domingo, outubro 06, 2002

DAS IMAGENS

Ao lado da cama há vários títulos colocados um encima do outro.
Por semanas consecutivas permaneceram intocáveis, sem que tivesse vontade alguma de abri-los.
Nesses tempos escuros, onde pareço uma agente secreta a perambular por casas e utilizar micros emprestados, estou sempre correndo.
Entro, escrevo, saio. Pergunto se tem alguém em casa. Telefono. Celular, convencional.
Chamam-me viciada. Eu rio, não penso assim. No fundo acaba sendo divertido, justamente porque faz parte das coisas que gosto e de uma forma livre me faz prisioneira e compulsiva.
Não tenho meias-medidas, meias-verdades. Tudo é dessa forma, explosivo, irracional, muitas vezes.
Ontem senti vontade de voltar ao Rubem Fonseca, reabri onde estava marcado e o personagem, um cineasta, anda à voltas com um filme, um assassino de aluguel e várias pedras que valem uma fortuna. No enredo, existe uma mulher, uma não, várias, mas ele estava falando de uma especial ontem. E é curioso a maneira como os homens falam de mulheres ou se referem ao sexo, ao desejo e a própria volúpia. Saem palavras como boceta púrpura. E eu fiquei imaginando uma boceta desta cor. Ele dizia ser irresistível aquela parte do corpo dela.
Indo para Bukowski em seus delírios, ele conta do homem da canoa. E é exatamente essa figura, essa imagem que ele pegou, construiu com tamanha facilidade, que define muito bem os contornos da vagina.
Gosto desses ângulos masculinos. Eu já falei aqui que tenho mais amigos homens que mulheres. E me sinto realmente fascinada por visões, sensações e contextos que fogem ao meu mundo de signos.
E essas imagens ficam retidas. Como outras frases que já citei também por aqui, num texto em alusão à Pessoa e Hilda Hilst.
Não é à toa que ele diz:

"Não pondero sonhos;
Não me sinto inspirado:
Deliro".

Pessoa