terça-feira, janeiro 15, 2002

Dia atípico e repleto de nostalgia. Um luau com Cássia, a presença de Nando, uma praia de águas verdes, um sol daqueles de verão. Alguém perguntou a ela sobre o que sentia com Cazuza e suas canções. Ela respondeu que desde o dia que o viu, que o ouviu, quis ser ele. E que música estava ligada ao prazer, ao prazer de uma melodia, uma harmonia, um trechinho, uma frase. Ao ouvir o que lhe tocava a alma, saía cantando, muitas vezes sem pedir licença, como cansou de fazer com Nando.
Saí de casa e fui assistir a uma apresentação de música ibérica, passando por vários séculos, dos cancioneiros portugueses e espanhóis até chegar à modinhas como Lua Branca, de Chiquinha Gonzaga. Uma soprano de nome Clarice, que também fazia o papel de percursionista, dava o toque medieval ao espetáculo. Ouvimos instrumentos raros como a guitarra barroca, o alaúde, a viola da gamba, guitarra renascentista e uma meia dúzia de flautas diferentes. Resumindo eram magníficos músicos, instrumentistas, contando-nos estórias de amor. Alguém que amou alguém, sofreu, e pensou que morreria de amor. Obras desconhecidas, versos de gente que se salvou de incêndio e sobrevive ainda hoje em bibliotecas lisboetas. Pesquisa minuciosa e elaborada, som que remete a algumas das nossas muitas vidas, lógico, pra quem acredita nelas, na imortalidade do espírito.
Não resisti e comprei o Cd. No escuro, tendo em vista que o disco foi feito para os 500 anos de descobrimento. Uma beleza que ficou lacrada até chegar em casa. Nesse exato momento um incenso almiscarado entra pelas narinas, juntamente com a brisa que vêm pela janela, balançando a renda cortinada branca, provocando um arrepio súbito. Não poderia ter feito melhor escolha ditada pelo impulso. Começamos pelo século XIII, com o cancioneiro português, Martin Codax; logo depois aportamos no século XVI, contrapondo Luis Milan e o espanhol Diego Ortiz; em seguida estacionamos nos séculos XVII e XVIII com obras portuguesas e da terra brasilis; e por último o século XIX com lundus e modinhas brasileiros.
Saímos da apresentação e fomos jantar. Dia de comemoração. Dia de brindar os cinco anos. Comida japa, iguarias, romance, beleza.
Boa noite, durmo feliz.