terça-feira, março 12, 2002

Está gorda, cheia, redonda, um enorme círculo de fogo,
contrastando com o breu que colore tudo ao redor.
Sim, a grande senhora está repleta, completa, a preencher de luminosidade a noite,
iluminando os passos dos andarilhos, bêbados e poetas.
A escuridão faz morada em minha essência, com uma familiaridade rara. Cada madrugada é particular, jamais se repete.
Impossível não deixar-se tomar pelo vento quente que passa rápido, embaralhando os cabelos soltos, usurpando um pouco mais da intimidade escondida embaixo das mini saias e vestidos, quando um pouco mais é revelado.
Quantas luas, noites insones eu presenciei, incontáveis nessa existência? E o que dirá nas outras?
Chego em casa, há uma paz infinita. Não tenho pressa, vejo os gatos excitados com a possibilidade de uma rua inteira para eles. Abro o portão, os pinheiros estão pacíficos, as estrelas mais iluminadas e a grande Deusa a banhar meus passos, num ardor típico dos momentos solitários e prazerosos. É o silêncio provocado pelos olhares dos deuses a me fitar, a promover o grande ato da existência mundana, festejando mais um tempo. Sim, esse instante.