sexta-feira, março 29, 2002

Tem coisas que realmente me deixam feliz. Eu leio, o sorriso aparece tal qual criança que ganha um ovo gigante de Páscoa e fica maravilhada. Acabei de saber que o Circo Voador volta a funcionar na Lapa - fechado em 96 por César Maia - graça aos esforços de muita gente e vários artistas, reabrindo em grande estilo amanhã, sábado, com show da Intrépida Trupe, da Cia. do Público e do Teatro do Anônimo. Perfeito Fortuna ainda guarda para meia noite do mesmo dia o Cordão do Boitatá, grupo que se encarregará de colocar o povo pra dançar ao balanço de marchinhas, maxixes e chorinho.
Essa releitura do Circo, esse abre-alas que quer passar, a mim soa sempre como um ‘recordar é viver’ adolescente. Lembro perfeitamente da última vez que pisei no Circo. Não na Fundição, onde cansei de ir a festas techno. Retive na memória a malemolência sedutora de Djavan, num show que saí revigorada e encantada com as letras, o som, com o ritual que só ele têm. E ainda uma apresentação inesquecível de Tim Maia, com Vitória Régia e toda explosão que o vozeirão sussurrava. O Circo sacudia e tinha a impressão de que as arquibancadas não agüentariam tantos saltos e sacolejos da gente ali freneticamente tomada pelos acordes de Tim.
E tiveram outros shows e outros cantores. A imagem do Circo, aquele local geográfico do Rio, traz saudade. E agora eu poderei novamente reinventar o meu próprio circo musical, com o som vanguardista que escuto e mesclá-los aos velhos mestres que enchem de poesia e rimas a mpb.
E viva o Circo Voador!


quarta-feira, março 27, 2002

"Uma vez irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma desta vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos, com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria"...
Clarice Lispector

terça-feira, março 26, 2002


Hoje é dia de falar de cores. Sim, os tons que surgem a partir das manifestações da natureza.A mim são aspectos completamente encantadores, pelos fachos arco-íris que nascem a partir das luzes produzidas.Estou falando do Sol da Meia Noite e da Aurora Boreal e Austral. Ocorrem nos pólos terrestres e sabemos de sua existência, mas o motivo, a razão, pouca gente sabe. Como adoro os porquês e preciso entender como as coisas se processam, trago a ciência um pouco mais pra perto por meio do professor Roberto Boczko, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP:
O Sol da Meia Noite é o nome dado a um fenômeno que só ocorre no verão em regiões localizadas além dos círculos polares, tanto no Hemisfério Sul como no Norte. Ele é causado pela inclinação do eixo da Terra em relação ao seu plano orbital, o mesmo motivo que define as estações do ano. Depois de um longo e escuro inverno, a partir do fim da primavera e o começo do verão, os dias passam a ter mais horas de Sol. Até que chega o solstício(o primeiro dia do verão), em que não há nascer e nem pôr-do-sol no horizonte. Desse modo, ele se torna visível durante 24 horas do dia.
No que diz respeito às auroras, elas podem ser boreais(no Hemisfério Norte) ou austrais(no Hemisfério Sul). São fenômenos luminosos produzidos nas altas camadas da atmosfera, entre 60 km e 100 km acima da superfície terrestre, causados pela interação de partículas altamente energéticas provenientes do Sol com o campo magnético da Terra. Formam-se faixas e arcos em movimento, em tons de vermelho, azul, violeta e branco.


segunda-feira, março 25, 2002

A lista de blogs está crescendo. Desde o começo quis colocar somente gente que eu conheço ou então blogs que falem ou mostrem aquilo que faz bem ao meu espírito. Falo de arte e informação.
Tenho agora duas amigas que aderiram a essa prática: Eliane Stoducto com sua Cristaleira de Palavras e Ivy Wyler com o seu Vôos. Ainda vou incluir aí ao lado o Contraponto do Vito César. Não é por acaso que ponho os três na lista. São eles que fazem da escrita uma sugestiva brincadeira de letras e vão aos poucos moldando os versos à vida, construindo estrofes do cotidiano. Cada um com seu jeito particular, único de ver e sentir a realidade e o que está fora dela. São usinas incessantes, sempre prontas a produzir um novo canto, crônica, idéia, sonho...

sábado, março 23, 2002


Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa

quinta-feira, março 21, 2002

Vivo na solidão dos dias cercada por meus muitos eus. Não leia isso com tristeza. É dessa solidão que encontro forças para interagir com o mundo, com os seres. Nunca fui de multidões, de casa repleta de gente, até porque isso acaba me sufocando. Gosto da liberdade que essa amplidão proporciona. Tenho prazer em não fechar tratados, em não cerrar pactos e muito menos instituir leis que firam o livre arbítrio, o ir e vir tão inalienável.
Os afins nascem através de um olhar inesperado, quando naturalmente brota o riso, o sorriso, e os contornos nublados enchem-se de sol, mil sóis nas janelas da alma, e o coração fica gigante, enorme, tal qual girassol.
Gostam do rótulo de melancólica, mas diria que tenho uma tristeza antiga, rasgos no íntimo. Cicatrizes e rombos desenhados nas muitas existências. É aspecto que trago e tento alterar aqui, nessa vida. O dia está nublado, é o equinócio, os elementos fundindo-se à Terra,a grande senhora. Aqui, a chuva desce pelo telhado, ao fundo o verde contorna todo bambuzal que vejo da janela.
As águas do planeta revolvem meu ser. Preciso do brilho do sol, do calor, daquilo que colore o céu e deixa tudo muito mais azul.
O outono chega, largando suas folhas sobre o verão....e eu acompanho a vida recriando um novo ciclo...


quarta-feira, março 20, 2002


Não é que os cientistas descobriram que no Oráculo de Delfos uma fumacinha esperta, uma espécie de gás, deixava a pitonisa muito doida?! E que ao ser inalada, provocava um estado de êxtase e a levava à previsão do futuro? Curioso, que num tempo tão remoto já existisse essa espécie de alucinógeno. Estados alterados de consciência.
De acordo com a descoberta as rochas da região- localizada perto do Golfo de Corinto, na encosta do monte Parnaso- são constituídas de calcário oleoso, recortado por duas falhas que passam exatamente sob as ruínas do templo, criando um caminho pelo qual vapores petroquímicos podem alcançar a superfície, induzindo visões.
A histórica conta que antes de responder às perguntas que lhe eram feitas, a pitonisa entrava numa espécie de câmara, localizada no subsolo do Oráculo, e lá inspirava o ar saturado de gases tóxicos. Voltava e ‘inspirada’pelos deuses dava a resposta aguardada.
Há duas correntes de estudiosos que crêem que as mulheres inalavam o vapor mas que a interpretação da profecia ficava a cargo de sacerdotes homens, enquanto a outra vertente defende que as pitonisas conversavam diretamente com os consulentes.
Vale lembrar que o Oráculo de Delfos foi criado em 1.200 AC, na Grécia, sendo um santuário originalmente erigido à deusa Gaia, que representa o planeta. Já no século VIII AC, foi dedicado ao deus Apolo, considerado o mais belo dos deuses, deus do Dia e do Sol, filho de Zeus e de Leto, irmão de Ártemis, nascido na Ilha de Delos. De múltiplas atribuições, curandeiro e adivinho, inspira a Pitia no seu Oráculo de Delfos. Sendo também músico e poeta, é representado tocando uma lira e rodeado pelas musas, é conhecido como protetor dos rebanhos, sobretudo na Arcádia.

Quadrilha Cibernética

Príncipe® amava por e-mail Julieta_ que amava pelo ICQ C@rente que amava por mailing list Cinderela* que amava no mIRC |Sonhador| que amava nas salas de chat Rom@ntica que não amava ninguém.

Príncipe® mudou de e-mail, Julieta_ trocou de UIN. C@rente mudou de lista, Cinderela* trocou de rede, |Sonhador| trocou de provedor e Rom@antica casou com o colega de escritório, que não tinha net, nem provedor, nem e-mail, nem assinava lista, nem acessava mIRC, nem fazia idéia do que era ICQ e muito menos salas de chat, que não tinha entrado na história, porque não tinha computador e permanecia lúcido.

Ivy Wyler

terça-feira, março 19, 2002

O que pra muita gente é bobagem e cultura inútil pra mim tem sempre um significado didático. Gosto de todo tipo de curiosidade, até mesmo aquelas que aparentemente não são de grande valia. Contudo, é no considerado descartável que descubro particularidades e aspectos ainda não explorados, ou melhor, que normalmente não são dignos de muita atenção e acabam passando 'batido' pelos olhos. Aliás, o que é desprezado pela maioria, a mim provoca um efeito contrário.
Então, vamos falar do mundo animal. Sim, ele. Duas perguntinhas básicas, distintas:

Onde vive e do que se alimenta o Ornitorrinco?

O animal mamífero habita lagos, lagoas e rios do leste da Austrália e Tasmânia e se alimenta de camarões, larvas de incetos,moluscos e pequenos peixes. Os ornitorrincos têm um hábito incomum: os machos não ficam na mesma toca com a fêmea e os filhotes. Eles moram sozinhos, em um ninho ao lado. É provável que não aguentem a algazarra dos filhotes, que só abandonam o ninho com quatro meses de vida.

Por que na Índia a vaca é considerada um animal sagrado?

Um dos motivos é que, para os praticantes do hinduísmo, religião que predomina na Índia, a vaca é considerada um animal perfeito, pois existe desde a época do paraíso, chamado de Satyuga. Há várias lendas contando que Krishna, o príncipe de Satyuga, tinha uma vaca de estimação. Como ela é dócil, também se acredita que o animal seja uma expressão de espiritualidade. Segundo os hinduístas, a vaca representa o último estágio na escala das encarnações.O animal também tem grande importância social. Como 80 por cento da população é vegetariana, o leite é muito importante na dieta e está na base da culinária dos hindus.

Fonte: Globinho
17/03/02

segunda-feira, março 18, 2002

Ainda estou em ritmo de fim de semana, com uma preguiça da moléstia. Aqui em Petrópolis aconteceu a I Bienal do Livro, pequena, nada comparável à grandiosidade do Riocentro. Mas, pra uma cidade que carece de eventos culturais, foi, sem dúvida, a oportunidade de trazer pra cá os lançamentos das grandes editoras.
O Quitandinha, apesar do espaço privilegiado, pareceu pequeno para os muitos stands que se aglomeravam nos ambientes fechados. Faltou refrigeração, pois, por incrível que pareça, aqui faz bastante calor, contrariando o fresquinho serrano comumente encontrado.
Ganhei um livro que eu estava de olho, num sorteio depois de uma palestra. Chama-se 'A Abertura da Fé para o Mundo", de André Luiz e Emmanuel. O título foi autografado pela autora, que é psicógrafa e ela assim escreveu pra mim:
'Diante de Deus e dos homens precisamos demonstrar a grandeza do potencial que nos foi outorgado. Não o dispense nunca', Angela Coutinho.
E fiquei com aquela sensação de que, mesmo ela não me conhecendo, o texto dedicado a mim tinha o seu motivo. Como uma espécie de chamado à razão. Como dizem que nada é por acaso, isso também não deve ter sido.
O dia foi gostoso, família reunida, programa conjunto.
A vida é bela...

sexta-feira, março 15, 2002

É interessante notar como determinados quadros, figuras e cores trazem aquele efeito gostoso de satisfação. Como é bom ver o belo e absorver algo novo que nos chega enriquecendo a estética. Esse blog, Giulieta, é um dos raros que encontrei onde há uma singeleza incrível. Ainda não aprendi a maneira de pôr fotos, mas quando eu souber usar do agatemelês vou querer explorar essa faceta visual que a mim é tão importante. Justamente aquilo que nos enche os olhos, nos afaga lentamente, envolvendo nosso sentido visual. Muitas vezes acaba despertando outras sensações, desejos, atração, repúdio e paixão. Quantas coisas nos remete uma foto, uma pintura, pinceladas, cores, ou mesmo o clássico preto e branco?

quinta-feira, março 14, 2002

Fui no Expressões Letradas e não resisti, fiz o teste e deu o mesmo que ela...
que curioso, somos tão diferentes. :D

Eu seria o Everest!
Qual montanha você seria?

O primeiro passo foi dado e o obstáculo que parecia intransponível foi superado. Fiquei com aquela sensação única de ter dado o recado direitinho. Minha missão está se cumprindo, o que eu vim de fato fazer por aqui. E o engraçado que a ajuda de terceiros, gente que têm o dom da palavra, auxiliou e ilustrou o que eu disse.
Estou me engajando aos poucos nesse projeto, envolvendo-me com algo que nunca quis tomar partido. Talvez, tenha chegado a hora de pôr em prática os muitos anos de procura, as muitas visitas e buscas que efetuei.
E ao final, as pessoas sorriram pra mim, vieram cumprimentar-me e eu fiquei atônita com a repercussão. Foi gostoso e foi surpreendente. Lógico que a corujice de pai e mãe não podia dar em outra coisa, como: eu sei do seu potencial, pena que você não o explora.
Se fosse sempre fácil falar para multidões, eu estaria sempre na fila para dar o recado. O respaldo através do anteparo energético, foi quem acalmou minha ansiedade e permitiu que as idéias seguissem um raciocínio inteligente e lógico.
Estou satisfeita, é um dia que pude testar um pouco do que sou. Um dia que me mostra o que posso fazer e ainda engatinho. Uma página que começo a escrever desse livro...

quarta-feira, março 13, 2002

Ando querendo falar pra vocês da grande gafe cometida pelos cientistas americanos e que eu saí correndo e espalhando também por aqui, já não bastasse a quantidade de jornais e revistas informando a descoberta. Eles anunciaram que a cor de milhões de galáxias reunidas era verde. Instituíram o verde quase turquesa para todo o Universo.
Bem, passada a euforia, eles revelaram que houve uma pane nos computadores e esta seria a responsável pela coloração verde-azulada anteriormente encontrada. Depois dos consertos, descobriram que a cor verdadeira é bege, esta é a que pinta todo o Cosmos. Então, amigos, a cor do Universo é bege. Imaginem agora tudo aquilo que se encontra fora da nossa atmosfera, as zilhões de estrelas, todas dessa padronagem. O que pra mim acaba sendo bem monótono, levando-se em consideração que o tom azulado seria o mais apropriado para os meus sonhos de menina com astronaves de combate e viagens estelares.

terça-feira, março 12, 2002

Está gorda, cheia, redonda, um enorme círculo de fogo,
contrastando com o breu que colore tudo ao redor.
Sim, a grande senhora está repleta, completa, a preencher de luminosidade a noite,
iluminando os passos dos andarilhos, bêbados e poetas.
A escuridão faz morada em minha essência, com uma familiaridade rara. Cada madrugada é particular, jamais se repete.
Impossível não deixar-se tomar pelo vento quente que passa rápido, embaralhando os cabelos soltos, usurpando um pouco mais da intimidade escondida embaixo das mini saias e vestidos, quando um pouco mais é revelado.
Quantas luas, noites insones eu presenciei, incontáveis nessa existência? E o que dirá nas outras?
Chego em casa, há uma paz infinita. Não tenho pressa, vejo os gatos excitados com a possibilidade de uma rua inteira para eles. Abro o portão, os pinheiros estão pacíficos, as estrelas mais iluminadas e a grande Deusa a banhar meus passos, num ardor típico dos momentos solitários e prazerosos. É o silêncio provocado pelos olhares dos deuses a me fitar, a promover o grande ato da existência mundana, festejando mais um tempo. Sim, esse instante.

segunda-feira, março 11, 2002

"Minha força está na solidão. Não tenho medo de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite".
Clarice Lispector

domingo, março 10, 2002

Fomos ver 'Uma Mente Brilhante' e entendi o porquê de tanta polêmica.Quantos esquizofrênicos hão de existir por aí e nem se dão conta? Quantas pessoas perambulando a nossa volta e nem sabemos se aquilo é real ou puramente fictício? Quando o sobrenatural pode assediar a pessoa com clarividência e o leve a enxergar o que os outros não conseguem. Quantos entes queridos nos visitam e tentam muitas vezes um contato, uma aproximação? E quantos perseguidores nos assediam querendo nos levar a loucura? Quantos tornaram-se loucos por assédio espiritual e hoje estão lá amarrados e cheios de drogas nas veias? Aos olhos dos ortodoxos estou dizendo mentiras, mas na visão espiritual isso é sabido. Os que detém a clarividência ao chegar num hospital psiquiátrico vêem um monte de espíritos ao redor de um paciente, enquanto a pessoa luta desesperadamente para ter paz diante dos perseguidores, e os médicos e enfermeiros ao perceberem que o doente não se acalma, aplicam sedativos e drogas, o que é justamente o que esperam os inimigos espirituais. Desejam que o ser perca a consciência, levando-o a falência dos sentidos e da lucidez.
Fora esse aspecto que me fez pensar um bocado, inclusive remetendo-me ao filme Sexto Sentido, é sensacional o John Nash de Russell Crowe. Se ele vai levar a estatueta, pouco importa. Se ele é bad boy e é agressivo com a imprensa, também não. Vale que o filme é comovente, dramático, com cenas de rara beleza e momentos de boas risadas.
Valeu o domingo, mesmo depois de uma faringite braba que me fez passar a sopa e água os dias passados.

sábado, março 09, 2002

"Sou o brilho que se encontra por detras de cada estrela cadente;
sou o anjo rebelde que se afasta das hordas.
Tu não me conheces mas se recorda de mim
Estou sob sua pele, no teu cheiro
almiscarado
Sou desejo, sou delírio, sou o louco
Um e quinze
Sou teu Romeu, sou teu algoz
- E nada mais -
Não roubo almas, mas danço entre as estrelas
Rasgo véus e desafio Quixotes
Não tenho face nem forma
sou o rei-pescador, trago ouro dentro de andrajos
Não há muralhas que me afastem
quando sei que estou dentro de ti..."

King_mob

quinta-feira, março 07, 2002

Parece que hoje felizmente a ficha caiu, e encontrei a sensação prazerosa de saber exatamente o que ando fazendo por aqui. Muitas vezes eu me afligia com questionamentos que não davam trégua, levantando tantas lebres. Não conseguia chegar a uma conclusão realmente satisfatória.
Quem sabe agora, posta contra a parede, tendo que encarar frente a frente várias pessoas eu consiga compreender o sentido dessa passagem missionária. É engraçado porque nunca tive dúvidas quanto a isso, mas nunca me enxerguei de fato como tal. Me divirto com essa adrenalina que surgiu com essa possibilidade, feito adolescente a descortinar algo que não havia visto nos bastidores. Chegamos ao palco, com receio, em dúvida. Corro o risco de paralisar, perder a voz, me encolher feito feto. Ele garante que não, que lá estará para me ajudar, fazendo mesmo que a voz saia naturalmente.
Pego o livro, vejo o capítulo que me cabe, acho mais complexo do que eu imaginava. Alguém me diz que as coisas nos chegam na hora certa e que o fardo nunca é maior do que nos ombros são capazes de suportar. Eu rio de volta, meio frenética. Entorpecida por tanta energia, consigo eletrizar minha fala. Resmungo, faço pirraça, e ela não dá refresco: se você foi escolhida é porque tem capacidade para tal.
Eu ainda acho tudo isso divertido e pavoroso.
Um desafio. Um olho no olho irrecusável. Uma prova de fogo para mim, mas com cunho humanitário, benéfico e que de alguma forma me fará crescer mais um pouco. Assim espero. A vida e suas surpresas.
Na doce suave noite,
Tua glória faz mister.
No tormento do açoite,
Tua lembrança bem-me-quer.

A fronte vejo serena,
Esperança em teu seio,
Na voz obscena novena,
Colo, conforto esteio

Percebendo teu aroma
Eis que nasce um rebento
Que logra vida, mas toma,
Meu ser de paixão sedento

E antes do sono final
Despertas desejo atroz
Feroz conluio animal
Rogo-te: sejas meu algoz.

Pois teu olhar convite é,
E dando-me sem vacilar,
Mergulho em ti, Salomé
Para teu ventre semear.

Tua boca toda paixão,
Marcas de meu martírio.
Loucura, saber, união
Que traz cego delírio

Na volúpia do prazer
Revela-te, aparição!
És muito mais que meu querer.
Adorável assombração.

Mostrando-te em verdade
Horror dos horrores tu és!
Abjeta realidade
Sonho de todos infiéis.

Contudo, vil que pareças
És, da vida, a herdeira
Teu Cálice é soberba
Fantástica feiticeira

Assim linda poesia
Vem para meu ser ambrear
E com tua maestria
Ensina-me o teu sonhar.

Meu êxtase sequioso
adorável demônia
Toma este meu gozo
Consorte, Babilônia!

Provo, toda tua gnose
Mas agora, a ambrosia
Verto, em uma só dose
Tua doce poesia

És pérola consagrada
Oh! Sentença afrodita
Meu peito rasga, e brada
Ararita, Ararita!

Carlos Raposo

quarta-feira, março 06, 2002

Tem momentos na vida da gente que as idéias e a realidade parecem mais importantes ou mesmo roubam um pedaço do sonho que nos enche a essência. Eu ando assim, sem inspiração para escrever. Sinto muitas vezes uma vontade imensa de sumir, pra um lugar bem distante, onde eu possa novamente entrar em sintonia com minha energia mais sutil e doce. Onde o vazio não faça morada e nem as dúvidas continuem a insistir no íntimo.
A cabeça e a emoção. Dois grandes senhores, os dragões das moradas.

terça-feira, março 05, 2002

"Eu não tenho vergonha de dizer palavrões,
de sentir secreções(vaginais ou anais).
As mentiras usuais que nos fodem sutilmente,
estas sim são imorais,
esta sim são indecentes".

Leila Míccolis

domingo, março 03, 2002

"Viver de noite me fez senhor do fogo. A vocês eu deixo o sono. O sonho, não. Esse eu mesmo carrego" Paulo Leminski

"Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha
mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto.
Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças
obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os
remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o
melhor da obrigação é quando à força de embaçar os outros, embaça-se um
homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação
penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que
diferença! Que desabafo! Que LIBERDADE. Como a gente pode sacudir fora a
capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se, despintar-se,
desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque,
em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem
estranhos; não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial,
perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele
não se estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se
nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão
incomensurável como o desdém dos finados."

Machado de Assis
Brás Cubas

sábado, março 02, 2002

PRINCIPIA CAOTICA


Na Magia do Caos, crenças não são vistas como fins em si,
mas como ferramentas para criar os efeitos desejados. Entender
isto completamente é encarar uma terrível liberdade na qual nada
é verdadeiro e tudo é permitido, que é o mesmo que dizer que
tudo é possível, que não há certezas, e que as conseqüências
podem ser desastrosas. A gargalhada parece ser a única defesa
contra a compreensão de que não se possui sequer um Eu real.

O objetivo dos rituais do Caos é criar crenças agindo como se
elas fossem verdadeiras. Nos Rituais do Caos você finge até
sentir, para obter o poder que uma crença pode prover. Em
seguida, se fores sensato, você rirá delas e buscará as crenças
necessárias para qualquer coisa que queira fazer depois, à medida
em que é movido pelo Caos.

Assim, o Caoísmo proclama a morte e o renascimento dos
deuses. Nossa criatividade subconsciente e nossos poderes
parapsicológicos são mais que adequados para criar ou destruir
qualquer deus ou Eu ou demônio ou qualquer outra entidade
espiritual na qual possamos acreditar ou desacreditar, pelo menos,
para nós mesmos e, às vezes, também para os outros. Os
resultados freqüentemente aterradores alcançados pela criação de
deuses através do ato de comportar-se ritualisticamente como se
eles existissem não deverá conduzir o mago Caótico no abismo de
atribuir realidade definitiva a qualquer coisa. Este é o engano
transcendentalista, que leva a um estreitamento do espectro do
Eu. O verdadeiro terror reside no leque de coisas que podemos
descobrir que somos capazes de fazer, mesmo se tivermos que
temporariamente acreditar que os efeitos se devem a algo externo
para que possamos criá-los. Os deuses estão mortos. Longa vida
aos deuses.

A Magia apela aos que têm muito orgulho e uma imaginação
fértil, somadas a uma forte suspeita de que ambas, a realidade e
a condição humana, possuem as características de um tipo de
jogo. O jogo possui final aberto, e joga a si mesmo por diversão.
Os jogadores podem criar suas próprias regras até certo ponto, e,
se desejado, trapacear usando parapsicologia. O tipo de magia
apresentado aqui, consiste em uma série de técnicas que atuam
como extensões extremas das estratégias normais que são
possíveis dentro do jogo.

Um mago é alguém que vendeu sua alma pela chance de
participar mais inteiramente da realidade. Apenas quando nada é
verdadeiro e a idéia de um Eu verdadeiro é abandonada, tudo se
torna permitido. Existe alguma exatidão no mito de Fausto, mas
ele falhou ao levá-lo à sua conclusão lógica.

Precisa-se apenas da aceitação de uma simples crença para
que alguém se torne um mago. Esta é a metacrença de que a
crença é uma ferramenta para obter efeitos. Este efeito é
geralmente muito mais fácil de observar nos outros do que em nós
mesmos. É comumente muito fácil ver como outras pessoas e, até
mesmo outras culturas, são mais ou menos capazes, de acordo
com as crenças que possuem. Crenças tendem a levar a atividades
que tendem a reconfirmá-las, num círculo normalmente chamado
de virtuoso, ao invés de vicioso, mesmo quando os resultados não
são agradáveis. O primeiro estágio de ver através do jogo pode ser
uma iluminação chocante, que leva a um cinismo tedioso, ou ao
Budismo. O segundo estágio de real aplicação do insight em si
mesmo pode destruir a ilusão da alma e criar um mago. A
compreensão de que crença é uma ferramenta, ao invés de um fim
em si, tem imensas conseqüências se aceita por completo. Dentro
dos limites impostos pela possibilidades físicas, e estes limites
são muito mais vastos e maleáveis do que a maioria das pessoas
imagina, pode-se fazer reais quaisquer crenças escolhidas,
incluindo crenças contraditórias. O mago não é aquele que busca
por uma identidade particular e limitada, mas aquele que deseja a
meta-identidade que o torna capaz de ser qualquer coisa.

Assim, seja bem-vindo ao Kali Yuga do pandaemonaeon,
onde nada é verdadeiro e tudo é permissível. Nestes dias de
pós-absolutismo, é melhor construir sobre areia movediça que em
pedra, que lhe confundirá no dia em que vier a rachar. Os filósofos
têm se tornado não mais do que proprietários de sarcasmos úteis,
pois foi revelado o segredo de que não há segredo no universo.
Tudo é Caos, e a evolução não está indo a nenhum lugar em
particular. É o puro acaso que comanda o universo, e assim, e
apenas assim, a vida é boa. Nascemos acidentalmente em um
mundo aleatório, onde apenas causas aparentes levam a efeitos
aparentes, e muito pouco é pré-determinado, graças ao Caos.
Como tudo é arbitrário e acidental, talvez estas palavras sejam
muito simplórias e pejorativas; ao invés disso seria melhor dizer
que a vida, o universo e todo o resto são espontaneamente
criativos e mágicos.

Deleitando-se com a realidade estocástica, podemos nos
regalar exclusivamente com as definições mágicas da existência.
As estradas do excesso podem ainda levar ao palácio de sabedoria
e muitas coisas indeterminadas podem acontecer no caminho do
equilíbrio termodinâmico. É inútil buscar chão sólido onde pisar. A
solidez é uma ilusão, como o pé que a pisa, e o Eu que pensa
possuí-los é a mais transparente de todas as ilusões.

As pesadas embarcações da fé estão furadas e afundando
juntamente com todos os botes salva-vidas e suas jangadas
engenhosas. Então você vai fazer compras no supermercado de
crenças ou no supermercado de sensações e permite que suas
preferências de consumo definam seu eu verdadeiro? Ou você, em
um estilo corajoso e alegre, roubaria ambos apenas por diversão?
Pois a crença é uma ferramenta para obter qualquer coisa que se
considere importante ou prazerosa, e a sensação não tem nenhum
outro propósito além da sensação. Assim, ajude-se a obtê-las sem
pagar o preço. Sacrifique a verdade pela liberdade, em cada chance
que tiver. O maior divertimento, liberdade e realização estão em
não ser você mesmo. Há pouco mérito em simplesmente ser quem
quer que você seja por um obra congênita acidental e
circunstancial. Inferno é a condição de não ter alternativas.

Rejeite então as obscenidades da uniformidade planejada,
da ordem e do propósito. Vire-se e encare as ondas das marés do
Caos, das quais os filósofos têm fugido apavorados por milênios.
Pule para dentro e saia surfando em sua crista, exibindo-se em
meio à estranheza sem limites e o mistério em todas as coisas,
rejeitando falsas certezas. Graças ao Caos isso nunca terminará.

Crie, destrua, divirta-se, IO CAOS!

por Peter Carrol