terça-feira, novembro 26, 2002

CAMILLE CLAUDEL



Entrego-me a estética que arrebata pelas linhas e contornos.
Da arte, sinuosa e borbulhante, nascida de visionários que habitavam o início do século XX.
Perfeição na construção de formas, músculos, veias, tendões e ossos: o corpo humano retratado em sua minuciosa geografia. Estátuas de contornos irretocáveis, esculpidas em pedra bruta, suplantando o desenho, a pintura ou até mesmo a fotografia. Cores e tintas parecem artifícios ínfimos diante da suntuosidade, da majestade das esculturas.
Como Deus, Rodin e Camille Claudel, imortalizou as formas orgânicas, dando calor ao frio do gesso, mármore, barro e até ônix. Por meio de catarse produtiva ela construiu corpos em 3D, do âmago resgatou amor, extraiu prazer e colheu os infortúnios do fim do relacionamento com Rodin. O conjunto de sua obra reflete êxtase e dor.
O talento era tanto que suplantava em genialidade as formas criadas por ele. Rodin, um mestre; Camille, a figuração mortal do Olimpo. Só deuses poderiam criar como ela. Não pelas técnicas, mas pelo arrebatamento percebido em cada peça, pelo frenesi transposto para as esculturas construídas em relevo e sensibilidade.
Tão transbordante em energia que poderiam até falar, remetendo-me ao que Michelangelo fez ao terminar seu Moisés, cuja perfeição salta aos olhos. Ensandecido, diante de tal criação, teria pegado o talhe e o martelo e dado um golpe no joelho da estátua, gritando em seguida: parla!
Na enciclopédia encontrei apenas uma notinha referente a sua existência como discípula de Rodin. Entretanto, o filme Camille Claudel narra sua história, a paixão incentivadora do pai, o amor espiritual e incestuoso do irmão Paul, a vivência do amor tórrido ao lado de Rodin, às peças produzidas desse encontro de almas.
O seu fim foi trágico, como era naquele tempo quando as histórias de amor desafiavam os costumes da época. A degradação física e psicológica comprometeu sua sanidade levando-a a ser internada e morrer depois de trinta anos de tratamento num hospital psiquiátrico.