quarta-feira, fevereiro 19, 2003

EVOCAÇÃO

Ele escreveu para a moça que é feita de luar.
Contou a ela sobre as dores, os dissabores e o pretérito.
Rasgou a alma e mostrou suas feridas, as que viraram cicatriz, as que ainda sangram.
Discorreu sobre as sombras, mas ainda não deu o braço a torcer.
Talvez, a aura de majestade acabe por impedir que enxergue o que a membrana leitosa embarrera. O rugido do animal aquieta o homem, trazendo-o a razão.
Mortificado pela ausência imposta, sentiu-se próximo dela quando mirou a escuridão:
A Senhora da Noite dividia seu leito com as estrelas, num céu tão claro quanto à chuva torrente que inundou a cidade, a vila e as ruas, lavando a alma.
Num dando instante, diante de um enorme penhasco, só divisava no horizonte nuvens espaças. Abriu os braços e cogitou um mergulho no precipício.
Bradou aos Quatro Elementos da Terra e pôde ouvir o eco a propagar seu pedido.