terça-feira, dezembro 24, 2002

DO DIA DE HOJE

Há datas que perfazem trajeto contrário ao da alegria.
Para todos é dia de sorrir, de trocar afetividade, mas em mim há um enorme vazio,
um sem sentido para euforia, convenção. Lembro dos que não tem nem onde viver,
como o incêndio que destruiu tantas moradias na Terra da Garoa, ou a falta de turistas em Belém, além da impossibilidade de cada um exercer sua fé com liberdade como acabou acontecendo também por lá com a proibição de Arafat retornar à sua terra natal.
Natal, nascimento.
Será que estamos mais envolvidos em comer, desfrutar o banquete,
trocar presentes, fazer uma belíssima decoração, árvore com bolas, e esquecemos o real motivo disso tudo? Será que alguém lembra de agradecer pelas bênçãos? Pelos obstáculos vencidos? Sei não...nunca gostei muito desta data. Sinto saudades dos que já partiram, do meu irmão que vive no Paraná e agora reatou o contato por causa de uma menina de cinco anos maravilhosa, arteira e inteligente. Mandaram fotos, várias, ele continua lindo, aquele sorrisão branco, ela a cara dele, apertadinha num abraço gostoso.
Ganhei um chaveiro com lua e estrela, prateado, muito bonito. Fiz uma cópia colorida da fotografia dos dois sorridentes e coloquei num lugar propício para isso sob a batuta da meia lua. Ganhei um painel para pôr fotografias, com milhões de luas e imãs coloridos. Um CD que agora escuto, Solaris, com música para viajar...
Várias blusas novas me deram. E ainda de quebra um creminho básico que eu havia pedido.
Comprei um filme de 36 para registrar a folia aqui.
Tive a grata surpresa de reencontrar um velho e especial amigo. Fazia oito anos que não nos víamos, ele agora vive em Porto Rico. Continua pintando, lecionando arte numa universidade. Tenho pendurado um quadro no corredor de casa, uma arma medieval, conhecida como ‘massa’. Falamos rapidamente de Camille Claudel e Rodin. Contei da França e ele pôs pilha. Quando adolescentes vivíamos grudados, amigos inseparáveis e ele me ensinou um pouco de técnica utilizada nos quadros e painéis experimentados. E com ele o Parque Lage era minha segunda casa, além dos sarais de poesia. Vários vernissages e num deles conheci um outro pintor, o Átila. Um amigo fotógrafo, melhor fotógrafo que pintor. Já ganhou muitos prêmios, seu talento é reconhecido.
E esse reencontro só aconteceu porque a Renata, prima dele, resolveu seqüestra-lo até aqui sem que a mulher dele soubesse, ou morreria de ciúmes. Num comboio, ela resolveu fazer uma manobra radical e desviar a rota. Fugiu para cá. E o restante do povo foi parar no Palácio de Cristal. Foi tudo muito rápido e muito bom. E ouvi ele dizer: Aninha, você não mudou nada! E eu lógico que adorei.
Então falei com a moça dos olhos d’água, disquei pra ela. Marquei de nos vermos antes do Ano Novo. Liguei pra pisciana mais querida e amiga que conheço. Também telefonei pra outra amiga em Araras, interior de Sampa. E assim foi o dia.
Não por ser Natal. Mas, por ser um momento de alegria, de poder rever gente que eu amo e sinto e sentia saudades.
A palavra que só existe nessa língua. Na tua e na minha, na nossa língua.
É tempo de saudade.