quinta-feira, julho 10, 2003



Ela ria enquanto bebericava o tinto, celebrando mais um inverno.
Desencanada e nua, aberta como criança diante da vida, pronta a abraçar a todos.
Os cabelos ruivos caíam em cachos até a cintura, os olhos amarelos brilhavam. Ela sabe, têm a certeza da imortalidade.
Contou das últimas descobertas e confidenciou que está abrindo um novo livro,
ao invés de um Ano Novo, como apregoam os astrólogos. Ela é da Ponte. A perspectiva é a mesma e só as palavras são diferentes. Liberdade, comandando os movimentos de mestres ascensionados. Já estive lá. Dei hortências lilases a quem não vi. Tudo se passou num coliseu repleto de seres, onde uma pira acesa marcava a reunião.
Ela está escrevendo os capítulos que marcarão uma nova fase, uma nova história,
diferente da atual vivida, entre desagruras e revoltas sentimentais.
Alardeou que recobra a segurança. Agora firme, certeira.
A molecagem marca essa mulher, como se a fissura em transgredir não tivesse solução.
Ela não liga. Vai em frente. Conta do agora. Diz que ganhou um presente especial.
Alguém que como ela vive em desalinho, em completa revolta com o previsível.
Mandou-me beijos, disse da saudade e da cumplicidade que estampa nossa amizade.
Foi assim desde o primeiro contato. Foi assim desde a primeira missiva. Foi assim na primeira vez que nos vimos e nos abraçamos. Plexo solar com plexo solar. E é assim até hoje, ainda que estejamos distantes e o tempo seja nosso maior algoz.
Ainda assim nos conectamos, pensamos forte e uma liga para outra, deixa um bilhete no icq, remete um enorme email.
Gargalhamos até a barriga doer e falamos das sombras. Me despedi na certeza que o que traduz com perfeição tudo isso são as almas, as irmãs, as afins.