quinta-feira, agosto 29, 2002

NA CALUNGA GRANDE

As águas pesadas sacodem o barco e surge, inesperadamente, uma figura.
Na alma existe a marca indelével, refletida em olhos negros, miudos.
Na matéria aparentemente densa, um escorpião no pé, aranha na nuca e serpente nos quartos: trilogia peçonhenta.
Pontos estratégicos no físico sinuoso tatuam a pele alva, fina. As unhas longas, escuras, destacam-se como enormes garras. O lábio carmim, entreaberto. Cabelos em cachos, floresta castanha escura, caindo sobre o peito nu.
É assombração para marinheiros embriagados pelo rum, em deleite frente à visão.
Alguém grita: cuidado, a maré está cheia. É alerta de que a dona da calunga grande abre seus veios a enterrar navios e pescadores...engolindo todos os que se deixam enredar por essa miragem e abandonam o convés. Hora de tomar o leme, recolher velas, voltar ao local de origem, e aguardar, pacientemente, o amanhecer.