quinta-feira, abril 11, 2002


Andei pensando sobre afagos. Quem não gosta deles? De um cafuné inesperado?
Normalmente nos esquecemos até de dar bom dia pro vizinho ou pro colega de trabalho. Estamos tão ocupados olhando pro próprio umbigo que não ligamos pro que nos cerca. Nossos problemas são sempre o mais importante. E, seguindo esse raciocínio, esquecemos os gestos simples, as ações que modificam o outro e geram um clima harmonioso ao nosso redor. Contudo, há os que chegam e trazem sensações gostosas. Aquele sentimento único de bem-estar. Leia-se um sorriso, um aperto de mão, um abraço caloroso, uma saudação verdadeira. Não é um ato mecânico, instituído.
Andei pensando também numa frase que li.Parei para me observar e os que estão à minha volta, comunicando-se. De um modo geral, não prestamos atenção no que o outro diz. Estamos preocupados em deixar que o outro termine a explanação para então falarmos. A questão aí é que não ouvimos o que o interlocutor está dizendo, mas estamos dando o tempo necessário para então dizermos o que pensamos. Acredito que esse ato seja mais recorrente do que imagino.
Estou discorrendo sobre idéias. Comportamentos sociais e atitudes generosas. E, quando essas atitudes nos trazem um horizonte límpido e refrescante. Como se fosse um banho de cachoeira a lavar nossa alma e a nos mostrar que os amigos são importantes. Às vezes, um email pode provocar um novo sentido em todo o nosso dia. E foi assim que recebi um bilhete de uma moça que há muito não falo. Ela é de Porto Alegre, engraçado porque é mais uma gaúcha que conheço. Nunca nos vimos pessoalmente, mas a empatia foi imediata desde a nossa primeira mensagem. Com o tempo, me desvinculei de uma lista na qual nos conhecemos e parti para outros caminhos. Recebi uma mensagem do Mail List que ela distribui e resolvi escrever. Falei da vida, do que eu andava fazendo, se ela ainda se lembrava de mim. E vejam o que ela escreveu:

“[...]
Eu vou indo, vivendo e vendo o outono, que é a estação que mais amo.
Nada de grandes notícias: voltei a nadar, tenho um vaso de crisântemos
bem amarelinhos em cima da mesa, tenho uma lagarta de pelúcia chamada
Teóphila Flora, a lagarta ecológica - essas besteiras que fazem a colcha
da vida.”

São essas alegorias que dão sentido a existência e nos mostram como pessoas afins jamais perdem o caminho de volta. Estarão sempre próximas, mesmo que não fisicamente ou na comunhão diária de letras dos emails. A união transcende, não faz parte do aqui e agora. É cumprimento de alma a alma, sem explicação.