sexta-feira, agosto 19, 2005

PLENILÚNIO DE LEÃO



O mar se cobria de amarelo, aquecendo o restante do ambiente.
O fogo primaveril clareava suas madeiras rubras.
Sorriso embevecido pela temperatura do momento.
Arrepio que eriça pêlos, seios, a alma.

terça-feira, agosto 09, 2005

ZÍNGARA

Esmeralda era seu nome.
Os cabelos negros como a graúna.
Os olhos de um castanho tão profundo que hipnotizava.
Um ar de majestade e ao mesmo tempo mistério.
Ela nunca dizia o que ia acontecer.
Preferia sempre ler a mão dos outros e largar no ar as interrogações.
Talvez dessa forma, conseguisse deixar o destino correr livre.
Livre como ela sempre se sentiu. De lugar nenhum.
Alma desprovida de grilhões, certa de que o futuro estava em cada passada,
em cada lugar desconhecido que punha os pés.
Em situações cerimoniais colocava um lenço nos cabelos, como sinal de respeito.
Sempre foi invejada e ao mesmo tempo cobiçada.
Mas, acima de tudo, fazia somente o que o seu coração ditava.
Por isso mesmo, sentia-se plena e feliz.
Mas, diante de um cortejo, de violinos e pessoas de sua tribo,
colocava sua roupa coberta de vermelho.
O fogo e a saia se confundiam. Rubra também a face.
No enleio desenvolvido pela dança, espetáculo de rara beleza.
Nas ondulações de seus passos, a lemniscata.

sexta-feira, agosto 05, 2005

AGOSTO

Ela buscou no oráculo respostas.
Em vão a pitonisa se entregou ao ar que exalava,
mas nada modificava o estado de caos que imperava no lugar.
O reino havia se rendido a uma antiga maldição lançada,
que culminou com a falta de felicidade na região.
Ninguém conseguia desfazer o feitiço e, ela, como sacerdotisa,
acreditava ser capaz de transformar a sensação de vazio que tomava a todos.
Diante de um velho livro, leu uma receita, uma poção que talvez trouxesse a harmonia perdida.
Nas linhas da poção um artifício quase impossível de ser achado: um escorpião de ouro.
Recorreu ao mais bravo cavaleiro e pediu que fosse atrás do animal.
Ele se cercou das armas mais poderosas que possuía, mas ela deu-lhe uma especial: um átame.
Loth era seu nome e saiu em busca do escorpião. Cavalgou por outros reinos, brigou com os mais temíveis inimigos, ultrapassou as fronteiras da sanidade e nada...
Até que um belo dia, diante de uma verde colina, avistou uma cabana abandonada.
Seguiu firme até ela. Lá, diante de um céu azul ouviu um barulho, virou-se e diante de seus olhos surgiu um velho decrépito: imundo, com roupas rasgadas, uma profusão de rugas em seu rosto.
Ele indagou o que o cavaleiro buscava. E ele respondeu que estava atrás de um escorpião dourado.
O velho disse que sabia onde estava, mas para isso era preciso que ele entrasse numa caverna e saísse ileso de lá. Só assim, encontraria o que buscava.
O jovem entrou na caverna, deparou-se com uma sombra sem alma e sem rosto, na verdade a imagem assemelhava-se ao que ele sempre teve medo: sua essência negra.
Lutou com as armas que possuía, mas nada surtia efeito, a sombra o lançava para todos os lados, sem piedade. Quase desfalecido e exausto, olhou para sua cintura e viu o punhal.
Abriu um círculo, desenhou o pentagrama e chamou a sombra para a luta.
Quando o vulto entrou no círculo, se desfez.
Então, Loth saiu da caverna e encontrou o velho.
Ainda suado da batalha, questionou onde estava o objeto de sua procura.
O velho tocou seu coração com suas mãos encardidas e diante de seus olhos,
surgiu o objeto dourado.
Imediatamente ele voltou a galopar por todas as colinas, atravessando reinos até chegar a sua terra natal.
Entrou esbaforido no Oráculo, ajoelhou-se diante da Pitonisa e entregou o escorpião.
E, assim, como num passe de mágica, o reino de Escol voltou a ser feliz e ter paz.