segunda-feira, junho 17, 2002

Fomos ver Um Bonde Chamado Desejo, em Copacabana. O Rio está envolto pela mesma bruma que cerca Petrópolis. E, por incrível que pareça, aqui está mais fresco que lá. Desci de mini saia e blusa sem manga. Senti diferença quando pus os pés nessa terra carioca. Ainda assim, foi impossível não me render à paixão que sinto ao chegar novamente aqui. E para selar meu pacto de amor, duas gaivotas voavam juntas, num balé conjunto, num céu estupidamente azul. O cheiro, o clima, é uma paixão sempre voltar para cá. Passa o tempo, a violência cresce, mas o Cristo estava lá de braços abertos me recebendo...
Voltando à peça, um dramalhão underground de Tennessee Williams, um pouco nojento demais pro meu gosto. Mas, algumas tiradas realmente ficaram na mente, lá vão elas:

"Eu não quero realismo.
Eu quero magia. Magia.
É isso o que eu tento dar às pessoas.
Eu transfiguro as coisas.
Eu não digo a verdade. Eu digo o que deveria ser a verdade".
Uma fala de Blanche DuBois, interpretada por Leona Cavalli

O desabafo de Stanley Kowalski, pela voz do ator Milhem Cortaz:
"100% americano.
Por que os sãos dependem sempre da
loucura alheia para conquistarem
o teritório da sua sanidade?"

O ar doce de Stella Dubois, pelos olhos da atriz Isabel Teixeira:
"Algumas paredes são feitas de luz,
outras de água. Stella está grávida,
assim como o 4x4. Assim como o
baú de Blanche, boceta de
Pandora. Assim como este teatro.
Quem é a mãe? Quem é o pai?
Quem vai nascer?"

E a fala de outro personagem, Mitch, incorporado pelo ator João Signorelli,
que dá vida ao "Soneto 43" dos Sonetos do Português, de autoria
de Elizabeth Barrett Browning(1806-1861):
"Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece;
E a fé da minha infância, ingênua e forte.
Amo-te até nas coisas mais pequenas,
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte".

Boa noite.