sábado, junho 29, 2002

OS VIRA-LUAS

"Todos lhes dão , com uma disfarçada ternura, o nome tão apropriado, de vira-latas. Mas, e os vira-luas? Ah! ninguém se lembra desses outros vagabundos noturnos, que vivem farejando a lua, fuçando a lua, insaciavelmente, para aplacar uma outra fome, uma outra miséria,que não é a do corpo..."

Mario Quintana

sexta-feira, junho 28, 2002


Por mais fria que esteja a noite, o sereno não molha, só ajuda a criar a atmosfera da estação.
As nuvens pacíficas, chumaços de algodão lançados desordenadamente na escuridão. A Lua, no minguante, abastece com seus parcos reflexos.Imposição de fases. Construção de perspectivas energéticas e físicas.
Sou como essa e outras madrugadas geladas, destituída de razão.É conexão com estado inebriante provocado pelo riso barulhento e a alteração de consciência. Sensação particular de recriar outra vida...um torpor divertido, próximo do divino.
Os raios prateados banham dedos e clareiam idéias. Uma nuvem se sobrepõe, encobre o lume celeste provocado pela Grande Senhora. Ganha focos escuros, impedindo que a luz completa se faça. Medito sobre a vida, ainda assim não sei bem o que faço aqui...




quarta-feira, junho 26, 2002



Há algum tempo que o teletransporte povoa nosso imaginário e, principalmente o meu. Tenho verdadeira fixação na idéia de transmutar padrões de matéria orgânica e através de um click aparecer numa outra realidade, num outro lugar.
Lembro bem que quando li Operação Cavalo de Tróia, o primeiro livro(e acabou sendo o único que eu li do Bennitz) impressionou-me demais, justamente a idéia de teletrasportar um ser humano no tempo, voltar à época de Jesus de Nazareth. Teoricamente isso seria possível se descoberto o 13o eixo físico, que ‘regula’ a dimensão tempo-espaço. Na ocasião, consultei meu irmão, engenheiro, e ele assentiu sobre essa possibilidade física.
Bem, qual não foi minha surpresa ao ler uma nota, publicada na semana passada, que dizia que dois cientistas australianos, Warwick Bowen e Ping Koy, conseguiram transmutar um feixe de laser a 1 metro de distância. Destruíram bilhões de fótons simultaneamente e recriaram a mesma composição em outro lugar.
Fiquei rindo, imaginando-nos como em Jornada nas Estrelas, de Kirk ou Picard, nos teletransportando entre horas e lugares. Já pensaram nisso?! Não seria incrível poder sair daqui, da minha poltrona confortável e gostosa, e ir parar na sala da casa da Débora, em Sampa? Ou ainda, visitar minha amiga nos Eua, num estalar de dedos, sem ter que comprar passagem aérea, tirar visto e enfrentar a burocracia? Seria realmente incrível, uma bênção. E pelo piscar de fótons e feixes de luz, da matéria agrupada e reagrupada, isso está mais perto de acontecer do que imaginamos. Não é ficção, isso já é realidade.


terça-feira, junho 25, 2002

A BRUXA ANTÔNIA

Lageado é um lugar mágico por si só. Fica no alto da serra da Bocaina, na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro, pouco antes da entrada da reserva nacional. Um casarão dos tempos do Brasil colônia, um friozinho agradável do verão da montanha e um estranho bosque de pinheiros onde mora a bruxa Antônia traduzem bem o cenário afrodisíaco. Dizem por ali que quem entra na
chamada Floresta Encantada nunca mais sai. Ouço a lenda local com curiosidade e penso que deve haver muitos bons motivos para não se voltar de um lugar. De qualquer forma, o bosque atrai e ao mesmo tempo faz tremer as pernas. Passei pelo menos uns três dias só observando de longe, tentando imaginar o que bruxa Antônia fazia ali dentro por todo o dia, e noite também por séculos a fio. Aliás, quando o sol deixa o céu de Lageado, uma orquestra de vozes entoadas por animais da mata substitui o assobio do vento. Do miado da jaguatirica ao relincho assustado dos cavalos que pastam sob as pereiras, o período dominado pela deusa lua se torna aconchegante ao pé do fogo brando da lareira. Ao sabor de chocolate ou vinho, as histórias sobre os feitos da bruxa Antônia recheariam livros mil.

Enquanto mascam tabaco, contam em detalhes que quando moça lá pelos idos de 1600, Antônia era daquelas mulheres insaciáveis. Amou dezenas de caboclos e despertou a ira de muitas mães e esposas. Não teve filhos. Certa feita encontrou-se com Rodrigo, filho de um próspero fazendeiro de Bananal, cidade da vizinhança. Deitou-se com ele uma única vez por compromisso e logo partiu
para outros amantes menos famosos. Rodrigo adoeceu de paixão. Rastejava-se aos pés de Antônia. Ela desfrutava do moço o quanto podia. Dizia a mãe, que a bruxa lhe sugava a vida. Enfim, Rodrigo morreu. Pai rico e cheio de poder, Bartolomeu, que nunca pôs fé na intuição da esposa preferindo acreditar que Rodrigo estava doente, saiu à caça da mulher que enfeitiçara o filho e o
levara à morte. Ao deparar-se com Antônia, sentiu um arrepio na espinha ao perceber-se atraído por aquela moça de cabelos desgrenhados e corpo insinuante sob um vestido de chita. Amaldiçoou a feiticeira e decretou que ela fosse levada para o bosque e que de lá nunca mais saísse sob o risco de parar na fogueira.

Para alívio das moradoras e tristeza dos moradores da vila, Antônia foi levada até a entrada do bosque por meia dúzia de matronas. Depois ninguém mais a viu. Bartolomeu passava as noites em claro desde o encontro com a moça. Suava frio e tinha sonhos condenados pela fé cristã. Decidiu ir até o bosque para pôr-se à prova. Mas no fundo desejava deliciar-se no corpo de
Antônia. Afinal, ninguém iria saber porque ela não sairia para contar.. Ao se embrenhar entre os pinheiros, de pronto foi afrouxando o cinto das calças e exasperando os pensamentos libidinosos. Mas teve de caminhar por umas quatro horas. Chamava por ela usando termos chulos e finalmente a encontrou quando a lua já descansava. Sob a aurora ela apareceu nua, linda como nunca.
Bartolomeu caiu sobre os joelhos e implorou por uma noite de luxúria a fim de acabar com o fogo que lhe queimava as entranhas. Bartolomeu nunca mais voltou à vila e assim, Antônia ganhou fama de bruxa e eu descobri que o segredo da Floresta Encantada era sexo. E qual rapaz de 22 anos não quer uma boa noite de sexo. Foi assim que a lenda ultrapassou os limites de Lageado.

Já estava de malas prontas para descer os 26 quilômetros até a cidadezinha de São José do Barreiro quando um moleque bateu exasperado na porta dos fundos do casarão. Gritava pela anfitriã Josefa dizendo que três rapazes da aldeia haviam desaparecido na última noite. Ofegante o menino disse que eles haviam entrado no bosque para trazer Antônia de volta ao mundo real. Dona
Josefa fez o sinal da cruz cristã ao mesmo tempo em que chamava pelas entidades afro pedindo proteção. Saíram todos em correria e eu junto, com o coração batendo na boca. Sentia um misto de medo e excitação. No limite do bosque, ninguém se atrevia a entrar. Nem mesmo Napoleão, o vira-lata da pousada, dava um passo à frente. Um anel de neblina envolvia a Floresta Encantada e as mães dos rapazes desaparecidos berravam os nomes dos filhos num desespero horrendo. Pedi então que me providenciassem água e alguma comida, coisa pouca para só dois dias. Voltaram com uma mochila pequena.
Entrei.

Não vou dizer que não estava apreensivo, mas pensava comigo mesmo que era apenas um bosque de pinheiros, conhecido entre os botânicos como floresta morta por não abrigar animais. Por entre os troncos vi que algo reluzia uns metros à frente, quando me aproximei havia ali um lago pequeno e à sua margem uma casa de pau a pique. Reparei que o entorno da casa estava forrado
de hortelã e que à porta havia um pentagrama pintado em vermelho. De cócoras, uma velha lavava roupas encardidas. Aproximei da mulher com certo receio. Seria ela a bruxa Antônia? Uma mulher franzina já com tantas marcas do tempo estampadas na fronte?
-- Procuro por três rapazes da aldeia que entraram aqui... -- disse sem conseguir terminar a frase.
A mulher ergueu os olhos em direção aos meus e não disse palavra alguma. O azul pálido daquele olhar fez o lago perder o brilho. Gaguejei para dar continuidade à conversa.
-- Onde eles estão? -- perguntei.
No silêncio que imperou por poucos segundos perguntei para mim mesmo sobre os atributos sexuais de Antônia. Mal esboçava um sorriso quando num gesto ríspido a mulher levantou um dos braços e percebi que o tempo iria virar.
Uma tempestade começava a se formar. Senti uma zonzeira e quando me dei conta estava no escuro pleno. Nenhuma luz. Pensei que estivesse cego. Fui tateando o lugar e descobri que estava no interior do casebre. Quando coloquei as mãos no que seria a porta senti algo me tocar as costas.
-- É ela -- pensei. É Antônia. Entreguei-me à maciez daquela pele e às curvas. Experimentei a entrega, a submissão, o gozo contínuo. Senti-me nas mãos de três mulheres. Possuía a virgem, me encolhia no colo da mãe e sentia-me minúsculo diante da sabedoria da anciã. Não sei ao certo quanto tempo durou o ato sexual ao qual me submeti sem restrições, mas desejei que
fosse eterno. E quase foi.

Abri os olhos por conta do sol. Estava nu, deitado na margem do lago. Lembrei-me da orgia da noite anterior e rapidamente entrei nas águas para banhar-me. Ao nadar de uma margem a outra senti cansaço. Certamente seria por conta do esforço ininterrupto da véspera. Pensei comigo mesmo que queria mais uma dose. Clamei pela presença de Antônia. Nada. Supliquei por mais uma
noite em seus múltiplos braços e pernas. Então pude vê-la no entardecer. Bela, nua e com um espelho circular que pendia entre os seios fartos. Aproximei-me já na expectativa de repetir os devaneios da noite anterior. Estava tão extasiado que tropecei no meu próprio pé. Apoiei-me no braço da bruxa Antônia e pude ver minha própria imagem no pingente. Havia envelhecido pelo menos uns 20 anos. Assustado dei um passo a trás e ela rapidamente virou-se de costas e começou a correr em direção à parte escura do bosque.
De longe pude ver as mechas de cabelo branco refletirem a luz da lua. Entendi com clareza absoluta a magia daquele bosque. Vesti-me o mais rápido que pude e saí em busca das bordas da floresta. Depois de horas de caminhada pude ouvir ao longe sons de brincadeiras de crianças. Era o fim. Uma angústia tomou conta da minha alma. Virei para trás e pude ver Antônia na névoa que alinhavava os pinheiros. Quis voltar, mas segui em frente.

Vez ou outra enquanto meus alunos de botânica se esforçam para digerir uma prova ainda me perco nos mistérios de Antônia. Penso em cada detalhe, cada carícia, cada gota de suor, cada som, cada cheiro... Por muito tempo acreditei que tivesse perdido meus melhores 20 anos num corpo de mulher, mas hoje sei que dediquei esses 20 anos a uma pesquisa minuciosa e prática do princípio feminino.

Frater Aamon

segunda-feira, junho 24, 2002

LÍRIOS PARA LÁGRIMAS



Depois da chuva de ontem, o céu está completamente azul, abre-se sobre minha cabeça. As montanhas ao fundo, revelando o vale que cerca a cidade. Um vento fresco, daqueles que chega a arrepiar se faltar agasalho no corpo. O sol a pino, brilhante, colorindo todo o verde dos pinheiros que balançam.
Os olhos ainda estão úmidos e não faço idéia quando vão secar. Dentro ainda há uma ferida e não sei quando vai fechar. Ninguém se refaz assim de uma hora para outra. Mas, eu sei que isso vai passar, que vou sobreviver. Pelo menos tento me convencer disso...
Queria agradecer todo o carinho deixado ontem no post: peguei o beijo da Cláudia, os lírios da Eliane e juntei ao zelo da Tati e do Carlos.
Por pior que esteja sendo e vai ser esses dias, tenho que continuar meus passos...
Fechemos essa página...



domingo, junho 23, 2002

LÁGRIMAS NA CHUVA

Talvez o sentido das aves migrarem antevisse aquilo que aconteceria hoje...
Em mim já havia a desconfiança, como se algo estivesse no ar, esperando o momento para eclodir: foi a notícia dada à queima roupa, sem rodeios...
Um pedaço foi extirpado. E não sei exatamente quando conseguirei me recompor, recolocá-lo sarado no lugar....se é que há como tapar os buracos que vão sendo feitos pela existência, maculando o íntimo de chagas.
As lágrimas caem, caem, caem. E eu deixo que desabem. Secam-me por dentro. Expelem a dor guardada, o que ainda precisa ser posto para fora.
Escuto uma música, antiga, e a chuva cai torrencialmente aqui fora.
Olho a janela e estou como lágrimas na chuva, como em Blade Runner:
Um último suspiro, o adeus.


sábado, junho 22, 2002

Foi impossível ler o comentário que ele deixou ontem e não trazê-lo para cá, para o post de sábado. Fica aqui o registro das aves que migram e trazem com elas uma nova estação. Abandonamos o outono e chegamos ao seco inverno. Para acompanhar meus passos na madrugada fria, ele escreveu...



Transpus o Umbral da noite para vir até aqui ver você. Peço que não se apaixone pelas linhas (doces) que escrevo porque elas costumam trair (amarguras) nas entrelinhas; um texto que tome como sério descamba pro escracho num subtexto satírico .Você mesma percebeu: a minha pena voa do norte ao sul - do boreal ao austral - ao sabor do vento, porque as penas migram de um extremo ao outro levadas pelas suas donas, as aves migratórias.
Não há que se ler as minhas palavras como alento para o espírito;
Não há que se ler as minhas palavras como açoite para a alma;
Não há que se ler as minhas palavras
como carícia para o corpo;
Não há que se gravar as minhas palavras como tatuagem na pele;
Não há que se ler as minhas palavras como nada que não se tenha escrito ;
Não há que se ler as palavras gravadas com letras de fogo no Livro do Destino (dos Mortos)
Não há que se ler as minhas palavras...

-Patrick(Gregory) Berlinck(Grimaud)




sexta-feira, junho 21, 2002

Ele está do outro lado da vida e nos manda mensagens do além...um além pra lá de poético. Com suas areias a dançar ao vento, às rajadas que cegam e encharcam de grãos: roupas, mãos e tez. Abaixo o batismo pela força do senhor dos ventos.

"Nasci da união da mãe beleza e do pai força.
Eu sou a beleza da força.
Fui batizado no fogo das paixões.
Na crisma confirmei a minha fé no vento.
Comunguei no ar que sopra o espírito
Como as folhas secas das árvores, a minha eucaristia.
Confessei as montanhas os meus pecados
E descobri com o eco: as montanhas pecam como eu!
Assim ordenei-me o Sacerdote dos Ventos
Que agitam as águas e formam ondas,
Que levam as terras das planícies, e então
Selei o meu matrimônio com elas:
O casamento das areias com o vento
Que fez de mim - um grão - algo;
Eu sou grão de areia levado pelo vento.
O vento passou, como o tempo.
O vento fustigou a força do rochedo
(fez dele grãos de areia).
O tempo enrugou a beleza
(e fez dela velhice).
O vento, semeado em tempestade,
Ministrou a extrema-unção, e se foi.
Devolvendo-me para o infinito de grãos da praia
(Na praia, no tudo) o grão se converte em nada..."

Gregory Grimaud



quinta-feira, junho 20, 2002



"Te amei e amei minha fantasia
amei de novo e amei nossa estréia
amei meu próprio amor e amei tua audácia
te amei muito e pouco e comovidamente
amei a tua história construída, os ritos e os porquês

te amei no invisível e no inaudível
amei no crível e no incrível
amei ser dona e te amei freguês
te amei e amei a farsa arquitetada
amei o nosso caso e amei a nossa casa
amei a mim, amei a ti, parti-me ao meio
te amei no profundo, no raso e com atraso
não era tua hora, não era minha vez."

Martha Medeiros

terça-feira, junho 18, 2002

Temos nos comunicado com mais assiduidade e está sendo um real prazer saber mais dele. E na última mensagem pediu que eu parasse com minha obsessiva escrita acerca da Lua, que era provocação, principalmente ao unir o mar a ela. Segundo ele um visual irresistível para quem vive num lugar de montanhas e sem a presença do oceano. Eu sei bem como é isso, porque também sinto falta do barulho das ondas e aquele cheio característico de sal.
Pra te deixar desejando ainda mais um lugarzinho perto do mar, com sua mulher ao lado e os filhos para correr ao redor, dá uma espiada aí embaixo!
Esta foto foi feita por um fotógrafo amador, Guilherme Pereira, um andarilho que esteve em Israel e criou um site bem informativo para quem está querendo saber o que aquele lugar guarda de importante e especial. Além disso, perambulou pelo deserto, têm uma secreta paixão por escorpiões e os milhões de grãos que compõe aquele mar arenoso. Um nick sugestivo, scorpion desert, no meio da interminável lista de nomes e personagens que desfilam pelo mirc. Foi impossível olhá-lo diante de uma sucessão infinita de apelidos e não ir conferir que sujeito era aquele. E, como sempre minha intuição não se engana: achei um amigo valioso.
Fez a foto no mar mediterrâneo, numa das suas incontáveis viagens, sem paradeiro e sem pouso constante. Um sujeito libriano como eu, que sabe bem onde suas pernas e idéias podem levá-lo.
Como não seguir o fluxo, o luar numa noite quente e fresca de outono?
Vamos em frente...



segunda-feira, junho 17, 2002

Fomos ver Um Bonde Chamado Desejo, em Copacabana. O Rio está envolto pela mesma bruma que cerca Petrópolis. E, por incrível que pareça, aqui está mais fresco que lá. Desci de mini saia e blusa sem manga. Senti diferença quando pus os pés nessa terra carioca. Ainda assim, foi impossível não me render à paixão que sinto ao chegar novamente aqui. E para selar meu pacto de amor, duas gaivotas voavam juntas, num balé conjunto, num céu estupidamente azul. O cheiro, o clima, é uma paixão sempre voltar para cá. Passa o tempo, a violência cresce, mas o Cristo estava lá de braços abertos me recebendo...
Voltando à peça, um dramalhão underground de Tennessee Williams, um pouco nojento demais pro meu gosto. Mas, algumas tiradas realmente ficaram na mente, lá vão elas:

"Eu não quero realismo.
Eu quero magia. Magia.
É isso o que eu tento dar às pessoas.
Eu transfiguro as coisas.
Eu não digo a verdade. Eu digo o que deveria ser a verdade".
Uma fala de Blanche DuBois, interpretada por Leona Cavalli

O desabafo de Stanley Kowalski, pela voz do ator Milhem Cortaz:
"100% americano.
Por que os sãos dependem sempre da
loucura alheia para conquistarem
o teritório da sua sanidade?"

O ar doce de Stella Dubois, pelos olhos da atriz Isabel Teixeira:
"Algumas paredes são feitas de luz,
outras de água. Stella está grávida,
assim como o 4x4. Assim como o
baú de Blanche, boceta de
Pandora. Assim como este teatro.
Quem é a mãe? Quem é o pai?
Quem vai nascer?"

E a fala de outro personagem, Mitch, incorporado pelo ator João Signorelli,
que dá vida ao "Soneto 43" dos Sonetos do Português, de autoria
de Elizabeth Barrett Browning(1806-1861):
"Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece;
E a fé da minha infância, ingênua e forte.
Amo-te até nas coisas mais pequenas,
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte".

Boa noite.

domingo, junho 16, 2002



Alguém me pergunta se eu gosto da Lua por causa do post de ontem. Sim, eu adoro a Lua e tudo aquilo que vêm embutido em seu rastro noturno. Ela é companheira de noites em claro, em muitas mesas com amigos e guardanapos que guardam os sentimentos imortalizados, inspirados pela grande senhora. Nenhuma Lua foi ou é igual. Todas carregam suas dores, alegrias e mistérios, do lamento mais profundo do ser a mais estrondosa gargalhada provocada pelo ar etílico que se propaga pelas horas em claro.
Gosto de madrugadas. Sou um ser notívago. Sinto-me disposta a essa hora e gosto de mirar o céu sem pretensão. Parar para ouvir o vento ou olhar com mais atenção uma estrela que parece desabar do firmamento. As cores, a vibração, os rostos que cruzamos nas esquinas da escuridão. As camuflagens que são usadas, nas roupas, maquiagem, uma espécie de personalidade diferente que toma à frente, como uma cigana que protege alguém, sedutora e apavorante. Uma mescla de celeste e demoníaco. As dualidades que me encantam e sempre acabo voltando a elas. Ainda falando da noite, saí agora e mirei o negrume celeste. Um punhado de luzes salpicava o céu e um pouco de nevoeiro cegava o caminho. O vento cortante, o carro gelado. O corpo pedia abrigo, um cobertor, um casaco mais possante. Cheguei agora e vim ver os emails. Pus um pulôver, calcei as pantufas e meias. Petrópolis está fria e as ruas guardam o silêncio das horas, não vi viva alma pelo trajeto.
Sei que esse tempo, essa temperatura de agora, apesar de pedir uma corrida para cama, é prelúdio de uma fantástica manhã, quente e ensolarada. É só esperar para ver. Amanhã tem mais dia e luar.


sexta-feira, junho 14, 2002

Hoje fui surpreendida por um email realmente inspirador na caixa postal. Daqueles que você escreve, escreve e escreve, mas a resposta parece boba diante de tanta poesia. E ele falou da Lua, me chamou de Analua, como alguém às vezes me chama quando lê meus rabiscos. E aí lembrei dessa música, cantada por Orlando Morais e que fala muito do que vai na minha alma...
Pra você que encheu meu dia de sonho e poesia.

DIVINAMENTE NUA, A LUA

Divinamente nua, a lua
Tritura a sombra na treliça
E a hóstia sobre o sexo atua
Quando o desejo morre de preguiça
Prisioneiro sem bíblia, livre
No peito tentações, pudores
Sonhos de amores, leitos, livres, leitos
Divindades e dragões

Mar feroz que vem dormir na minha cama
Sangrar na minha vida tão confusa
Queria ter o sol e tenho a lua
E a escuridão
Ainda assim abusa.......


Orlando Morais/Caetano Veloso


quinta-feira, junho 13, 2002

DAS HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DE AMOR...



Todo mundo já viveu um grande amor. Daqueles que se lêem em romances, contos e poemas. Os que são tão intensos que parecem abraçar o mundo inteiro e tudo ao redor ganha contornos cor-de-rosa. Entre o que sentimos e o que de fato vivemos há uma enorme lacuna. E há também os sentimentos da pessoa amada. Jamais poderemos medir o que se passa do outro lado, por mais que se diga eu te amo e os olhos brilhem. Por mais que os textos, bilhetes e recados impregnem cada canto da casa, do quarto, da própria alma.Estou falando de amor, porque acabei de ler a crônica do Falabella e ele discorre sobre o fim, o término de um grande amor. Então, vou colar o que me tocou, o que me fez refletir nessa manhã ensolarada:

“[...]Foi essa mensagem que me pegou de surpresa e me deixou pensando, agora, na frente do computador neste homem, que eu não conheço e que sofre, nesta mesma madrugada, por uma mulher que já não lhe quer mais. [...]
O fato é que essa imagem atirou para longe o palácio e o beijo das carruagens e eu me senti solidário pelo sentimento de abandono que nos invade cada vez que percebemos o limite. Fiquei imaginando esse coração urbano pela madrugada e lembrei do pânico que nos acomete quando o eterno é traiçoeiro e aquelas palavras de amor se dissolvem no ar, como quando ditas no frio. O terror quase infantil que vai nos enchendo quando alguém resolve partir. Nunca somos amados o bastante, porque não entendemos o amor. E porque não entendemos o amor, não entendemos o tempo.
Por isso, meu caro leitor, não sei que conselho lhe dar, mas sei exatamente como são as suas manhãs e as suas tardes. Sei como o sol se põe, como se olhasse através dos seus olhos. Conheço a saudade que vai encharcando o sistema, quando chega o crepúsculo. E sei também que quem vai decidido não volta, que os que desaparecem na curva do caminho é porque tinham anseios que talvez não tenhamos conseguido entender.
Projeta-se, cuide-se e tente se agarrar em algum galho que apareça pelo caminho, na força da enxurrada.Descubra como acordar, porque o começo é sempre difícil, e depois da manhã, o dia segue seu curso. A gente vai vencendo etapas, vai criando anticorpos para combater aquilo que um dia foi amor, aquilo que um dia foi sonho. Embrulhe os chamamentos de carinho,os apelidos do amor, as noites de paixão, o perfume que se alojava na base do pescoço, o olhar do adeus e a esperança de eterno que um dia você viu refletida naqueles olhos. Embrulhe tudo isso e esqueça no fundo de uma gaveta. Talvez um dia você resgate cada um desses guardados, talvez não. Se o fizer, é porque terá chegado enfim o tempo da delicadeza. Se não, não se incomode. Vão desaparecer misteriosamente depois do primeiro passo, depois da primeira mudança. Um abraço deste amigo que ronda pela noite, enquanto Rainier beija apaixonadamente a princesa de seus sonhos”.

quarta-feira, junho 12, 2002

Já faz um tempo que encontrei esse teste e tenho quase certeza que o resultado se alterou com o passar dos meses. Pra quem não fez vale saber se a imagem projetada, ou que se acredita ser, é a mesma que os outros vêem. Será? Meu escore ficou entre 41 e 50 pontos e o seu?

TESTE: "COMO OS OUTROS ENXERGAM VOCÊ?"

1) Quando você se sente melhor?

a) pela manhã
b) pela tarde e ao entardecer
c) tarde da noite


2) Você caminha usualmente:

a) razoavelmente rápido, com passos largos
b) razoavelmente rápido, com passos rapidos e curtos
c) menos rapido, cabeça erguida, olhando o mundo de frente
d) menos rapido, cabeça baixa
e) muito devagar


3) Quando fala com as pessoas você usualmente:

a) fica de braços cruzados
b) fica com as mãos apertadas
c) com uma ou ambas as mãos nos quadris
d) toca ou empurra a pessoa com quem está falando
e) brinca com a orelha, toca o queixo ou alisa cabelo

4) Quando relaxando, você se senta:

a) com os joelhos dobrados e as pernas bem juntas
b) com as pernas cruzadas
c) com as pernas estiradas ou retas
d) com uma perna dobrada embaixo de você


5) Quando algo o diverte de verdade, você reage com:

a) uma risada alta e satisfeita
b) uma risada, mas não muito alta
c) com um riso abafado
d) com um sorri so encabulado


6) Quando você vai a uma festa ou encontro social você:

a) faz uma entrada ruidosa para que todo mundo perceba
b) faz uma entrada silenciosa, procurando por um conhecido
c) faz a entrada o mais silenciosa possível, tentando não ser percebido


7) Você está trabalhando muito, muito concentrado, e é
interrompido,você:

a) aceita bem a interrupção
b) sente-se extremamente irritado
c) varia entre estes extremos


8) Qual destas cores você gosta mais?

a) vermelho ou laranja
b) preto
c) amarelo ou azul claro
d) verde
e) azul escuro ou roxo
f) branco
g) marrom ou cinza


9) Quando você está na cama, à noite, naqueles minutos finais antes de
dormir, você:

a) fica espichado de costas
b) fica espichado de barriga para baixo
c) fica de lado e ligeiramente curvado
d) com a cabeça em cima do braço
e) com a cabeça sob os lençóis


10) Você freqüentemente sonha que está:

a) caindo
b) brig ando ou discutindo
c) procurando alguém ou alguma coisa
d) voando ou flutuando
e) você tem um sono sem sonhos
f) seus sonhos são geralmente agradáveis

PONTUAÇÃO (só olhe depois de responder)

1) a-2 b-4 c-6

2) a-6 b-4 c-7 d-2 e-1

3) a-4 b-2 c-5 d-7 e-6

4) a-4 b-6 c-2 d-1

5) a-6 b-4 c-3 d-5 e-2

6) a-6 b-4 c-2

7) a-6 b-4 c-2

8) a-6 b-7 c-5 d-4 e-3 f-2 g-1

9) a-7 b-6 c-4 d-2 e-1 1

10) a-4 b-2 c-3 d-5 e-6 f-1

Agora some seus pontos e confira o resultado abaixo.
Boa análise!

Interpretação:
Acima de 60 pontos

Os outros o veêm como alguém que eles precisam ter cuidado no convívio. Você é visto como vaidoso, autocentrado, e alguém que é excessivamente dominador. Os outros podem mesmo admirá-lo, querendo até mesmo ser um pouco como você, mas não lhe tem confiança e hesitam envolver-se mais profundamente com você.


De 51 a 60 pontos

Os outros o veêm como alguém excitante, altamente volátil, com uma personalidade impulsiva; um líder natural, que é rápido para tomar decisões, embora nem sempre as decisões acertadas. Eles o enxergam como ousado e aventureiro; alguém que sempre experimentará algo uma vez pelo menos; alguém que corre riscos e aprecia a aventura. Eles apreciam estar em sua companhia
pelo excitamento que você irradia.


De 41 a 50 pontos

Os outros o veêm como atrevido, vivaz, charmoso, divertido, prático e sempre interessante; alguém que está constantemente no centro das atenções, mas suficientemente bem equilibrado para não lhe deixar subir a cabeça. Também o veêm como bondoso, atencioso, delicado, Compreensivo; alguém que sempre os anima e os ajuda.


De 31 a 40 pontos

Os outros o veêm como sensível, cauteloso, cuidadoso e prático. Eles o enxergam como inteligente, dotado, talentoso, mas modesto... Não uma pessoa que faça amizades rapidamente ou facilmente, mas alguém que é extremamente leal aos amigos que faz e de quem espera a mesma lealdade de volta. Aqueles que realmente o conhecem compreendem que é difícil abalar a sua lealdade para os amigos, mas também que leva um bom tempo para superar uma lealdade abalada.


De 21 a 30 pontos

Os outros o veêm como meticuloso e exigente. Eles o enxergam como cauteloso, extremamente cuidadoso e um trabalhador vagaroso perseverante. Eles ficariam surpresos se você fizesse alguma coisa impulsiva ou de momento, esperando
que você examine tudo cuidadosamente de todos os ângulos e usualmente vote contra. Eles pensam que esta reação é causada em parte pela sua natureza.


Menos de 21 pontos

As pessoas o veêm como tímido, nervoso, indeciso, alguém de quem precisam tomar conta, alguém que está sempre esperando que os outros tomem as decisões e que não quer se envolver com pessoas ou coisas. Eles o enxergam como um preocupado que sempre enxerga problemas onde não existem. Algumas pessoas o acham um chato. Somente quem o conhece bem acha que você não é!





terça-feira, junho 11, 2002

Fui no blog da Dominique e encontrei o Jornal do Aniversário. Lá é possível descobrir os fatos e acontecimentos que marcaram o seu nascimento. Vale a pena conferir.

segunda-feira, junho 10, 2002

DA ESCRITA DOS AMIGOS...

Eu sempre vejo a grande teia. Sim, aquela que não é feita pela aranha, mas por todos nós. A invisível que nos une de forma reveladora e ao mesmo tempo cativante. O que nos faz voltar a um blog novamente ou pô-lo na lista ao lado? Independente da resposta, cada um guarda seu motivo, seu envolvimento. Estou divagando sobre os amigos. Os que vão se juntando a um coro especial e dando graça ao nosso cotidiano, tracejando outros atalhos, nos mostrando possíveis paragens. Do mais inusitado ao mais divertido, tanto faz, os adjetivos sempre me parecem poucos para dizer o que sinto em determinados locais, com pessoas que enchem os olhos e me tocam delicadamente, produzindo os melhores sentimentos e fazendo com que eu busque o melhor de mim.
Há uma vontade grande em dar o que puder ser dado. Eximido de frescuras, de pudor e medo. E aos poucos, vamos nos aproximando, trazendo para perto os afins. Sim, aqueles que nos conectamos através de um simples olhar, gesto,ação.
Pus uma parte do texto do Jeff em um dos posts da semana passada e confesso que tive muita coragem para conseguir parti-lo, quase uma heresia. Foi ela quem trouxe ele para perto de mim e outras especiais criaturas. Tal como ela. Só quem a ouviu e a leu sabe do que vai naquela alma antiga. Às vezes parece uma anciã, quando diz das rugas, prepara guloseimas para os queridos e os amigos; em outros momentos, é tão decidida, certeira e tão mulher; existe a menina que de vez em quando surge e nos olha com enormes botões azuis, com um boné na cabeça e faz travessuras.
Então, plagiando o que fiz com o Jeff, vou trazer para cá uma idéia que ela colheu numa fala do repórter Reginaldo Leme, que diz o seguinte:
"Qualquer situação é sempre aparentemente mais fácil para quem toma a atitude - ou seja, o que age; o outro, que reage, tem uma decisão muito mais difícil a tomar, mas é ele quem define o resultado."





domingo, junho 09, 2002



Há o amor, é claro. E há a vida, sua inimiga.
Jean Anouilh

sábado, junho 08, 2002

VILA ISABEL E AS BORBOLETAS DA PATAGÔNIA



Nem Ipanema nem Vinícius, só Boulevard-e calçadas com notas musicais.
Falo de Vila Isabel, zona norte do Rio.

O slogan na minha camiseta gritava no peito: "modéstia a parte eu sou
da Vila". Península de legendários pés-sujos, ponto de órbita de
mitológicas escolas de samba, digo-lhes de coração convicto, ela é da
paz. No entanto, cáusticas madrugadas contabilizam mortos e feridos
nas manchetes do cotidiano dela.

Dolorosa estatística: o Rio de Janeiro tem um dos mais altos índices
de homicídios do mundo. Segundo estudo da Organização das Nações
Unidas Para Educação, Ciência e Cultura, 26.3 mortes violentas
ocorreram para cada 100 000 pessoas no ano 2000. A estatística pode
ter melhorado desde então. Provável que não melhorou.

"Pela terceira noite consecutiva", dizia a reportagem do JB terça-
feira passada,"moradores do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, saíam
de casa, assustados com as cenas da guerra do tráfico vividas na
última sexta-feira". Sendo que o pedaço de rua em que um ser humano
mora é sua mais íntima relação com o mundo. Não importa o sotaque e o
samba-enredo: Mogadisho, Bogotá, Kabul, ou Rio. Se a esquina vira
mundo cão, a relação é um estupro.

A violência mata o homem e seus sonhos. Pequenas fantasias urbanas,
de família, residência, de amigos reunidos, transformam-se em longas
noites mal dormidas.

Tudo aconteceu na subida do Morro do Pau da Bandeira, próximo ao
Morro dos Macacos, na zona norte do Rio de Janeiro. Armados de
metralhadoras, dezenas de homens invadiram casas e assassinaram
traficantes de uma quadrilha rival. Homens, mulheres, e crianças
levavam o que podiam, talvez até os sonhos, em pequenas sacolas,para
buscar segurança fora de casa.

Daí que banco de praça virou campo de refugiado.

O intercâmbio de tiros entre quadrilhas rivais nas favelas do Rio
é acontecimento corriqueiro. A novidade é a evasão domicíliar dos
moradores do morro.

Semanas atrás, o Estadão noticiava a declaração de um assessor do
Presidente Francês, que, numa desastrada indiscrição pública,
prometia a seus constituintes que a França não iria virar o Rio. Je
ne çe pas, malandro. O Senegal, ex-colônia, já cuidou do ex-império,
humilhando-o na abertura da Copa. Mas o Brasil está de pernas para o
ar.

Num cruzamento de chumbo grosso da zona do agrião, Vila Isabel
converte-se em simulação de uma esquina em Ramala.Um cronista carioca
aproveita para fazer sarcasmo crítico,"atenção! não é a Palestina!"

A situação agravou-se a tal ponto que as polícias Civil, Militar,
Federal e Rodoviária, formaram um 'força-tarefa'para discutir a
violência. Deram-lhe um nome comprido e incumbências vagas: Grupo
Executivo de Ações Conjuntas de Segurança. Nela falta a representação
do Comando Vermelho.

O prefeito César Maia, cético de gelo, diz que o objetivo do
conglomerado é fazer reuniões. Achei a iniciativa um indício
animador, todavia, comentários das autoridades envolvidas no esforço,
corroboram o cinismo do prefeito. O superintendente da Polícia
Federal, Marcelo Itagiba, por exemplo, foi logo dizendo que "a
violência não vai desaparecer de repente". Já a governadora Benedita
da Silva avisou que a luta contra o crime organizado é "um processo
lento". Creio que sugerem paciência, virtude que desenvolvemos e
aperfeiçoamos nos últimos duzentos e poucos anos da república.

Comprovação de que a questão preocupa é que há uma Comissão Contra a
Violência na Assembléia Legislativa do Rio. Seu presidente,deputado
Carlos Minc (PT), esmera-se no óbvio:"vamos admitir a realidade: a
população está com medo".

E tome grupo executivo disso, comissão deliberativa daquilo,juntas
de estudo daquil'outro. Burocratas avaliam o efeito do vôo das
borboletas da Patagônia no crepúsculo quente do Engenho Novo.
Enquanto deliberam e criam comitês, as cinco escolas municipais do
bairro foram fechadas. Está certo que o saber não ocupa lugar,mas é
preferível matar aulas a morrer na peleja armada de gangues rivais.
Afinal de contas, bala perdida nunca encontra cabeça de general.

O toque de recolher 'informal'imposto à cidade outro dia, teve um
àspero sabor de guerra convencional.

Quero saber como fica a merendeira Marly Silva, nascida e criada no
epicentro dessa versão tropical do purgatório. "Já estou juntando
dinheiro [para me mudar do morro]. Mais dois anos e paro de sentir
medo". Ao ler o depoimento, tive uma dessas incontinências
sentimentais às quais me julgo refratário. Ou me julgava.
Chorei, no olho esquerdo, uma lágrima fugaz. Tristeza que não explode
em soluços, manifesta-se silenciosa, involuntária, numa retina
discordante da outra que não chora. A secreção espontânea logo
desidrata-se, e volto à frieza dos números estatísticos, aos dados
sociológicos, aos jornais.

Uma questão emocional para mim: o Rio é minha vila; Isabel, meu país;
e o Brasil, vizinho deles. Como se tudo fosse uma povoação insular,
carioca e universal, plantada no mapa do Brasil favelado.

E um procedimento infame converte-se em prática habitual: quando a
noite vem, homens pobres do morro, mulheres resignadas, gente do
samba, crianças envelhecidas, desertam de suas casas-lá no setor
palestino da Vila.

Parece até que o Feitiço da Vila transformou-se em maldição:
as calçadas desafinam, as escolas ensinam como sobreviver durante
tiroteios, maridos passam noitadas na farra e alegam seqüestro
relâmpago.

Num trago só, bebo o Rio Maracanã poluído, o traço francês da 28 de
Setembro rabisca meu centro nervoso, e Noel Rosa, raquítico, canta
para mim, num sonho. "Por onde passo/Paixão não me aniquila/mas tenho
que dizer,senhores:/modéstia a parte eu sou da Vila". (Vadico e Noel
Rosa)

Chego a sentir arrepios.

José Rocha Rangel


sexta-feira, junho 07, 2002



Desencanto

Eu faço versos
Como quem chora
De desalento
De desencanto
Fecho o meu livro
Se por agora
Não tens motivo
Nenhum de pranto

Meu verso é sangue
Volúpia ardente
Tristeza esparsa
Remorso vão
Dói-me nas veias
Amargo e quente
Cai gota
A gota
Do coração

E nestes versos
De angústia rouca
Assim dos lábios
A vida corre
Deixando um acre
Sabor na boca
Eu faço versos
Como quem morre

Manuel Bandeira



quinta-feira, junho 06, 2002

ESCRITA DOS AMIGOS...



“[...]A continuação da conversa da noite anterior, o olhar sincero de um amigo de verdade, o sorriso sem fingimento da criança, juntam-se a uma música que toca o coração. E entre outros detalhes simples, despojados de avanços tecnológicos e definições complexas, simples, como apenas a vida pode ser, mais um dia deixa sua marca no tempo. A chuva chega no final da tarde, transformando todos em crianças crescidas a brincar nas poças... um arco íris de cores vivas completa o espetáculo, e a tarde se despede”.

O texto completo está no Tudoaquilo.

quarta-feira, junho 05, 2002

VOCÊ AGE OU REAGE?

Ainda estou às voltas com o meu monitor, ontem ele pifou de vez, saiu até fumacinha. Só consegui deixar um recado no icq, baixar algumas mensagens e pufff! Lá se foi de vez o monitor. Aproveitei para pôr a leitura em dia, estou lendo compulsivamente, é o que me salva agora. Vim dar uma caminhada, parei aqui no meu irmão e vim ver como anda esse outro lado do mundo: o virtual. Baixando algumas mensagens, me deparei com um texto que gosto muito, de Elizabeth Ferron onde ela fala sobre agir e reagir e que cai bem para o meu momento, talvez caiba no seu:

Certa noite, há poucos dias, fui com um amigo à banca de jornais.
Ele comprou o jornal, agradecendo cortesmente ao jornaleiro.
Este, nem se abalou.

"Camarada mal educado, não é?", comentei.
"Ah, ele é sempre assim!", respondeu meu amigo.
"Nesse caso, por que continua sendo delicado com ele?", indaguei.

"Por que não?", perguntou meu amigo por sua vez, concluindo:
"Por que iria eu deixar que ele decidisse como eu devo agir?"

Pensando mais tarde nesse incidente, ocorreu-me que a palavra
importante era "agir". Meu amigo age com relação aos outros;
quase todos nós reagimos.

Ele tem senso de equilíbrio interior que falta à maioria das pessoas;
ele sabe como é, o que é, como deve proceder, tem convicções
próprias. Recusa-se a retribuir incivilidade com incivilidade, porque
assim já não seria senhor de sua própria conduta.

Ninguém é mais infeliz que aquele que apenas reage. Seu centro
de gravidade emocional não tem raízes em si mesmo, como deve
ser, mas no mundo fora dele. Sua temperatura espiritual está
sempre sendo elevada ou abaixada pelo clima social que o cerca,
e ele é uma simples criatura à mercê desses elementos. O elogio
lhe dá uma sensação de euforia, que é falsa porque não provém de
auto-aprovação. As críticas o deprimem mais do que devem,
porque confirmam sua própria opinião insegura de si mesmo.
As caras feias que lhe fazem ferem-no e a mais leve suspeita de
antipatia o faz amargurar-se.

A serenidade de espírito não poderá ser atingida enquanto não nos
tornamos senhores de nossas próprias ações e atitudes. Deixar
que os outros determinem se devemos ser rudes ou corteses, se
devemos exultar ou ficar deprimidos, é abrir mão do controle sobre
nossa própria personalidade, que, afinal, é tudo quanto possuímos.

Parece difícil?



segunda-feira, junho 03, 2002


Ainda sinto o gosto de sal na boca e aquela cobertura fina branca sobre o corpo e o rosto.
Caminhei de Botafogo à Glória, margeando a enseada e aspirando a maresia que entrava pelas narinas. Acho que já falei dessa relação antiga com o mar. Já contei da minha mãe nos levando pelas mãos até a areia para ver os arrastões no fim de tarde.
Pois, hoje, enquanto caminhava, vi um sujeito pescando. De repente algo puxou a linha e ele recolheu o anzol. E lá estava um peixe, mas um peixe com asas. Vocês já viram esse tipo de peixe? O peixe voador? Pois, eu com meus anos de praia nunca tinha visto nada assim. E ele engoliu o anzol todo, não largava. Abriu as asas, debateu-se, mas tudo inútil. Aquilo deu um pouco de nervoso, não suporto ver bicho algum sofrendo. Resolvi continuar minhas passadas, tendo em vista que o pescador havia pegado uma faca e eu não queria ver ele abrir o peixe ainda vivo na minha frente.
Fui em frente e depois de chegar na Glória, fazer barulho junto às muitas maritacas que circundam as árvores desse trajeto, retornei. No caminho, já cansada, resolvi dar outra parada e foi a vez de mirar o céu azulzinho, um bando de pombos voando, um balé incrível, rasantes fantásticas, um sintonia perfeita com o vento gostoso que soprava. Aproveitei para me esticar, fazer um pouco de ioga e me perder no som que chegava das ondas quebrando.
Já no Aterro do Flamengo, enxerguei um gato que vinha num gingado malemolente, cheio de graça. Um gato com cor e jeito dos grandes felinos. Parei e chamei o bichano. Ele veio, era uma gata, linda. Roçou seu corpo nas minhas pernas, fez o oito, pra lá e pra cá, pedindo carinho. Quando vi já haviam chegado mais três outros gatos: dois pretos de olhos verdes e um outro todo rajado, de olho amarelo.E os quatro ficaram se esfregando em mim, ronronando. Até que depois de alguns minutos cercada por eles, decidi interromper nosso encontro.
Ainda dei uma última parada para tomar um guaraná natural e agora estou aqui, ainda preguiçosa, contando pra vocês um pouco do que essa cidade sempre provoca em mim. Um bem-estar familiar,de retornar ao lugar de origem. E isso é sempre muito bom. O Redentor de braços abertos me acolhia em mais uma manhã carioca.



domingo, junho 02, 2002


“Meu pai possuía uma fazenda, no vale do Paraíba, onde criava cavalos. Muitas vezes precisavam cruzar uma égua de boa linhagem com um garanhão também com um bom pedigree, mas o problema era que o ganharão de ascendência nobre não despertava o desejo da égua. Ou tinha a agenda cheia ou não podia, por qualquer motivo, perder tempo com preliminares. Então colocávamos perto da égua um tipo de cavalo conhecido como Rufião, um garanhão do qual não se exigia nem perfeição física nem pureza de sangue que atestasse sua ancestralidade ilustre, mas sim a capacidade de despertar o desejo sexual intenso na égua. O garanhão plebeu e a nobre égua ficavam separados por uma cerca, para que nenhum contato, digamos morganático, ocorresse entre eles. Logo que o Rufião estimulava o cio da égua, colocava-se nela uma peia, uma espécie de arreio de charrete do qual saíam duas grossas cordas que eram fixadas em pulseiras presas nos cascos da égua, para que assim subjugada não pudesse rejeitar e escoicear o garanhão de luxo, quando ele fosse fazer a cobertura. Quase sempre o aristocrata era ajudado pelos peões na introdução do seu membro no corpo da égua, que fora tornado aquiescente e fremente pelo Rufião. Acontece que em muitas ocasiões o Rufião, que despertava o cio na égua porque fazia a fêmea sentir por ele a mesma lubricidade obsessiva que sentia por ela, o Rufião (apodo injusto para animal de tanto caráter), impelido pela sua lascívia arrebatadora, pulava a cerca que os separava e os dois animais, contra todos e sem a ajuda de ninguém, satisfaziam a paixão proibida que os consumia. Vem daí a expressão “pular a cerca”, que você deve conhecer, mais comum no interior do país, que indica um homem ou mulher casada que se engaja em atividade extraconjugal. Dessa história eu extraí os seguintes ensinamentos. O primeiro: para seduzir e comer uma mulher que você ama é preciso desejá-la como um garanhão preso na cerca, e se ela não pular a cerca antes, cabe a você pular, arruinar-se por ela, levar coices por ela, bater com a cabeça na parede por ela. Crie o efeito ricochete. Segundo: as mulheres gostam de falar, não para de conversar com elas, ainda que muitas vezes o que você fala seja na verdade um exercício de comunicação onfalópsica, como no meu caso. Último conselho: quanto mais devassidão no quarto, mais respeito e cerimônia na sala e na cozinha. Mas é preciso, repito, haver amor,sem amor o orgasmo causa sempre um imenso enfado misturado com tristeza”.

Rubem Fonseca em "E do meio do Mundo Prostituto só amores guardei ao meu charuto"


Então entramos em junho e eu passei batido, nem falei nada. Ando as voltas com um monitor louco, que toda hora apaga e custa a voltar a imagem. Estou providenciando outro para sanar o problema e voltar a ativa neste pedaço e nos outros desse mundão virtual.
Tenho um amiga que é alucinada por Rubem Fonseca e ela possui todos os títulos dele. Terminei a Confraria dos Espadas e engatei os dois volumes de "E do meio do Mundo Prostituto só amores guardei ao meu charuto". O verso do primeiro volume tem um texto de Álvares de Azevedo que vou deixar para ilustrar o começo desses 30 dias que chegam:



E do meio do mundo prostituto
Só amores guardei ao meu charuto!
E que viva o fumar que preludia
As visões da cabeça perfumada!
E que viva o charuto regalia!
Viva e trêmula nuvem azulada,
Onde s'embala a viagem vaporosa!
Viva a fumaça lânguida e cheirosa!
Cante o bardo febril e macilento
Hinos de sangue ao poviléu corrupto,
Embriague-se na dor do pensamento,
Cubra a fronte de pó e traje de luto:
Que eu minha harpa votei ao esquecimento
Só peço inspirações ao meu charuto!


sábado, junho 01, 2002

QUAL É O SEU SENTIDO?

Fiz esse teste e o resultado diz que sou visual. Eu concordo com ele. O teste é do psicólogo João Humberto Vanin, está nas páginas de Cláudia deste mês e como achei interessante transfiro-o pra cá. E você é auditivo,visual ou cinestésico?
Assinale as frases que mais correspondem ao seu modo de ser, anote o total de cada bloco e confira as características do seu tipo.

VOCÊ É AUDITIVO SE...

[] À noite, quando não tem muito a fazer, gosta de ouvir música
[]Conversa bastante consigo mesmo.
[]É bom ouvinte.
[]Gosta de longas conversas.
[]Fica irritado quando percebe barulho no carro.
[]Sabe muito de uma pessoa só de ouvir a voz dela
[]Adora comprar CDs
[]Às vezes, dizem que você fala muito
[]Quando se perde no trânsito, pára e pede informações
[]Quando está pensando, balança o pé ou a perna.

VOCÊ É VISUAL SE...
[]Preocupa-se muito com o visual(seu e dos outros)
[]Não tem boa impressão de quem não se veste bem
[]Escreve listas do que tem para fazer
[]Prefere receber instruções escritas a orais
[]Gosta de manter a casa bem decorada e organizada
[]Assiste a dois ou mais filmes por semana
[]À noite, adora ver TV
[]Acha que flores deixam a casa muito mais bonita
[]Conserta rapidamente pequenos amassos e riscos no carro
[]Não aguenta ver quadros desalinhados: logo os endireita.

VOCÊ É CINESTÉSICO SE...

[]Gosta de fazer exercícios
[]Adora a vida ao ar livre
[]Tem tendência a engordar
[]Prefere comprar roupas confortáveis
[]Gosta de acariciar animais e tocar objetos
[]Toca as pessoas quando conversa com elas
[]Adora uma ducha quente no fim do dia
[]É bom dançarino
[]Gosta de receber massagem
[]Normalmente fala um tom de voz baixo

CONFIRA SEU TIPO:

Auditivo:
Você respira de maneira uniforme e se movimenta pausadamente. O tom de voz é claro, expressivo e ressonante. A cabeça se mantém equilibrada sobre os ombros ou levemente inclinada, principalmente quando está conversando com você mesmo. Repare como gosta de usar as palavras: dizer, comentar, silêncio e som.

Visual:
Como as imagens surgem rapidamente no seu cérebro, você tende a falar depressa para acompanhá-las. O tom de voz é alto e a respiração curta e concentrada na parte superior do corpo, o que pode gerar tensão nos ombros. Adora contrastar as cores das roupas. Palavras preferidas: ver, mostrar, imagem.

Cinestésico:
A respiração é profunda e localizada na área do estômago. A cabeça tende a pender para baixo - daí a voz parecer mais grave do que o normal. Você costuma falar lentamente fazendo longas pausas entre uma frase e outra, e o discurso é recheado "toques" e "sensações".