sexta-feira, fevereiro 01, 2002

AS ORIGENS DA MAGIA

Alegoricamente, no livro apócrifo de Enoque, está escrito que a Magia foi ensinada pelos anjos que se deixaram cair do céu para amar as filhas dos homens. Segundo Eliphas Levi, os filhos do céu são os Iniciados, os Magos, os sacerdotes antigos, os detentores dos segredos da Alta Ciência.

Os filhos do céu, seduzidos ou embriagados pelas forças magnéticas da natureza, concentradas nas filhas dos homens, acabaram, pela primeira vez, numa época muito distante da atual, trocando seu cetro de poder pelo Osso de Onfale ou seus segredos mais poderosos pelos feitiços, pelas paixões humanas. Vale dizer que a volúpia, a paixão, a força cega (ódica) de Eros destronou os brilhantes filhos dos céus nos primórdios da humanidade terrestre. Tanto Adão quanto os magos foram seduzidos pela mesma serpente que até nossos dias atrai e ilude ricos e pobres, crentes e descrentes, santos e depravados.

Para se chegar à Alta Magia é preciso escalar, cuidadosamente, o tronco da Árvore da Vida e o tronco da Árvore do Bem e do Mal. Moisés, Davi, Salomão, Krishna, Buddha, Pitágoras, Platão, Jesus, Maomé, todos tiraram dessas duas árvores cabalísticas seus poderes e cetros de reis, sacerdotes, magos, profetas ou, simplesmente, grandes seres. Portanto, é a Magia ou Alta Ciência destinada aos homens e mulheres que chegaram ao domínio da vontade, da imaginação e das paixões e fraquezas humanas. Há que se ter sempre em mente que a casta natureza não entrega as chaves da sua câmara nupcial aos adúlteros e fornicários.

Em Magia existem apenas duas categorias de pessoas: senhores e escravos. Todos nascem escravos de suas necessidades. Hoje, mais que no passado, novas necessidades foram e estão sendo inventadas e mantidas por um aparato publicitário, sustentado pela indústria do consumo. É possível a libertação dessas necessidades. Em Magia isso é indispensável porque não há como nivelar senhores e escravos em nome de um falso conceito igualitário e fraternal.

A inteligência deve governar e o instinto obedecer. Está escrito, no gigantesco livro aberto da natureza, que são os homens livres que devem governar e conduzir os escravos. Isso não quer dizer, de forma alguma, que os escravos sempre serão escravos. Ou que os senhores devem fazer e manter sistemas de escravidão como muitos acreditam, fizeram e querem fazer crer. Pelo contrário: os escravos estão sendo chamados, permanentemente, a se libertarem. Contudo, não entendem a liberdade, não querem a liberdade. Sonham com uma liberdade feita à sua imagem e extensão, onde tudo é possível e legítimo, acima e além de todas as leis que criaram e mantêm o universo.

A liberdade, por conseguinte, não consiste em legalizar ou autorizar a prática de vícios, prazeres, paixões ou cultos hedonísticos. Isso seria a pior e a mais perversa de todas as tiranias. A liberdade é um estado de consciência e consiste em obedecer, voluntariamente, à lei. São as paixões e apegos individuais que levam à existência e ao estabelecimento de leis, governos e sistemas conduzidos por homens livres. São os escravos, em última análise, que fazem necessária a existência de senhores — e não o contrário.

Compreende-se aqui por que os poderes da Alta Ciência não podem e nem são entregues aos ambiciosos, gananciosos, cúpidos, intrigantes, caluniadores, etc. A Atlântida afundou porque seus sacerdotes prostituíram a Magia. A atual civilização também já se condenou ao desaparecimento, primeiro porque profanou os Mistérios e, depois, porque deixou de seguir seus preceitos. Não existe retrato mais vivo e candente da inversão de princípios que o da civilização atual. Hoje, são os escravos que governam e fazem as leis. A conseqüência é o caos social, fruto de um perverso desnivelamento de valores, bens e riquezas que Deus e a natureza nos dão.

Nem Deus nem a natureza geram reis e escravos. Todos nascem para trabalhar; todos nascem operários (maçons) da Grande Obra do Creador. Contudo, há operários que se negam a trabalhar. Mesmo assim, o Grande Arquiteto do Universo respeita o livre arbítrio. Mas, para manter a ordem e poder respeitar o livre arbítrio dessas criaturas, que preferem não trabalhar na Grande Obra, são estabelecidas leis e sistemas. Ou seja: a decisão do homem de não colaborar com o Plano Divino levou Deus a estabelecer a Hierarquia.

Deveriam aprender, os governantes e políticos do mundo inteiro, que só dentro da Hierarquia pode haver Liberdade, Igualdade e Fraternidade, hierarquia essa que só pode existir dentro dos valores da Consciência e não do Intelecto ou da Personalidade.

Por tudo isso, por toda a realidade escondida atrás dessas palavras, é que se pode afirmar que, entregar os segredos da Magia ao povo ignorante, é o mesmo que expor a nudez paterna à curiosidade dos estranhos — como relata a Bíblia na passagem referente a Noé. O próprio Mestre Jesus alertava seus discípulos com estas palavras: “Não lanceis vossas palavras aos porcos para que eles não as pisoteiem e, voltando-se contra vós, não vos devorem”.

Zoroastro, Thoth, Hermes e inúmeros outros personagens, que se imortalizaram ao longo dos séculos, necessariamente não tiveram existência real. Em Magia e Kabala, por exemplo, nomes e personagens quase sempre são simbólicos e axiomáticos. Isso não invalida, ao mesmo tempo, a realidade histórica desses mesmos personagens.. Veja-se o caso do Cristo. Existiu e existe o Cristo histórico, o Cristo Cósmico e o Cristo mítico ou simbólico, sem se esquecer, evidentemente, o Cristo Interno e individual de cada um.

Quando se faz estudos comparativos de religiões e teogonias religiosas, percebe-se a constância e a repetição de nomes ou valores. É como se todos os cultos, religiões e ritos fossem — como de fato são — ondas sucessivas oriundas de um mesmo, único e primeiro centro: Deus. Portanto, não há Magia sem Deus.

A palavra Deus, reconhecemos, está desgastada. Mas, não importa. Troquemo-la por expressões como “universo”, “vida”, “natureza”, “G.A.D.U.”, “primum mobile”, “primeiro instante”, etc. etc. Não importam os nomes. Todos são meros conceitos para exprimir uma determinada realidade, a qual, mesmo em laboratório, não pode ser provada. Mas, ao mesmo tempo, é tão demonstrável e tão empírica quanto qualquer outra experimentação ou demonstração científica. A única e irrefutável prova é aquela estabelecida diretamente pela nossa inteligência, ou seja, a comprovação.

O culto ao fogo, criado e estabelecido por Ram ou Rama na Era de Áries, cerca de 4 mil anos atrás, reverenciava o Logos Solar. Esse mesmo culto ao degenerar-se, ao cair, deixou de cultuar e reverenciar o ente divino. Pior que isso: distanciou-se de tal modo de sua origem e finalidade que se transformou em sacrifícios humanos e imolações de crianças e virgens. Onde está o erro: na Magia ou na ignorância?

Numa, o autêntico fundador de Roma, estudou e foi iniciado nos Mistérios da Magia. Dizem antigas tradições que Numa possuía o poder de formar e dirigir o raio. Outros, tentando a mesma proeza, acabaram morrendo, por não saberem como dirigir a descarga elétrica. A própria Arca da Aliança é tida por muitos, até hoje, como um poderoso gerador de eletricidade. Sabe-se, com segurança, que os antigos conheciam a eletricidade, especialmente certos aspectos da eletricidade, que a atual civilização, com sua ciência, ainda não conseguiu descobrir e dominar.

Dentre outros antigos símbolos da Alta Ciência estão o leão e a serpente. A “ciência do fogo” era - e ainda é - o Grande Arcano dos magos. Há muitas ilustrações antigas mostrando homens dominando leões e segurando serpentes. O leão representa sempre o fogo celeste enquanto que as serpentes representam as correntes elétricas e magnéticas da Terra (e do homem).

Toda a Magia Hermética, todo o ocultismo autêntico está assentado no axioma do “governo do fogo”. Não há, nem pode haver, mago verdadeiro que não tenha, antes, se apossado da Tocha dos Deuses. No tempo de Zoroastro, e das grandes cidades de Nínive, Babilônia, Assíria e outras, foram erigidos os maiores monumentos de nossa história. Nessas cidades, o templo e o palácio do rei se sobressaíam das demais construções.

Isso significa que, nos tempos áureos da humanidade, realeza e sacerdócio formam uma dualidade inseparável. A civilização cristã tentou copiar esse modelo, porém, não conhecendo os segredos da Alta Ciência, desprezados pelos primeiros padres da Igreja, enveredou pelos perigosos e traiçoeiros caminhos da ambição e da ostentação material.

Voltando-se ao tempo áureo da Magia, do sacerdócio e da realeza, naquela época, os templos, sob a vontade dos magos-sacerdotes, cobriam-se de nuvens, relâmpagos, luz ou trevas. Relatam antigas tradições que as lâmpadas acendiam-se por si mesmas, os Deuses tornavam-se visíveis e infeliz daquele que atraísse sobre si a maldição dos Iniciados. Hoje, isso só ocorre em alguns templos budistas muito secretos e inacessíveis do Oriente.

O templo protegia o palácio, e os exércitos do rei, combatiam pela religião dos magos. Nessa época o rei era sagrado; de fato, era o governante divino na Terra, de cuja lembrança ancestral ainda hoje encontram-se fragmentos (superstições) em certas monarquias. Vem daí o costume de os súditos se prostrarem à passagem do rei e da rainha...

O poder dos magos era tão grande nesses tempos áureos que todo aquele que intentasse passar os limites do palácio real, sem permissão, caía fulminado. Não pelo gládio ou lança, mas por mãos invisíveis, pelo raio ou pelo fogo do céu. “Que religião! Que poder!”, exclama Eliphas Levi. Que grandes sombras!, exclamamos nós. Nemrod! Semíramis! Quem nunca ouviu estes nomes? Não há dúvida: há muitos mistérios enterrados nos túmulos das nações...

Em Aquário voltaremos a viver, novamente, esses tempos gloriosos. As religiões de hoje cederão lugar, gradativamente, para uma espiritualidade universal. Os magos aquarianos conquistarão, mais uma vez, suas espadas e seus cetros de poder, para voltar a governar o mundo com justiça, poder e sabedoria. Evidente que isso só será realidade lá pelo ano 2.500... — após a Grande Catástrofe.

Magia é uma ciência da qual ninguém pode abusar sem perdê-la e sem perder-se. Os soberanos e sacerdotes do mundo antigo eram grandes demais para não se arruinarem caso viessem a cair. Acabaram tomados de soberba, tornaram-se orgulhosos e caíram. Recorde-se aqui a lenda da Torre de Babel. Nessa época, os homens (magos) orgulhosos de sua força e sabedoria, decidiram construir uma torre que ligasse a terra ao céu; foram fulminados porque a criatura jamais se igualará ao Creador...

A grande época mágica da Caldéia é anterior ao reino de Semíramis. No tempo de Semíramis a religião já estava decaindo, transformando-se em idolatria. O culto a Astartéia substituía o da Vênus celeste e a realeza começava a se fazer adorar sob diferentes nomes. Semíramis coloca, então, a religião a serviço da política e das campanhas militares; substitui os velhos templos por grandiosos monumentos. Dessa forma o sacerdócio se fazia cada vez menor que o império. À medida que o império ruía, esmagava o sacerdócio, e desse tempo até nossos dias, fomos mergulhando mais e mais na Idade de Ferro. Agora, nesta década de 90, continuamos amargando as conseqüências de antigas decisões...

Percebe-se, então, que o poder oferecido, ou escondido na Magia, vai muito além do que supõem as pessoas. Não se trata de simples realização de rituais, energias, seres, deuses, devas ou invocações e usos de símbolos e perfumes. É tudo isso ao mesmo tempo e muito mais, operados e conduzidos pela vontade, imaginação, sabedoria e soberania do Mago.

Aqueles que aspiram a Alta Ciência têm em Zoroastro as seguintes orientações:

É preciso estudar e conhecer as leis misteriosas do equilíbrio que submete ao império do bem até as potências do mal.

É preciso purificar o corpo e a alma pelas provações, lutas e vencer os fantasmas da alucinação e do medo.

— É preciso ter vencido os vícios, paixões e limitações pessoais.

Quando caiu Babilônia terminou o tempo da Magia pura, da Magia em si mesma, e tinha início a época cabalística. Abraão, saindo da Caldéia, levou consigo os Mistérios da Magia, dando início, assim, à segunda ciência, à segunda face da Magia: a Kabala.
autor desconhecido