domingo, maio 26, 2002


O vidro do carro embaçado, repleto de minúsculas gotículas de sereno. O frio era tal que custou a pegar. Parece mesmo que nada tem pressa a essa hora....
Fechei o portão e olhei o céu. Parecia um pasto noturno, com carneirinhos brancos, espaçados por um caminho escuro. No meio do rebanho, uma lua com halo dourado definia os contornos da madrugada. Fiquei mirando as hordas de nuvens, enquanto meu corpo estava revestido de mil proteções, embarrerando a entrada do frio que aos poucos congelava meu nariz, minhas mãos.Devia estar uns 7 graus, por aí....Itaipava algumas vezes chega a 3. Já peguei noites de outono assim.
Porém, essa se prepara para a grande lua, a que enche e transforma anciãs em amantes, quando a Deusa desperta o feminino em cada mulher e num balé intransferível une-se ao consorte: fazem amor, trepam como loucos. É a finalização de mais um ciclo. Ela sempre me convida à vida. Um chamamento antigo que parece sombra ao meu lado, dividindo alegrias, dores, poesia, romance, o copo de vinho na taça...umedecendo lábios...língua...o céu da boca....aquecendo e escorrendo pela garganta, até inundar de vermelho o estômago. O álcool instala leveza na mente, levando ao famigerado estado de flutuação, momento em que os sentidos ganham vida real, e os poros exalam o que a mente, o corpo e a cor produzem...frenesi
Chego em outro portão. Pego um vídeo que devia ter sido levado, entrego. Dou um beijo doce de despedida. Entro. Ligo o micro, venho pra cá. Pego uma maçã. Gosto sempre das maiores, feito as da Branca de Neve. Conecto o icq, falo com alguém querido, alguém que me chama Ana Lúcia. Falamos de teletransporte do Kirk, e começamos um diálogo nada usual. O sono começa a pegar e a vontade de ir para a cama parece ser a única saída, principalmente quando não termino mais essas mal traçadas linhas...
Hermes chega e me conduz em suas sandálias aladas, atravessando essa atmosfera e me entregando a Morfeu, que me toma em seus braços e me cobre com seu manto de estrelas...
Boa noite!