sábado, março 05, 2005

O SIGNO DO BATMAN



"Se você pensou em Escorpião, guarde segredo. É isso mesmo.

Batman tem qualidades que associamos a Escorpião. Absurda perspicácia, poder de concentração, hábitos noturnos, tormentos, são algumas de suas características mais fortes. Batman já foi considerado o maior detetive do mundo. Morcego tem hábitos noturnos. E todo mundo sabe que Escorpião vive no submundo do mundo cultuando sua obsessão pela morte. Lembre-se que, nas melhores histórias, Bruce/Batman sempre tem pesadelos com a morte dos pais. Aliás, o lugar onde o casal Wayne morreu, conhecido como Beco do Crime, dizem os bêbados, é habitado por fantasmas de órfãos mirins, criminosos e muita raiva descontrolada. Os batmaníacos juram que, no aniversário de morte dos pais de Bruce, Batman faz plantão nesse beco, espancando e capturando criminosos.

Em outras palavras: Batman, assim como Escorpião, é um signo da noite, que vive no submundo, guardando um segredo. Neste caso, sua identidade e seu passado. Com um faro infalível, como o de um detetive de romance policial noir, Batman enxerga no escuro e o que acontece nas entrelinhas. É conhecida a capacidade de percepção do escorpiano para o que é tramado por baixo do pano. Aliás, é por isso que o associam à manipulação e à paranóia. A boca do povo diz que Escorpião é vingativo, muito por lidar em linha direta com a raiva que mata ou envenena, principalmente a si mesmo.

Se Escorpião tem tendência à paranóia, nem precisa dizer que a desconfiança é uma marca deste signo. E diga aí: Batman confia em alguém? Somente no Batmóvel e no virginiano Alfred, o mordomo que prepara sua comida e cobre sua retaguarda na Batcaverna quando o Homem-Morcego sai à caça.

Morte e renascimento até o juízo final

O renascimento também é uma marca de Escorpião. E é o que ocorre em vários enredos das histórias de Batman, que o conduzem até o fundo do poço, para depois fazê-lo renascer das cinzas. Nada mais Escorpião. Aliás, o escorpiano tem vocação para escavar histórias perdidas, carregadas de veneno letal.

Escorpião lida sempre com sentimentos e situações-limite. Ou, se você preferir, com aquilo que se chama crise. O lado destrutivo da vida. Signo que passa a vida toda lutando, tentando fazer do veneno que empedra seu coração algo construtivo. Em linguagem astrológica, partindo do instinto destrutivo de Escorpião para a busca de estabilidade representada pelo seu signo oposto, Touro.

Batman é assim: vive com o que há de mais negro e louco em Gotham City. Volta e meia ele leva o ariano Coringa, ou o Gêmeos-Libra Duas-Caras, ou o gelado aquariano Homem-Gelo para o Asilo Arkham, o hospital psiquiátrico de Gotham. Apesar da genuína compaixão, o Cavaleiro das Trevas, no íntimo, não acredita muito na recuperação de seus inimigos. Como ele se conhece e é um Escorpião convicto, sabe que a destrutividade pulsa dentro de cada ser. O taurino Freud, com Ascendente Escorpião, desenvolveu o conceito de pulsão de morte, criado pela psiquiatra russa Sabina Spielrein [4], para essa realidade.

Outra característica hiper hiper escorpiana é a possibilidade de concentração nas horas mais difíceis. Escorpião concentra toda sua alma quando se sente encurralado. Como Batman se sente sempre nessa situação, acaba sendo silencioso como a morte, preferindo antes observar do que falar.

Se você ainda tem dúvidas quanto à ênfase no signo de Escorpião, veja só as primeiras palavras de Batman em Batman vs. Aliens, de Ron Marz e Bernie Wrightson, lançado em 98 no Brasil pela Mythos Editora:

- As noites de minha vida são gastas lutando com psicóticos. Criminosos, cujas mentes são tão deformadas quanto suas experiências externas... Eu acreditava ter visto a face do horror. Hoje eu descobri que não. (...) Os eventos se repetem em minha mente... Todos eles. O início...

Ou, em Um Conto de Batman: Gangues, de Steven Grant e Shawn McManus, lançado pela editora Abril Jovem, em ano impreciso:

-Gotham à noite fervilha com violência. Eu sinto a infecção se espalhar, dos becos mais imundos do centro até o mais tranqüilo quarto nos bairros elegantes. Ela é transmitida pelo orgulho, pela ganância, pelas razões mais insensatas, até irromper como uma chaga purulenta.

Eu quero parar a epidemia, curar minha cidade. Mas também estou infectado. Eu luto contra minha própria violência, contra o ódio que me impulsiona. Eu controlo a fúria, soltando-a quando é preciso e só na dose necessária.

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[4] Quem ler o livro Um Método Muito Perigoso, de Jonh Kerr, Editora Imago, poderá acompanhar os primeiros anos da psicanálise, a relação de Sabina Spielrein com Jung e Freud e o quanto essa relação influenciou as obras dos dois gênios."

O texto é de João Acuio e publicado na íntegra na page da Constelar em http://www.constelar.com.br/revista/edicao81/batman1.php