segunda-feira, março 17, 2003

VENTO



Rajada, sutileza, enleio a sacudir a alma e a natureza.
O mesmo acontece quando a maré está alta, peixes rodopiam entre espumas, facilitando o arrastão e o trabalho dos pecadores.
Naquele ápice, sempre um sopro se aconchega e faz companhia. É inesperado, mas nunca um intruso. É um velho companheiro invisível a testar os sentidos: o camuflado, o latente, o que extrapola roupas e poros, o que ressurge diante de sua melodia.
Aqui, onde existe mata verde, carvalhos a circundar a entrada, o ar possui rota própria, convite à dança, a um desembrulhar de celofane, farfalhar de folhas e galhos. Sonoplastia usada para efeito de incêndio no rádio. O mesmo desabrochar do vestido carmim, numa coreografia de flamenco.
Um morcego sempre sai da toca e dá um rasante, normalmente quando Cibele está camuflada atrás de sua couraça negra e o firmamento não reflete nebulosas. A brisa é completamente diferente, a escuridão mostra sua força ao percorrer as entranhas e trazer reconhecimento e saudade. E nem sempre se sabe do quê.
Uma nova hóspede, de cabeça branca e corpo cinza, agora faz duo com o vampiro. A coruja dá sinal à meia noite, avisando de sua presença e anunciando mais uma madrugada.