quinta-feira, março 07, 2002

Na doce suave noite,
Tua glória faz mister.
No tormento do açoite,
Tua lembrança bem-me-quer.

A fronte vejo serena,
Esperança em teu seio,
Na voz obscena novena,
Colo, conforto esteio

Percebendo teu aroma
Eis que nasce um rebento
Que logra vida, mas toma,
Meu ser de paixão sedento

E antes do sono final
Despertas desejo atroz
Feroz conluio animal
Rogo-te: sejas meu algoz.

Pois teu olhar convite é,
E dando-me sem vacilar,
Mergulho em ti, Salomé
Para teu ventre semear.

Tua boca toda paixão,
Marcas de meu martírio.
Loucura, saber, união
Que traz cego delírio

Na volúpia do prazer
Revela-te, aparição!
És muito mais que meu querer.
Adorável assombração.

Mostrando-te em verdade
Horror dos horrores tu és!
Abjeta realidade
Sonho de todos infiéis.

Contudo, vil que pareças
És, da vida, a herdeira
Teu Cálice é soberba
Fantástica feiticeira

Assim linda poesia
Vem para meu ser ambrear
E com tua maestria
Ensina-me o teu sonhar.

Meu êxtase sequioso
adorável demônia
Toma este meu gozo
Consorte, Babilônia!

Provo, toda tua gnose
Mas agora, a ambrosia
Verto, em uma só dose
Tua doce poesia

És pérola consagrada
Oh! Sentença afrodita
Meu peito rasga, e brada
Ararita, Ararita!

Carlos Raposo