quarta-feira, novembro 13, 2002

MISSIVA

O vi como as fases da Lua. Da cheia à minguante, promovendo variações aquáticas corporal e planetária. Dessa enchente que turbina nosso corpo quando cheia, nos leva ao ápice do movimento, da maré cheia e também do movimento orgânico; para a diluição completa quando minguante. Somos cíclicos, largamos a pele feito cobra para que outra nova ressurja; como muda de passarinho que depois cobre-se de tenra plumagem. Vivemos nos travestindo por meio das camuflagens sociais, interiores, artísticas, não importando quando elas são usadas. Entretanto, essa ação cansa. E nos perguntamos quem somos afinal. De que material consiste essa alma cheia de personagens e aspectos míticos. E o guerreiro chega em casa e despe-se da armadura, deixando-a um canto da sala. Ali ele passa a homem comum, mortal sem escudos, sem o peso de defender a honra, a vida, a sua tribo, o seu pedaço de chão. Nessa hora é como todo mundo, independente do espaço que ocupa na Terra.
E o tempo, esse que medimos com horas, é ilusão. Uma convenção que nos dita regras, estabelece códigos, modula padrões. Sinto-me atemporal, sem nenhum vínculo terreno. No máximo um envolvimento de alma com a mãe e irmão. E, ainda assim, sei que vou encontrá-los num outro lugar, muito melhor do que o aqui e o agora. Sempre me vi como um véu voando ao léu, como em Beleza Americana, quando o saco plástico desliza, se confunde, se atrita e se esfrega nas folhas secas, promovendo um balé lindamente fugaz...tal qual a vida.
Contudo, o amor, esse rompe dimensões, transcende à razão e a qualquer explicação que nossa mente ouse criar. Renascido, nato ou morto, sempre existirá e viverá nesse ou em outro padrão, transmutando seres, aliciando a consciência que vibra nesses milhões de focos espalhados por todo o universo físico e imaginário.