quarta-feira, janeiro 15, 2003

SEIXOS

Já falei de tempestades e o que elas significam. Contei da afinação com Iansã e o aspecto brejeiro que conduz raios e trovões, desafiando o medo em alguns e produzindo uma energia além da convencional.
Vendaval e tempestade. Recebi dois emails falando em vendaval, sincronicamente em situações distintas: um dizendo de um forte vento que chegou e varreu o amor; e o outro me perguntando como está minha cidade após o vendaval. A cidade está aos poucos se recompondo, mas ainda há muita lama, muito paralelepípedo a ser posto no lugar, pontes a serem restauradas e o lixo varrido de uma das entradas de Petrópolis. A magnitude da água que desceu dos céus deve ter sido compatível ao dilúvio bíblico. Diante de tal força da natureza nos sentimos diminutos e estranhamente à mercê de algo além daquilo que olhos e razão captam. Se o ‘imponderável’ quisesse levaria todos à morte, sem dó, sem trégua. Uma hora a mais seria fatal, creio eu.
Iniciei um curso de espanhol turístico. E para minha surpresa um ‘recordar é viver’ estético sobrevoou todo o discurso e diálogo travado ao primeiro contato. Consuelo é o nome da professora, cujo retrato acertei na mosca, depois confirmado com ela: dançarina de flamenco, faz teatro, leonina e com ascendente em Capricórnio.
O inconsciente coletivo do grupo retratou aspectos arquetípicos espanhóis, tais como: touradas, flamenco, homens de boné e jaqueta, vinho, gastronomia, além da famigerada cesta. Uma figuração Andaluzia.
Consuelo entende tudo de hotelaria, turismo e domina perfeitamente o espanhol. Morou dez anos na Espanha. Explicou um pouco de geografia e a disposição das línguas faladas: o basco, o gallego, o catalão e o espanhol . Minha mente parou na Catalunha, talvez porque essa região sacode e remete a Dali. Sim, As Paixões Segundo Dali. Um livro esgotado que emprestei e dancei. Lá ele fala dessa paixão por sua terra, por Gala, e a crença Midas, de tudo que viesse a pintar viraria ouro. Confesso que Picasso e Velásquez ainda surgiram em imagens diluídas e sem continuidade, mas estavam inseridos no contexto.
Minha vizinha ao lado, em completo delírio, confessou a vontade de fazer o Caminho de Santiago, mas partindo da parte francesa, segundo ela a rota mais bonita e interessante. Sem dúvida, começar pela França é um start privilegiado. Eu não sinto essa vontade de peregrinar por lá e nem trocar meias, bolhas e contatos como fez o mago e quer essa minha nova amiga. O meu roteiro pela Espanha seria outro, com certeza, muito distante de albergues, cajados e encontros mágicos.
Amanhã damos prosseguimento ao encontro com as origens espanholas.