segunda-feira, junho 03, 2002


Ainda sinto o gosto de sal na boca e aquela cobertura fina branca sobre o corpo e o rosto.
Caminhei de Botafogo à Glória, margeando a enseada e aspirando a maresia que entrava pelas narinas. Acho que já falei dessa relação antiga com o mar. Já contei da minha mãe nos levando pelas mãos até a areia para ver os arrastões no fim de tarde.
Pois, hoje, enquanto caminhava, vi um sujeito pescando. De repente algo puxou a linha e ele recolheu o anzol. E lá estava um peixe, mas um peixe com asas. Vocês já viram esse tipo de peixe? O peixe voador? Pois, eu com meus anos de praia nunca tinha visto nada assim. E ele engoliu o anzol todo, não largava. Abriu as asas, debateu-se, mas tudo inútil. Aquilo deu um pouco de nervoso, não suporto ver bicho algum sofrendo. Resolvi continuar minhas passadas, tendo em vista que o pescador havia pegado uma faca e eu não queria ver ele abrir o peixe ainda vivo na minha frente.
Fui em frente e depois de chegar na Glória, fazer barulho junto às muitas maritacas que circundam as árvores desse trajeto, retornei. No caminho, já cansada, resolvi dar outra parada e foi a vez de mirar o céu azulzinho, um bando de pombos voando, um balé incrível, rasantes fantásticas, um sintonia perfeita com o vento gostoso que soprava. Aproveitei para me esticar, fazer um pouco de ioga e me perder no som que chegava das ondas quebrando.
Já no Aterro do Flamengo, enxerguei um gato que vinha num gingado malemolente, cheio de graça. Um gato com cor e jeito dos grandes felinos. Parei e chamei o bichano. Ele veio, era uma gata, linda. Roçou seu corpo nas minhas pernas, fez o oito, pra lá e pra cá, pedindo carinho. Quando vi já haviam chegado mais três outros gatos: dois pretos de olhos verdes e um outro todo rajado, de olho amarelo.E os quatro ficaram se esfregando em mim, ronronando. Até que depois de alguns minutos cercada por eles, decidi interromper nosso encontro.
Ainda dei uma última parada para tomar um guaraná natural e agora estou aqui, ainda preguiçosa, contando pra vocês um pouco do que essa cidade sempre provoca em mim. Um bem-estar familiar,de retornar ao lugar de origem. E isso é sempre muito bom. O Redentor de braços abertos me acolhia em mais uma manhã carioca.