Peguei o jornal logo que os olhos abriram um pouco mais e na primeira página estava escrito: Essa é a cor do universo – e abaixo um quadradinho verde água. Pulei correndo para a página 30, sem notar o restante das manchetes que dividiam espaço na diagramação. Sim, o universo é verde! A explicação científica pauta-se na combinação da luz de mais de 200 mil galáxias distantes. As luzes captadas, segundo a notícia, mostraram uma predominância de um tom claro de azul – proveniente do grande número de estrelas novas queimando hidrogênio – e de vermelho – procedente da queima de elementos mais pesados nas velhas estrelas vermelhas. O verde cósmico seria a cor detectada pelo olho humano se toda a luz do Cosmos fosse vista combinada de uma vez.
Os cientistas responsáveis pela descoberta ficaram surpresos com o fato da cor encontrada ter sido o verde, tendo em vista que não há estrelas dessa cor. Conforme declaração do astrônomo, Karl Glazebrook, da Universidade Johns Hopkins, a formação das estrelas ocorreu dois milhões de anos depois do Big Bang, quando o Universo era azul devido à grande presença de estrelas novas. Agora, está se tornando esverdeado e deve ficar cada vez mais vermelho, na medida em que as estrelas forem envelhecendo. Para se chegar à cor, os cientistas fizeram uma média dos tons encontrados.
Engraçado porque sempre vi azul. Sim, para mim o azul e sua mansidão espacial sempre estiveram presentes, tantos nos filmes de ficção, como nas fotos tiradas do espaço. Há uma frieza cortante nessa atmosfera azulada. Sempre imagino a galáxia como um grande cemitério de máquinas construídas pelos homens, pelos lixos que vagam à deriva, como algo intangível e frio, completamente diferente do calor que tanto gosto, que me aproxima do Sol. Não agüentaria ficar enclausurada num pedaço de fuselagem, vagando pelo universo, mesmo que o motivo ou a possível descoberta pudesse trazer algo de relevante à humanidade.
No meu papel de parede vê-se um cais. Um imenso lago, esfumaçado de anil. Tenho a nítida sensação que alguém ajudou a melhorar o visual ao dar uma pincelada de água que dissolvesse o padrão conhecido, colorindo o todo nesse matiz. E cortando a placidez, um barco, um único, ancorado. Encima uma chuva amarela, como se tivessem ligado um spot de intensa luz dourada sobre a paisagem pastel. É um dos postais que mais gosto e evoca a paz litorânea com possibilidade de movimento, contrariando a gélida dinâmica que reúne os ares esverdeados do corpo cósmico.