domingo, agosto 24, 2014

Algumas vezes é preciso
só um rastro cadente
a desenhar o V deitado
e uma estrela amarela
a nos apontar o caminho.

Foto e texto: Analu Menezes 



sexta-feira, agosto 22, 2014

Eu e você.
Você e eu.
Perna pra cá.
rosto pra lá.
Cheiro daqui.
Você cheira de lá.
Vida minha,
minha vida,
cadente,
nova,
velha,
andaluz na escuridão.
Na amplidão cósmica
é ballet,
é têti à têti,
é dança de almas,
corpos,
afins,
celestes,
estrelas.

texto: Analu Menezes
(foto telescópio hubble)



domingo, agosto 10, 2014

Ele dança,
olha de banda,
tamborila no pandeiro,
é um menino no centro da roda.
É mágico,
ágil,
mescla cores e carmim,
ai de mim,
cigano.

Texto: Analu Menezes
Foto: Iram Rubem Brandão 



segunda-feira, agosto 04, 2014

No seu corpo molhado -

Banhado em suor,
impregnado do cheiro de amor,
do que bagunçou a cama,
marcou a parede,
incendiou a pia,
foi apoio na beira do sofá,
sentiu o peso dos corpos no tapete -

A água lava e perfuma de sabão.

Esse frenesi sem palavras,
desde a hora que nos encontramos
e nossos olhos se cruzaram.
Desde o instante em que tocou
de leve minha pele e roçou sua boca em meus cabelos...
Naquele segundo sabíamos o que aconteceria.

Algumas horas depois, sem verbo,
somente a respiração ditava o compasso do coração,
aceleradamente,
uma falta de ar súbita,
boca seca, a sua e a minha,
boca que quer boca.
Os feromônios animados,
os que se encontram e se reconhecem
numa dupla que não diz, só sente e inala o odor,  
cheiro ancestral,
animal, que nos envolve,
seduz e dilacera as entranhas.

Assim, no atrito,
o contato é cio,
é vida, cheiro.
Os líquidos, 
as secreções,
as sensações,
os estalos e ais, 
milhares de suspiros e ais.
Os meus, os teus,
os nossos sons unidos,
nossos seres penetrados,
fundidos, fodidos,
fincados, grudados,
um no outro.

Um só corpo,
em gozo, delícia
e prazer.

Texto: Analu Menezes
Foto: google imagens





sexta-feira, agosto 01, 2014

Vestiu uma roupa habitual,
o short e a camiseta básica,
penteou os cabelos, calçou os chinelos. 
Pegou a chave, o celular que estava em cima da mesa e já ia abrindo a porta quando lembrou:
o fiel escudeiro, um livro que estava sobre a cama. 
Apanhou-o e desceu o elevador.
O tempo não estava bom, levemente
nublado, o mar de ressaca e as palmeiras
ao vento.
Caminhou um pouco pelo calçadão,
deixou que a maresia penetrasse as narinas
e ao mesmo tempo tocasse seus cabelos
e corpo.
Pensou na vida. No que mais ansiava agora.
Releu o passado próximo, não quis lembrar o
motivo de ausência.
Caminhou mais um pouco. O vento aquietou-se.
Sentou num banco, de costas para a mureta e o mar, pegou o livro e abriu na página marcada.
Naquele instante, a vida ganhava outra dinâmica, outros personagens, uma paisagem diferente, transportando-a a outro lugar...bem longe dali.
Absorta, não viu o moço de máquina na mão.
O que imortalizou o instante.

Texto: Analu Menezes 

Foto: Marcos Mojica