mal a conheço mas sei que existem as tentações dos sortilégios. Você tentará se domar, disciplinar, pensará ser mais forte que os ciclos e a força dos mistérios. Tsc, tsc... Não, garota, não se doma o mar. Então nisso é que consistirá o meu crime: você não saberá o que fazer e acabará abrindo a blusa.
Como faria qualquer mulher confusa em seu lugar."


segunda-feira, outubro 07, 2002

ONDAS



Ainda estou sob o embalo da hatha ioga. Quase dormi. O corpo todo serenou. Mas, em determinadas horas imagens apareciam.
Feito fantasma, alma penada, assombração. Quase converso com eles. Os rostos aparecem, sorriem, e eu creio que trocamos impressões.
Alguém me falou sobre a esquizofrenia outro dia. Acontece que não é uma realidade como a que eu vivo. É blue, impreciso, nebuloso.
E essas explicações racionais sempre me fazem rir, justamente porque essas visões, sensações e percepções existem desde menina.
Difícil explicar determinadas coisas para os incrédulos, ateus e os que vêem a vida girar envolta do próprio umbigo, onde o homem é a única razão da existência.
Para toda ação há sempre uma reação. E não é só uma lei instituída. É além.
Feito ondas quando se lança uma pedra num lago sereno. Milhões de círculos se formando, se alargando, produzindo reflexo.
Somos assim. Estamos todos ligados, pela teia, pelo divino, pela física, por essa dimensão, planeta, existência.


domingo, outubro 06, 2002

DAS IMAGENS

Ao lado da cama há vários títulos colocados um encima do outro.
Por semanas consecutivas permaneceram intocáveis, sem que tivesse vontade alguma de abri-los.
Nesses tempos escuros, onde pareço uma agente secreta a perambular por casas e utilizar micros emprestados, estou sempre correndo.
Entro, escrevo, saio. Pergunto se tem alguém em casa. Telefono. Celular, convencional.
Chamam-me viciada. Eu rio, não penso assim. No fundo acaba sendo divertido, justamente porque faz parte das coisas que gosto e de uma forma livre me faz prisioneira e compulsiva.
Não tenho meias-medidas, meias-verdades. Tudo é dessa forma, explosivo, irracional, muitas vezes.
Ontem senti vontade de voltar ao Rubem Fonseca, reabri onde estava marcado e o personagem, um cineasta, anda à voltas com um filme, um assassino de aluguel e várias pedras que valem uma fortuna. No enredo, existe uma mulher, uma não, várias, mas ele estava falando de uma especial ontem. E é curioso a maneira como os homens falam de mulheres ou se referem ao sexo, ao desejo e a própria volúpia. Saem palavras como boceta púrpura. E eu fiquei imaginando uma boceta desta cor. Ele dizia ser irresistível aquela parte do corpo dela.
Indo para Bukowski em seus delírios, ele conta do homem da canoa. E é exatamente essa figura, essa imagem que ele pegou, construiu com tamanha facilidade, que define muito bem os contornos da vagina.
Gosto desses ângulos masculinos. Eu já falei aqui que tenho mais amigos homens que mulheres. E me sinto realmente fascinada por visões, sensações e contextos que fogem ao meu mundo de signos.
E essas imagens ficam retidas. Como outras frases que já citei também por aqui, num texto em alusão à Pessoa e Hilda Hilst.
Não é à toa que ele diz:

"Não pondero sonhos;
Não me sinto inspirado:
Deliro".

Pessoa

sábado, outubro 05, 2002

Em meses e meses desde a sua criação, creio nunca ter ficado tanto tempo sem postar.
Faz parte das tragédias de vírus em micros. É saudável por outro lado. Tenho vivido mais, lido mais, pensado menos em publicações.
Por outro lado sinto falta de acompanhar alguns blogs, os especiais, aqueles que todo dia eu visito, troco e me delicio.
Vamos ver se durante esta semana que entra consigo voltar a dita normalidade virtual.
Do jeito que as coisas vão indo acabo acreditando mesmo que isso é coisa de Inferno Astral.

quinta-feira, outubro 03, 2002

Dia atípico. Ontem foi assim.
Nem consegui dar uma fugida e passar por aqui...
O divertido é que fiz outras promessas...e eu nunca consigo cumpri-las...
Por que não resisto?! Simplesmente, não consigo.
Fazer o que? Viver o agora.
Sim, a vida está lá fora e aqui dentro.
Milhares de santos ontem. Quarto de santo.
Beleza de símbolo representando duas serpentes, novamente Oxumaré.
E a boneca, indicando a criança. Uma sereia. Do mar.
Energia forte, chegou quase a derrubar.
O terceiro olho não aguentou e gemeu. Eu andei pra trás.
Alguém com cara de mau. Adoro isso. Mau.
Exu. Demônios. Vermelho e Preto.
Iemanjá. Oxum. Ouro e jóias.
Sincretismos.

terça-feira, outubro 01, 2002



Aqui chove sem parar. Milhares de pingos na janela.A alma nostálgica, fria.
E parece não ter fim essa sensação. Estórias de amor desfeitas, um amigo me fala da partida durante um café.
Retalhos da existência.