sexta-feira, abril 26, 2002



Faz tempo que nada me toca a alma. Ando crua, sem paixão. E as coisas vão e vem mas não fincam morada. Chegam e partem. E eu estou feito barco estacionado num ancoradouro. Solitário. Tenho meus dias de blues, onde o som é lento, compassado, como um lamento choroso de guitarra. Uma voz rouca invade o silêncio, é um sussurro ao pé da orelha, quase tocando o lóbulo.
Há alguém que fala de forma intensa nessa tela cibernética. Me diz de nasceres do sol lascivos e penetrações musicais da esperança. Ele têm força sensorial capaz de produzir as mais incendiárias imagens, desejos. Quem quiser conferir o que mais ele produz é só dar um click aí na Poétic@.
Hoje, pela manhã, encontrei no micro um bom dia especial. E vou deixar pra quem não leu esse amanhecer cinzento e luxuriante dele, que vive na Suécia:

“O dia amanheceu soturno, e com o passar das horas, a inutilidade de
quase tudo ficou eclipsada pela Esperança, que de prontidão aguardava os
acontecimentos espreitando pelo olho da fechadura do tempo.
Por trás das cortinas de fumaça que os fracassos inventam, a solidão
abaixou a calcinha para que o cansaço a penetrasse até a exaustão. E
então, para não destoar do cinza que regia a orquestra, agarrei-me à
lareira com unhas e dentes, e acariciando sensualmente com os lábios
úmidos da imaginação a todas as belas possibilidades que passeavam
insinuantes pelos meus pensamentos, dancei sozinho um tango sem música,
enquanto assinava - como se a obra prima fosse da minha autoria e
propriedade - a partitura da Sinfonia em Sol Maior que o novo dia
escrevera sobre a pele da manhã que despertava.”
Bruno Kampel