quinta-feira, junho 05, 2003

CINTILACOES

Seus olhos cruzaram num atimo, naquele segundo quando nao se espera mais nada.
Ela compactuou o silêncio nas ondas que se propagavam nessa fina sintonia.
Ele, por sua vez, cobriu-se de um campo eletromagnético atingindo seu objetivo.
Transcenderam sem saber. Mesclaram-se em po, ouro a cintilar nos reflexos opacos
do poste artificial. Tocaram-se na noite azul, palida, dividindo o melancolico fim do dia.
Ao fundo, um sax teimoso envolvia a atmosfera em som.
Um gato preto passava correndo. Ninguém dava bola.
Uma tampa da lata de lixo caiu e provocou estrondo.
A quietude transgrediu o rush de carros apressados.
Eles sabiam o porquê disso tudo.
Era a vida que parou e estancou no agora.
Seguiram cada um seu destino, nao olharam para tras.
Ela carregando seu fardo, ele acostumado ao que ja possuia.
Dos olhos nos olhos pintou uma gota de alegria, colirio que provocou ousadia.
Nao estavam mortos: coraçoes bateram mais rapido no despretensioso esbarrao do acaso.